Percival Puggina

29/01/2022

Percival Puggina

 

         Assim como há escritórios de advocacia que só atuam perante o Supremo Tribunal Federal, existe em Brasília um partido político que, como tal, faz política perante o STF. É a Rede, ou, com nome e sobrenome, a Rede de Sustentabilidade.

Foi a partir de mais uma ação impetrada pela Rede que veio a determinação para que os MPs estaduais, através de seus membros, atuem no sentido de fiscalizar a vacinação infantil contra Covid-19 e impor sanções aos pais que não vacinarem suas crianças com mais de cinco anos.

Parece-me que essas autoridades não entenderam a natureza do problema. Para elas, pais que se recusem a vacinar seus filhos, ou são ignorantes e precisam da ação do Estado, ou são relapsos e precisam de sanção, ou estão em desprezível atitude político-ideológica e não merecem respeito algum.

O ECA é uma lei de 1990. Tanto o Estatuto quanto o leitor destas linhas quando falam em vacinação infantil têm em mente doenças graves, entre as quais algumas típicas dessa faixa etária, como coqueluche, rubéola, poliomielite, etc. São as vacinas benditas, eficazes, realmente imunizantes, largamente testadas. De fato protegem a saúde das crianças imunizando-as. Não as expõem ao risco de efeitos colaterais desconhecidos e surpreendentes. Não são de uso emergencial e experimental (conclusão estimada para o ano de 2026), com bulas em frequente alteração. No caso da vacina contra a Covid-19, temos uma doença que não é tipicamente infantil. O número de casos é proporcionalmente muito inferior ao da população adulta. Tudo isso gera insegurança.

É um equívoco gravíssimo aplicar a esses pais competência constitucional do MP utilizada para atos gravíssimos, como abuso sexual e violência doméstica. Estamos tratando, aqui, de vacina experimental e emergencial!

Ouvi de vários pais as palavras insegurança e incerteza, em misto com o temor da doença. São esses sentimentos reais e contraditórios que suscitam neles sinceras dúvidas. São pais responsáveis, zelosos e preocupados sobre como proceder para o melhor bem de seus pequenos. Esses genitores em nada se assemelham aos fantasmas que povoam a mente de algumas autoridades no Brasil real. Autoridades, aliás, tão possuídas por seu próprio poder que deixaram de lado sentimentos como empatia e  compaixão. Trocaram a espada da Justiça pela chibata dos verdugos? É isso?

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

27/01/2022

 

Percival Puggina

 

         As últimas semanas aferiram a viabilidade da candidatura de Sérgio Moro. O teste foi negativo.

Poderosos grupos de comunicação fizeram o possível para viabilizá-lo como terceira via. De saída, a ideia seduziu parte dos eleitores que buscavam uma variante às candidaturas de Lula e Bolsonaro. O ex-juiz, o cara que condenou um e rompeu com o outro, parecia servido sob encomenda para cumprir a função.

Posta na vitrine, porém, a novidade do mercado político não agregou interessados. Estacionou no ponto de partida. Pior do que isso, a terceira via dessa aposta mostrou ter pista curta e esburacada. Como viabilizar um candidato detestado pelos eleitores de Lula porque ele foi o juiz que o condenou e pelos de Bolsonaro porque ele foi o ministro que o traiu? Como transformá-lo em opção por qualquer dos dois lados? Como colocar a terceira via no segundo turno desse jeito? Não bastasse isso, se o candidato do PODEMOS foi um juiz com a cara da função, como político, é um peixe fora d’água.

Moro pré-candidato exibiu uma fragilidade alarmante. Por seus últimos trabalhos como juiz, ele sabe tudo sobre as organizações criminosas que operaram durante os governos petistas. Em relação a seu oponente Lula, ele leu os inquéritos policiais. Ouviu testemunhas, delatores, procuradores e advogados. Examinou minuciosamente todas as provas, em processos de dezenas de réus. Puxou o fio da meada e não deu ponto sem nó. Por esse trabalho conquistou enorme reconhecimento.

Depois de deixar tudo de lado para participar de um governo com cujas ideias não concordava, saiu dele atirando para, passivamente, assistir ao STF desmantelar o processo de sua vida. Sabe quase tudo de Lula. E nada diz? Jogou pá de cal e coloca pedra em cima do que sabe? Incompreensível e eu agregaria, imperdoável.

