Os meus detratores não acreditam, mas li sem qualquer resultado prévio cada uma das sílabas do livro Paulo Freire: uma história de vida. Considerei as diferentes circunstâncias históricas vividas por Paulo Freire, respeitei muitas de suas cicatrizes emocionais e não ignoro a dificuldade em analisar esse tipo de obra biográfica, pois, como posso colocar em discussão uma experiência amorosa que não foi partilhada comigo intimamente? Mesmo que fique ostensivo, não tenho a presunção de questionar qualquer um dos afetos narrados. A minha (um tanto quanto singela) vontade é a de analisar a estrutura do texto, verificando de que forma a obra descreve o ambiente “freireano”, especificamente, a influência do trabalho do alfabetizador nas mais diversas áreas do saber.
A verdade assusta, caro leitor. Todavia, ainda que o prefácio escrito por Alípio Casali e Vera Barreto diga que “o leitor adentrará numa história envolvente, levado pelas mãos de quem percorreu muitos dos labirintos da vida profissional e pessoal de Freire”, anoto que não é este o maior mérito da obra – que, sim, tem momentos bem acertados, a começar por ser a mais completa biografia sobre a vida de Paulo Freire, escrita por uma testemunha ocular, sua viúva, Ana Maria Araújo Freire.
O fato de ser a mais completa não faz dela uma obra de respaldo técnico, mas, sim, a mais destacada entre as produções “apologéticas” de Freire. É estarrecedor raramente encontrar obras que não sejam cúmplices de Freire – ainda mais em um país como o nosso, em que todo mundo é doutor ou professor. Posso parecer implicante, mas é preciso chamar as coisas pelo nome verdadeiro. Assim, defino a publicação como um fiasco.
Contudo, ela retém outros aspectos meritórios, como as competentes descrições da pobreza vivida por Freire, um bom preâmbulo sobre a sua origem familiar, um conveniente desenvolvimento da conexão intelectual do pedagogo com outros nomes conceituados de nosso país e do mundo (com destaque às páginas 228 e 247), e explica satisfatoriamente como ocorreu a inclusão do petista no mundo escolar. Também merecem elogios o seu bom acervo documental (fotografias e cartas transcritas), a forma como a autora apresenta o cerne cronológico de seu relacionamento com o marido e a sugestão que fomenta – de maneira indireta – de que se faça uma investigação sobre o tratamento que a imprensa brasileira deu a Paulo Freire. Encerrando esse elenco de elogios, cabe uma referência aos pormenores destacados no livro – “Ora, esse é o nome da minha mulher. E é a primeira vez que eu escrevo. São esses pormenores, que são profundamente humanos, que não podem ser esquecidos por um revolucionário. Uma revolução que esquece que um homem ri nervosamente ao escrever o nome de sua mulher é uma revolução frustrada” – e também à sua explanação sobre o método “freireano”, em que esclarece alguns dos aspectos interpretados de maneira desonesta por seus adversários mais desqualificados – “Parece-me no mínimo estranho que livros sobre essa experiência de Angicos enfatizem as ‘40 horas’ no processo de alfabetização como foco do ‘método’, pois Paulo em momento algum fez tal afirmativa ou teve tal pretensão”.
Os apontamentos do parágrafo anterior são irrelevantes quando confrontamos o todo da obra. A começar por seu erro elementar, acólito de todos os capítulos, que é o de ter uma qualidade literária insuficiente, comprometida por um dedicado esforço de sobrepor à força as ideias neles discorridas. Mesmo com o honesto aviso inicial da autora – “Como autora desta biografia eu não desejo e nem quero a imparcialidade da falsa neutralidade” –, causou-me incômodo essa busca por uma cientificidade sem apuro técnico. Reconheço que a contextualização, quando se pensa na relação entre o texto e seu contexto, parece, à primeira vista, uma operação simples, de fácil empreendimento, contudo, princípios como intuição, bom senso e clareza passam apartados do relato. No que se refere à clareza, há um festival de falhas. A primeira é a desorientação temporal, dado que os episódios factuais ficam confusos, anárquicos. Citando casos análogos, a autora ora retoma um assunto que já tinha sido apresentado, alguns sem qualquer relação cíclica, ora comunica uma informação significativa que, no seu relato, já ambientava a descrição. Exemplo: depois de ter descrito a prisão e o exílio de Freire, ela reverbera ad nauseam as mesmas ocorrências, algumas vezes sem qualquer analogia. Outro exemplo vem da página 190, na qual ela expõe, sem uma adequada explicação prévia, a informação de que Paulo Freire tinha um contrato com a UNESCO – ela retomará o assunto posteriormente, porém, quando o fato é apresentado, não há qualquer preocupação cronológica, ele simplesmente aparece da seguinte forma: “Freire: Eu achei que aquele era o tempo do Chile, conversei com meus amigos e coincidiu também com a não renovação do meu contrato com a UNESCO”.
