Percival Puggina

 

         As ordens de Lisboa eram muito claras e rapidamente a notícia se propagou pelas províncias: as Cortes Gerais do Reino (constituinte portuguesa) cobravam o retorno de D. Pedro a Portugal, a cessação da autonomia administrativa do Regente e atribuíam a si o encargo de indicar os gestores das províncias.

Na perspectiva de Portugal as ordens faziam muito sentido. Desde o início do século XIX, com a vinda da família real para o Brasil, o caixa português estava no vermelho e se deslocara para este outro lado do Atlântico o eixo do poder político e econômico. O retorno de D. João, em 26 de abril de 1821 restabelecera a coroa no Palácio da Bemposta, mas naquele momento as rédeas do poder estavam nas mãos das Cortes.

A população se mobilizou contra as ordens. Agitaram-se os independentistas. José Bonifácio, o maior deles. Circulou um abaixo-assinado entre a elite brasileira, com oito mil assinaturas, pedindo a D. Pedro que descumprisse as determinações recebidas e permanecesse no Brasil.

Em Lisboa, D. João VI nada podia fazer. O poder estava nas Cortes e ele, para manter a Coroa, jurara a Constituição. Contudo, deixara acionado o GPS com o rumo a ser seguido pelo filho em caso de necessidade: “Pedro, se o Brasil se separar, antes seja para ti que me hás de respeitar, do que para algum desses aventureiros”.

Assim, em 9 de janeiro de 1822 (200 anos no dia de ontem), o príncipe expressa o sentimento nacional emergente e anuncia sua decisão de permanecer no Brasil.

As oito mil assinaturas representavam 8% da população do Rio de Janeiro, mas D. Pedro compreendeu a vontade de seus súditos. Hoje, milhões de assinaturas de eleitores vão para a lixeira de um Congresso  que volta as costas às petições, ao clamor das ruas, ao interesse nacional. E só desperta quando os temas suscitam o interesse eleitoral, ou financeiro, ou muito particular das suas remexidas maiorias.

Esses portugueses de nossa história amaram mais o Brasil do que muitos brasileiros de hoje.

  • 10 Janeiro 2022

 

Percival Puggina

 

         Tenho em mãos uma caixa de Dipirona, um medicamento de uso corrente que me foi receitado para emprego em caso de dor ou febre, pois estou com Covid-19.

Como faço com tudo que me cai nas mãos, leio a bula da Dipirona. As três partes mais prolixas são, respectivamente, “Quando não devo usar este medicamento”, “O que devo saber antes de usar este medicamento”, e a longa lista que alinha “Quais os males que este medicamento pode causar”. Quem lê, não toma. Aliás, não pretendo tomar. Meus sintomas são muito brandos e o mais incomodo é o isolamento.

São todos esses alertas, feitos pelo laboratório fabricante de um medicamento comum, que me trazem ao tema da vacinação infantil contra a Covid-19. Querem torná-la obrigatória e contam, para isso, com agressiva campanha nos meios de comunicação. Reproduz-se o surrado mecanismo que parece ungir tantos jornalistas à condição de sacerdotes missionários de uma causa sagrada. Agem como exorcistas da divergência. Aventam a possibilidade de perda de direitos familiares sobre as crianças!

Pergunto-me: como podem usar seus espaços nos meios de comunicação para defender a irrestrita vacinação infantil contra a Covid-19, sem cogitar de eventuais condições prévias? Sem a mais tênue advertência sobre o que observar nas crianças após a vacinação (reações adversas)? Sem sequer alertar para o caráter experimental da vacina, usada em condições emergenciais, numa população de baixíssimo risco?

Os amados mestres, que ao longo da vida me ensinaram a pensar, também achariam tudo isso muito estranho e me apontam como mais correto o caminho que passa pela ampla informação e pelo respeito ao direito dos pais. O clima deste país está ficando sufocante.

  • 07 Janeiro 2022

 

Percival Puggina

 

         Dizem ser das piores experiências, acordar com ladrão dentro de casa. Os rumos pelos quais essa história comum tem continuidade são os mais variados e, não raro, trágicos.

