• Luis Alberto Villamarín Pulido
  • 31/03/2016
  • Compartilhe:

A REUNIÃO KERRY-FARC EM CUBA


(Publicado originalmente em http://www.midiasemmascara.org/)

O encontro do Secretário de Estado John Kerry em Cuba com os cabeças das FARC, articula conotações geopolíticas internacionais do interesse dos Estado Unidos sobre o Caribe, a linha política pacifista exterior de Barack Obama frente a países de tendência anti-ianque, e as conveniências partidaristas democratas no tenso período pré-eleitoral que se vive nos Estados Unidos. Isso foi o que pontuei em entrevista de análise política com o jornalista Carlos Montero, do programa Café CNN, que se transmite desde Atlanta, Geórgia, para as pessoas de fala hispânica do mundo.

1. É um giro surpreendente e insólito que o chanceler dos Estados Unidos, que rompe uma tradição de solidez interna e externa da política norte-americana, que um alto delegado oficial se reúna com representantes de um grupo terrorista que tem afetado cidadãos desse país, e que é o principal responsável pelo envio de centenas de toneladas de cocaína aos Estados Unidos.

2. Que a reunião Kerry-cabeças das FARC tenha sido encenada em Habana, no preciso momento em que o presidente Barack Obama visitava a ilha, onde as FARC têm cobertura e cumplicidade, aponta a demonstrar o “interesse do Partido Democrata” em aclimatar a paz na vizinhança e tirar a preponderância que a Rússia e a China pretendem alcançar no Caribe.

3. Não se pode jogar num saco furado a frase de agradecimento de Obama ao regime castrista por ajudar a solucionar o problema da “guerra civil” na Colômbia, o qual indicaria que não foi um erro de dicção senão uma tendência da campanha democrata no interior dos Estados Unidos para apresentar a seu país as propostas eleitorais como a busca da paz, contrária ao belicismo desatado pela campanha do candidato mais cotado do partido republicano.
4. Ante a pergunta do apresentador Montero de quais seriam os cenários de paz na Colômbia dentro de um eventual pós-conflito, com os democratas ou os republicanos na Casa Branca dentro do próximo período presidencial, expliquei que ainda é difícil falar de pós-conflito, considerando-se que as FARC pretendem legitimar-se politicamente, querem que se lhes suspenda o rótulo de terroristas, que se lhes reconheça como um exército revolucionário ou uma força beligerante, e não entregar as armas.

Nesse cenário real para o que sucede na Colômbia, se os democratas chegarem ao poder, continuariam insistindo em “aclimatar a paz e buscar soluções negociadas”, porém o mais negativo para a Colômbia será continuar dialogando sem que as FARC deixem as armas, o narcotráfico e o terrorismo. E se os republicanos ganharem, haveria uma pressão diplomática da Casa Branca para atuar com maior contundência militar, policial e jurídica contra o narcoterror das FARC, assim como a imperiosa necessidade de derrotar todas as formas de conduta criminal das FARC.
5. Frente à pergunta do anúncio do acordo de paz para hoje, 23 de março de 2016, feito pelo presidente Santos e o terrorista Timochenko em setembro de 2015, afirmei que, a julgar pelas declarações públicas dos integrantes do Partido Comunista Clandestino das FARC - que não é tão clandestino -, das próprias FARC e da sonora frase de Obama acerca da “guerra civil” na Colômbia, o mais óbvio e provável é que hoje, 23 de março, as FARC e os delegados do governo Santos anunciem o início de um inconveniente cessar-fogo bilateral, assim como o eventual ingresso do ELN à mesa de conversações, não de paz, em Havana.

O "Café CNN" é um dos programas combinados de notícias, opinião e entretenimento com maior audiência no entorno de fala hispânica do mundo, e os segmentos de seu conteúdo são catalogados entre os mais profissionais da televisão norte-americana.

Tradução: Graça Salgueiro