Além disso, há questões estéticas, como a escolha da autora em se apresentar na terceira pessoa em condições como esta: “Sua vida com Nita” – considerando que Nita é o apelido doméstico da autora. Não gosto dessa escolha estilística, em razão de que aduz um caráter artificial à obra. Digo o mesmo com relação às descrições de seus diálogos íntimos, dos quais, como já escrito, não tenho como dizer se são fabricados à obra, mas posso considerá-los apinhados de ênfases que os tornam enfadonhos:
Nita, casamos na terceira idade, quero viver o amor com você, quero viver e aproveitar momentos de tranquilidade com você, quero voltar a escrever, quero cumprir promessas de longa data de aceitar convites fora de São Paulo, mas não posso me furtar de aceitar este convite, se ele realmente vier. É um dever cívico e político que tenho diante de mim mesmo e para com o povo da cidade que me acolheu tão generosamente quando voltei do exílio. Será uma oportunidade importante de testar mais uma vez na prática, desta vez nesta imensa rede pública de ensino que é a cidade de São Paulo, a minha teoria. A minha compreensão de educação.
Nem a sua letra – que era, como a minha, um verdadeiro garrancho – escapou desse palavrório imposto: “Seus escritos são verdadeiros ‘desenhos’ feitos com uma caneta azul, com os destaques com tinta vermelha ou verde no papel branco. São a imagem criada na sua inteligência e sensibilidade, a linguagem criada no seu corpo consciente, no seu corpo inteiro”.
Há também ênfases narrativas em todas as suas ações, mínimas ou máximas, como se elas procedessem de uma fonte messiânica. No exemplo a seguir, veremos um realce verborrágico para algo que não passou de uma obrigação profissional e ética: “Paulo cumpriu cívica e eticamente o seu dever de cidadão: pediu demissão do seu cargo de professor da Unicamp para cumprir a lei”. Para situações como esta, aplico a frase de Albert Camus: “A verdade, como a luz, cega. A mentira, ao contrário, é um belo crepúsculo, que valoriza cada objeto”.
Também fiquei incomodado com o uso das exclamações. Até elas foram objetos para ressaltar generalidades: “Na verdade, o que determinou a recusa de Paulo de passar um semestre no Seminário Teológico foi, prioritariamente, por se sentir pouco competente para ensinar Teologia!”. Estilisticamente, o emprego dessa exclamação demonstra a perplexidade com o fato de que Paulo Freire se viu desprovido de capacidade para exercer a docência em outra área do conhecimento, algo normal, um tanto quanto elogiável, mas que para a autora foi inconcebível, visto que entendia o seu marido como o portador máximo da sabedoria infusa.
Convém dizer que ele foi um homem que não suportava certos tipos de sistemas e pessoas, mas, apesar disso, é apresentado como um arauto do amor, vetor de “uma imensa capacidade de amar”. Repetido excessivas vezes pela autora, esse chavão e os seus sinônimos regulam toda a obra. Destaquei dois exemplos: “Paulo desgastou-se no amor. Por tanto amar. De muito e intensamente amar. Por sua valentia de tanto amar” e “Esses são exemplos de como Paulo amou. Amou as pessoas independentes de sua raça, de seu gênero, de sua religião, de sua idade ou de sua opção ideológica. Amou a natureza”.
