• Mateus Colombo Mendes
  • 09 Dezembro 2014

Em nosso violentado, tributado e inflacionado país, há uma figura cuja nocividade só não é maior do que a aceitação do público a suas falhas: o palpiteiro. E parece que quanto mais furados são seus palpites, mais aceito e celebrado é o tipo. Um espécime mui representativo dessa classe de embusteiros é Luis Fernando Verissimo. Metido a sarcástico, sagaz e irônico, sua maior ironia reside em seu sobrenome.

Se esse senhor se dedicasse a conhecer tudo aquilo que finge entender, seria de um gênio quase inigualável. Contudo, porque não vai além da pose afetada, igualmente não vai além de falaciar e enganar sua legião de ingênuos leitores. Alertado por um amigo, li a coluna de Verissimo na ZH de 01/12/2014, de título “Bang!”***, na qual o escritor desdenha da Igreja Católica em relação à Ciência, debochando do fato de o papa Francisco haver admitido a possibilidade de ocorrência do "Big Bang".

Quem estranha essa posição do papa desconhece completamente aquilo que finge entender – a ciência. Pois, o propositor da teoria do "Big Bang" foi um astrônomo que era... padre. Falo do belga Georges Lemaître.

Ou seja, era religioso o cientista que propôs a teoria que Verissimo e outros farsantes imaginam contrapor o criacionismo. Lamaître, aliás, era tão religioso quanto o "pai da Genética" (o monge agostiniano Gregor Mendel), o "pai da Geografia" (o beato Nicolaus Steno), o pioneiro do rádio brasileiro (o padre Landell de Moura), filósofos da estatura de Alberto Magno, Roger Bacon e Guilherme de Ockham, os mais de 30 jesuítas que dão nomes a crateras lunares (em homenagem a suas contribuições às pesquisas sobre nosso satélite) e muitos, muitos outros cientistas que contribuíram grandiosamente à humanidade. Aliás, eram religiosos – e católicos – os indivíduos que constituíram aquilo que conhecemos por universidades e hospitais.

Por omissão ou por ignorância, em postura consonante com seu petismo, Verissimo [a ironia deste nome é incrível!] falha retumbantemente em seu palpitarianismo. Por caridade e piedade, suportamos a ignorância de pessoas "normais", cujas opiniões não ultrapassam seu círculo de vivência. Todavia, pessoas que detêm as prerrogativas de espaços midiáticos como o que ZH oferece a Verissimo devem ser corrigidas – caso falhem em seu mister – e constrangidas – se insistirem nos erros. Pois, só disseminam desinformações as pessoas mal-informadas e/ou mal-intencionadas. De uma forma ou de outra, essas pessoas não deveriam meter-se a opinar em público. Deveriam limitar-se a babar na gravata, como diria Nelson Rodrigues (este sim, de verdadeiro gênio). Na melhor das hipóteses, poderiam recolher-se a estudar aquilo sobre que pretendem opinar e bancar gostosura intelectual.


***Eis o texto de Luis Fernando Verissimo:


A última do Papa Francisco é que nem o Big Bang desmente a teologia nem a teologia desmente o Big Bang. Um cristão pode aceitar a teoria do grande estouro que, segundo a ciência, deu origem ao Universo em um milésimo de segundo, sem abandonar sua crença na existência de um Deus criador de tudo. Pode-se até imaginar uma hipotética conversa do Papa, que o representa na Terra, com Deus, em que Este lhe confidencia:
— Francisco...
— Sim, Senhor.
— O Big Bang... Existiu mesmo.
— O quê?
— Existiu. Não adianta mais negar. A teoria está certa.
— O Senhor tem certeza?
— Meu filho, Eu estava lá.
— Então o Big Bang... foi o Senhor?
— Modestamente...

A Ciência não nos assegura que o Grande Nada que precedeu o Big Bang não fosse o tempo ocioso de Deus, indeciso sobre o que fazer da Sua vida. Crio um universo? Me resigno a esta imensa solidão, por toda a eternidade? E este meu poder sem limites, o que faço com ele? Se posso tudo, por que não fazer tudo? E Deus explodiu, criando tudo.

