• Olavo de Carvalho
  • 28 Dezembro 2017

A ILUSÃO CORPORALISTA
Olavo de Carvalho



O que separa da humanidade normal os abortistas, gayzistas, globalistas, marxistas, liberais materialistas e outras criaturas afetadas de mentalidade revolucionária não é uma questão de opinião ou crença: é uma diferença mais profunda, de ordem imaginativa e afetiva.

Aristóteles já ensinava – e a experiência de vinte e quatro séculos não cessa de confirmar – que a inteligência humana não forma conceitos diretamente desde os objetos da percepção sensível, mas desde as formas conservadas na memória e alteradas pela imaginação. Isso quer dizer que aquilo que escape dos limites do seu imaginário será, para você, perfeitamente inexistente. O imaginário, por sua vez, não reflete somente as disposições do indivíduo, mas os esquemas lingüísticos e simbólicos transmitidos pela cultura. A cultura tem o poder de moldar o imaginário individual, ampliando-o ou circunscrevendo-o, tornando-o mais luminoso ou mais opaco.

O imaginário da espécie humana quase inteira, ao longo dos milênios, foi formado por influências culturais que o convidavam a conceber o universo físico como uma parte, apenas, da realidade total. Para além do círculo da experiência imediata, existia uma variedade de outras dimensões possíveis, ocupando o território imensurável entre o infinito e o finito, a eternidade e o instante que passa.

A partir do momento em que o universo cultural passou a girar em torno da tecnologia e das ciências naturais, com a exclusão concomitante de outras perspectivas possíveis, era inevitável que o imaginário das multidões fosse se limitando, cada vez mais, aos elementos que pudessem ser expressos em termos da ação tecnológica e dos conhecimentos científicos disponíveis. Gradativamente, tudo o que escape desses dois parâmetros vai perdendo força simbolizante e acaba sendo reduzido à condição de "produto cultural" ou "crença", sem mais nenhum poder de preensão sobre a realidade. O empobrecimento do imaginário é ainda agravado pela crescente devoção pública ao poder da ciência e da tecnologia, depositárias de todas as esperanças e detentoras, por isso mesmo, de toda autoridade.

sso não quer dizer que as dimensões supramateriais desapareçam de todo, mas elas só se tornam acessíveis ao imaginário popular quando traduzidas em termos de simbologia tecnológica e científica. Daí a moda da ficção científica, dos extraterrestres e dos deuses astronautas. Mas é claro que essa tradução não é uma verdadeira abertura para as dimensões espirituais, e sim apenas a sua redução caricatural à linguagem do imediato e do banal.

Uma das conseqüências disso é que o corpo, milenarmente compreendido como um aspecto entre outros na estrutura da individualidade, passou a ser não apenas o seu centro, mas o limite último das suas possibilidades. Aquelas potências do ser humano que só aparecem quando ele é confrontado com a dimensão da infinitude e da eternidade tornam-se absolutamente inacessíveis e passam a ser explicadas como "crenças culturais" de épocas extintas, com a conotação de atraso e barbarismo. Daí, também, que as mais hediondas realizações da sociedade tecnológica, como a guerra total e o genocídio, tenham de ser explicadas, de maneira invertida e totalmente irracional, como resíduos de épocas incivilizadas em vez de criações originais e típicas da nova cultura. O "formador de opinião" dos dias que correm é incapaz de perceber a diferença específica entre o totalitarismo moderno e as formas imensuravelmente mais brandas de tirania e opressão conhecidas na antigüidade e na Idade Média. Para ele, o Gulag e Auschwitz são a mesma coisa que a Inquisição. Quando lhe demonstramos que as formas extremas de controle totalitário da conduta individual eram perfeitamente desconhecidas em toda parte antes do século XIX, ele sente aquele mal-estar de quem vê o chão abrir-se sob seus pés. Então muda de conversa imediatamente ou nos amaldiçoa como fanáticos fundamentalistas.


Publicado originalmente no JB de, 4 de dezembro de 2008 e em http://www.olavodecarvalho.org/a-ilusao-corporalista/
 

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 28 Dezembro 2017


Ao final de cada ano, como já virou uma praxe, é muito comum os meios de comunicação assim como as mais diversas entidades elegerem aqueles que mais se destacaram nas áreas em que atuam.

