Percival Puggina

03/11/2011
Reafirmo meu pessimismo: mais cedo ou mais tarde, como vem ocorrendo com todas as teses provenientes desses segmentos ideológicos e políticos, os crucifixos serão arrancados das paredes. E o resíduo cultural cristão ainda persistente continuará cedendo lugar a um humanismo desumano, destituído de alma e avesso a Deus. Avesso ao Deus cuja proteção é invocada na Constituição. Não guardo ilusões. Quando se encontra com a omissão de muitos e a ingênua tolice de outros tantos, a malícia passa por cima e impõe o que pretende com quase nenhuma resistência. Aparentemente é uma questão simples. Afinal, se o Estado é laico, os espaços públicos ou sob responsabilidade do Estado não deveriam ser isentos de qualquer religiosidade, como banheiros de estação? O crucifixo, na parede de uma repartição, seria, nessa perspectiva, um atropelo à equidade, um agravo à Constituição e à Justiça. Remova-se, então. Mas tenha-se a coragem de assumir perante a história o registro do que foi feito: preserve-se o prego! Preserve-se o prego para que todos reconheçam o extraordinário serviço prestado. Para que todos saibam que ali havia um crucifixo, e que ele foi removido por abusivo, ofensivo, intolerável às almas sensíveis que, em nome da Justiça, se mobilizaram contra ele. Observe de onde procedem os ataques aos crucifixos. Nem todos os que tocam nessas bandas são contra os crucifixos e nem todos o são por malícia. Mas todos os que se opõem aos crucifixos tocam nessas bandas. Tocam numa certa esquerda e numa certa direita. Ajudam-se mutuamente no processo de destruição dos valores. A cara da utopia da igualdade é o focinho da utopia da liberdade sem limites. Quando discorrem sobre seus motivos em relação aos crucifixos, transmitem a ideia de estarem jungidas a um imperativo constitucional - o Estado, mesmo não sendo ateu, é laico. Não tem religião própria. E os ingênuos abanam a cabeça em concordância: afinal, se há lugar para um crucifixo, por que não revestir as paredes com os símbolos de todas as outras religiões e crenças existentes? Ou tem para todos, ou não tem para ninguém. Com tanta coisa contra que lutar, escalam como adversário Jesus de Nazaré... O crucifixo na parede da repartição não é peça publicitária. Não é elemento de proselitismo religioso. Não transforma o espaço em local de culto. É referência a um patrimônio de valores universais sem similar na iconografia humana: amor a Deus e ao próximo mesmo se inimigo, solidariedade, justiça, misericórdia, paz. Se tirar o crucifixo, fica o prego. Por outro lado, percebam todos ou não, a mobilização pela remoção é apenas mais um ato da longa empreitada do relativismo, do hedonismo e do materialismo visando à deliberada destruição das bases da civilização ocidental. Apenas mais um gesto. Querem a prova? O mesmo argumento que pretende a remoção do crucifixo (o mesmíssimo argumento!) quer silenciar os cristãos sempre que se debatem aspectos morais de propostas legislativas ou decisões judiciais. O estado é laico e os argumentos baseados numa moral de origem religiosa não podem ser admitidos!, proclamam com enfatuada sabedoria. Ou seja, admitem-se nos debates as opiniões de ateus, de movimentos sociais, de sindicatos, de homossexuais, de partidos políticos, de endinheiradas ONGs, do que for. Admite-se opiniões do Além, psicografadas. Vale, até, opinião de quem não tem moral alguma. Mas não se toleram opiniões coincidentes ou fundadas na moral cristã. Pasmem os leitores: com esses argumentos de almanaque, com essa lógica de gibi, se consideram gênios da retórica, porta-estandartes da equidade. E não faltam ingênuos para aderir a essa conversa mole! No entanto, saibam quantos lerem este artigo: o comunismo, ao refletir sobre suas dificuldades para expandir-se na Europa Ocidental, concluiu que seus maiores obstáculos estavam propostos pelas bases cristãs da cultura vigente. Desde então tem sido o que se viu. E só não percebe quem não se importa em servir de pomba para a refeição dos gaviões. ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Luiz José Mendonça.