A vantagem de criacionistas sobre evolucionistas é que a Bíblia, onde está escrito tudo o que um criacionista precisa saber, pode ser lida como verdade incontestável ou como uma coleção de parábolas e metáforas. Assim, trechos que parecem cientificamente improváveis são explicados como sendo em linguagem figurada, com liberdade poética, e os outros, menos fantásticos, como fatos históricos. Não há nem poesia nem certezas iguais nas explicações científicas.

Há pouco uma sonda pousou num cometa e, entre as transmissões que mandou para a Terra, detectaram o que pareciam ser notas musicais. Não eram, mas por um breve instante de encantamento foi lembrada uma ideia antiga, a de um Universo sinfônico, e Deus como uma espécie de Beethoven sideral. O cometa traria, entranhado, algum resto da música das estrelas. Mas o ruído da sonda era só estática. Pena. Seria um ponto para o deslumbramento religioso contra a frieza da ciência.
 

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  • Miguel Reale Junior
  • 07 Dezembro 2014

(Publicado originalmente na Folha de São Paulo do dia 6 /12/2104)

O petróleo era nosso, agora a Petrobras é deles. Diante do volume de recursos desviados passou-se a usar o termo lacerdista Mar de Lama, adjetivação dada pela UDN aos fatos ocorridos no final do governo Vargas, em 1.953 e 54. Quais foram, há sessenta anos, os acontecimentos que geraram expressão tão forte?
Na biografia de Getúlio (terceiro volume), Lira Neto conta que as acusações prendiam-se à importação de dois veículos RollsRoyce para a presidência da República, livre de imposto de importação. A importadora em vez de dois veículos importou quatro, livres de impostos, destinando dois para particulares, um para a importadora Santa Teresinha, da família Maluf, e outro para o magnata Peixoto de Castro. Outras irregularidades denunciadas diziam respeito à concessão de loterias federais e às compras de locomotivas para a Central do Brasil sem licitação. A oposição dizia-se estarrecida, comenta o biógrafo, e daí apodar-se o governo de Mar de Lama.
Outro presidente acusado de corrupção, mas afastado do cargo por impeachment foi Collor. Márcio Thomaz Bastos, recém falecido, e eu fomos chamados pela CPI do PC Farias para ajudar na elaboração do relatório final. Detidamente analisei as provas, especialmente as relações entre a Casa da Dinda e PC Farias. Constatei, então, ter PC Farias irrigado, com parte do dinheiro arrecadado com exigências praticadas em conjunto com autoridades federais, contas fantasmas movimentadas pela secretária particular de Collor, por via das quais se pagavam gastos da Casa da Dinda, residência do presidente.
Pouco depois, José Carlos Dias telefonou-me convidando para reunião em sua casa, na qual se discutiria o impeachment de Collor. Estavam presentes, o anfitrião, Dalmo Dallari, René Dotti, Flávio Bierrenbach e Fábio Comparato. René foi incumbido de elaborar um plano geral. Coube, posteriormente, a Comparato escrever a parte relativa a quebra do decoro e a mim, que tinha cópia dos elementos essenciais da CPI do PC Farias, redigir a acusação acerca dofato de o presidente ter deixado de zelar pela probidade da Administração Pública, sem apurara responsabilidade de subordinados e recebendo benefícios na conta gerenciada por sua secretária.
O grupo de advogados teve mais duas reuniões para exame do texto, em minha casa e depois na casa de Márcio Thomaz Bastos, com a presença de Evandro Lins e Silva, na qual se aprovou a versão final, submetida aos presidentes da OAB – Conselho Federal e da ABI, subscritores iniciais do pedido de impeachment, fundado no descumprimento do deverconstitucional de zelar pela probidade administrativa.