Por tudo isso, nos grandes grupos de comunicação, a turma da terceira via começa a espichar os olhos e bater pestana para o brutamontes Ciro Gomes, peixe mais graúdo, que costuma morrer pela boca e tem antiga inimizade com a coerência.  

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

25/01/2022

 

Percival Puggina

 

Outro dia, recebi, em inglês, uma frase afirmando o seguinte: “As agências de checagem surgiram quando a verdade começou a aparecer”. Particularmente muito interessadas, elas negarão isso enfaticamente.

Recebo, agora reportagem referente a uma entrevista da premiada jornalista Sharyl Attkinson, cinco vezes agraciada com o Emmy Award (grande premiação artística e técnica da TV americana). Da entrevista, concedida à EpochTV, destaco o seguinte parágrafo: “Praticamente todos os meios de comunicação, se podem ser cooptados, foram cooptados por algum grupo; agências de checagem não são diferentes”.

O texto reporta a coincidência de que tais agências e sua origem estejam alinhadas contra os conservadores e sejam convenientes aos esquerdistas, ou “progressistas”.  

Obviamente, ao ler essa matéria cuja íntegra, em inglês, pode ser acessada aqui, fiquei pensando no Brasil. Assim como nos EUA, quando surgiram entre nós as plataformas que viabilizaram as redes sociais de relacionamento, abriram-se portas à liberdade de opinião contra a hegemonia do pensamento esquerdista nos grupos de comunicação.

Ocorreu, então, o que foi expresso na citação com que iniciei este texto: era preciso como disse Clinton, “sanear a comunicação”, ou “regulamentar a mídia” como diz Lula, ou “regular as plataformas” como querem tantos, incluído o TSE, ansioso por se servir das agências para estatizar verdades políticas na campanha para as eleições de outubro. 

Há muito tempo, os grandes veículos de comunicação de massa, operando com número limitado de “formadores de opinião” e de “peritos” com o mesmo entendimento, formavam trincheiras contra o pluralismo e a busca esclarecida da verdade. Com as redes, criou-se um espaço caótico, contudo livre, e as opiniões fundamentadas, a boa lógica, o conservadorismo e seus autores, o liberalismo e seus autores ganharam espaço, ganharam o debate, ganharam público e derrotaram nas urnas o esquerdismo.

Contudo, as fake analysis, baseadas em lógica falsa, falsa busca da verdade, ocultação e rotulagem da divergência, persistem cotidianas nos grandes grupos de comunicação. E nunca foram objeto da atenção de checadores, embora corroam a verdade de modo mais eficiente do que fake news.

A reação formal à derrota da esquerda nas redes sociais não tardou a se fazer sentir. De uns tempos para cá, se a divergência pela direita envolve o que denominam “temas sensíveis”, os feiticeiros das plataformas, a seu próprio arbítrio, censuram e impõem sanções.

Intimidação e censura enquanto as folhinhas do calendário vão caindo no ano eleitoral de 2022.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

Percival Puggina

22/01/2022

Percival Puggina

 

         Durante a Assembleia Nacional Constituinte teve início o longo funeral dos partidos políticos brasileiros. São duras estas palavras? Sei que são, mas as escrevo porque foi no consentimento proporcionado pelo silêncio, que chegamos à situação atual. Nela, só não olham indignados para o quadro político nacional aqueles que perderam a capacidade de reagir ante a iniquidade. Qual a influência positiva dos nssos partidos?

Desde 1988, o “centrão” é governo e aprendeu, com FHC, Lula e José Dirceu que o Estado é, e precisa ser, o butim dos vencedores, sem o qual a boa vida não rola. O modelo político gerado na Constituinte apodreceu nossa política. Foro privilegiado, dinheiro fácil, costas quentes, risco baixo, companheiros e camaradas no TCU e no STF inverteram e aceleraram o processo de seleção natural, atraindo os maus e expelindo os bons. Regionalmente há exceções, mas são exatamente isso, exceções.

Apesar do imenso relevo que tem a política entre nós, os partidos políticos não atraem e não formam novas lideranças. São meras siglas. As mais antigas, mandaram a própria imagem às cucuias; penso que não haja espelhos em seus diretórios nacionais. As muitas novas legendas são meras letras e números que raros, raríssimos, identificam desde fora do respectivo quadrado. Antigas e novas parecem ter o mesmo e único preceito em seus programas: aqui se busca o poder ou suas cercanias. Nada a dizer sobre a nação.