30/10/2011
ENTREGA DAS MAIORES RIQUEZAS DA AMAZÔNIA AOS ESTRANGEIROS Luiz José Mendonça Caríssimos amigos patriotas. Com a vivência de quatro décadas, voando na Amazônia, há alguns anos venho alertando sobre os crimes de lesa-pátria, que os governos civis, que assumiram o poder após os militares, vêm praticando na região norte do país, entregando parte de nosso território amazônico aos estrangeiros, através de gigantescas criações e ampliações de ?Reservas Indigenistas?, chamadas ?TI? ? Terra indígena. Sempre aliciados e pressionados pelas tais ONGs (milhares delas na Amazônia), os presidentes civis, foram cedendo às suas pressões. Inicialmente a área dos Yanomami, com 9,6 milhões de hectares - 96 mil km², que foi criada por decreto e homologada, no ano de 1990, pelo Presidente da República, Fernando Collor de Mello que arrebentou com o Estado de Roraima, tanto com sua economia, quanto a parte física, subtraindo grande parte de seu território, entregando para índios que sequer são brasileiros. As Ongs ?Organizações não governamentais?, foram aumentando e hoje são milhares. Segundo consta, só na Amazônia, com a desculpa de proteger os indígenas, são mais de 100 mil delas. Continuaram com exigências no governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pressionando para abocanhar a TI Raposa/Serra do Sol, com 1,7 milhões de hectares, 17 mil km², cuja demarcação em área contínua, como queriam as ONGs estrangeiras, foi autorizada por nada menos que 8 ministros do Supremo Tribunal Federal, STF, todos nomeados pelo Presidente Lula da Silva, que homologou e entregou de ?mão beijada?, o sítio mineralizado mais rico do planeta aos estrangeiros, com essa armação de TI (terra indígena). Para ser agradável a ONU, pois pretendia ser secretário geral daquele órgão ao deixar a presidência da República, ele mandou que os delegados brasileiros, chefiados pelo comunista Celso Amorim, hoje Ministro da Defesa, protocolassem o reconhecimento do Brasil aos ?Direitos Universais dos Povos Indígenas?, o que transformará as reservas existentes em nações, que em breve serão nações estrangeiras dentro de nosso país. Assim ele deixou o governo com uma belíssima ?herança maldita?. Entregou boa parte de nossa Amazônia para os estrangeiros, nos deixou uma dívida pública impagável de 2 trilhões de reais, cujos juros nos destroem e, ainda por cima, pretende voltar em 2014 para implantar o totalitarismo, fazendo do Brasil uma gigantesca Cuba e, ele seria, claro, o grande ditador, ao estilo de seu ídolo de Havana. Essa traição de lesa-pátria tem que ser revista. Esses decretos de homologação de imensas reservas indigenistas, inventadas, têm que ser anulados pelo atual Presidente da República de qualquer maneira. O Brasil pertence ao povo brasileiro, às futuras gerações, aos nossos filhos e aos nossos netos. País algum, permitiria tamanha traição por governantes que facilitam a entrada e ainda dão recursos para ONGs estrangeiras aqui permanecerem, como o fizeram os governos de FHC e Lula da Silva. (...)

