Percival Puggina

            No fato mais comentado do dia, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que ainda tem muita gente para prender e muita multa para aplicar em relação a “atos antidemocráticos” e disseminação de “fake news”. Grandes veículos noticiaram a frase sem a mais tênue avaliação do que relatavam, sem perceber que faziam mais uma página do necrológio das instituições brasileiras. 

O ministro havia participado do "Seminário STF em ação" ao lado de outros colegas, entre os quais o ministro Dias Toffoli, que falou antes dele. Ao falar, Toffoli chamou a atenção de Moraes para dados relativos a condenações nos Estados Unidos de pessoas que invadiram o Capitólio para impedir a posse de Joe Biden e de outras por propagar fake news. 

Em sua vez de falar, o presidente do TSE, rindo, saiu-se com esta: “Fiquei feliz com a fala do Toffoli porque comparando os números ainda tem muita gente para prender e muita multa para aplicar”. (Ao fundo, ouvem-se aplausos...).

Tudo isso é tão cubano! Tão venezuelano! Essa “justiça” que opera em impenetrável circuito fechado e se diverte com a irrecorribilidade de suas decisões  não é a justiça do Direito brasileiro, não é a justiça do devido processo, não é justiça de um estado de direito e, menos ainda, de um estado democrático de direito. Aliás, não tem ânimo nem alma do que seja uma justiça de verdade.

  • 15 Dezembro 2022

Ana Paula faz a radiografia de Tite

           Não há nada mais comum no esporte do que as derrotas e as dores, lágrimas e lições que elas trazem. Derrotas fazem parte do próprio contexto do êxtase que existe nas glórias.

Para mim, com mais de 20 anos dedicados ao esporte, o que não é aceitável é a suprema covardia de quem abandona seus comandados, de quem, em um rompante narcisista e egoísta, abandona seus soldados em campo depois de uma batalha perdida.

O que Tite, técnico da seleção brasileira de futebol fez hoje depois da eliminação para a Croácia na Copa Mundo, é o degrau mais baixo que um técnico ou dirigente pode cruzar: o abandono de campo com seu batalhão ainda preso na trincheira pelas lágrimas, frustração e tristeza diante da derrota.

Eu poderia tentar elucidar de maneira mais elegante e não tão direta o que penso sobre o abandono de campo - e de seus jogadores ainda em campo - de Tite, mas não vou dourar pílula alguma: Tite é um covarde e o Brasil, apesar de brilhantes jogadores, perdeu para um técnico arrogante e covarde.

O esporte, assim como a vida e, por isso, profundas lições aprendidas ali são carregadas por onde você caminha, não premia covardes porque a covardia é repugnante, abjeta e inesquecível. E é exatamente nas derrotas que os covardes mais aparecem.

Tite deveria aprender com o técnico da seleção japonesa, também eliminada pela Croácia nos pênaltis. Após a frustrante e dolorosa eliminação, ele foi até a torcida, agradeceu com o tradicional gesto japonês, voltou ao meio do campo, falou com o grupo que estava unido em um círculo e depois cumprimentou cada um dos jogadores com lágrimas e gratidão nos olhos.

No esporte, há uma GIGANTESCA diferença entre ser um técnico ou um comandante e ser um LÍDER. Líderes deixam lições e memórias que você carregará para a eternidade.

Lições de companheirismo, lealdade, princípios, ética.

  • 10 Dezembro 2022

Assim ele narra o ocorrido:

Fui censurado!

Mais uma vez. Sim, mais uma vez, ou vocês acham que ser o escritor do Desconstruindo Paulo Freire é sinônimo de incomodar pouca gente?

Por aqui, há calo no lombo. Gritar trincheira não é só replicar o meu herói Hemingway, mas um estado de vida. Somos os novos punks.

Vejam isso, pessoal: eu e minha equipe, por meses, elaboramos a divulgação do meu novo curso A Era Vargas: o Brasil que não morreu - que vocês podem se inscrever no link disponível aqui no perfil. Meses! Não sou o sujeito que ejacula cursos, mas o professor que tem um cronograma estruturado de temas para os meus próximos anos. Posso não estar vivo, mas a organização existe. Então, hoje, sim, fui muito prejudicado, afinal, no momento da live inaugural, fui informado que estou bloqueado. Exatamente no momento! Todo um planejamento jogado pelo ralo em instantes. Segundos. Fiz o que pude para remendar o ferimento. Houve triunfo, mas com danos.