O Senado Federal é o habitat quase privativo das principais lideranças partidárias. Examine o quadro sucessório brasileiro e veja onde estão as figuras que dominaram cotidianamente os espaços da mídia militante brasileira, graças ao tipo de jornalismo que nela encarnou. Onde estão Rodrigo Maia (o ambicioso que queria ser primeiro-ministro ou presidente), Davi Alcolumbre (o vingativo), Rodrigo Pacheco (o grande omisso), Renan Calheiros (o Torquemada de ficha encardida), Simone Tebet (a bem falante), Alessandro Vieira (que confunde ar sério com seriedade)? E a propósito, cadê Rodrigo Maia (o ambicioso ex-presidente da Câmara que queria ser primeiro-ministro ou presidente)?

Observe agora, leitor, os partidos com maiores bancadas no Senado nas pesquisas da eleição presidencial. Deles, apenas o PMDB (15 senadores) tem a candidata Tebet (com 1%) e o PSDB (5 senadores) tem o candidato Dória (com 2 %). Ou seja, não têm nome a apresentar à sociedade. As outras bancadas numerosas ou tradicionais: PSD (11 senadores) testa Rodrigo Pacheco (0%) e o DEM (6 senadores) não tem uma carta que seja para colocar na mesa. O PODEMOS (9 senadores) foi buscar Moro fora dos seus quadros. 

Os senadores e seus partidos, calaram-se quando deveriam falar. Falaram quando deveriam calar. Viraram as costas à sociedade. Durante três anos articularam, conspiraram e ocuparam com voracidade os generosos espaços que a mídia lhes concedeu. Gastaram a bateria dos holofotes para uma irresponsável oposição ao governo. Agora, na miséria de seus quadros, chegam ao pleito com as mãos vazias.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

20/01/2022

 

Percival Puggina

        

“Ninguém ama aquilo que não conhece; ninguém esquece aquilo que ama” (Autor desconhecido)

         Um povo que não se conhece é prato feito ao gosto dos tiranos, dos aproveitadores, dos políticos corruptos e dos criminosos. Vulnerável como criança descuidada. Vive situação comparável a de alguém que perdeu a memória, destituída da própria identidade. Foi-se até o amor próprio.

Em seus casos mais graves, a perda da memória, que tantas vezes acomete pessoas idosas, leva-as a não reconhecer os familiares mais próximos, quando não a si mesmas. Do mesmo modo, o desconhecimento das origens, da história, da tradição, faz com que, para milhões de brasileiros de todas as idades, seja perdida a identidade nacional.

Isso pode acontecer na idade escolar pelo desinteresse comum da juventude, ou daqueles a quem caberia a obrigação de estimular o desenvolvimento dessa identidade – os pais, por despreparo, e os professores, por estratégia política. Nesta segunda hipótese, a experiência mostra haver um interesse em desconstruir o sentimento porventura existente, ou apresentar um acervo útil à política revolucionária. Assim, a vítima torna-se disponível para os usos e abusos a que se refere o primeiro parágrafo deste pequeno artigo.

Em outra ocasião, escrevi sobre esses longos fios que nos unem individual e socialmente ao mais remoto passado da humanidade. À medida que esse fio se aproxima de nós, vêm com ele o idioma, a cultura e as tradições, os hábitos, a ordem política, as leis, a fé e muitos dos nossos sentimentos comuns. Com as migrações, o vaivém dos fios promove interações, como que tecendo malhas que vão compondo a história e a civilização. Quando bem próximos de nós, esses fios trazem a família e os antepassados, a voz dos pais, os sentimentos mais arraigados, os exemplos, os conselhos e as experiências sociais.

Agora, caro leitor, corte esses fios. Vai-se a memória. Resta apenas o presente, o sentimento sem regras, o pescoço disponível para a canga e a vida nos direitos “concedidos” pelos abusadores de plantão.

Parte importante do processo de dominação consiste, não apenas em manter apartado desses bens culturais o maior número possível de pessoas que já nascem sem acesso a eles, quanto depreciá-los perante aquela porção da sociedade potencialmente capaz de valorizá-los.

