Embora o senso histórico aponte para um antagonismo entre fascismo e o comunismo, há entre ambos vários pontos de contato: o aniquilamento das oposições (que pode ser obtido pela força ou pelo bloqueio das estruturas sociais e políticas não controladas pelo partido); o dirigismo estatal; a identificação do partido com o Estado e com a Administração; e o empenho em integrar nas estruturas de influência e controle do partido a totalidade das relações econômicas, sociais, políticas e culturais. Mussolini cuidava de desqualificar as instituições democráticas que ainda se atreviam a expressar algum pluralismo. São dele as seguintes palavras: “Oposição a uma nação monolítica é supérflua”. Veja o quanto, ainda que em menor grau, isso tudo está acontecendo no Brasil.

  • 25 Julho 2014

VOOS DE GALINHA

O FMI revisou o crescimento do PIB brasileiro para baixo pela quarta vez neste ano. De acordo com as novas previsões, mais pessimistas do que as do ministro Guido Mantega, a economia nacional crescerá 1,3% neste ano. Já o conjunto dos "emergentes" experimentarão, no período, avançarão entre 4,6% e 5,2%. Bom para eles. Ruim para nós. Afinal, nosso tão decantado surto de desenvolvimento se afirma e reafirma como um sucesso publicitário e um fracasso prático. Avançaremos menos de um terço do que os outros países emergentes conseguirão prosperar.

Mas é claro. Estamos num ano eleitoral e, aparentemente, não é isso que interessa aos brasileiros. O que realmente importa são os favores obtidos com os recursos públicos ou os recursos obtidos com os favores públicos. Dá no mesmo, não é?

Enquanto nos orientarmos por tais critérios, dificilmente alcançaremos a credibilidade e o nível de investimentos públicos e privados necessários para conseguirmos um desenvolvimento econômico que se sustente. Galinhas voam, pouco e baixo. E há quem cacareje êxitos aeronáuticos toda vez que ela está no ar.
 

  • 24 Julho 2014

RAZÕES DE ESTADO X RAZÕES DE PARTIDO

 O governo federal recuou de sua decisão. Não vai mais reduzir para US$ 150 a cota de importação livre de imposto para quem ingressa no país por via terrestre, fluvial ou lacustre. O que motivou a intenção de reduzir essa cota? Você sabe, leitor, como são as razões de Estado. O governo está mais do que inquieto com o aumento dos gastos dos brasileiros no exterior (para onde muitos viajam pela simples razão de que é mais interessante, mais barato e mais seguro do que viajar no Brasil). E o que motivou a o recuo e o retorno à situação anterior? Você sabe, leitor, como são as razões partidárias. A senadora petista Gleisi Hoffmann é candidata ao governo do Paraná, onde disputa o cargo contra o atual titular, Beto Richa (PSDB). E a senadora sentiu que seria prejudicada em Foz do Iguaçu, município cuja atividade econômica se ressentiria com a medida. Uma cota de apenas de US$ 150 tornaria desinteressantes as viagens rodoviárias a Ciudad del Este. Então, para atender os interesses eleitorais do PT (e não pela defesa dos interesses dos brasileiros), a medida será suspensa para aplicação no ano não eleitoral de 2015.
 

  • 23 Julho 2014

 

A expulsão da Ford foi o maior prejuízo que alguém já proporcionou à economia gaúcha. Com a retirada da empresa, inúmeros projetos foram cancelados porque somente se viabilizariam com a efetiva formação de um consistente polo automobilístico no Estado. Entre essas dezenas de projetos se incluíam, por exemplo, uma grande laminadora de aços planos do Grupo Gerdau e uma indústria de pneus.

O empreendimento, que já dera início às obras no terreno escolhido, produziria por ano 200 mil automóveis. Seria duas vezes maior do que a fábrica que a GM estava concluindo em Gravataí. Deixando de lado todos os prejuízos paralelos: qual teria sido o valor econômico de 200 mil veículos por ano, todos os anos, desde então até hoje? E até o Dia do Juízo Final... Pois essa polêmica, iniciada no século passado, encerrou-se ontem no debate entre os candidatos ao Senado, promovido pela Rádio Guaíba. Afirmou Olívio, desmentindo a enganosa retórica de seus correligionários, "que não se arrepende e tomaria a mesma iniciativa de novo" (Correio do Povo, pag.4 desta terça-feira). A iniciativa foi dele, Olívio. Pronto. Acabou. Calem-se para sempre as falsas testemunhas. Falou o protagonista dos fatos.
 

  • 22 Julho 2014

UM DIA ESSA CASA CAI
Casa em que quatro mandam só pode ser uma confusão dos diabos. Na campanha da presidente Dilma manda ela, manda ele (Lula), manda o marqueteiro João Santana (da confiança de Dilma) e manda o inexorável Franklin Martins (da confiança de Lula). Franklin, por seu turno, tem um site "Dilma Muda Mais", onde fez críticas a CBF, logo após a derrota para a Alemanha. Dilma não gostou e exigiu a retirada, Franklin Martins se recusou e Dilma mandou que o site se desvinculasse da campanha. É pouca água para muita fervura. O jornalista Claudio Humberto, em sua coluna de hoje, sugere que Dilma usa o fato para afastar Franklin Martins, determinando que apenas o site gerido pelo marqueteiro João Santana fale pela campanha. Com o caldeirão fervendo, Lula pediu calma a Franklin Martins. E muito mais calma ainda deve ter pedido a mulher de Franklin, cuja empresa Cine Group fatura alguns milhões em contas do governo.
 

  • 21 Julho 2014

Para quem leva sério as teses de Veias Abertas da América Latina, Cuba vive, há 55 anos, um modelo mais do que perfeito. Todo o patrimônio das empresas estrangeiras que operavam na Ilha até 1959 caiu, de um dia para outro, nas mãos do Estado cubano, cessando, também, a remessa de lucros. Dois anos mais tarde, Fidel estabeleceu com a URSS uma aliança altamente vantajosa: os soviéticos passaram a lhe prestar ajuda técnica, militar e científica e se responsabilizaram pelo seu superávit comercial, comprando açúcar e níquel cubanos segundo preços superiores aos do mercado e vendendo-lhes os seus produtos a preços inferiores aos do mercado. Um negócio da China, pelo qual o regime não só fechou suas veias como cravou a seringa na artéria dos russos.

 Pois eis que para absoluto espanto, malgrado a fantástica expropriação que procedeu, malgrado as veias fechadas, malgrado quase três décadas favoráveis no balanço hematológico com a URSS, malgrado 55 anos de um padrão de consumo que faria padecer um monge franciscano, Cuba é hoje um país tão pobre quanto você imagina que possa ser uma terra onde a imensa maioria da população está obrigada a enquadrar suas necessidades numa renda mensal inferior a 12 dólares e onde as atividades mais estimuladas batem no teto de 30 dólares. Um exército de policiais e informantes vigiam a vida privada e o procedimento, nas ruas, dessa multidão de carentes.
 

  • 20 Julho 2014