• 17/08/2023
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Olavo de Carvalho, para o tempo presente

 

         Num artigo de dezembro de 2009, que pode e deve ser lido aqui, Olavo elenca diversas diferenças entre os revolucionários com que a esquerda inferniza a civilização e a sociedade que contra eles tenta reagir. Sua avaliação é quase uma convocação e não é otimista porque as diferenças de conduta, de estratégia, de disposição, de dedicação à causa conferem aos revolucionários uma posição vantajosa.

Em certo momento do texto, ele diz:

A diferença decisiva entre revolução e reação é que a primeira tem uma visão abrangente e unitária do alvo a ser destruído — a “civilização ocidental” –, enquanto a segunda se conforma com uma estratégia parcial e minimalista, encarando a proposta revolucionária como uma coleção de metas separadas e inconexas, combatendo umas e negociando com outras, seja na esperança vã de dividir as forças inimigas, seja no intuito de “adaptar-se aos tempos”, sem perceber que com isto concede ao adversário o monopólio da interpretação da História e, assim, a vitória inevitável a longo prazo.

Dessa diferença decorre outra. O combate revolucionário é total, radical e implacável: nada releva, nada perdoa, nada deixa escapar. Quando cede num ponto, é em caráter provisório, pronto a retomar o ataque na primeira oportunidade. Para isso, todas as armas são válidas, todos os meios legítimos. Como o revolucionário não conhece valores mais altos do que o combate revolucionário em si, a completa falta de escrúpulos no trato com o inimigo é para ele a mais excelsa obrigação moral. Seus meios vão desde a violência genocida até a mentira organizada, a chantagem emocional, o suborno em massa e a redução da alta cultura a instrumento do engodo revolucionário. Já a reação é travada não só por escrúpulos de polidez mas pela obsessão seletiva que a impede de combater o movimento revolucionário em si e na totalidade, francamente, diretamente, limitando-a a alvos parciais, quando não amarrando-lhe as mãos mediante o compromisso de “despolitizar” o combate para não ser acusada de exagero extremista, sem que ela note que, por definição, todo ataque despolitizado é de mão dupla, podendo ser facilmente desviado contra o atacante.

A “direita” continuará caindo de derrota em derrota enquanto não parar de esfarelar suas forças numa confusão de investidas parciais e concessões suicidas e não começar a dirigir seus ataques ao coração mesmo do inimigo. Mas para isso é preciso conhecer a identidade desse inimigo como ele conhece a do seu. Se o alvo de seus ataques é a “civilização ocidental”, o da direita tem de ser, não esta ou aquela proposta isolada, mas o movimento revolucionário enquanto tal, tomado como unidade diversa na totalidade das suas manifestações as mais díspares e em aparência heterogêneas. Já demonstrei, em centenas de aulas, conferências e artigos, em que consiste essa unidade, que os intelectuais liberais e conservadores jamais tinham percebido antes (v., por exemplo, www.seminariodefilosofia.org/node/630,www.seminariodefilosofia.org/node/479,www.seminariodefilosofia.org/node/358,www.olavodecarvalho.org/semana/070813dc.html,www.olavodecarvalho.org/semana/071010dce.html,www.olavodecarvalho.org/semana/071029dc.html,www.olavodecarvalho.org/textos/0801entrevista.html, etc.). Enquanto o centro vital do movimento revolucionário não se tornar visível aos olhos de todos, ele não poderá ser atacado com a eficácia letal com que os revolucionários vêm ferindo e sangrando a “civilização ocidental”.

O movimento revolucionário é a sombra comum do que acontece nos mais diversos setores da atividade humana em sua existência social. Pais preocupados com o que é ensinado a seus filhos, leitores escandalizados com o jornalismo que lhes é oferecido, intelectuais perturbados com a ditadura da linguagem e com a deturpação dos fatos históricos, religiosos que não mais compreendem a “teologia” que rege a conduta de sua hierarquia, cientistas que veem a manipulação da ciência com narrativas que causarão dano à humanidade e assim por diante, todos precisam saber que têm diante de si tentáculos da mesma hidra.

Esse é o enfrentamento mais relevante de todos que estiverem empenhados em preservar sua condição humana e o patrimônio cultural e espiritual herdado. Faz o jogo do adversário quem imagina possível contemporizar, buscar consensos ou mediações.