Em 2.005, surgiu o Mensalão, comprometendo a estrutura da República, por via da compra de votos de inúmeros parlamentares de diversos partidos às vésperas de votações importantes, com recursos obtidos com a contratação falsa de publicidade e depois entrega de envelopes recheados em hotéis de Brasília, envolvendo ministro da Casa Civil e presidentes de partidos políticos na cooptação da vontade parlamentar. O presidente Lula de início se disse traído, depois vem tergiversando.A fragilidade da oposição permitiu que o presidente passasse incólume.
Mas, são do seu governo as falcatruas na Petrobras, sendo, então, a atual presidente, primeiramente, Ministra de Minas e Energia e depois Chefe da Casa Civil, mas sempre presidente do Conselho de Administração da Petrobras, conselho ao qual, pelo Estatuto, coube a nomeação dos diretores, estes mesmos agora presos e acusados de locupletamento de milhões.
Denunciado o Mensalão, que garantia a “fidelidade” da base governista, instituiu-se o Petrolão, nova fonte de recursos a não serem contabilizados. O TCU – Tribunal de Contas da União – apontou em 2.007 que havia graves distorções em obras da Petrobras,recomendando a paralisação da sempre lembrada refinaria Abreu Lima.O Congresso não acompanhou a recomendação do TCU e o Executivo nada fez. Em 2.009, novamente o TCU recomendou e o Congresso acolheu, na Lei Orçamentária,a suspensão das obras da Refinaria.
Alertadas a presidência e a ministra Dilma, presidente do Conselho de Administração da Petrobras, resolveu Lula vetar o artigo do projeto de lei orçamentária que suspendia a obra suspeita, com argumento do prejuízo social desta paralisação, dando livre curso às irregularidades. Limitou-se a presidência a recomendar à Corregedoria a apuração de eventuais desvios, sem se dar o devido relevo ao TCU e ao próprio Congresso, tanto que a Corregedoria, displicentemente, três anos depois, em 2.012, afirmou não ter sido possível verificar qualquer irregularidade por falta de conhecimento dos parâmetros utilizados pelo TCU na constatação dos desvios.
Hoje está estampado em cores gritantes o tamanho do desmando, a fonte contínua de montanhas de dinheiro desviado em obras e aquisições pelas diretorias da Petrobras na gestão de Dilma e Lula, a ponto de um só gerente, agora em delação premiada, comprometer-se a devolver 250 milhões de reais dos quais se apropriara.
Segundo consta, havia um diretor responsável por gerir as vantagens ilícitas de cada um dos três partidos da base: PT, PMDB e PP. Assim, os parlamentares da base, formada por estes partidos,continuavam “fiéis” ao governo, que fechava os olhos aos desmandos de toda ordem na estatal, antes considerada a pérola da República, mas que ora amarga prejuízos e descrédito incomensuráveis no Brasil e no exterior. A peso de ouro o governo manteve uma maioria parlamentar sempre pronta a fazer naufragar CPIs no Congresso.
Cabe ao leitor comparar o sucedido à época de Getúlio e com Collorem 1.992, frente ao que ocorre hoje, para avaliar o que vem ser um Mar de Lama, se há ou não omissão dolosa ou culposa no devido zelo à probidade administrativa e na apuração de responsabilidade de subordinados.
 

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  • Gilberto Simões Pires
  • 07 Dezembro 2014

OLHO EM SANTIAGO E EM QUITO
Atrasei, propositadamente, a publicação deste editorial porque antes de fazer qualquer manifestação precisava ouvir o que tinham a dizer, principalmente, duas mulheres, as quais participaram, nesta sexta-feira, de eventos diferentes na America Latina.

CHRISTINE LAGARDE

Uma delas é a diretora-geral do FMI - Fundo Monetário Internacional-, Christine Lagarde, que esteve em Santiago (Chile) para participar da conferência "Desafios para Assegurar o Crescimento e uma Prosperidade Compartilhada na América Latina.