O discurso visguento da autora é incômodo. Em vez de palavreados, prefiro a máxima de Camus: “Em filosofia como em política, eu sou, portanto, a favor de qualquer teoria que recuse a inocência ao homem, e a favor de toda prática que o trate como culpado”. Compete dizer que estamos analisando uma obra cujo objeto não é um homem, sequer o falecido marido, mas, antes de tudo, trata-se, sob a ótica da autora, de um profeta: “Paulo, também nisso, foi adivinho, profético”. Ressalto que ao longo da obra encontramos, repetidamente, o uso do termo “profeta”, em virtude de Freire ser tido como um iluminado metafísico, o super-homem exposto pela pena do supracitado Camus: “Na verdade, à força de ser homem, com tanta plenitude e simplicidade, achava-me um pouco super-homem”.
Embasado no livro Paulo Freire: uma história de vida, concluí que o nosso patrono é o homem que a “peste” não adoentou, que indispôs o pecado original. Essa tentativa de salvar sua aparência externa é a desafinada cantiga de todo o alfarrábio.
O anacronismo é outro erro corriqueiro no livro. Afirmações que não se sustentam factualmente são frequentes ao longo do texto, em especial no capítulo cinco, em que a autora se propõe a analisar o contexto brasileiro de 1960: “Apresentarei um pequeno estudo por mim realizado sobre o conflito ideológico brasileiro dos anos 1960”. Porém, sem espantos, ela segue as mesmas repetições monossilábicas da esquerda maniqueísta, repetindo o discurso de que o outro lado hospeda, na totalidade, o mal: “Parte da Igreja Católica, a tradicional, conservadora, que não estava aliada aos interesses dos pobres e dos despossuídos, também se manifestava contra Paulo”.
Uma coisa é fazer a síntese de um período histórico, desse modo obviamente superficial. No entanto, o erro da autora foi definir teses coletivas sobre os agentes complexos de um período, ignorando aspectos prévios ao objeto pretensamente analisado, como por exemplo, ao omitir o caráter popular de 1964. Historiograficamente falando, os erros não param por aí. Afirmações sem qualquer validação dialética são jogadas ao vento: “Juscelino Kubitschek – a [experiência] mais democrática até então conhecida no Brasil”.
Se isso ocorre com os temas que não tangem diretamente a Paulo Freire, seguramente, encontramos a mesma ocorrência com os que constituem a essência de sua presença no nosso mundo das ideias: “Entretanto, não posso deixar de enfatizar que considero fato da maior relevância para a história da educação do Brasil o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), concebido por Paulo Freire quando secretário de educação no Município de São Paulo, em 1989, e para o qual dediquei algumas palavras no Capítulo 11”. A liberdade da autora de achar o que quiser não me afeta, mas, por ossos do ofício, preciso dizer que essa consideração é embasada, muito provavelmente, na sua esmaltada crença de que o Brasil nasceu em 1964. Ainda que Pedro Álvares Cabral estivesse aqui na deposição de João Goulart, essa afirmação estaria equivocada.
De minha parte, como acredito que o Brasil tem mais de cinco séculos, posso expressar, sem qualquer ênfase doutoral, mas com dois apontamentos, que a declaração da autora está equivocada: primeiro, pela falta de investigação histórica e, segundo, por ignorar os testemunhos intelectuais de homens como José de Anchieta, Machado de Assis, Carlos Gomes, Capistrano de Abreu – estes, pedagogos por excelência.
A obra explora vivências de Freire, partilha algumas de suas emoções decorrentes de seu trabalho, explica a sua compreensão de educação e faz uma laudatória defesa de sua visão socialmente opressiva, não só por adotar o caminho da omissão e, com isso, o de não discutir as frases mais violentas que seus livros têm, mas por ratificar passagens insensatas:
Eu hoje continuo pensando que a democracia não significa o desaparecimento absoluto do direito de violência de quem está proibido de sobreviver… Se você me perguntar: entre os dois, para onde você marcha? Eu marcho para a diminuição do gasto humano, das vidas, por exemplo, mas entendo que elas também possam ser gastas, na medida em que você pretende manter a vida. O próprio da preservação da vida leva à perda de algumas vidas, às vezes, o que é doloroso. Agora, o que eu não acredito é na conscientização dos poderosos. Eu acredito na conversão de alguns poderosos, mas não enquanto classe que comanda, não enquanto classe que domina.
