• Percival Puggina
  • 28/08/2016
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UMA SEGUNDA-FEIRA PARA A HISTÓRIA. MAS HISTÓRIA NÃO FAZ PAUSAS.

 

 A presidente afastada comparece hoje ao Senado Federal. Assistiremos um necrológio de corpo presente. Para quem defende a versão de que tudo não passa de um golpe, a presença da vítima é um desmentido. Não se diga que o comparecimento de Dilma guarde relação com o correspondente e natural direito de defesa. Ela esteve representada pelo mais exaustivo, ruidoso e dedicado grupo de defensores que já se assistiu no Direito brasileiro.

 A suposta inocência de Dilma Rousseff é uma tentativa de salvar os dedos após a perda dos anéis. Trata-se de construir uma versão (seguindo o velho hábito da esquerda à manipulação dos relatos históricos) que permita o discurso político subsequente. O dia é para a História, mas a História não faz pausa. A vida continua.

 Espero que a oposição ao PT não caia nessa. Dona Dilma está sendo julgada por dois crimes selecionados em dezembro do ano passado dentre os muitos listados em dezenas de requerimentos para instalação desse processo que se empoeiravam na mesa de Eduardo Cunha desde março daquele ano.

É ali que está o conjunto da obra: 1) o relato sobre a quadrilha instalada no coração do poder desvendado pela Lava Jato; 2) o desequilíbrio da representação popular determinado pelo saque a todos os fundos disponíveis para financiar as campanhas dos protegidos pelo poder petista (quantos mandatos parlamentares, quantos governadores e prefeitos foram eleitos com esses recursos e não o seriam sem eles?); 3) o estelionato eleitoral e o festival de mentiras, ilusionismo e ocultação da verdade que pautaram a campanha presidencial petista de 2014; 4) o assustador desarranjo das contas públicas, que derrubou a economia nacional e a respeitabilidade externa do país; 5) a direta responsabilidade omissiva ou comissiva da presidente afastada sobre a negociata da planta de Pasadena; 6) a demagógica manipulação dos preços da energia elétrica e dos combustíveis que derrubou as duas maiores estatais brasileiras; 7) a maliciosa herança de uma sociedade onde foi cuidadosamente semeado o divisionismo sexual, racial, étnico e político; 8) a pavorosa crise social marcada por recessão, inflação, desemprego, subemprego, perda de renda das famílias; 8) a criminalidade transformada na grande senhora da vida urbana e rural porque tomada como parceira para o projeto revolucionário urdido no Foro de São Paulo, na UNASUL e nos conchavos bolivarianos. Esta lista não tem fim porque o conjunto da obra compõe um circo de horrores que não pode sumir sob as 80 mil páginas do processo das pedaladas e dos decretos irregulares.

Jamais! Para atribuir ao partido oxigênio que mantenha ativos alguns de seus sinais vitais, a desastrosa gestão petista tem precisado - quem diria? - comparar indicadores de 2014 (nunca os de 2016!) com indicadores de 2002... Ou seja, com o Brasil de uma década e meia atrás. Só com face lenhosa e total desprezo ao discernimento alheio. Sim, sim, o caráter continua o mesmo e a vida continua.