Faço o que posso diante dessa banalização do mal: ministro aulas gratuitas, restauro patrimônios, edito livros e tento montar cursos acessíveis financeiramente. Tudo isso pouco importa pois sou o vilão antidemocrático.

Hoje, fui muito prejudicado por uma plataforma que, na relação profissional que estabeleço com ela, não poderia ter feito isso. Vivemos em tempos de Guerra cultural. De um lado, o establishment nas suas variadas formas. De outro, uma resistência, quase mínima e que faço parte, formada por historiadores que romperam com a bovinagem.

De um modo muito pessoal eu peço: esteja comigo nesse novo curso. Vivemos o efeito do que Vargas semeou, e você precisa saber disso.

Obrigado aos que estiveram comigo.

Hoje a trincheira foi testada. Que Osório nos ajude.

Comento

Conheço o historiador Thomas Giulliano desde seus tempos de estudante. É um desses casos em que o sucesso é arrancado desde o âmago do ser humano, num contexto de severas dificuldades, com muito suor, chuva e sol no lombo, pestana queimada em livros, e livros, mais e mais livros que se erguem em pilhas porque não há espaço na horizontal.

Assim nasceu um historiador cujo trabalho é produto simbiótico de sua fé no que faz e de sua fé em Deus; historiador que ajuda a fazer a história de seu tempo sobre a análise constante dos fatos e a repetitiva coreografia dos atores.

De uns tempos para cá, a censura política (seja a oficial, seja a das plataformas) foi se tornando mais e mais ideológica. Formas refinadas de censura são fascismo, sejam de que cor forem.

Meus leitores certamente conhecem Thomas Giulliano através de suas participações em produções do Brasil Paralelo. Conheçam-no, também, através do seu site e dos seus cursos em www.thomasgiulliano.com.br.

  • 08 Dezembro 2022

 

Percival Puggina

         Há, realmente, um contingente numeroso de pessoas que cujo respeito aos símbolos nacionais e cujo afeto ao Brasil são definidos pelo governante da hora. Se o presidente joga no seu clube ideológico, ele levanta a bandeira, põe na janela, torce pela seleção. Se o presidente é adversário, ele vira as costas para a bandeira ou sapateia sobre ela, imita o Tite e não canta o Hino Nacional, torce para que Neymar quebre a perna, para que a seleção nacional se desclassifique, quer que tudo de errado para o país

Desculpe a linguagem, um tanto fora do meu feitio, mas isso é sintoma de uma colossal debilidade de mente e espírito. Pessoas assim são incapazes de organizar um arquivo, de classificar, perceber diferenças e separar coisas distintas. Ou são submissas a um pacote homogêneo e fechado de ideias prontas e não querem reconhecer diferenças que ele desaconselha identificar.

No caso, trata-se de não confundir uma pessoa com a pátria. Trata-se de perceber que a pátria não é alguém e que o inverso também é verdadeiro. Fica evidente assim, do mesmo modo, que o amor à pátria é submisso à política, ou seja, é um amor de ocasião, tipo sexo casual.

Que pelo menos esses cidadãos cíclicos saibam: a gente vê o que fazem e temos palavras para descrever o que vemos.

  • 07 Dezembro 2022

 

Percival Puggina

Leio na Gazeta do Povo

Desde o dia 13 de setembro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) conta com uma empresa privada dedicada a fazer monitoramento em sites e redes socais não apenas de temas relacionados à Justiça Eleitoral, mas também de usuários que façam publicações sobre termos e palavras-chave que o TSE manifeste interesse. A importante matéria pode ser lida aqui: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/tse-mantem-contrato-empresa-monitorar-identificar-criticos-justica-eleitoral/.

Comento

Noutros pontos da matéria, a Gazeta informa que entre os interesses explicitados nos objetivos do contrato se inclui a identificação de “fontes detratoras” e “ações coordenadas”.