A obra tem uma involuntária entonação kafkiana. É paradoxal o encontro – borrifado de naturalidade discursiva – de trechos tão antônimos como a citação anterior e esta: “Paulo Freire: Eu gostaria de ser lembrado como um sujeito que amou profundamente o mundo e as pessoas, os bichos, as árvores, as águas, a vida”. Percebam, estamos no meio de um labirinto. De um lado, encontramos um homem que se apresentava como uma espécie de São Francisco do giz de cera, e, no outro extremo, um déspota.
Quem tem familiaridade com os textos de Freire sabe que as apologias dele aos seus massacres favoritos foram comuns, mesmo assim, cabe aqui expor o quanto é disforme esse discurso labiríntico, em que não há qualquer filtro moral em apresentar um homem sem o mínimo de clarividência humana como um sinônimo de amor. Não quero ser histérico, mas é que, simplesmente, não me habituei a ver uma pessoa ter a sua morte justificada por motivos tão pueris, e, naturalmente, refuto qualquer dor infligida a um inocente. Fundamentado na página 319, posso dizer que nem Paulo Freire, muito menos a autora consideraram “equívocos” os trechos perturbadores de obras como a A Pedagogia da Autonomia e A Pedagogia do Oprimido.
Paulo nunca teve, assim, medo de seus “resvalamentos”, enganos ou erros. Considerava-os parte da busca do saber, dos riscos inerentes à incompletude humana, da explicitação da Verdade que, sendo histórica, deve ir sendo atualizada constantemente. Igualmente, não desprezava serem possíveis os equívocos diante das contingências pessoais e sociais de quem, como ele, pensava e escrevia com ousadia. Reconhecer o erro não é um defeito, é uma virtude, para a qual ele esteve sempre atento e aberto, permanecer no erro sabendo de seu erro é que é uma atitude hipócrita, desonesta, antiética. Expõe vaidade, insegurança e prepotência de quem assim age. Por isso ele foi ousado, não teve medo de correr riscos ao criar e afirmar suas ideias.
Em harmonia com a passagem anterior, escrevo que não houve qualquer retratação do casal Freire. Compete dizer que, como muitos brasileiros das décadas de 1960 e 1970, Paulo Freire endossou o então novo sistema político cubano, instaurado no dia 1.º de janeiro de 1959. Enxergavam nele a realização de suas teorias. É possível conter a crítica por essa adesão nesse espaço de tempo; porém, o fato de Paulo Freire, diferentemente de parte considerável daqueles mesmos brasileiros, ter mantido suas convicções até o seu último suspiro – sendo um aluno bem aplicado de Fidel, ignorando as contrariedades da realidade – atesta seu desdém em relação às condições humanas, logo, uma contradição de sua essência pedagógica.
Justiça seja feita, o pedagogo nunca omitiu sua sede de sangue. Como todo tirano, Paulo Freire conhecia a realidade segundo seu vocabulário, e nunca segundo a História. Suas ações foram uma dedicada tomada de posição, legitimada pelas justificativas de que há diferentes tipos de homens e há um meio legítimo à realização humana na História. Parafraseando Camus, ele de novo: na realidade, um homem deve lutar pelas vítimas; mas, se deixa de gostar de todo o resto, de que serve lutar?
Como quis perturbar o jogo pedagógico brasileiro, discuti no meu livro Desconstruindo Paulo Freire que, por sua simbiose marxista, a teoria de Freire é impraticável sem a premissa de corrigir a lei de Deus ou da natureza (como vocês queiram). Nosso ainda patrono não foi o último homem a portar o “bacilo da peste”; contudo, analisando especificamente seu diagnóstico de intelectual traidor – na definição de Julien Benda –, posso dizer que ele foi mais um intelectual “tipicamente do século XX”, ou seja, um homem apaixonado por si, que acreditou que o seu fragmento da realidade era capaz de realinhar os princípios mais complexos da existência humana. Em seu parâmetro moral, os números de mortos dos regimes comunistas de todo o século XX pouco significaram.