MINHA LISTA
Assim, antes que 2017 termine achei por bem divulgar a minha lista de nomes e instituições que na ótica liberal/conservadora, mais fizeram para mostrar que o único caminho capaz de levar o Brasil a ser um país melhor, mais decente e, certamente, promissor.

INSTITUIÇÃO
Na categoria -INSTITUIÇÃO-, mais uma vez o destaque, incomparável, vai para o PENSAR+, instituição -informal- desde a sua criação, em 2009, que reúne dezenas de pensadores dispostos a produzir conteúdos que levem o máximo de esclarecimento sobre a relação CAUSA/EFEITO de tudo que acontece ao nosso redor.

EMPRESARIAL
Na categoria EMPRESARIAL, por tudo que faz, notadamente ao sediar e organizar a realização dos Colóquios anuais do Pensar+, o troféu 2017 vai para a Florense, através dos incansáveis Gelson Castellan e Mateus Corradi. Um verdadeiro show que a família Florense apresenta a cada ano.

POLÍTICA ESTADUAL DO RS
Na categoria POLÍTICA ESTADUAL, nem precisei sair do ambiente do Pensar+. Na Assembleia Legislativa do RS, o pensador e deputado Marcel Van Hattem, por convicção e formação liberal, representou -ipsis literis- a vontade e os propósitos de seus eleitores. Nota DEZ.
Em tempo: fiquem de olho no pensador e pré-candidato ao Governo do RS, Mateus Bandeira, do partido NOVO. Certamente vai mostrar tudo aquilo que os demais pensadores vem apresentando.

POLÍTICA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE
Na categoria POLÍTICA MUNICIPAL, o destaque vai para três pensadores, não por acaso integrantes do Pensar+: os vereadores Ricardo Gomes e Felipe Camozzato e o Secretário Municipal de Serviços Urbanos, Ramiro Rosário (também eleito vereador em 2016) todos de Porto Alegre. Além de eficientes e corretos são aqueles que menos dão despesa aos eleitores. Nota 1000.

COMUNICAÇÃO
Ainda que atue na área da comunicação, manifestando opinião diária com ênfase no liberalismo, propondo uma decisiva diminuição do Estado na economia (que sufoca e mata diversas atividades), aqueles que, na minha ótica, se destacaram em defesa do liberalismo e, por consequência, da lógica do raciocínio jornalístico, foram o pensador e jornalista Diego Casagrande; o incansável Políbio Braga; e o jornalista Felipe Vieira. Pena que são poucos os comunicadores deste naipe.

ESCRITORES
Na categoria ESCRITORES, por mais que existam bons e excelentes destaques, não precisei pensar duas vezes para eleger três pensadores de primeira linha: Percival Puggina, Rodrigo Constantino e Roberto Rachewsky. Quem lê seus textos sabe o quanto eles são capazes de levar esclarecimento suficiente até para aqueles que têm alguma dificuldade para desenvolver o raciocínio lógico.

OUTROS DESTAQUES
Ah, nesta minha lista de destaques não podem faltar os seguintes pensadores: o jurista e pensador Ives Gandra Martins, o pensador e presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, o cientista político Paulo Moura, a combatente Fernanda Barth, esta, principalmente, por ter trazido ao RS a EXPOSIÇÃO HOLODOMOR – GENOCÍDIO UCRANIANO. Espero que em 2018 a lista seja ainda maior, pois os pensadores (entre os quais me incluo) estão prontos para fazer o máximo para tentar mudar o país.

 

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 27 Dezembro 2017



SENTIMENTO DE ESPERANÇA
Tudo leva a crer que o sentimento de entusiasmo e esperança que reinou ao longo da semana de Natal ganhará força redobrada nesta semana que termina com o ingresso em 2018, considerado por muitos brasileiros como o ANO DA GRANDE VIRADA.

ROUPA NOVA E SETE ONDAS
Mais do que nunca, pelo clima reinante de norte a sul do país, a maioria do povo brasileiro, senão todos, por óbvio que já tratou de reservar alguma peça de roupa com a cor do novo ano para fazer a confiante travessia. Mais: aqueles que forem para o litoral não deixarão de pular as -sete ondas- fazendo os mais diversos pedidos.

