• Monica de Bolle e comentário meu
  • 10/06/2016
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O VERDADEIRO CUSTO DA OLIMPÍADA!


(Publicado originalmente no Estadão)

No artigo abaixo,a conceituada jornalista examina bibliografia técnica, dados e projeções sobre os efeitos dos Jogos Olímpicos sobre a economia brasileira. Ao final, eu faço alguns comentários.

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1. Há literatura vasta sobre o tema, muitos artigos acadêmicos que tentam destrinchar as verdades escondidas por detrás do "glamour" dos jogos, da propaganda, das palavras dos governantes. O que todo esse trabalho mostra é que as razões que levam um País, uma cidade, a pleitear o título de anfitriã da Olimpíada têm pouca ou nenhuma relação com argumentos econômicos. Estudo recente de autoria dos economistas Robert Baade e Victor Matheson publicado na última edição do Journal of Economic Perspectives diz, com clareza: "A conclusão contundente é que, na maioria dos casos, as Olimpíadas geram perdas expressivas para as cidades anfitriãs. Sobretudo quando essas cidades pertencem aos países menos desenvolvidos".

2. Pensemos no caso do Rio de Janeiro, município cujo déficit como proporção das despesas correntes líquidas alcançou exorbitantes 17% ao final de 2015. Estudo comissionado pelo Ministério dos Esportes e preparado pela USP diz que, para cada US$ 1 de investimento, o País terá retorno de US$ 3,3 até 2027, que o impacto sobre o PIB do País poderá alcançar a extraordinária cifra de 2% do PIB, que cerca de 120 mil empregos serão criados, anualmente, até 2027.

3. Recorrendo à evidência internacional, Baade e Matheson (2016) afirmam que uma boa regra de bolso para avaliar o real impacto da Olimpíada sobre a economia é pegar o que dizem governos e organizadores e mover tudo uma casa decimal para a esquerda. Se fizermos isso com o ganho de 2% do PIB estimado pela USP, concluímos que o melhor que se pode esperar é ganho de 0,2% do PIB, número que não chegaria a pódio algum.

4. Originalmente, a Olimpíada estava orçada em US$ 13,7 bilhões, montante reduzido para US$ 11 bilhões quando o governo federal, responsável por mais de dois terços das obras de infraestrutura para os jogos, percebeu que não conseguiria dar conta do recado em meio à recessão e aos imensos problemas do País. Ainda não será desta vez que o metrô do Rio será concluído. A quantia de US$ 11 bilhões representa, ao câmbio de hoje, cerca de 0,6% do PIB brasileiro. Contudo, dizem Baade e Matheson, geralmente os custos excedem em 150% aqueles anunciados pelo governo.

5. Acreditando nos economistas, somei. Cheguei a um custo final de US$ 16 bilhões, ou cerca de 0,9% do PIB brasileiro. Se subtrairmos do ganho esperado de 0,2% do PIB os custos de 0,9%, a Olimpíada haverá de deixar-nos prejuízo de 0,7% do PIB, ou uns R$ 42 bilhões. Mais perdas em País cujas contas estão mergulhadas em território profundamente vermelho.

6. Chegamos, portanto, à devastadora conclusão. A Olimpíada das Olimpíadas trará o prejuízo dos prejuízos.

* Professora da Universidade Johns Hopkins

                                                                          COMENTO

Quando se fala sobre Jogos Olímpicos e Copa de 2014, devemos ter em mente, mais uma vez, a seriíssima questão da irresponsabilidade fiscal dos governos petistas. Se existe algo infinito no mundo real, esse um dos casos. Despendem recursos públicos como se não fossem produto do suor do nosso rosto. Naqueles anos em que o país buscou a Copa e os Jogos, Lula corria o mundo como um doidivanas perdulário, recebendo homenagens e jogando dinheiro para cima; O mundo era um grande programa de auditório. Em nome do pré-sal, gastava-se o que ainda não se tinha e o que não se viria a ter. "Irresponsabilidade" - that is de name of the game que o Brasil petista jogou e no qual todos perdemos.

Ademais, no caso dos Jogos Olímpicos, não podemos esquecer que os gastos federais foram feitos com dinheiro da União, ou seja, dinheiro arrecadado em todos os estados e municípios do país, e canalizado para o Rio de Janeiro, onde permanecerão todos os eventuais benefícios. Escárnio e escândalo!