Por fim, atesto que os propósitos da autora foram cumpridos: “Tenho certeza de que me empenharei em dizer tudo aquilo o [sic] que eu sei sobre Paulo, que o engrandece; tudo o que lhe faça justiça, tudo o que é verdadeiro sobre ele, e tudo sobre o que meu marido gostava e se orgulhava de ter feito e/ou pensado e dito”. Nesta biografia, fica claro que a obra de Paulo Freire transporta dois extremos: inquietação apocalíptica e esperança messiânica.
Resenha publicada na Revista Amálgama – https://www.revistaamalgama.com.br/11/2017/resenha-biografia-paulo-freire-historia-de-vida-ana-maria-araujo-freire/
• Reproduzido de http://historiaexpressa.com.br/paulo-freire-antonimo-de-amor/
A Revista Veja informa que Antonio Palocci contou à Lava Jato que o PT recebeu, para a campanha que elegeu Lula em 2002, US$ 1 milhão de Muamar Kadafi (ditador da Líbia, morto em 2011, a quem Lula sempre se referiu como "meu líder, meu irmão, meu ídolo"). Provavelmente o arquivo vivo mais temido pela elite petista por conhecer o PT desde as entranhas e por ter uma excelente memória associada a um intelecto considerado brilhante, Palocci está negociando uma "delação premiada", em que pretende revelar tudo.
Receber dinheiro estrangeiro é absolutamente ilegal! O art. 17 da Constituição fixa, como preceito categórico para o funcionamento dos partidos, a "proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes" (norma repisada no art. 24 da lei 9.504/97).
Só há perplexidade com o que Palocci revela porque a "grande mídia" esquerdizada sempre ocultou a verdade, isto é, a expressa insubordinação do PT à ordem constitucional. Sim, em 1988, o Diretório Nacional do PT editou circular apresentando a determinação de rasgar a Constituição recém promulgada. Está escrito lá: "O PT, como partido que almeja o socialismo, é por natureza um partido contrário à ordem burguesa, sustentáculo do capitalismo. (...) rejeita a imensa maioria das leis que constituem a institucionalidade que emana da ordem burguesa capitalista, ordem que o partido justamente procura destruir". Saliente-se, jamais o PT revogou esse manifesto de iniludível caráter totalitário. Aliás, quem o conhece sabe que o PT nunca respeita a Constituição, exceto naquilo que lhe é conveniente, assim como quando não é possível.
Futuro incerto
Até onde nossos ministros terão coragem de pisotear o ordenamento jurídico para fazer julgamentos de caráter político?
Palocci não mentiria, porque, mentindo, seria o único prejudicado. E havendo provas das acusações, o PT será extinto na forma da lei, que prevê o cancelamento do registro civil do partido contra o qual fique provado "ter recebido ou estar recebendo recursos financeiros de procedência estrangeira" (Lei 9.096/95, 28, I).
A incerteza gruda no elastano das togas, que parece permitir gingas jurídicas e, digamos assim, "decisões heterodoxas". Como esquecer o "drible seco" de Lewandowski para que Dilma Rousseff, embora atingida pelo impeachment, mantivesse seus direitos políticos? Ora, várias decisões estranhas, favorecendo caciques da pior política, têm saído dos tribunais superiores.
O que Palocci vai fazer é deixar uma bola picando à Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, que só terá que chutar. E já que a metáfora é futebolística... A pressão da torcida será decisiva para que os juízes (plural) não apitem "perigo de gol" em prejuízo da democracia.
• Renato Sant'Ana é Psicólogo e Bacharel em Direito
• Publicado originalmente em www.alertatotal.net
Ao julgar um pedido de suspensão do pagamento de auxílio-moradia a todos os juízes, inclusive aos que têm casa própria e já residem na mesma cidade em que estão lotados, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), deixou de lado a questão do mérito e decidiu com argumentos meramente formais. Segundo ele, o pedido foi feito por meio de uma ação popular e esse mecanismo processual, pela legislação em vigor, não pode ser usado para questionar decisões judiciais.