É nessa porção que opera a máquina de guerra cultural das mentes totalitárias criminalizando a fé, a tradição e a história; depreciando os consequentes valores morais; ridicularizando o sentimento patriótico inerente aos atos, símbolos e hinos; ocultando os grandes vultos de nossa história para que seu exemplo não mais seja seguido. E assim, sai Bonifácio e entra Marighella, sai Nabuco e entra Zé Dirceu, sai Elis e entra Anitta, sai Brossard e entra Alexandre.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

Percival Puggina

18/01/2022

 

Percival Puggina

 

         Quem for eleito presidente da República indicará em 2023 dois novos ministros ao STF em substituição a Ricardo Lewandowski e a Rosa Weber. Não quero nem pensar no que faria Lula se a caneta das indicações lhe retornasse às mãos. O Supremo que emergiu da década petista é esse de que padecemos. Em 2018, o candidato da maioria de seus membros perdeu as eleições. Inconformado, tornou-se, o STF, um dos muitos centros de poder nacional cujos membros combatem ferozmente os objetos de seus próprios preconceitos e malquerenças.

Podemos divergir sobre o quanto isso afetou a vida institucional do país. Mas é inegável que o Supremo atraiu muito desagrado ao destruir a Lava Jato e, com ela, as esperanças de um Brasil passado a limpo. A contribuição do STF ao combate à criminalidade e à impunidade corresponde a algum algarismo bem menor do que zero, no que empata com o Congresso Nacional.

Parece oportuníssimo reproduzir aqui palavras de Jesus Cristo em Mateus 20:25-28. Não o faço por ser católico, mas por quanto há de sabedoria nestas poucas e raras palavras de Jesus objetivamente “políticas”.

"Sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. Não seja assim entre vós. Pelo contrário, quem entre vós quiser fazer-se grande seja o vosso servo; e quem no meio de vós quiser ser o primeiro seja vosso servo. Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir."

O princípio aqui enunciado proporciona a quem esteja investido de poder muito daquilo que os romanos chamavam “Auctoritas” e descrevia aquela ascendência inerente a certos indivíduos como efeito natural do bom exemplo, da sabedoria, da experiência e das virtudes.

De nada vale os senhores ministros reclamarem para si, em decorrência do poder a eles atribuído, o reconhecimento e a consideração que, na vida real, advêm da Auctoritas. Esta, por muitas razões, é mercadoria em falta, um passo fora dos salões onde, por dever de ofício, entram os rapapés e as cortesanias de praxe. Quanto tais louvações realmente valem daquilo que pesam nas falas à Corte?

Em excelente artigo de 2010, o padre e mestre português Dr. Anselmo Borges inflama-se ao referir aqueles que, no exercício de seu poder institucional, não cuidam de preservar a auctoritas. Fala sobre os maus pais e pergunta: o que acontece quando lhes faltam as condições morais necessárias para exercer e fazer crescer a dignidade dos filhos? Fala sobre os maus professores, observando que “quando os estudantes descobrem que um professor é incompetente, é melhor pôr-se a salvo”. Por fim, menciona aquelas personagens do mundo político a quem, por falta de qualificação intelectual, técnica ou moral, “à função de deputados ou ministros só resta o nome”.

A perda de referências dá causa a um desastre social no Brasil. Só não vê quem disso se beneficia.

  1. https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/anselmo-borges/potestas-e-auctoritas--1476678.html

 

Percival Puggina

15/01/2022

 

Percival Puggina

 

O que queres que faça? Almoçar cada dia um sapo e não ter nojo? Trazer os joelhos encardidos? Exercitar a espinha em todos os sentidos? Gastar o próprio ventre a caminhar de bojo? Não, muito obrigado! (Edmond Rostand, em Cyrano de Bergerac).

         Eis o que nos está sendo cotidianamente pedido. A isso também digo – Não, muito obrigado!

Se alguém imagina que os perigos que rondam a nação chegarão batendo à porta e pedindo licença, está muito enganado. Tal expectativa é de alto risco.