Por vezes, essa é a sensação que me vem quando penso sobre o estresse que caracteriza a política nacional. Alguns apoiam essa invasão; outros, muito recentemente, foram despertados para o que estava acontecendo com o país e perceberam o desastre eminente. Para os primeiros, errada e fora dos planos, foi a vigília de tantos, levando aos últimos resultados eleitorais. Para os despertos, é urgente recuperar a liberdade, a democracia e o efetivo pluralismo.

Durante décadas, uns poucos, em vão, alertavam para o que estava acontecendo. Modestamente, cá nesta extremidade do palco das ações, eu era um deles. Os novos donos falavam sozinhos. Faziam lembrar, por vezes, aquelas cenas de filmes italianos em que il ragazzo e la ragazza sentavam em lados opostos da mesa enquanto os pés namoravam sob proteção da toalha. E a esquerda sentiu-se dona do Brasil. Hoje, ragazzo e ragazza sentaram-se ao sofá e diminuíram as luzes do ambiente.

A tomada dos espaços importantes para o poder político, na perspectiva de Gramsci, Zé Dirceu e tantos outros, incluiu, claro, o espaço acadêmico. Dele emerge, anualmente, um exército de “lacradores” como os que produziram, contra o consumo de carne, aquela publicidade maluca do Bradesco (que parecia trabalho de grupo num curso de publicidade e propaganda). As três mocinhas e quem as orientou devem ter aprendido que criar gado é um negócio dos diabos e agir contra esse mercado merece recompensa em créditos de carbono. Que loucura!

A compreensão de tantos à natureza dos acontecimentos em curso no país é um dos fatos mais relevantes das últimas décadas.  A democracia precisa disso como nós precisamos do ar que respiramos. Esse despertar causa desconforto aos invasores noturnos e diurnos, mas derrubou temporariamente a ponte para o desastre.

Festejo, então, a notícia de que o Grupo Pecuária Brasil (GPB) deixou o Bradesco. O grupo é formado por mais de 14 mil membros de 200 cidades de 17 estados brasileiros, Distrito Federal e outros três países.

É apenas uma pequena amostra de o quanto foi saudável esse despertar.

 

 

  • 31 Dezembro 2021

Nota do editor: Neste Natal foi surpreendido com o distinto presente discriminado no Ato Real abaixo transcrito. Agradeço a homenagem e o reconhecimento que considero excessivo à minha contribuição para “o resgate e a manutenção do tecido histórico-social, ao exercer minha profissão como legítimo ministério”. De minha parte, longa vida à Civilização Ocidental!

Resumo do Decreto Real Natalino 2021 da Principesca Casa de Bessières.

Sua Alteza Fidelíssima Dona Lorena Peixoto Nogueira Rodriguez Martinez Salles Correa, a Duquesa D´Ístria e Par de França, Chefe de Nome e de Armas da Principesca Casa de Bessières, em Decreto Real Natalino 2021, decidiu – entre outros itens – agraciar através da Confraria de Lara, onze pessoas que têm contribuído para o resgate e a manutenção do tecido histórico-social, ao exercer suas profissões como legítimos ministérios. Cada um dos agraciados receberá sua respectiva carta de reconhecimento, que será confirmada ao longo do ano imediatamente posterior à homenagem, de forma absolutamente gratuita e sem implicar qualquer obrigação posterior.

LISTA DE HOMENAGEADOS DA CONFRARIA DE LARA EM 2021

Alberto Brum Novaes

Christiane Wittel

Francisco Platoni

José Gobbo Ferreira

Lucas Ferrugem

Luka Sulic

Marcelo Buhatem

Márcio Scansani

Percival Puggina

Pina Douglas

Stjepan Hauser

Obs: a reputação ilibada constitui requisito essencial para a confirmação da homenagem. Denúncias e pedidos de exclusão da graça devem ser apresentados ao Corpo de Nobreza da Principesca Casa de Bessières, em petição simples, por qualquer meio escrito, juntamente com as provas necessárias.

O Decreto Real Natalino 2021 também intermediou a publicização das seguintes Casas Reais in exilium:

Casa Real e Ducal de Arpades, restaurada após 720 anos in exilium.

