• Percival Puggina
  • 23/10/2015
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AS EXORBITANTES PALESTRAS DE LULA

O site da revista Época publica matéria do jornalista Thiago Bronzatto contendo minuciosa listagem das 70 viagens do ex-presidente Lula entre 2011 e 2015, período ao longo do qual, "além das construtoras envolvidas na Lava Jato (Odebrecht, OAS e Andrade Gutierrez), o ilustre palestrante contou com cortesias e fretamento de aeronaves patrocinadas pelo banco BTG Pactual, Coteminas, Gerdau, Pirelli, Vale, Drufy Brasil".

A matéria pode ser lida aqui:
 http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/10/empresas-que-bancaram-viagens-internacionais-de-lula.html

COMENTO

  É difícil imaginar tamanho interesse em ouvir as milionárias conferências do ex-presidente. Tais eventos, sabe-se, são promovidos por grandes empresas que as destinam-se para clientes e executivos. Ora, Lula pode ser um provedor de conteúdos valiosos, mas não precisamente nos sentidos cultural, científico ou gerencial. No Brasil, sua fala é conhecida. No exterior, contando com a ajuda de tradutor qualificado, ele ainda pode consegue ocultar o modo truculento como lida com as regras de gramática. Dizem-me que Lula fica bem mais aceitável quando traduzido para o inglês.

  Subsiste, porém, a questão do conteúdo. Para valer centenas de milhares de dólares, as palestras precisam representar mais do que auto-louvações e refrões esquerdistas. Tampouco consigo imaginá-lo, diante de um público europeu, dizendo o que pensa sobre as zelite de olhos azuis, seu discurso mais fluente.

  Vem daí a inevitável suspeita, de que viagens e palestras de nosso ex-presidente tenham a ver com negócios das empresas que as patrocinam, interessadas em mostrar a um público interessado em dinheiro barato, que as promotoras têm acesso aos canais financeiros com que o Tesouro Nacional irriga o BNDES. A última notícia que li a respeito, no site G1 Economia, informava ser de R$ 450 bilhões o limite aprovado para o subsídio federal aos juros dos financiamentos concedidos pelo Banco. Repito: esse é apenas o valor do subsídio custeado pela sociedade para tais financiamentos.

 Justifica-se, então, o interesse do Ministério Público Federal em investigar as viagens, palestras e negócios correlatos. Não se trata de perseguição política. É algo a que não estamos muito habituados: uma instituição da República, cumprindo com independência seu dever.

É interessante perceber que quando o assunto começou a despertar interesse, quando surgiram as primeiras matérias sobre essas viagens e quando se manifestaram as dificuldades de caixa do BNDES e do governo da União, elas rarearam ou, mesmo, cessaram, segundo se pode observar na matéria da revista Época.