Tenho lido frases escritas por cidadãos brasileiros nas redes sociais defendendo censura e prisão para quem não vacinar filhos na faixa etária de 5 a 14 anos! Tenho visto cidadãos brasileiros falando como alguns ministros do STF falam; e isso é péssimo!  Tenho visto cidadãos brasileiros entregarem espontaneamente seu discernimento, sua liberdade de pensamento e expressão e aceitarem que a verdade possa ser estatizada! Tenho ouvido aplausos à prisão de brasileiros por atos que não constituem crimes e à soltura de bandidos condenados para retorno expedito às urnas e à vida pública! A tudo assisto em uma nação que, certo dia, acreditou serem para pessoas com ficha limpa as disputas eleitorais!

Em respeito a todos os leitores, não diria o que afirmarei agora se não estivesse tão evidente que parcela significativa da sociedade entregou a liberdade e perdeu a autonomia, e essa perda já é o próprio perigo tomando posições, ou seja, desorientando corações e mentes.

Do exterior, vem a pergunta insistente: “O que acontece com o Brasil? O povo quer confiar-se a corruptos condenados?”

A resposta sai sofrida porque exige falar de um país onde as formas de autoridade – seja moral, intelectual, ou espiritual – entraram em colapso. Em muitos casos, restou apenas o poder, sem autoridade. Onde essa autoridade (auctoritas de que falavam os romanos) definha, vai-se a moral das gentes. Por erosão constante, ela definha nas famílias, nas escolas, na política, nos meios intelectuais e nos religiosos, nas cortes.

Esse não é o meu Brasil! Esse Brasil é obra de mãos maliciosas e gananciosas pelo poder. Ele, o poder, é sempre o tema, como Celso Daniel veio a saber pelo pior modo possível.

Este Brasil forma cidadãos proporcionando uma educação militante e deficiente junto com uma ruptura dos vínculos com as fontes de verdadeira autoridade intelectual e moral. Mas isso está acontecendo em todo o Ocidente, não é mesmo? E a tirania entra sem bater à porta.

Felizmente, alguns, ainda, dizem –  “Não, muito obrigado!”. 

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

Percival Puggina

13/01/2022

 

Percival Puggina

 

         Você quer um candidato a presidente perfeito, assim como você? Não tem. Então, vamos falar sério.

         O mercado eleitoral para 2022 se movimenta em torno do que temos e salta aos olhos a grande responsabilidade dos conservadores brasileiros em relação às posições reavidas em 2018. É em torno delas que, desde então, a disputa se trava! Tudo mais, do mi-mi-mi ao blábláblá, das rotulagens às narrativas, gira em torno desse eixo. E o mundo, com interesse, observa.

Pense nas famílias norte-americanas, notadamente no caso iniciado pela senhora Stacy Langton, do Condado de Fairfax, na Virgínia, quando soube que uma escola local passara como temas a alunos de high school (14 a 17 anos) descrever “uma cena de sexo que você não mostraria à sua mãe” e escrever “um cenário Disney x-rated” (proibida para menores). Pense nas bibliotecas escolares (e o mesmo acontece em outros estados), que disponibilizam aos estudantes livros com cenas pornôs entre adultos e jovens.

Pondere, agora, a contestação a essas denúncias feita pelo autor de Lawn Boy, um desses livros. Entrevistado pelo Washington Post, ele respondeu:

“Penso que essas pessoas estão aterrorizadas porque estão perdendo a guerra cultural”.

E tudo começará a ficar mais claro. O fenômeno é mundial, tem inúmeras faces e frentes, multidões de agentes, muito dinheiro envolvido e inesgotáveis fontes de recursos.

Voltei a ler os discursos de Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da ONU nos anos de 2019, 2020 e 2021. Os três foram, como de hábito, severamente criticados pela mídia nacional. No entanto, encontrei, em todos, momentos de grande coragem e fortíssimos motivos para chamar a atenção de muitos, mundo afora.

Note-se que o presidente fala à nata mais fina do “politicamente correto”. Fala a chefes de Estado e de governo, chanceleres e à alta diplomacia mundial. No que diz, em acréscimo a temas de específico interesse brasileiro, o presidente adiciona afirmações assim:

A ideologia se instalou no terreno da cultura, da educação e da mídia, dominando meios de comunicação, universidades e escolas.

A ideologia invadiu nossos lares para investir contra a célula mater de qualquer sociedade saudável, a família.

Tentam ainda destruir a inocência de nossas crianças, pervertendo até mesmo sua identidade mais básica e elementar, a biológica.