Casa Real e Ducal Monteiro de Barros, agora formalizada.

Casa Real e Ducal Schina, restaurada desde 21 de janeiro de 2021.

Casa Real e Ducal de Bueno da Ribeira, restaurada desde 15 de fevereiro de 2021.

Que todos tenham um excelente Natal!

  • 24 Dezembro 2021

Percival Puggina

 

São 11 dias sem poder nem sorrir na Coreia do Norte

Leio no site Terra

Medida vale para celebrar os 10 anos da morte de Kim Jong-il, pai do atual ditador Kim Jong-un.

É proibido rir, consumir bebidas alcoólicas e demonstrar qualquer manifestação de felicidade na Coreia do Norte durante 11 dias. A medida impositiva quer reverenciar o luto de 10 anos do ex-ditador do país, Kim Jong-il, morto em 17 de dezembro de 2011 aos 69 anos. Ele faleceu vítima de ataque cardíaco e, em seu lugar, foi empossado o filho Kim Jong-un, quando tinha 28 anos.

Jong-il ficou à frente do país entre 1994 e sua morte. E no dia que marcou os 10 anos do falecimento, 17, os norte-coreanos foram proibidos, inclusive, de fazer compras.

Uma homenagem foi prestada em praça na capital, Pyongyang, quando os presentes ficaram em silêncio com as cabeças inclinadas diante dos retratos de Jong-il e de seu pai, fundador da Coreia do Norte, Kim il-sung.

Comento

Temos, no Brasil, líderes políticos que ensoparam seus lenços de lágrimas e enviaram sentidas condolências quando morreu o ditadorzão, pai do ditadorzinho. São os mesmos que quando perguntados sobre prisões políticas em Cuba, respondem com ataques ao “bloqueio” comercial dos Estados Unidos; são os mesmos que pediam a Hugo Chávez receitas para permanência no poder por longos anos; e são os mesmos que olham para o próprio futuro com iguais expectativas. Pois até esses sabem que, saindo às ruas, podem levar vaias. Mas há quem, fazendo o que fizer, se julgue credor de reverências como as da foto.

Na raiz do totalitarismo está o insaciável desejo de permanência no poder e o desconhecimento da dignidade do outro, uma psicopatia que desgraça nações inteiras. A vacina contra esse mal é a consciência dos cidadãos levando ao dever cívico de agir para que tais ideias e aqueles que as cultivem sejam democraticamente mantidos a sábia e prudente distância do poder.    

  • 23 Dezembro 2021

 

Percival Puggina

 

            É óbvio que 100% dos congressistas desejariam dispor de mais recursos para suas campanhas eleitorais. No entanto, uns souberam dizer não ao interesse pessoal, em vista do interesse nacional (e isso é virtuoso); outros, antevendo o desagrado nacional, cuidaram de proteger a imagem pessoal (um pouco menos virtuoso, mas serve); outros, ainda, votaram para manter o veto do presidente por saberem que seus pares sensíveis a uma grana extra eram em número mais do que suficiente para garantir a desejada verba sem se exporem ao eleitor (e isso é hipocrisia).

O voto contra o Bolsa Reeleição não pode ser critério suficiente para decidir voto no próximo pleito. Cuidado! Lembrem-se do que aconteceu em 2018.

Naquela eleição, em todo o país, muitos candidatos se aproximaram de Bolsonaro para conquistar a confiança de eleitores que consideraram, ingenuamente, que o número 27, ou a foto com o Jair Messias, bastasse como razão de voto. Não poderia ser e deu errado. Muito gato entrou nos parlamentos e se elegeu governador com pelo de lebre. É preciso examinar bem mais cuidadosamente o “conjunto da obra” de cada candidato, bem como suas convicções políticas, seus princípios e seus valores.

Exemplificando. Por mais que o afetuoso abraço, orelha com orelha e “olhinho fechado”, de Alckmin e Lula seja um silencioso e arrasador depoimento sobre o caráter de ambos, há muitos outros motivos (o conjunto da obra), para tirar essas duas cartas do baralho das opções eleitorais de 2022.

  • 20 Dezembro 2021