• Ives Gandra da Silva Martins
  • 24 Dezembro 2014

Como nos filmes, começo este artigo informando que qualquer semelhança do que vou escrever com pessoas ou governos é mera coincidência.

Em dois livros meus, “Uma breve teoria do poder” e “A queda dos mitos econômicos” (edições esgotadas), procurei mostrar que quem busca o poder, na esmagadora maioria dos casos, pouco está pensando em prestar serviços públicos, mas em mandar, usufruir ou beneficiar-se do governo.

Prestar serviços públicos é um mero efeito colateral, não é necessário. Com maior ou menor intensidade, tal fenômeno ocorreu em todos os períodos históricos e em todos os espaços geográficos.

É bem verdade que a evolução do direito e da democracia nos dois últimos séculos tem permitido um certo, mas insuficiente, controle do exercício do poder pelos quatro cavaleiros do apocalipse –o político, o burocrata, o corrupto e o incompetente–, razão pela qual as nações encontram-se permanentemente em crise.

“Utopia”, de Thomas More, a “A República”, de Platão e “A Cidade do Sol”, de Tommaso Campanella, exteriorizam ideais para um mundo no qual a natureza humana seria reformada por valores que, embora vivenciados por muitos, raramente são encontrados nos que exercem o poder.

O primeiro dos quatro cavaleiros do apocalipse, o político, na maior parte das vezes, para alcançar ascensão na carreira, dedica-se exclusivamente à “desconstrução da imagem” dos adversários.

O filósofo e jurista alemão Carl Schmitt tem toda razão em sua teoria das oposições ao declarar que o político estuda o choque permanente entre o “amigo” e o “inimigo”. Todos os meios são válidos quando o poder é o fim. A ética é virtude descartável, pois dificulta a carreira.

O burocrata, como já disse o pensador americano Alvin Toffler, é um “integrador do poder”. Presta concurso público para sua segurança pessoal, porém, mais do que servir ao público, serve-se do público para crescer e quanto mais cria problemas para a sociedade, na administração, mais justifica o crescimento das estruturas governamentais sustentadas pelos tributos de todos os contribuintes.

Há países que se tornaram campeões em exigências administrativas, as quais atravancam seu desenvolvimento, apenas para justificar a permanência desses cidadãos.

O corrupto é aquele que se beneficia da complexidade da burocracia e da disputa política, enriquecendo no poder, sob a alegação de necessidade de recursos, algumas vezes, para as campanhas políticas e, no mais das vezes, “pro domo sua”. Apesar de Montesquieu –ao cuidar da tripartição dos poderes– ter dito que o poder deve controlar o poder porque o homem nele não é confiável, quando em todos eles há corruptos, o poder não controla a corrupção.

O inepto, que conforma o quadro da esmagadora maioria dos que estão no poder, é aquele que, incapaz do exercício de uma função privada na qual teria que competir por espaços, prefere aboletar-se junto aos poderosos. São os amigos do rei. Não sem razão, Roberto Campos afirmava que há no governo dois tipos de cidadãos, “os incapazes e os capazes de tudo”.

Quando espocam escândalos de toda a forma, quando a corrupção torna-se endêmica, quando o processo legislativo torna-se objeto de chantagem, quando a mentira é tema permanente dos discursos oficiais, quando a incompetência gera estagnação com injustiça social, percebe-se que os quatro cavaleiros do apocalipse estão depredando a sociedade e desfigurando a pátria que todos almejam.

Felizmente, o Brasil é uma nação que desconhece os quatro cavaleiros do apocalipse, pátria em que todos são idealistas e incorruptíveis, razão pela qual este artigo é uma mera digressão filosófica.

http://www.gandramartins.adv.br/artigo/detalhe/id/6ace03f2f36ca1c41a0b2b520e06bb7d
 

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  • Gilberto Simões Pires
  • 23 Dezembro 2014

CRISE

Dizem as boas e más línguas que, em chinês, a palavra crise é composta por dois caracteres. Um representa PERIGO; o outro, OPORTUNIDADE. Para a maioria dos brasileiros, pelo que estamos assistindo, no Brasil isto não passa de uma fantasia.