A ideologia invadiu a própria alma humana para dela expulsar Deus e a dignidade com que Ele nos revestiu. (2019)

O Brasil é um país cristão e conservador e tem na família sua base. (2020)

O Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus militares, valoriza a família e deve lealdade a seu povo.

Temos a família tradicional como fundamento da civilização. E a liberdade do ser humano só se completa com a liberdade de culto e expressão.

Sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea e com a mesma responsabilidade. As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação, em especial, nos gêneros alimentícios no mundo todo. (2021)

Mesmo sendo uma das 10 maiores economias do mundo, somos responsáveis por apenas 3% da emissão de carbono. (2020)

Esta não é a Organização do Interesse Global! É a Organização das Nações Unidas. Assim deve permanecer! (2019)

Deus abençoe a todos! (2021)

Vejo aí motivos mais do que suficientes para que o presidente desperte atenções na também imensa parcela da população do Ocidente que não quer dar razão ao autor de “Lawn boy”.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

11/01/2022

 

Percival Puggina

 

         Depois de três anos atrapalhando e prejudicando deliberadamente o país agora são candidatos para “salvá-lo”?  À miudeza se responde com grandeza!

       Em artigo anterior, publicado na semana passada, afirmei que a vitória de Bolsonaro disse ao mundo que, aqui no Brasil, haveria resistência à hegemonia esquerdista, autorrotulada “progressista”. No entanto, poderosas máquinas de guerra não são enfrentadas sem determinar reações. Elas foram interna e externamente implacáveis e causaram dificuldades ao país.

Não creio, porém, que esse contexto tenha levado qualquer fração do eleitorado vitorioso naquelas urnas a gostar do que antes não gostava, a aprovar o que antes condenava, nem a inverter seus princípios e seus valores. As coisas não acontecem assim. A estratégia oposicionista, que se faz supor exitosa, consiste em fazer crer que o presidente cria os próprios embaraços (eventualmente, isso acontece em qualquer governo, mas não é a regra, nem a causa).

Portanto, tudo se passa na mídia de massa como se o presidente da República conseguisse transformar um perfumado e plácido mar de rosas em turbulenta cachoeira de desastres. Quem lê editoriais colhe a impressão de que os próprios veículos, o Congresso Nacional, o STF, fazem o possível para tudo andar bem, mas o governo não deixa! Essa é a mensagem que tentam fazer chegar ao eleitor enquanto procuram intimidar os conservadores nos restritos espaços das redes sociais.

A despeito da cotidiana corrida de obstáculos, o governo poderia operar com maior desembaraço não fosse a impossibilidade de compor maioria parlamentar. Estou bem atento às manifestações dos presidenciáveis. Lidam com o futuro como se as dificuldades institucionais do país se resolvessem com suas vitórias pessoais nas urnas de outubro. É como se dissessem: “Votem em mim. A governabilidade a gente vê depois”...  Tá bom!

Bolsonaro tentou contornar essa montanhosa e espinhosa barreira indicando previamente, para a maior parte de seu ministério, técnicos de fora do circuito político-eleitoral. Qual o resultado? O mercado de votos parlamentares se sublevou! As cotações dispararam. O pregão teve que ser fechado. Rodrigo Maia era o senhor do sim e do não e só liberava o que não tinha importância. De responsável pela pauta, tornou-se senhor das decisões e já posava com ares de Primeiro Ministro. Lembram?

Ao mesmo tempo, em meio ao deliberado tumulto das relações institucionais, o STF dava carteiraço operando como dono da democracia e  “poder moderador” da República... Logo aquele estranho colegiado onde tão frequentemente falta moderação!

A questão, portanto persiste. E persiste num escandaloso silêncio das instituições! O que têm a dizer os candidatos a presidente que vêm ao eleitor pedir voto depois de haverem, mediante sucessivas ações e omissões, procurado impedir o programa vitorioso nas urnas de 2018? O que tem a dizer sobre o que se recusaram a votar? Pergunto: como esperam obter maioria num parlamento onde haverá mais de duas dezenas de minorias no outro lado do balcão dos negócios que hoje frequentam?  Como pretendem votos depois de agirem como agiram?

Este não pode ser um não assunto na campanha eleitoral que já começou! À miudeza se responde com grandeza!

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.