DILMA ROUSSEFF
A outra é a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, que esteve em Quito (Equador) para participar efusivamente da reunião de Cúpula Extraordinária da UNASUL -União das Nações Sul-Americanas-. ou, como já conhecida, a URSAL -União das Repúblicas Socialistas da América Latina-, por ser uma cópia fiel da URSS -União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

SEMELHANÇA
A propósito: a Unasul bem que poderia se chamar URSAL - União das Repúblicas Socialistas da América Latina-. Afinal, o compromisso é o mesmo, qual seja a formação do regime ditatorial comunista nos mesmos moldes do que foi feito na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a extinta URSS.
Aliás, a semelhança é tamanha que até a bandeira da Unasul tem as mesmas cores da bandeira da URSS: vermelho-sangue e amarelo, que continuam sendo utilizadas pelo Partido Comunista.

LAGARDE ADVERTE E ADMITE
Christine Lagarde fez uma alerta: a América Latina enfrentará um caminho que parece cada vez mais instável com as mudanças nas condições econômicas globais. Mais: os preços das commodities, que alavancaram a região por mais de uma década, estão agora em queda forte. Como se isso não bastasse, a era do financiamento barato em dólar está prestes a acabar.
Lagarde arrematou dizendo: - Se forem introduzidas as reformas estruturais necessárias, o Brasil pode ser um gigante ainda maior do ponto de vista econômico.

DILMA CULPA O MUNDO PELOS SEUS ERROS
Dilma, por sua vez, em Quito, acompanhada pelos líderes de países-membros do Foro de São Paulo (que é representado pela Unasul), para comprovar que, além de grande mentirosa também é uma péssima administradora, cheia de arrogância preferiu culpar a crise internacional pelos problemas no Brasil. Pode?
Agindo de acordo com os ensinamentos obtidos através da Cartilha de Antonio Gramsci, cuja obra inspira as propostas do Foro de São Paulo, Dilma disse que a queda dos preços das commodities são, agora, os grandes responsáveis pela crise brasileira.


NÃO FOI GRAÇAS AO LULA
Ora, com este discurso até os menos atentos perceberam, finalmente, que não foi a capacidade do então presidente Lula que levou o Brasil a ganhar certa notoriedade internacional , como chegou a estampar o The Economist.
Portanto, só para esclarecer de uma vez por todas, o que, entre 2008/2012, realmente levou o Brasil a ser visto com interesse pelos investidores foram os altos preços das commodities e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Hoje, infelizmente, não temos em uma coisa nem outra. E para piorar, nenhuma reforma foi feita e nem será feita.
 

www.pontocritico.com

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  • Carlos I.S. Azambuja
  • 05 Dezembro 2014

 

“A vida perdeu para a morte, mas a memória ganha seu combate contra o nada” (Tzevetan Todorov, “Os Abusos da Memória”)