VELHA EXPRESSÃO
Sendo ou não, o fato é que diante de uma grande dificuldade, quase todos aqueles que são chamados com a missão de deixar a sociedade mais animada e confiante diante dos -perigos- nunca deixam de usar essa velha expressão chinesa.

OVERDOSE
Pois, diante da overdose de CORRUPÇÃO, misturada com enorme INCOMPETÊNCIA e descaradas MENTIRAS , que o governo petista injetou em todas as veias administrativas do País e dos Estados em que governa, tudo leva a crer que -CRISE-, no nosso pobre país, diferentemente da China, não é uma palavra composta.

CAIR FORA
Aqui, tão logo Lula e Dilma passaram a presidir o país, a primeira coisa que ambos trataram de fazer, mesmo que muita gente não tenha se dado conta pelo efeito das mentiras e bravatas, foi matar à mingua todas as OPORTUNIDADES, deixando intactos apenas o PERIGOS.
Com isso, lamentavelmente, a única forma de OPORTUNIDADE que ainda resta é CAIR FORA DO PAÍS.

SOFRIMENTO DUPLO
Se os PERIGOS se preparam para entrar com força ainda maior em 2015 para os brasileiros em geral, o povo gaúcho, sem a menor possiblidade de engano e/ou erro, diante do caos das finanças públicas do Estado, promovido com ardor pelo governo Tarso Petista Genro, precisam estar preparados para sofrer duplamente.

DUAS ENTREVISTAS
Observem que neste apagar das luzes de 2014, a TV Globo disponibilizou duas entrevistas, as quais, pela reação firme da presidente Dilma, nos dá a quase certeza de que não há a mínima possiblidade de se recuperar alguma ponta de decência e/ou boa governança, que porventura ainda poderia existir no âmbito governamental do nosso pobre país.

MAGOADA, DESIQUILIBRADA E MENTIROSA
A presidente Dilma, fazendo todos os jornalistas presentes no tradicional café da manhã de final de ano, mostrou que está casada e vivendo de amores profundos com a Graça Foster, presidente da Petrobrás. A ex-gerente Venina Velosa, pela reação mostrada por ambas, foi totalmente desqualificada, como se fosse uma mulher magoada, mentirosa e desequilibrada. Pode?

Mais: agindo de forma maquiavélica, como sempre, Dilma disse que não enxerga irregularidades na Petrobras. E ainda disse, durante o café com os jornalistas, que fará um IPO da Caixa. Pelo visto será algo parecido com o que o PT fez com a Petrobrás. Você pretende comprar ações da Caixa????

www.pontocritico.com

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  • Paulo Rabello de Castro
  • 23 Dezembro 2014

A Brasília que eleva seus próprios subsídios às vésperas de um morticínio do setor empresarial se posiciona como o capitão que larga para trás seus passageiros no navio que afunda.

É fato corrente a perplexidade empresarial frente à (falta de) perspectiva de 2015. Nem tanto pelo novo PIB projetado pelo mercado — um raquítico 0,8% — que não dá para cobrir sequer o crescimento vegetativo da população, deixando estagnada a renda per capita por dois anos consecutivos. O que mais estarrece e faz congelar o sentimento empresarial é não conseguirmos enxergar um palmo à frente. Aquela sensação de o país ser “a bola da vez”, na hora da arrancada para a prosperidade, foi se desmanchando nos anos recentes pela constatação de que a economia brasileira não estava indo a lugar nenhum, isso se não estiver rumando para uma quebradeira bestial, ao início de 2015.

