Marcelo Duarte Lins
Assistindo a um documentário sobre lobos, me peguei pensando: será mesmo que somos a espécie mais inteligente do planeta? Porque, veja bem, entre os bichos selvagens, liderança é coisa séria. Não se entrega o rumo da matilha ao mais simpático — nem se espera que o doente indique o caminho da caça. Quem lidera, lidera porque sabe o que faz.
Na floresta, o silêncio obedece ao instinto.
O lobo velho não guia a alcateia porque sorri bem — mas porque sabe o caminho de volta no escuro.
Entre folhas e presas, quem lidera é quem escuta o vento, quem sente o chão tremer antes da tempestade.
Ali, o fraco descansa — não comanda.
Mas no reino das luzes artificiais e dos discursos decorados, os humanos preferem o eco à bússola.
Trocam o sábio pelo simpático, o que vê longe por quem diz o que alivia.
A democracia não falha por si.
Falha quando o povo, em vez de buscar a sabedoria, procura um reflexo que o conforte.
Elege o espelho, não o farol.
Vota em quem lhe devolve o próprio rosto —
mesmo que esteja sujo, cansado ou cego.
Assim, o poder vira palco.
Não há planos — só performances.
O ignorante brilha porque fala fácil,
e o preparado cansa,
porque pensar é verbo que exige pausa —
e a pressa da multidão não perdoa a dúvida.
Nietzsche sussurra, de longe:
“As imagens vencem a razão.”
E nunca os holofotes brilharam tanto para tão pouco.
Vivemos tempos em que a inteligência anda de cabeça baixa,
e a mediocridade desfila como se fosse destino.
A história, esquecida, bate à porta
como um velho professor que ninguém quer ouvir.
Não é “como ele chegou lá” que devemos perguntar,
mas: “por que continuamos empurrando?”
E talvez a resposta seja só essa:
Pensar exige silêncio, exige fôlego —
e há quem prefira gritar slogans
a respirar fundo e enxergar o abismo.
Entre nós, civilizados e cheios de diplomas,
parece que a lógica tirou férias.
Elegemos líderes não por sabedoria, mas por carisma.
Não importa se o sujeito tem visão de futuro;
basta que fale bonito, diga o que queremos ouvir e sorria bem nas selfies.
É o show da representatividade emocional.
Mas, claro: pensar cansa.
E sempre há alguém pronto para obedecer
desde que o idiota tenha carisma.
Aguardemos, pois, a Revolta dos Competentes e dos Probos.
Que ajam como lobos — e saibam liderar o povo indicando o Norte a ser tomado.
* O autor, Marcelo Duarte Lins é ex-comandante da Varig e autor do livro “Caso Varig”. O texto acima foi extraído da página do autor no Facebook.