PIB VAI CRESCER EM 2018
Pois, independente dos pedidos de -saúde, dinheiro e felicidade- que 100% das pessoas fazem, em termos da nossa economia uma coisa já é mais do que certa: o crescimento do PIB brasileiro em 2018 já está garantido. No mínimo, se não houver alguma catástrofe, a economia vai crescer em torno de 3%. Isto é CERTO!

ELEIÇÕES/2018
Entretanto, se as REFORMAS forem recusadas, a mesma confiança positiva que está sendo depositada para 2018 pode dar lugar a uma forte desesperança para o ano de 2019, quando o Brasil passará a ser governado por um novo presidente e um novo Congresso. Ou seja, tudo vai depender das escolhas do povo, nas eleições/2018.

VOOS DE GALINHA
Historicamente, para infelicidade do nosso empobrecido país, o povo brasileiro tem dado enorme preferência para políticos POPULISTAS. Daí a razão pela qual a economia brasileira, nos últimos 50 anos, quando apresenta algum crescimento o fenômeno se assemelha aos VOOS DE GALINHA, ou seja, além de duração curta são sempre rasantes.

CAPITALISMO
Portanto, mesmo que a entrada de 2018 deva ser festejada por tudo de bom que foi conquistado ao longo de 2017, fica aqui o alerta: 2019 corre sério risco fiscal, caso as REFORMAS, notadamente a da PREVIDÊNCIA, não sejam feitas. A musculatura do Estado só ganhará tônus com MEDIDAS DE CONTENÇÃO DE GASTOS PÚBLICOS E/OU PRIVATIZAÇÕES. Resumindo: o BRASIL só vai se desenvolver, de fato, quando abraçar o CAPITALISMO!
 

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  • Adolfo Sachsida
  • 26 Dezembro 2017

 

 

 

Em sua magistral obra, “História da Guerra do Peloponeso”, o historiador e general ateniense, logo após uma dura derrota militar escreve: “(…) isso só terminaria com o incêndio do Pireu”. Pireu era o porto de Atenas, e sua frase retrata que depois daquela derrota militar o destino de Atenas estava selado.

As vezes olho para a situação atual de nosso país e me pergunto se nosso destino também já está definido. Será que avançamos demais na desordem? Será que agora é tarde demais para reverter o curso do desastre?

Honestamente espero que ainda tenhamos tempo para corrigir os rumos de nosso país, antes que um desastre mais trágico se abata sobre nossa sociedade. Por isso clamo a todos: prudência. Sejamos prudentes, tenhamos sabedoria para nortear nossos próximos passos. Nossa sociedade está a beira de uma séria ruptura. Ano que vem, ano eleitoral, definiremos se poremos nós mesmos fogo em nossa própria sociedade, se iremos incendiar nós mesmos nosso Pireu, ou se iremos usar a oportunidade para reconstruir nossa sociedade.

Peço a Deus, que nesse Natal, ilumine nossos corações. Nos encha de bondade, amor ao próximo, respeito, inteligência, e prudência. Que nesse Natal possamos celebrar com respeito o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo ao lado de nossos irmãos, que tenhamos em mente a oração de São Francisco, e tenhamos força para mudar o que pode ser mudado, que tenhamos paciência para com o que não podemos mudar, e sabedoria para reconhecer cada uma delas. Que saibamos respeitar as divergências, e que neste Natal sejamos nós mesmos a mudança positiva que queremos para o mundo e para nossa sociedade.

Feliz Natal, que a paz de Cristo esteja com todos vocês. E que, ano que vem, lutemos juntos para defender nosso porto seguro, não iremos permitir que ateiem fogo em nosso Pireu.

• Publicado originalmente em www.institutoliberal.org
 

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  • J. R. Guzzo
  • 26 Dezembro 2017


O deputado Paulo Maluf, uma das maiores celebridades políticas de sua geração, está encrencado com a Justiça brasileira há pelo menos 48 anos seguidos – desde que deu de presente para os jogadores da seleção brasileira de futebol que ganhou a Copa de 1970 no México 25 automóveis, comprados com dinheiro da Prefeitura de São Paulo. Deve ser algum recorde mundial. Quem conseguiria, no restante do planeta, passar 48 anos fugindo do Código Penal — e, ao mesmíssimo tempo, construir toda uma carreira de primeiro plano na vida pública nacional? Não é um período. É uma existência inteira. Dos processos de 1970, e até agora, Maluf passou por problemas que cobriram vastas e variadas áreas do território criminal. Corrupção passiva, superfaturamento de obras públicas, lavagem de dinheiro, delitos fiscais, contas não-declaradas no exterior (e de existência provada pela justiça internacional) e por aí se vai. Chegou a ficar preso por 40 dias, em 2005, numa cela da Polícia Federal de São Paulo. Em 2010 entrou na lista de “procurados” pela Interpol. Só podia viver livre num país do mundo: o Brasil. Enfim, como ele próprio gostava de dizer, o homem “estourou a boca do balão”.