Os gestores da economia confiaram cegamente no hiperciclo das commodities, surfando os altos preços do agronegócio e dos minérios, como se a bonança pudesse durar para sempre. Concentraram fichas no setor de óleo, gás e petroquímica, sem o mínimo cuidado de planejar uma indústria forte e diversificada. O retorno ao que já fomos será duríssimo, isso se caminho houver.

A estagnação da produção nacional não será revertida só porque temos bons nomes à frente da economia, gente séria e preparada para devolver ordem à barafunda fiscal armada pela “contabilidade criativa” do governo federal. Nem tampouco bastará o esforço de realinhar os preços relativos da energia elétrica, água e combustíveis. É a própria estrutura de funcionamento da economia que está torta e manca.

A população tem respondido a sinais equivocados da política econômica, que confundem trabalhadores, os aplicadores de capital e empreendedores. Esses incentivos com sinal errado engatam marcha a ré no progresso conquistado nos anos de euforia. O “governo grátis”, em sua bondade temerária ou mal intencionada, emite cerca de 23 milhões de cheques mensais, apenas para sustentar os beneficiários de seguro-desemprego e de bolsa-família, com regras que estimulam a evasão ao trabalho.

Viúvas jovens, felizes sobreviventes de idosos segurados do INSS, também recebem outras centenas de milhares de contracheques do bom governo. Os pagadores de impostos sustentarão o salão de cabeleireiro dessas alegres viúvas por décadas. Bilhões de reais vazam pelas veias fiscais do governo praticante das mais diversas formas de ilusionismo social, enquanto novos expedientes ameaçam quem trabalha e empreende, pela repudiada CPMF, pela Cide rediviva, pelos tarifaços pós-eleitorais.

Outro sinal errado: a indigesta escalada dos juros pelo Banco Central, fórmula agradável ao rentismo, outro esporte nacional, que tunga a sociedade — pasmem! — em R$ 260 bilhões, um custo social de dez Copas do Mundo POR ANO, ano após ano. Sem uma regra clara e forte de contenção do gasto público, a carga tributária acrescentada, que já beira os 50%, dará outro salto em 2015, produzindo um efeito paralisante bem mais grave do que o de um severo controle do gasto.

Quem cogitará de investir num país que tributa quase 50 centavos sobre cada real de PIB produzido a mais? Quantos casais assalariados, com R$ 5 mil de renda mensal, conseguirão poupar se já deixam, em tributos, 53% do que ganham na mão do “patrão governo”? A geração de caixa pelas empresas nunca foi tão baixa como nesta virada de ano.

Não há espaço para crescer no setor produtivo. Brasília, no entanto, com sua notória insensibilidade, prepara nova tesourada na renda de 2015 pelo corte abrupto do crédito à produção, com a explosão do custo financeiro e outra surra de impostos extratores do resto do ganho empresarial. A Brasília que eleva seus próprios subsídios às vésperas de um morticínio do setor empresarial se posiciona como o capitão que larga para trás seus passageiros no navio que afunda.

No dia 1º de janeiro ouviremos discursos de posse. Se a nova equipe não puder atacar os imensos estímulos ao ócio nacional, aos juros da agiotagem oficial e à escalada ao bolso do contribuinte, continuaremos voando sem rumo. Com uma notável diferença: em 2015 enfrentaremos turbulência, como não se via desde a virada do milênio.

Paulo Rabello de Castro é coordenador do Movimento Brasil Eficiente
 

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  • Bruno Braga
  • 22 Dezembro 2014


"Se há um movimento cuja história, no curto período de três décadas, pode ser proporcionalmente comparado aos três séculos iniciais da Igreja, devido à profusão de mártires, é o MST".


É assim que Betto louva e glorifica os sem-terra em um artigo recente sobre "La lunga marcia dei senza terra - dal Brasile al mondo" [1] - publicação italiana sobre o MST que ele prefacia [2]. Equiparar os sem-terra aos mártires da Igreja Católica é mais um dos absurdos de um senhor que finge ser "frei"? É evidente - mas não é só.