Este é um artigo baseado no livro de Anne Applebaum “Gulag, uma História dos Campos de Prisioneiros Soviéticos”. QUANTOS morreram? É uma pergunta até hoje sem resposta.
Embora a União Soviética dispusesse de milhares de campos de concentração e embora milhões de pessoas tenham passado por eles, durante décadas, ninguém, a não ser meia dúzia de burocratas, soube qual era o número de vítimas. Estimar esse número era um exercício de pura adivinhação enquanto a URSS ainda existia. Hoje em dia, o cálculo pode ser feito por suposição. QUANTOS?
No livro The Great Terror (O Grande Terror), de 1968, na época um relato original e inovador dos expurgos soviéticos, o historiador Robert Conquest estimou que a NKVD prendeu 7 milhões de pessoas em 1937 e 1938. Em Origins of the Purges (Origens do Expurgo), uma narrativa “revisionista” de 1985, o historiador J. Areh Getty falava apenas em “milhares” de presos nesses mesmos dois anos. QUANTOS?
Os prisioneiros deixavam os campos por vários motivos: porque morriam, porque fugiam, porque tinham sentenças curtas, porque haviam sido liberados para o Exército Vermelho, ou porque passavam a ocupar cargos administrativos nesses mesmos campos. E, freqüentemente, os velhos, os doentes e as mulheres grávidas eram anistiados. Mas a isso se seguiam, invariavelmente, novas ondas de prisões. Por volta de 1940, 8 milhões de prisioneiros já haviam passado pelos campos. Entre 1929 e 1953, estima-se que 18 milhões de pessoas passaram pelos campos. O próprio Nikita Kruschev dizia que 17 milhões de pessoas haviam passado pelos campos de trabalho forçado entre 1937 e 1953. Mas, afinal, QUANTOS?
Todavia nem sempre esses números proporcionam uma resposta para o que as pessoas realmente querem saber. QUANTOS morreram? O que as pessoas querem saber é QUANTOS morreram desnecessariamente em conseqüência da Revolução Bolchevique, do Terror Vermelho, da Guerra Civil, da fome gerada pela política brutal de coletivização, das deportações em massa, das execuções em massa, dos campos da década de 1920, dos campos de 1960 a 1980, e também dos campos e das execuções em massa do reinado de Stalin. Nesse caso, os números não são somente muito maiores, mas são uma questão de pura conjectura. Os autores do Livro Negro do Comunismo falam em 10 milhões de mortes. Mas, afinal, QUANTOS?
Entretanto, mesmo que chegássemos a esse número, ele também não poderia contar toda a história de sofrimento. Nenhum dado oficial pode retratar a mortalidade das viúvas, dos filhos e dos pais idosos que ficaram para trás, uma vez que a morte deles não foi computada. Durante a guerra os idosos morriam de fome sem os cartões de racionamento; se o filho condenado não estivesse extraindo carvão em Vorkuta, eles poderiam ter continuado vivos. As crianças sucumbiam às epidemias de tifo e sarampo nos orfanatos gelados e mal equipados; se as mães não estivessem costurando uniformes em Kengir, elas também poderiam ter sobrevivido. QUANTOS?
E nenhum número é capaz de retratar o impacto cumulativo da repressão stalinista na vida e na saúde de todas as famílias. Um homem foi julgado e morto como “inimigo do povo”; a mulher foi levada para um campo de concentração como “membro de uma família inimiga”; os filhos cresceram em orfanatos e se uniram a gangues de criminosos; a mãe morreu de desgosto e mágoa; os primos, as tias e os tios romperam relações com a família para que não fossem tidos como “corrompidos”. Famílias separadas, amizades desfeitas; o medo pesava muito sobre as pessoas, mesmo quando elas não morriam. QUANTOS?
No final, estatística alguma poderá jamais descrever completamente o que aconteceu. Nem os documentos arquivados, nos quais os atuais pesquisadores se baseiam. Todos os que escreveram sobre o Gulag sabem que isso é verdade. Eis o depoimento de um desses autores, que dá a palavra final sobre “estatística”, “arquivos” e “processos”.
Em 1990, o escritor Lev Razgon obteve autorização para ver o próprio processo, uma série de documentos que descreviam a sua prisão e a prisão de sua primeira mulher, Oksana, como também a de diversos membros da família. Depois, de lê-lo, Lev Razgon escreveu um pequeno ensaio:
“Já fazia muito tempo que eu tinha parado de virar as páginas do processo e elas estavam do meu lado havia mais de uma ou de duas horas, esfriando com os pensamentos. Meu guarda (o arquivista da KGB) começa a pigarrear sugestivamente e a olhar para o relógio. É hora de ir. Entrego o processo e ele é negligentemente jogado de novo num saco plástico. Desço as escadas, passo pelos corredores vazios, pelas sentinelas e chego à praça Lubyanka.
São apenas cinco horas da tarde, mas já está escurecendo, e uma chuva fina e silenciosa cai ininterruptamente. Fico na calçada sem saber o que fazer. Como é horrível não acreditar em Deus e não poder ir a uma igrejinha e ficar lá, acolhido pelo calor das velas, olhando para Cristo na cruz. Como é horrível não poder falar e fazer as coisas que tornam a vida do crente mais suportável.
Tirei o chapéu e gotas de chuva ou lágrimas rolaram pelo meu rosto. Tenho 82 anos e aqui estou, vivendo tudo outra vez. Ouço a voz de Oksana e a da sua mãe. Lembro-me delas, de cada uma. E se eu continuei vivo, essa é minha obrigação”.
Esse foi um dos que sobreviveram. Mas, afinal, QUANTOS morreram?