Percival Puggina

29/10/2011
Twitter: @percivalpuggina Em Pombas e gaviões aduzi, já na capa, o alerta que caracteriza os dez textos que nele se contêm: os ingênuos estão na cadeia alimentar dos mal intencionados. É uma preocupação que os últimos anos vieram acrescentar às que eu já tinha em relação ao futuro de nosso país. Com efeito, considero coisa certa, provada pelos fatos, que a única tese efetivamente abandonada pela esquerda para tomada do poder é a tesa da luta armada. O camarada Gramsci acendeu um farol sobre a formação da hegemonia como estratégia alternativa e mais eficiente (anote aí à margem: fazer do ENEM porta única para entrada da universidade é parte disso). O Senado Federal aprovou, como se previa, a criação da tal Comissão da Verdade. Haverá prova mais contundente de que usam e abusam da ingenuidade alheia? E de que a encontram, no parlamento brasileiro, em quantidade suficiente para aprovar uma coisa dessas? A ideia original de Lula e dos seus era bem outra. Era abortar a anistia ainda em 1979. O jornalista José Nêumanne (autor do livro O que sei de Lula), em entrevista ao jornal O Globo no dia 29 de agosto passado, contou ter sido procurado, entre 1978 e 1979, pelo então presidente da Arena, Cláudio Lembo, para cumprir uma missão solicitada pelo general Golbery do Couto e Silva. Golbery queria apoio de Lula para a volta dos exilados. A reunião, testemunhada pelo jornalista, ocorreu num sítio. Qual a resposta de Lula? ?Doutor Cláudio, fala para o general que eu não entro nessa porque eu quero que esses caras se danem. Os caras estão lá tomando vinho e vêm para cá mandar em nós???. O elevado critério moral de Lula não prevaleceu, a anistia aconteceu em 1979 e foi constitucionalizada em 1988. Pois eis que coube ao próprio Lula, três décadas depois daquela reunião relatada por Nêumanne, enviar ao Congresso Nacional, no ano passado, o projeto da Comissão Nacional da Verdade. O mundo deu umas quantas voltas, é certo, mas em nada se comparam ao efeito giratório que as conveniências políticas determinam sobre a moral de certas pessoas. É esse projeto que foi aprovado pela Câmara dos Deputados e acaba de sair do forno do Senado. Como Lula não conseguiu abortar a anistia em 1979 e a tentativa de matá-la quando já tinha 31 anos foi inviabilizada pelo STF em abril do ano passado, restou a alternativa da Comissão da Verdade. Os ingênuos acreditam no que está estabelecido no parágrafo primeiro da lei que cria a Comissão, segundo o qual lhe caberá efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional. No entanto, qualquer pessoa que junte b com a para fazer ba sabe que o julgamento pretendido pelos que queriam revogar a Lei de Anistia será substituído, agora, por mero linchamento sem processo nem direito de defesa. Durante dois anos (anote aí que isso será prorrogado pelo tempo que convier politicamente à esquerda) teremos uma Comissão de sete membros, escolhidos autocraticamente pela presidente Dilma, para investigar metade da verdade, posto que os crimes cometidos pelos guerrilheiros da luta armada não integram o escopo da Comissão, segundo se depreende do conjunto de suas atribuições. A própria presidente tem interesses diretos em que não se acendam luzes sobre roubos, assaltos e assassinatos praticados e cometidos pela organização comunista que integrava. A mim não me convence essa defesa dos direitos humanos com foco ideológico e com as refrações óticas determinadas pelo tempo. O SOS Tortura, telefone de denúncia instalado de outubro de 2001 a setembro de 2002, registrou 25 mil comunicações! Relativas a fatos da atualidade. Mas a única tortura que interessa à esquerda militante é a ocorrida num tempo em que esse tipo de crime, embora sempre repugnante e hediondo, sequer estava tipificado como tal no Código Penal brasileiro antes de 1997. Por fim, reitero: tortura é coisa de degenerados. Torturador é monstro que deve arder na cela mais quente do inferno. Junto com seus assemelhados do terrorismo. Mas a anistia pacificou e encaminhou o país para a normalidade institucional ao longo de três décadas. É importante que se acendam luzes sobre o passado, mas sem essas pretensões de linchamento público, de vender meia verdade como verdade inteira, ou de transformar em heróis da democracia aqueles que lutaram por um regime totalitário infinitamente pior do que o regime autoritário que combatiam. A verdade sobre períodos históricos nunca foi e jamais será determinada por uma comissão. Conceder autorização legal para que sete pessoas, nomeadas por uma oitava interessada, execute tal tarefa é ato legislativo para cuja aprovação se somam a inequívoca malícia de uns, a inaceitável irresponsabilidade de outros e a ingenuidade das pombas frente a voracidade dos gaviões. ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

28/10/2011
NO ANO DA GRAÇA DE 2014 Percival Puggina Quem já passou pela porta que dá acesso às salas de embarque doméstico do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, sabe do que estou falando. A partir dali, tudo se torna impreciso. Esfumam-se os compromissos, dissolvem-se as agendas, o futuro se faz incerto e a paciência é testada além das fronteiras da civilidade. Aquele lugar me faz lembrar a sentença que Dante Alighieri esculpiu nos umbrais do Inferno: Abandonai toda esperança, vós que entrais. Dia desses tocou-me estar naquele corredor. Meu voo deveria sair às 8 horas, mas somente consegui embarcar lá pelas duas da tarde, após várias mudanças de sala de espera (parece impossível, ali, coincidirem número de voo e portão de embarque). Enquanto uma funcionária de empresa aérea corria de sala em sala chamando passageiros na base do grito, comentei com um vizinho de banco o caos reinante. Respondeu-me ele: Até a Copa de 2014 tudo estará solucionado. Horas depois, já embarcado, aquelas palavras ainda repercutiam em minha mente. Até a Copa. Quando a Copa começar. Em 2014. Por enquanto vamos assim, mas em 2014... Percebi que esse mesmo ano integra o horizonte de quase todas as promessas eleitorais feitas nos Estados em 2010. Os principais temas suscitados na campanha sucessória do ano passado, temas candentes dos discursos oposicionistas que levaram ao poder tantos governantes, já em janeiro foram imediatamente catapultados para aquele ano, para o ano da Copa, para o término dos atuais mandatos - o Ano da Graça de 2014. Anote aí: 2014 vai ser tudo de bom...