O núcleo do martírio está na fidelidade a Jesus Cristo. Por Ele milhares de cristãos foram perseguidos e mortos nos primeiros séculos da Igreja; porque se negam a renunciá-Lo milhares são hoje sacrificados. Os sem-terra - cujas vítimas abundam apenas na mente fantasiosa do senhor Betto - são assim designados por pertencerem a uma organização que, sob o pretexto de lutar por um pedaço de chão, está comprometida com um projeto de poder. Com a instauração do socialismo-comunismo, um ideal que no discurso pode parecer uma antecipação do "paraíso", mas que produziu na Terra o maior flagelo da humanidade. Em nome do socialismo-comunismo - do qual o MST é não só herdeiro ideológico, mas instrumento de ação - milhões de cristãos foram sacrificados: martirizados por se manterem fiéis a Jesus Cristo e se negarem a entronar um poder político tirânico.

Ora, Betto não sabe disso? Ele não conhece o grito dos mártires cubanos que foram fuzilados por delinquentes que exigiam deles a renúncia da fé? O "Viva Cristo Rey" contra psicopatas que promoveram na ilha caribenha uma revolução genocída, considerada por Betto uma obra evangélica? É claro que o "frei" conhece tudo isso. No entanto, há décadas o seu trabalho consiste em fingir e falsificar. Porque ele mesmo - Betto - é um agente do esquema de poder socialista-comunista. Durante o Regime Militar atuou como terrorista. Foi um dos fundadores do PT - depois assessor do ex-Presidente Luiz Inácio. Betto participou ativamente da criação do Foro de São Paulo, organização estabelecida por Lula e por Fidel Castro em 1990 para instaurar o socialismo-comunismo na América Latina. Um projeto de poder do qual o MST é parte integrante [3]. Betto foi - e é - um dos principais artífices do disfarce "cristão" do MST - costurado com a Teologia da Libertação, um simulacro de teologia que transforma ideologia em "fé", "luta de classes" em "dogma", banditismo e terrorismo em "martírio". Com uma militância ostensiva e audaciosa, Betto fez das Comunidades Eclesiais de Base - as CEB's - plataformas de promoção dos sem-terra e do seu correlativo no âmbito político: o PT [4].

Muito bem. Equiparar os sem-terra aos mártires é mesmo mais um dos absurdos de Betto. Porém, depois de tantos, não basta mais identificá-los e desfazê-los. É preciso apontar a posição que Betto ocupa e utiliza maliciosamente para promover o que de fato o interessa: é um embusteiro que parasita a Igreja Católica; não é "frei", mas um agente político a serviço do esquema de poder socialista-comunista do Foro de São Paulo.

 

Referências.

[1]. "MST não é um 'caso de polícia', mas sim uma referência política", UOL, 10 de Dezembro de 2014 [http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2014/12/10/mst-nao-e-um-caso-de-policia-mas-sim-uma-referencia-politica.htm].

[2]. "La lunga marcia dei senza terra - dal Brasile al mondo". Claudia Fanti, Marinella Correggia, Serena Romagnoli. EMI: Bologna-ITA, 2014.

[3]. BRAGA, Bruno. "O MST e o Foro de São Paulo" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/12/o-mst-e-o-foro-de-sao-paulo.html].

[4]. BRAGA, Bruno. "Não, a guerra não acabou", apenso I [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/07/nao-guerra-nao-acabou.html]; "Intereclesial SOCIALISTA-COMUNISTA - II", I [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/01/intereclesial-socialista-comunista-ii.html].
 