Ontem (20/11), durante sessão da Comissão de Transparência, Fiscalização e Controle (CTFC), os bons senadores Espiridião Amim, Eduardo Girão e Luiz Carlos Heinze falaram sobre o tema expressando a necessidade de investigar esse contrato que bem deveria caber no âmbito de uma CPMI (Comissão parlamentar mista de inquérito) sobre abuso de autoridade. Unindo as duas casas do Congresso, ampliar-se-ia o caráter da CPI proposta pelo deputado Marcel van Hattem que, com mais de 200 outros deputados, pede a instalação de uma CPI com esse intuito na Câmara dos Deputados.

Meus leitores devem lembrar que em artigos escritos nos últimos meses eu mencionei o caráter abusivo e invasivo do trabalho que designei como ação de cães farejadores no espaço digital. Não sou adivinho, em algum lugar isso já tinha sido divulgado. Assim, pelo menos desde o dia 13 de setembro (três semanas antes da eleição e já contando 11 semanas de operação), algo do que pagamos como impostos e vai destinado à Justiça Eleitoral serve para que esta nos vigie. Mais bem faria a instituição se nos protegesse de quem quisesse nos vigiar.

O fato de os poderes de Estado serem informados pelos jornais com tanto atraso é a omissão, cadeira ministrada pelo professor Rodrigo Pacheco, e primeira palavra do título deste comentário. A segunda palavra se refere às consequências. Tenho certeza de que se abrisse aqui uma enquete sobre possíveis consequências dessa informação, a resposta mais frequente seria “Não vai dar nada”. É a tolerância. E a terceira palavra vai para a imensa multidão dos desinformados, dos que estão de bobeira, dos que não têm ideia de onde estão metidos. Simplesmente são levados ao mesmo brejo para onde a vaca é puxada.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

 

  • 30 Novembro 2022

 

Percival Puggina

         Em editorial de ontem (28/11), com o título “Ofensiva política contra o Judiciário), o Estadão atacou CPI do abuso de autoridade. Abriu o texto com as seguintes palavras: “Um sintoma da atual crise brasileira é a irresponsabilidade. Gente com cargo público, que se comprometeu a respeitar a Constituição, tem atuado como se o único critério a pautar sua atuação fosse agradar a seu eleitorado. Para essa turma, não há separação de Poderes, não há limite constitucional. Para insuflar os apoiadores, vale até achacar o Judiciário.”

Se você, leitor, prestar atenção ao vocabulário utilizado pelo editorialista, certamente há de identificar nele o modo alexandrino de menosprezar a divergência: “ofensiva política”, “irresponsabilidade”, “gente”, “turma”, “insuflar”, “achacar”. Para usar um lugar comum de origem freudiano, são vocábulos que falam muito mais de quem ataca do que daqueles a quem se dirige o ataque.

O editorialista cumpriu sua tarefa. Defendeu aqueles que, nessa configuração do STF, violam a Constituição, restringem liberdades essenciais dos cidadãos, alarmam uma população habituada ao democrático convívio com a liberdade de expressão, reintroduzem a censura e a ameaça nas relações entre o estado e a sociedade. Sua crítica voltou-se ao autor do pedido da CPI, deputado Marcel van Hattem e aos 190 deputados federais que já subscrevem a iniciativa. Quanto a passividade do Congresso tem sido conveniente a quem defende um projeto autoritário!  Nele, a liberdade de expressão há de ser distribuída pelo grande irmão orwelliano como prêmio por boa conduta.

A cegueira ideológica que acometeu os veículos do consórcio não lhes permite perceber que, ao acalentar a tirania e seus malfeitos, mantêm nas ruas em todo o país quem não quer viver na servidão. São pessoas que percebem e não aceitam a inversão que vem impondo a primazia do Estado sobre a sociedade. Elas sabem que o Estado e seus aparelhos existem para servi-las e não para a elas se sobreporem restringindo-lhes liberdades fundamentais.

O obsessivo ativismo e a militância político-ideológica do STF já foram denunciados reiteradas vezes por inúmeros juristas. Um poder de estado exercido com ira repressiva encontrará resistência em povos livres. Como recorrer de sanções se os recursos serão julgados pelos que sancionaram? Triste papel o do jornalismo que convalida a tirania e o abuso.

Foi nessa arapuca que o Brasil travou.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

  • 29 Novembro 2022