 Historiador
Notas:
Do livro “Gulag, uma História dos Campos de Prisioneiros Soviéticos”, de Anne Applebaum, Prêmio Pulitzer 2004 não ficção.
 

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  • Olavo de Carvalho
  • 05 Dezembro 2014


(Notas publicadas pelo filósofo em seu página no Facebook.)

NUNCA, AO LONGO DE TODA A DITADURA MILITAR, estudantes e professores precisaram ter medo de expressar livremente suas idéias no recinto universitário, tanto que as expressavam o tempo todo e fizeram da universidades os principais centros de resistência ao governo. Hoje, o ambiente nessas instituições é de medo, de censura e autocensura. Do mesmo modo, algumas notícias nos jornais eram proibidas, mas havia dezenas de jornais de oposição, a maioria francamente comunista, circulando toda semana e alcançando milhões de leitores. Hoje, o Mídia Sem Máscara é o PRIMEIRO jornal impresso que, a duras penas, venceu uma barreira de silêncio que já durava vinte anos, e mesmo essa única voz discordante já é considerada excessiva. VIVEMOS NUMA DITADURA MUITO PIOR QUE A DOS MILITARES.

Os militares colocavam, no máximo, UM agente em cada redação. Hoje os agentes do petismo são dezenas, centenas em cada organizacão de mídia, espionando, fiscalizando, censurando, delatando. Não há comparação possível.

* * *
É claro que sou a favor do impeachment da Dilma, mas sou MUITO MAIS a favor do desmantelamento completo da máquina golpista da esquerda, incluindo "movimentos sociais", ONGs, hegemonia editorial, grupelhos de interproteção mafiosa na mídia, nas universidades e igrejas. etc. Na vida há obstáculos que não podem ser "vencidos": só podem ser DESTRUÍDOS.
* * *
CHEGA de fingir que existe democracia no Brasil. Eleições e partidos de oposição (repletos de comunistas) existiam também na ditadura militar.

Chega de GUERRA ASSIMÉTRICA. Por que esses filhos da puta hão de ter sempre o direito de dizer o que não podemos dizer, de fazer o que não podemos fazer? Por que eles podem pregar abertamente o homicídio em massa e nós não podemos sequer dizer que o Lula é um bêbado?

Por que uma dona pode dizer que tem "saudade dos fuzilamentos" e eu não posso nem dizer que ela é uma vaca filha da puta?

Você tem saudade dos fuzilamentos? Pois eu tenho saudade dos tempos em que gente com o seu QI não podia esperar da vida nada mais que um bom tanque de lavar roupa.

Tens saudade dos fuzilamentos? Vai trabalhar, vagabunda! "Saudade dos fuzilamentos" foi só brincadeirinha? Pois então vá tomar no cu de brincadeirinha.

Mais importante do que tirar a Dilma da presidência é expulsar os comunistas da sua escola, da sua igreja, da sua sociedade de bairro, do seu clube. Isso não depende de grandes mobilizações, depende só da coragem e iniciativa de cada um. Isso não é nem política: é dever pessoal. Denuncie cada filho da puta, atire na cara dele, em público, todo o mal que ele representa e personifica. Recuse-lhe amizade, tolerância ou respeito, mesmo em pensamento. Esses canalhas vivem da generosidade das suas vítimas.

Discrimine quem o discrimina, oprima quem o oprime, achincalhe quem o achincalha. Faça justiça a si mesmo.

Comece agindo por si. Logo vira moda.

Nunca esqueça: Cada comunista trama dia e noite a morte de quem atravesse, mesmo por descuido, o caminho da maldita revolução.

Chamar um comunista de assassino é redundância.

* * *
Prestem atenção: O Mário Ferreira dos Santos foi e será PARA SEMPRE mais inteligente do que eu. Ele é a medida máxima da inteligência no Brasil.

O que o Mário Ferreira deu a este país ultrapassa o total das necessidades nacionais. Quem precisa dele, por enquanto, são europeus e americanos.