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  • Leandro Narloch
  • 22 Dezembro 2014

O texto abaixo foi extraído de um artigo mais extenso do autor, publicado em seu blog no site da Veja, em 18/12

Contra o bloqueio, a favor do comércio

Quem atribuiu ao embargo tudo de ruim que acontece em Cuba está, sem querer, defendendo o livre comércio. Se a falta de comércio internacional empobrece, logo o comércio com outros países enriquece. Essa frase enfureceria Che Guevara, mas os economistas concordam: mais livre comércio internacional, mais prosperidade, menos pobreza. Uma vistosa prova disso são os poucos países que, dos anos 1960 para cá, fizeram todo o contrário de Fidel. Coreia do Sul, Cingapura e Hong Kong, tão pobres quanto Cuba há 50 anos, abriram a porteira para o capitalismo internacional. Hoje estão mais ricos que a Europa. Tomara que Cuba siga o mesmo caminho.

Eles queriam o embargo

Fidel Castro e Che Guevara não só lutaram pelo bloqueio econômico como o consideravam a principal razão da revolução de 1959. Che repetiu diversas vezes que o objetivo era “cortar todos os laços de Cuba com o capital internacional”. Em Argel, em 1965, ele disse que os países socialistas que estabelecerem relações com os capitalistas “são, de certo modo, cúmplices da exploração imperialista”. Por isso,”os países socialistas têm o dever moral de pôr fim à sua cumplicidade tácita com os países exploradores do Ocidente”. Che levou essa ideia a consequências desastrosas, mas o pensamento era comum na época. Nos anos 1960, quase todos os países do Terceiro Mundo, seduzidos pela ideia de que a dependência econômica é a raiz da pobreza, fecharam fronteiras ao comércio. Deu tudo errado, é claro, pois um sinônimo de autossuficiência é pobreza.

Pelo fim do embargo brasileiro ao Brasil

Apesar do embargo imposto pelos Estados Unidos, Cuba tem um comércio exterior proporcionalmente maior que o do Brasil. Em 2011 (último dado coletado pelo Banco Mundial), as exportações de bens e serviços eram 20% do PIB; as importações, 19%. O Brasil consegue ter um comércio exterior ainda menor em relação ao PIB: 13% das exportações e 15% das importações (dados de 2013). Para o empresário Roberto Rachewsky, isso mostra que os brasileiros vivem um embargo autoimposto. O curioso é que justamente quem é contra o embargo em Cuba costuma defender as barreiras alfandegárias e a burocracia para importação no Brasil. Vai entender.
 

Para a íntegra do texto clique aqui: http://veja.abril.com.br/blog/cacador-de-mitos/2014/12/18/quatro-verdades-sobre-o-embargo-americano-a-cuba/http://veja.abril.com.br/blog/cacador-de-mitos/2014/12/18/quatro-verdades-sobre-o-embargo-americano-a-cuba/

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  • Guilherme Fiuza
  • 20 Dezembro 2014

 

Quem, em sã consciência, pode apostar que um grupo que se enraizou no Estado brasileiro para saqueá-lo fará tudo diferente agora?

Ao ser diplomada no TSE para o novo mandato, Dilma Rousseff propôs um pacto nacional contra a corrupção. Quase na mesma hora, a Controladoria-Geral da União afirmava que a compra da Refinaria de Pasadena não foi um mau negócio, foi má-fé. Dilma presidia o Conselho de Administração da Petrobras, responsável pela aprovação da negociata. A dúvida é se os critérios para a compra da refinaria e para o pacto anticorrupção serão os mesmos.

O Brasil precisa saber urgentemente qual será o papel do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no pacto nacional contra a corrupção. Nas investigações da Polícia Federal, Vaccari é acusado de beneficiário do esquema do petrolão, e de injetar propinas na campanha de Dilma - essa mesma que foi reeleita e diplomada declarando guerra à corrupção. As faxinas da presidente deixariam o FBI de cabelo em pé.

Os EUA, aliás, já foram apresentados às entranhas do governo popular, com a chegada do escândalo da Petrobras à Justiça americana. O problema é que lá não tem um Lewandowski ou um Dias Toffoli para tranquilizar os companheiros na última instância. Também não tem um ministro da Justiça servindo de garoto de recados do marqueteiro petista. Como incluir os americanos, holandeses e suíços lesados pelo petrolão no pacto contra a corrupção? Será que o apoio deles custa mais do que os da UNE e do MST?