Paulo Maluf, com tudo isso, sempre desfrutou de grande prosperidade política em nosso Brasil Brasileiro. Além de prefeito, foi governador do Estado de São Paulo, deputado federal com quatro mandatos, eleito com milhões de votos e chefe de cinco partidos políticos diferentes. Sua influência levou o ex-presidente Lula a ir até a sua casa, submeter-se a um dos mais embaraçosos atos de contrição já feitos por um político brasileiro: depois de passar anos a fio dirigindo os piores insultos a Maluf, Lula foi lhe prestar reverência em troca de apoio para o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo. Nessa longa caminhada, Maluf pode aproveitar plenamente as maravilhas do “direito de defesa” à brasileira, com seu incomparável estoque de garantias para os acusados de crimes. Salvo seus 40 dias de xadrez em 2005, um ponto claramente “fora da curva”, ele jamais foi incomodado a sério pelo sistema judiciário do Brasil e, muito menos, por qualquer órgão político encarregado de questões éticas.

Agora, após quase meio século de acusações sem punição, quando já está com 86 anos de idade, problemas de saúde sérios e não manda nem influi em mais nada, Maluf enfim foi preso para cumprir pena. Um corajosíssimo ministro do Supremo Tribunal Federal, com a heroica valentia de quem espera a batalha acabar para vir fuzilar os feridos, mandou o cacique hoje inofensivo para a cadeia. Não foram ouvidas muitas palmas. O que ficou claro, acima de qualquer outra coisa, é a garantia de impunidade que nossos tribunais, leis, OAB, institutos de apoio ao “direito de defesa”, etc. oferecem a todo delinquente que tenha dinheiro sobrando para pagar advogados caríssimos e especializados em obter a negação de justiça para os seus clientes. Conseguiram segurar Maluf solto por quase cinquenta anos; são mesmo uns craques. É claro que não admitem que se mude um milímetro nas leis que permitem essa aberração. É claro que o ex-presidente Lula e o PT, diante de uma história dessas e indignados com a “rapidez” da justiça no seu caso, exigem tratamento igual.


* Publicado originalmente em veja.com
 

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  • Ives Gandra da Silva Martins
  • 25 Dezembro 2017


Com exceção dos Estados Unidos, o presidencialismo nas Américas tem sido um permanente fracasso. Todos os países que o adotaram tiveram golpes de Estado, revoluções e períodos de uma frágil democracia.

Se analisarmos, depois da 2.a Guerra Mundial os principais países sul-americanos foram agitados por rupturas institucionais e regimes de exceção. Assim, Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Bolívia, Peru, Venezuela, Cuba, etc., passaram por rupturas democráticas e pela implantação de regimes de força.

O Brasil, que viveu 42 anos no sistema parlamentar monárquico, desde 1889 jamais teve um período tão longo de estabilidade. De 1889 a 1930, foram 41 anos interrompidos pela ditadura Vargas (de 1930 a 1945). O período de 1946 a 1964 (18 anos) terminou com a revolução de 31 de março. A redemocratização de 1985 deu início a um período de 31 anos, com dois impeachments presidenciais e alta instabilidade. Os governos dos presidentes Lula e Dilma Rousseff levaram o País à crise econômica sem precedentes em sua História, com queda assustadora do PIB, 11,5 milhões de desempregados, retorno da inflação e fantástico nível de corrupção.

Decididamente, o presidencialismo não é um bom sistema, pois confunde o chefe de Estado com o chefe de governo e este, quando eleito, se sente dono do poder, transformando-o, o mais das vezes, numa ditadura a prazo certo.