* * *
Não sou nem favorável nem desfavorável a uma "ação militar" porque isso não é assunto de livre escolha e sim de análise estratégica.

Se vocês querem que os militares entrem em ação, façam a sua parte, a qual NÃO É pedir intervenção militar e sim combater o inimigo na sociedade civil.

Civis combatem na esfera civil, políticos na esfera política, militares na esfera militar.

Não combata o comunismo no governo. Combata ONDE VOCÊ ESTIVER.

* * *
Quem gosta de "tomar posição" dificilmente aprende o raciocínio dialético que é indispensável em todo cálculo estratégico.

Resultado: toma posição fica lá mesmo, imóvel, sem poder fazer nada.

* * *
Sugestão útil (espero que seja):

Nunca expressem nojo ou repulsa perante HÁBITOS SEXUAIS PESSOAIS que não entrem na esfera da conduta criminosa ou da blasfêmia proposital. Com isso vocês perdem TODA a autoridade moral necessária para combater as aberracões políticas e jurídicas que nos estão sendo impostas em nome de caprichos sexuais.

Desde que li a declaração de um gay machão de que tinha "nojo" dos transexuais que invadiam a sua querida sauna masculina, entendi que reações orgânicas são O CONTRÁRIO de uma atitude moral.

De modo geral, expressões como "Me dá nojo", "me dá ânsia de vômito", etc. são confissões de fraqueza.

Se você diz "Me dá nojo", mostra que foi ferido, afetado fisicamente. É o mesmo que dizer "Ai, me dói." Conversa de perdedor. Nunca se permita sentir nojo no meio de uma briga: ao contrário: Instile-o no adversário, faça o desgraçado ter diarréia, vômito, enxaqueca, o diabo.


https://www.facebook.com/carvalho.olavo
http://olavodecarvalho.org
 

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  • Ricardo Hingel
  • 05 Dezembro 2014

Após muito discutir-se, a dívida estadual será renegociada com o governo federal. Solução? Adianto a resposta.
Adianto a resposta com uma notícia para o governador eleito: a renegociação em nada repercutirá em seu fluxo de caixa, pois as prestações e o comprometimento da receita não serão reduzidos. Mais, com a renegociação, os encargos continuarão elevados, mantendo sua condição de impagável. Saliente-se que o ex-governador Antônio Britto herdou uma dívida resultante de continuados anos de déficits e que foi negociada em 1998, em conjunto com outros Estados e municípios, com um prazo de 30 anos e limitando seu pagamento em 13% da receita líquida. O que excedesse os 13% geraria um resíduo a ser pago após o 30º ano. O custo foi um índice de preços, retratando a inflação, mais 6% anuais, taxa de juros real usada no combate à inflação.

Com a renegociação, a dívida continuará impagável, pois foi reduzida apenas em parte a parcela de juros de 6% para 4% ao ano, mais o índice de preços, e limitou-se à variação da taxa Selic.

Resta uma taxa de juros nominal para 2015 próxima de 11%, cara para a capacidade de pagamento do Estado, pois a economia e a arrecadação não crescem nessa proporção. Lembramos que em 1998 o Plano Real estava se consolidando e a expectativa era de que a inflação se reduzisse ao longo dos anos a níveis inferiores aos atuais, o que permitiria também a diminuição dos juros reais, porém, continuados erros de gestão econômica do governo federal fizeram com que a inflação persistisse e os juros permanecessem altos.

Portanto, o custo e o tamanho da dívida resultam exatamente da condução da política econômica federal. Se a partir de 1998 o Brasil tivesse ajustado sua economia com crescimento e baixa inflação, teríamos encargos inferiores aos verificados, uma dívida menor e uma arrecadação maior.

Ciente da inadequação das taxas de juros praticadas no Brasil, o governo federal financiou, através do BNDES, com bilionários subsídios, os mais diversos investimentos. Mesmo tratamento não tiveram os Estados, que arcaram com as consequências dos maus resultados econômicos provocados pelo governo federal, conforme aqui sintetizado.

*Economista
 

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