Érico Valduga

25/10/2011
DE ONDE SAIRÁ O DINHEIRO DO METRÔ Érico Valduga, em Periscópio Noves fora a propaganda, os números apontam que a parte da União é menor do que a soma dos recursos locais no investimento de R$ 2.488 bilhões Há quatro dias, em texto assinado no Jornal do Comércio, a deputada Manuela D?Ávila (PCdoB) referiu que o governo federal, aquele que embolsa 63% do bolo tributário total do país, e transformou a federação brasileira em ficção, é o ?grande financiador? do metrô de Porto Alegre. Ela está errada, mas erra acompanhada de um bocado de gente do chão farroupilha, induzido a assim pensar pela propaganda oficial, que, no caso, teve grande colaboração da imprensa provinciana na recente visita ?histórica? de Dona Dilma Rousseff ao Estado. A presidente da República anunciou, então, o investimento federal de R$ 1 bilhão na obra, a fundo perdido, mesmo montante que, horas antes de aqui chegar, anunciara para o metrô de Curit iba. A quantia deve ser semelhante à destinada aos trens de Salvador e Recife, e certamente inferior à de Brasília. Os valores do empreendimento e a origem do dinheiro foram informados pelo governador Tarso Genro ao mesmo jornal na semana anterior. O projeto da linha Rua da Praia-Fiergs está orçado, em princípio (isto é Brasil), em R$ 2.488 bilhões, o equivalente a 7% do Orçamento estadual do corrente ano. O total será custeado desta forma: o bilhão federal, R$ 600 milhões da Prefeitura da Capital, R$ 300 milhões do Governo do Estado, R$ 265 milhões de isenções fiscais municipais e estaduais e R$ 323 milhões de financiamentos a prováveis parceiros privados. O desembolso começa no próximo ano e será concluído em 2016, na melhor das hipóteses. Não há um patrocinador de relevo, ainda que o Município possa destacar-se na comparaç 27;o de seus recursos com os das outras duas esferas de governo.

Érico Valduga

24/10/2011
O OVO DA SERPENTE Érico Valduga, em Periscópio Tarso Genro fala em substituir instituições, mas quem asilou no país o assassino Cesare Battisti, contrariando o Conare e a lei dos Estrangeiros? Disse o governador Tarso Genro, na abertura do congresso do Ministério Público contra a corrupção, quinta-feira, em Porto Alegre, que ?criou-se um jornalismo de denúncia? no país, que ?usa a corrupção como argumento para dizer que as instituições não funcionam e tentar substituí-las?. Talvez ele tenha um fundo de razão na afirmação, o que não significa que seja verdadeira, pois algo muito parecido aconteceu no Rio Grande do Sul quando dirigia o Ministério da Justiça e o subordinado Departamento de Polícia Federal, nos três anos que antecederam a eleição de 2010. É ocioso, prezados leitores, recordar os numerosos episódios de imputações vazias de crimes que vocês conhecem, mas cabe le mbrar um deles, por paradigmático, que foi a investigação policial e a denúncia circense de seis promotores públicos federais no caso ajuizado em Santa Maria contra adversários políticos do petismo. Aí não era ?jornalismo de denúncia?. Quando lhe convém, e ao petismo cevado na corrupção desde o Mensalão, o advogado que governa o Estado esquece que a imprensa não produz fatos delituosos contra as instituições, e muito menos tenta que as instituições sejam substituídas. Tudo o que tem sido publicado, para espanto da sociedade, se origina de investigações policiais e de órgãos fiscalizadores do próprio governo. Os meios de comunicação não inventam nada que não tenha acontecido, pois trabalham com fatos. Quanto a tentar substituir as instituições, é acusação grave, que o governador nã o detalhou (fez como a imprensa que ele diz existir) pelo simples fato de que não se pode detalhar o que não existe. Mas está coberto pela liberdade de expressão, que lhe permite até criar teses estranhas, na pretensão de bloquear a publicação de denúncias de malfeitorias na União, as quais já derrubaram cinco ministros e ameaçam, agora, o governador petista do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Ele acaba de ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República.