Uma das ascensões políticas mais impressionantes nos últimos anos foi a do ex-deputado André Vargas. Virou secretário de comunicação do PT e chegou a falar grosso com o STF no julgamento do mensalão - cuja transmissão televisiva ele queria embargar. Depois provocou Joaquim Barbosa publicamente, fazendo a seu lado o gesto do punho cerrado dos mensaleiros. André Vargas chegou à vice-presidência da Câmara dos Deputados, nada menos. Aos inocentes que não entendiam aquela ascensão meteórica, veio, enfim, a explicação: Vargas era comparsa do doleiro Alberto Youssef, o operador do petrolão.

Essa singela crônica de sucesso mostra que hoje, no Brasil, não há nada mais claro e seguro do que a lógica de funcionamento do PT. A qualquer tempo e lugar que você queira compreendê-la, o caminho é simples: siga o dinheiro.

Seguindo o dinheiro (farto) do doleiro, a polícia chegou a uma quadrilha instalada na diretoria da Petrobras sob o governo popular. Tinha o Paulinho do Lula, tinha o Duque do Dirceu, tinha o tesoureiro da Dilma, tinha bilhões e bilhões de reais irrigando a base de apoio do império petista. Um ou outro brasileiro mal-humorado se lembrou do mensalão e resmungou: mais um caso de corrupção no governo do PT. Acusação totalmente equivocada.

O mensalão e o petrolão não são casos de corrupção. Pertencem a um sistema de corrupção, montado sob a bandeira da justiça social e da bondade. Vamos repetir para os que seguiram o dinheiro e se perderam no caminho: trata-se de um sistema de corrupção. E as investigações já mostraram que esse sistema esteve ligado diretamente ao Palácio do Planalto nos últimos dez anos. Um deputado de oposição disse que o maior medo do PT não era perder a eleição presidencial, mas que depois Dilma fizesse a delação premiada.

E lá vai o Brasil para mais quatro anos dessa festa. Quem tem autoridade para acreditar que o método será abandonado? Quem em sã consciência pode apostar que um grupo político que se enraizou no Estado brasileiro para saqueá-lo irá fazer tudo diferente agora? Responda, prezado leitor: quem são as pessoas nesse governo ou nesse partido capazes de liderar uma guinada virtuosa? Lula? Dilma? Vaccari? Mercadante? Pimentel? Cardozo? Carvalho? Dirceu? Delúbio?

Mesmo depois de passada toda a propaganda suja da eleição, mesmo depois de exposta a destruição da maior empresa brasileira pelos que juravam amá-la, Dilma não recuou. Foi para cima do Congresso e rasgou a Lei de Responsabilidade Fiscal. Obrigou o parlamento a legalizar o golpe do governo popular contra a política de superávit - que é um dos pilares da estabilidade monetária. O que falta fazer?

Que passe de mágica devolverá a credibilidade a um governo desmoralizado no país e no exterior? Quem vai querer investir aqui com esse bando de parasitas mudando as regras ao sabor das suas conveniências fisiológicas? Quem tem coragem de afirmar (com alguma dignidade) que os próximos quatro anos poderão reerguer esse Brasil em processo de argentinização?

Num sistema parlamentarista razoável, a extensão do escândalo na Petrobras já teria derrubado o governo. Os acordos de delação premiada já indicaram que Dilma e Lula sabiam de tudo. Se o Brasil quiser (e o gigante abrir pelo menos um dos olhos), essa investigação chegará onde tem que chegar. Esse é o único pacto possível contra a corrupção.


Em 1992, quando Collor estava balançando, já por um fio, Bussunda resolveu dar a sua contribuição e apareceu diante do Palácio do Planalto vestindo um tomara-que-caia - “em homenagem ao presidente”. É isso que falta?

Publicado originalmente em O Globo de 20/12/2014
 

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