A decisão a que Fux se refere foi tomada por ele há mais de três anos, quando determinou o pagamento do auxílio-moradia aos juízes federais, por meio de uma simples liminar. Em seguida, ele ampliou o benefício para membros da Justiça do Trabalho, da Justiça Militar e dos Tribunais de Justiça. E, invocando a "simetria entre as carreiras", que estão entre as mais bem pagas da administração pública, equiparou a verba paga aos magistrados ao valor pago aos membros do Ministério Público.
Apesar dos recursos judiciais que foram impetrados na época contra essas decisões, até hoje Fux não os julgou. E, como também não encaminhou o caso ao plenário, desde então os cofres públicos têm sido obrigados, mensalmente, a bancar o pagamento do auxílio-moradia – que hoje é de R$ 4.377,73. Pelas estimativas da Advocacia-Geral da União, a manutenção das liminares concedidas por Fux já custou R$ 1 bilhão aos contribuintes. Pelos cálculos da Consultoria Legislativa do Senado, o valor é estimado em R$ 1,6 bilhão.
Além de ser inconstitucional, como alguns ministros do Supremo já reconheceram publicamente, o auxílio-moradia tem uma característica perversa, do ponto de vista moral. Como ele é pago a título de benefício "indenizatório" e não "remuneratório", os valores não estão sujeitos ao teto salarial do funcionalismo estabelecido pela Constituição. Graças a esse subterfúgio, os beneficiários do auxílio-moradia podem ultrapassar o limite de remuneração de R$ 33,7 mil. Atualmente, o benefício é concedido a 88 ministros de tribunais superiores, 2.381 desembargadores, 14.882 juízes de primeira instância, 2.390 procuradores do Ministério Público da União e a 10.687 promotores dos Ministérios Públicos estaduais. E, embora os tribunais de contas não pertençam ao Judiciário, pois são órgãos auxiliares do Legislativo, os 9 ministros do Tribunal de Contas da União e os 553 conselheiros dos tribunais de contas dos Estados, Distrito Federal e municípios também recebem o auxílio-moradia, em nome da isonomia.
As decisões de Fux nessa matéria, que beneficiam sua filha – desembargadora no Rio de Janeiro –, têm sido apoiadas por entidades de juízes e procuradores. Segundo seus porta-vozes, como o Executivo não tem reajustado anualmente os salários das duas categorias, "desvalorizando seus pleitos", o Judiciário e o Ministério Público não tiveram alternativa a não ser multiplicar os penduricalhos de natureza indenizatória, para poder burlar o teto constitucional. Por mais imoral que seja, essa estratégia chegou a ser endossada publicamente há alguns anos pelo presidente de um Tribunal de Justiça de São Paulo, reconhecendo que os penduricalhos são "disfarce para aumentar um pouquinho os salários, o que permite que procuradores e juízes não tenham depressão, síndrome do pânico e AVCs".
Esse é apenas um dos lados do problema. O outro está no modo de funcionamento do STF. Apesar de ser um órgão colegiado, seus ministros se sentem à vontade para engavetar processos ou abusar das decisões monocráticas. O adiamento das decisões por tempo indefinido cria fatos consumados e impede o desfecho dos julgamentos. A decisão monocrática permite que os ministros se apropriem individualmente de um poder institucional, que é a manifestação do plenário. Nos dois casos, a decisão do colegiado acaba sendo evitada por longos períodos, o que tende a favorecer corporações, o desprezo do interesse público e, acima de tudo, o descumprimento da ordem jurídica, como os despachos do ministro Fux têm deixado claro no caso do auxílio-moradia.
A partir desta semana, boa parte dos meios de comunicação, como já é uma praxe, trata de apresentar uma RETROSPECTIVA 2017, mostrando os acontecimentos que mais impactaram na vida do povo brasileiro ao longo do ano que chega ao fim.