Percival Puggina

24/10/2011
Lembro de um tempo em que, para retirar dinheiro da conta bancária era preciso comparecer à agência e apresentar no balcão de atendimento um cheque no valor a ser sacado. O funcionário ia até uma caixinha (mais ou menos como é ainda hoje nos nossos retrógrados cartórios de registros de títulos e documentos) e conferia a assinatura. Depois, ia até outra caixinha e anotava na ficha pessoal do correntista o valor do cheque que seria pago no caixa, mais ou menos por ordem de chegada. Se não era bem assim era algo muito parecido. Hoje, vai-se muito menos às agências bancárias. Não há por que fazê-lo, graças aos débitos em conta, aos caixas eletrônicos, aos cartões de crédito e às operações seguras através da internet. Tentei descobrir o reflexo desses avanços tecnológicos nos quadros de pessoal do sistema bancário nacional. Não encontrei algo atualizado, mas identifiquei que o grande impacto ocorreu nos anos 90 e implicou em cerca de 400 mil postos de trabalho fechados, equivalendo a cerca de 50% do total do setor. Até aí nada de mais. Se a preservação de métodos atrasados e dispendiosos para garantir empregos fosse coisa boa, a regressão a métodos ainda mais superados e onerosos seria ainda melhor. Voltaríamos ao artesanato e à agricultura de subsistência. A um passo da pedra lascada e do tacape. O combate às modernas tecnologias é das coisas mais retrógradas e vãs que se possa conceber. Mas há alguns probleminhas que estão a exigir reflexão da sociedade sobre o nosso sistema bancário. Todos os admiráveis avanços tecnológicos dos bancos brasileiros se refletiram em custos para os correntistas e em aumento dos lucros das instituições para percentuais sem comparação nos quadros internacionais. E sem qualquer repercussão nos padrões sociais dos funcionários remanescentes. Isso está errado e não aconteceria se o sistema financeiro nacional não contasse, em suas prerrogativas, com o elevado patrocínio do Estado brasileiro. Não basta fiscalizar o sistema para que ele se mantenha sadio. É preciso controlar sua ganância para proteção dos consumidores dos serviços bancários. E para benefício dos funcionários. Sei, sei porque conheço, o nível de estresse a que as demandas de produtividade levam os bancários, não raro constrangidos, para além de suas atividades rotineiras, a atingirem metas em corretagem de seguros, vendas de serviços e de aplicações das instituições. Não sou contra indicadores de eficiência, gestão por metas e aumentos de produtividade. Mas o que acontece no sistema bancário ultrapassa todas as medidas quando confrontado, por outro lado, com indicadores de respeito à pessoa humana. Não saciados com os juros cobrados, os bancos ainda se regalam com as escandalosas taxas que aplicam aos serviços. Recentemente circulou na rede um texto assemelhando a conduta dessas instituições a uma padaria que, sobre o preço do pão que fornecesse, ainda fizesse o cliente pagar pela existência da padaria, pela abertura das portas, pelo acesso ao pão, pelo embrulho do pão e por aí afora. A recente greve dos bancários, prolongada por mais de mês, foi um ato de desrespeito dos banqueiros para com seus funcionários e clientes. A indispensabilidade dos serviços que prestam é privilégio desse ramo de atividade, mas não é motivo para as explorações que promovem ao longo de sua cadeia produtiva. Zero Hora, 23/10/2011

Autor desconhecido

14/10/2011
DIÁLOGO ENTRE DOIS FETOS GÊMEOS Autor desconhecido No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebês. O primeiro pergunta ao outro: - Você acredita na vida após o nascimento? - Certamente. Algo tem de haver após o nascimento. Talvez estejamos aqui principalmente porque nós precisamos nos preparar para o que seremos mais tarde. - Bobagem, não há vida após o nascimento. Como verdadeiramente seria essa vida? - Eu não sei exatamente, mas certamente haverá mais luz do que aqui. Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comeremos com a boca. - Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Eu digo somente uma coisa: A vida após o nascimento está excluída ? o cordão umbilical é muito curto. - Na verdade, certamente há algo. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui. - Mas ninguém nunca voltou de lá, depois do nascimento. O parto apenas encerra a vida. E afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na escuridão. - Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós. - Mamãe? Você acredita na mamãe? E onde ela supostamente está? - Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos. Sem ela tudo isso não existiria. - Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma mamãe, por isso é claro que não existe nenhuma. - Bem, mas às vezes quando estamos em silêncio, você pode ouvi-la cantando, ou sente como ela afaga nosso mundo. Saiba, eu penso que só então a vida real nos espera e agora apenas estamos nos preparando para ela?