Presidi entre 1962 e 1964, na cidade de São Paulo, o extinto Partido Libertador, o único partido autenticamente parlamentarista entre os 13 existentes até o Ato Institucional n.° 2. Declarava Raul Pilla, seu presidente nacional, ser o parlamentarismo o sistema de governo da "responsabilidade a prazo incerto", pois, eleito um chefe de governo irresponsável, por voto de desconfiança é alijado do poder, sem traumas. O presidencialismo, ao contrário, considerava Pilla, é o sistema "da irresponsabilidade a prazo certo", pois, eleito um presidente incompetente ou corrupto, só pelo traumático processo do impeachment é possível afastá-lo.

Vejamos, por exemplo, o Brasil atual. Desde 2014 os sinais de fracasso do modelo econômico adotado eram evidentes, mas só houve consenso em iniciar o processo de impeachment em meados de 2016.

Arend Lijphart, professor da Universidade Yale, publicou um livro, em 1984, intitulado Democracies: Patterns of Majoritarian & Consensus Government in Twenty-one Countries. Examinou o sistema dos 21 principais países do mundo onde não houvera ruptura institucional depois de 2.a Guerra Mundial e encontrou 20 hospedando o parlamentarismo e só os Estados Unidos presidencialista.

Historicamente, os dois sistemas têm origem na Inglaterra, o parlamentar (1688/89), e nos Estados Unidos, o presidencial (1776/87). A própria influência inglesa nas 13 colônias levou os norte-americanos a adotar um sistema presidencial quase parlamentar, pois lá o Congresso tem participação decisiva nas políticas governamentais.

O grande diferencial entre parlamentarismo e presidencialismo reside na responsabilidade. No parlamentarismo, o mau desempenho é motivo de afastamento do primeiro-ministro, eleito sem prazo certo para governar. A própria separação entre chefe de Estado e chefe de governo cria um poder ultrapartidário capaz de intervir nas crises, seja para avalizar novos governos escolhidos pelo Parlamento, seja para dissolver o Parlamento quando este se mostre também irresponsável, a fim de consultar o povo se aquele Parlamento continua a merecer a confiança do eleitor.

O simples fato de o chefe de governo ter de prestar contas ao Parlamento e os parlamentares poderem voltar mais cedo para casa impõe a seus governos a responsabilidade, característica dominante no sistema parlamentarista.

Por outro lado, a separação da chefia de governo da chefia de Estado – algo que, no presidencialismo, se confunde na mesma pessoa – facilita a adoção de outros atributos próprios do sistema parlamentar, como o da burocracia profissionalizada. Este jornal publicou em 3/1/2015 que, enquanto o governo parlamentar alemão tinha 600 funcionários não concursados para tais funções, a presidente Dilma Rousseff tinha 113 mil.

Eleito um governo, este escolherá entre os servidores públicos que estão no topo da carreira os que mais se afinam com a maneira de ser do novo governo. Gozam os presidentes dos Bancos Centrais de autonomia maior, quando não de independência. Por essa razão, nas quedas de Gabinete os servidores administram o País até a escolha de um novo governo, sem a economia ser afetada.

Acrescente-se que a maioria dos países parlamentares adota o voto distrital puro ou misto, o que facilita o controle do eleitor sobre o político eleito.

Os modelos parlamentaristas são diversos, com maior ou menor atuação do chefe de Estado. Alguns até exercem funções de governo, como nos modelos francês e português, por exemplo, mas a regra é não exercê-las.

Também os partidos políticos se fortalecem no parlamentarismo, enquanto no presidencialismo se esfacelam, à luz da maior força do presidente. Quando se diz que o Brasil não pode ter o parlamentarismo porque não tem partidos políticos, respondo que o Brasil não tem partidos políticos porque não tem o parlamentarismo. Cláusula de barreira é fundamental para evitar legendas de aluguel, algo que, no Brasil, é um dos maiores males do presidencialismo.

Creio que chegou o momento de repensar o modelo político brasileiro e adotar o sistema parlamentar, que sempre deu certo no mundo, substituindo o adotado pelo Brasil, cujo fracasso é fantasticamente constante na sua História. (O Estado de S. Paulo – 14/09/2016)


• IVES GANDRA DA SILVA MARTINS É PROFESSOR EMÉRITO DAS UNIVERSIDADES MACKENZIE, UNIP, UNIFIEO E UNIFMU, DO CIEE/" O ESTADO DE S. PAULO", DA ECEME, DA ESG E DA ESCOLA DA MAGISTRATURA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL-13 REGIÃO
 

 

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