NOVA VENEZUELA
Pois, o que de mais importante aconteceu em 2017, e que precisa ser comemorado por aqueles que têm algum discernimento, ainda que praticamente todos os meios de comunicação vão preferir não comentar, foi o fato de o Brasil ter abandonado a rota que, intencionalmente, desencadearia na -NOVA VENEZUELA-.
LIVRE DO MAL
Vale lembrar que foi POR UM TRIZ. Ainda que tudo levasse a crer que a saída definitiva da comunista era um caminho sem volta, como felizmente veio a ocorrer em agosto de 2016, quando foi aprovado, enfim, o Impeachment, o fato é que -BRASIL DO BEM- só ficou mais aliviado a partir de então.
RETROSPECTIVA 2016
Considerando que faltavam apenas quatro meses para o fechamento do ano, ainda que ao longo do curto período houve alguma melhora decorrente do aumento da taxa de confiança, a -RETROSPECTIVA 2016- se restringiu, basicamente, ao IMPEACHMENT, CORRUPÇÃO E ALGUNS (MAUS) EFEITOS que a MATRIZ ECONÔMICA BOLIVARIANA promoveu ao longo dos governos petistas comandados por Lula/Dilma.
INDICADORES
Assim, tudo que fez o Brasil melhorar, de fato, ainda que de forma tímida, aconteceu neste ano de 2017. A RETROSPECTIVA mostra, por exemplo, o seguinte:
1- inflação cedeu fortemente. O IPCA deve fechar o ano abaixo de 3%;
2-o PIB deve fechar em torno de +0,9%, deixando, finalmente, de ser negativo, o que garantiu a certeza de que o Brasil, enfim, saiu da recessão;
3- a taxa de desemprego passou a recuar de forma sistemática;
4- a taxa de juro básica, acompanhando a queda da inflação, caiu de 14,25% (início de 2017) para 7% ao ano.
FALTA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA
Mais: se a REFORMA DA PREVIDÊNCIA, que está pendente faz muitos anos, for aprovada, aí, certamente, o Brasil vai fechar o ano de 2017 com chave de ouro. Mora aí a grande possiblidade de haver bom crescimento para os próximos exercícios. Tomara que seja aprovada, como foi a REFORMA TRABALHISTA, cujos bons efeitos já começam a ser sentidos.
Na Bíblia no livro de João, capítulo 10, Jesus Cristo conta a conhecidíssima parábola do Bom Pastor, a qual diz que as ovelhas sempre seguirão a voz de seu pastor em vez de seguirem o comando de estranhos, sob o risco de serem mortas por seus predadores. Nessa parábola, alerta-se sobre o papel da liderança nas nossas vidas, lembrando-nos que um pastor não pode ser autoritário, senão as ovelhas pastoreadas não responderão mais aos seus comandos.
O trecho bíblico, aplicado à realidade política atual, vem muito a calhar no que concerne à esquerda brasileira. A esquerda, seus representantes e seus partidos políticos, sempre se colocam à frente como os monopolistas das virtudes humanas, que com uma boa propaganda acaba por atrair muitas pessoas para as suas fileiras. A propaganda socialista, prometendo acabar com todos os problemas do mundo, acaba por transformar suas figuras de liderança nos “Bons Pastores” que conduzirão as ovelhas – no caso a população – para um caminho onde terão todos os confortos e benesses.
O problema é que a ideologia socialista leva sempre para um caminho totalitário, mais cedo ou mais tarde. O centenário José Osvaldo de Meira Penna diz que o socialismo é uma espécie de altruísmo imposto pela polícia, numa tentativa de criar-se um novo homem, ignorando completamente a natureza humana e a convivência em sociedade. Nessas inúmeras tentativas de criação do homem socialista nos mais diversos cantos do planeta, cerca de 100 milhões de vidas foram ceifadas e tudo que o foi multiplicado nesses governos foi a miséria.