Percival Puggina

14/10/2011
É preciso reconhecer. A mitificação de Lula no nível que alcançou só poderia ocorrer mediante o invulgar conjunto de circunstâncias que alia características pessoais do líder; notáveis estratégias de poder e de comunicação social; circunstâncias internacionais favoráveis à economia brasileira; manutenção, durante boa parte de seu governo, das políticas de responsabilidade fiscal iniciadas com Itamar Franco; dotação de significativos recursos para o programa Bolsa Família; simpatia internacional ao perfil do operário no poder cuidando dos pobres. E por aí vai. Oitenta e tantos por cento de aprovação no mercado interno, a condição de celebridade internacional e a louvação da mídia mundial compõem um irresistível quadro de mitificação que colocam Lula num altar onde só se pode depositar flores. Critique quem quiser no país, mas não faça isso com Lula. Pega muito mal e retira de você credibilidade para qualquer outra coisa que pretenda dizer. É inútil mostrar que o governo petista se encaminha para fechar uma década com o país ostentando os piores indicadores, seja entre os membros do BRIC, seja entre nossos vizinhos da América Ibérica: a economia que menos cresce, a maior taxa de juros, a menor taxa de investimento, a maior inflação e a maior carga tributária. E as funções essenciais do governo (Educação, Saúde, Segurança e Infraestrutura) numa precariedade que ninguém, em sã consciência, deixará de reconhecer. São afirmações inúteis. Tudo se passa como se, depois de oito anos no poder, Lula nada tivesse a ver com isso. A ele, apenas créditos. No entanto, há débitos pesados na conta do lulismo instilado ao país. Em artigos anteriores, tenho afirmado que a política exige senso de realidade, que os bons estadistas são pessoas realistas, são pessoas afastadas de utopias e devaneios e interessadas em respostas corretas para duas interrogações essenciais: qual é o problema? qual é a solução? Nesse sentido, reconheça-se, ao romper com os delírios esquerdistas do PT, Lula conseguiu acertos e afastou-se de muitos erros. Mas na política, o realismo de Lula tornou-se cínico, desprovido de restrições de ordem moral. Abrigou à sombra do poder as piores figuras da política nacional. Não apenas as acolheu. Foi buscá-las para compor a base do governo. Entregou-lhes poder, cargos, fatias do orçamento e poderosas empresas estatais. Teve olhos cegos e ouvidos moucos para as patifarias que proliferaram do topo à base da pirâmide do governo. Seu partido, quando na oposição, brandia indignações morais, pedia CPI para carrocinha de cachorro quente e levantava suspeições sobre a honra de quem se interpusesse no seu caminho. No poder, foi o que se viu, o que ainda hoje se vê, e o quanto já veio à superfície nos primeiros meses da presidente Dilma, sob silêncio conivente das instrumentalizadas organizações sociais cuja boca foi emudecida por cargos e recursos públicos. A corrupção, casada em união estável e comunhão de bens com a impunidade, alcançou níveis sem precedentes. Estudo da Fiesp adverte para o fato de que ela consome algo entre 1,4% a 2,3% do PIB e custa cerca de R$ 69 bilhões nas contas da gatunagem fechadas a cada réveillon. A nação chegou ao fastio e à náusea dos escândalos de cada dia. Há uma indignação silenciosa. Ensaiam-se mobilizações de repulsa à corrupção. Mas elas são escassas, pequenas e de utilidade duvidosa. Por quê? Porque a corrupção pode ter filiais até na mais miserável prefeitura do país, mas a matriz está onde está a grana grossa, no poder central da República, para onde convergem todos os cargos, todas as canetas pesadas, todas as decisões financeiras, todos os contratos realmente significativos. E 23% do PIB nacional. O resto é resto. Mas não há como apontar o dedo nessa direção sem atingir em cheio o peito de quem, durante oito anos, desempenhou a mesma função de seus antecessores. E a estes, Lula, seu partido e fieis seguidores, sistematicamente, responsabilizavam por toda desonestidade existente no país. Quem quer que sentasse para governar, logo vinha o Fora Collor, o Fora Sarney, o Fora FHC. Alguém sabe me dizer por que, de repente, a corrupção não tem nome próprio nem governo definido? Eu sei. O lulismo amordaçou a moralidade nacional. ______________ * Percival Puggina (66) é titular do blog www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.