E a realidade atual no Brasil mostra muitos políticos de esquerda colocando-se como os salvadores da pátria. De Lula a Ciro Gomes, de Jandira Feghali a Marina Silva, passando pelo queridinho da esquerda da Zona Sul do Rio, Marcelo Freixo, os lobos travestidos de bons pastores estão sedentos para colocarem seus maldosos planos em ação. Usam e abusam da propaganda da bondade, prometem o céu na terra com doses cavalares de doutrinação ideológica escolar, fazem jornalismo parcial, bem como marketing político avassalador. Ao chegarem no poder, mais cedo ou mais tarde, o disfarce de bom pastor cai e o lobo devora as ovelhas embebido por um ideologismo feroz.
A situação atual exige muitos cuidados com os lobos travestidos de bons pastores. Vejamos a Venezuela e os treze anos de governo do PT aqui em nosso Brasil: são mostras suficientes de que os cuidadores são, na verdade, detratores. A população deve evitar políticos que já mostraram que querem transformar o Estado em um bem pessoal, evitando, assim, que caiam nas falsas promessas dessas pessoas de moral duvidosa e corruptos que querem deixar para todos nós um caminho de servidão.
• Publicado originalmente em http://www.sentinelalacerdista.com.br/
• Graduando em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pesquisador na área de História da Cultura Brasileira. Atua como assessor parlamentar na Câmara Municipal de Niterói.
Estou de volta das férias em Portugal. Fazia três semanas que não ouvia falar em assalto, homicídio, bala perdida. Do aeroporto para casa, senti que havia voltado. O carro não parava de sacudir, nas irregularidades do asfalto; do carro da frente, alguém jogou pela janela uma garrafa vazia; ao lado, outro nos ultrapassa produzindo, em sua aparelhagem de som, um barulho horrível de virabrequim quebrado. É o choque da volta. Voltei ao país desorganizado, cheio de corrupção e de gente que considera isso muito normal. Por aqui, a insegurança, a corrupção, os 170 assassinatos por dia têm sido assunto secundário. A moda é expor intimidades, discutir sexo, cor da pele, entrar nas ondas do politicamente correto, sempre que houver tempo recreativo, daqueles que não precisam sair de casa de madrugada para pegar a condução, passar o dia no trabalho ganhando pouco, e que voltam para casa cansados e prontos para o dia seguinte.
Terminando 2017 pode-se reconhecer que o governo realizou um segundo milagre econômico. O país estava no caos quando Dilma foi impedida de continuar. Um ano e meio depois, voltou a crescer a criar emprego, a ganhar valor real para o salário, com juros baixando, inflação bem baixa, investimentos de volta, sucesso nas contas externas, mas ainda precisando diminuir as despesas do estado. O déficit e a dívida pública são sérios entraves. O estado é inchado, cheio de gorduras e com pouco músculo, a não ser na capacidade de cobrar impostos. Os serviços públicos são ruins e quase nada sobra para investir. Os impostos servem para sustentar o estado.
O governo tenta diminuir o déficit com uma tímida reforma na Previdência. Mais discreta que aquela que o então ministro da Fazenda Antônio Palocci recomendou ao presidente Lula que fizesse, em 2007. As centrais sindicais ameaçaram e o presidente recuou. Agora o déficit se agigantou e não tem mais jeito. São as mesmas centrais que se revoltam contra a modernização das leis trabalhistas. Juízes com cacoete de sindicato, falam em não aplicar a lei, como se eles tivessem mandato de legisladores. Incrivel como se aposta contra o país. Como eu já escrevi aqui: parece que somos masoquistas.
Agora o que ocupa a classe política não é com os temas que sufocam a população, como altos tributos, burocracia, saúde e educação precárias, insegurança pública, dificuldades de trânsito, infraestrutura do passado, crise ética, desorganização urbana e tantas outras mazelas. O que vem preocupando os políticos são as eleições no ano que vem. Como conquistar o poder? - perguntam os opositores. Como permanecer no poder? - perguntam os governistas. Eles estão atrás das respostas. Será que terão respostas para as demandas da população? Dá um calafrio na espinha só de pensar que temos elegido, com o nosso voto, pessoas que só tem contribuído para afundar o país. Mas insisto que pode haver trigo nesse joio. Afinal, brasileiro é esperançoso.
* Publicado originalmente em http://www.sonoticias.com.br/