• Eurico Borba
  • 11 Agosto 2015

(Publicado originalmente no blog Diário do Poder, de hoje)

O grave momento político atual causa profunda desilusão e revolta na maioria silenciosa do povo brasileiro. A cada dia surgem notícias de novos escândalos, novos envolvimentos de autoridades, mentiras, violência. Os protestos nas redes sociais, na mídia e nas ruas não são considerados pelos governantes, pelos partidos e pelos políticos. O Brasil assiste, impotente e irado, o espetáculo imoral de grupelhos usando, ilegitimamente, suas posições institucionais para preservar o poder e a riqueza acumulada de forma corrupta, sem se preocuparem com o bem estar e o progresso da nação.

A solução para a crise que enfrentamos passa, necessariamente, pela solidariedade do povo ofendido para com o ideal da promoção do bem comum. No entanto Brasil está cada vez mais despossuído de sonhos, esgarçado nas suas ligações afetivas, perdidos pela desconfiança generalizada que cada cidadão nutre pelos outros. O povo só reage às freqüentes noticias de desgoverno e de corrupção ou com o deboche que a nada conduz, ou com o ódio crescente que a tudo pode vir a destruir.

Com o fracasso e o desaparecimento dos partidos políticos, restaria a esperança de lideranças esclarecedoras da situação e aglutinadoras da nação em torno de um projeto de país livre e justo, tais como fizeram os grandes nomes da nacionalidade, em um passado recente: Franco Montoro, Tancredo Neves, Juscelino Kubitheck, Getulio Vargas. Onde estão se escondendo os seus sucessores?

Na ausência de partidos, de lideranças, de idéias norteadoras de ações, estamos nos encaminhando, celeremente, para o caos.

É moralmente legitimo que um eleitorado, humilhado e enganado por um governo e um partido político, exija a imediata substituição dos que os enganaram e roubaram. Isto não é “golpe” como querem alguns – é o resultado da reflexão por parte do povo e do que resta de suas autenticas lideranças locais, dispersos no anonimato das pessoas envergonhadas e sofridas, que pretendem usar os instrumentos legítimos e legais, oferecidos pela Constituição, que prevê punição e substituição de maus governantes.
O Brasil real está parando com cada vez mais desempregados, inflação em alta, produção em baixa, investimentos insuficientes, a confiança se esvaindo pelos desvãos da nefanda prática política. Levaremos anos para recuperar a destruição praticada.

 Estamos a um passo de uma explosão de revolta radical e justo protesto de uma população que, mais dia menos dia, vai reagir. Os atuais governantes e políticos que atuam na área federal, deveriam começar a correr – todos. O povo quer uma substituição radical – saiam, pois todos são, de alguma maneira, culpados pelo estado de anarquia a que chegamos.
 É preciso pensar em opções para a crise, como é o caso prioritário de necessárias novas eleições gerais, comandadas pelo Supremo Tribunal Federal. Acossados pelo clamor popular, reunindo o que resta da dignidade que talvez ainda possuam, ou pelo medo físico de uma população furiosa, este Congresso que aí está trataria de votar, antes de se auto-extinguir, com a máxima urgência, uma decente reforma política prévia, sem financiamento privado das campanhas, com clausulas que indiquem as condições honestas para a criação de novos partidos com expressão nacional, já que os atuais deverão ser extintos.

Já se fez muitas análises, já se falou e se escreveu demais, temos as informações necessárias, possuímos mulheres e homens capacitados, patriotas, honestos, prontos para contribuírem para o soerguimento nacional – basta que lhes seja oferecida uma oportunidade. Sabemos da roubalheira, sabemos das intenções de instauração de formas de poder incompatíveis com as tradições democráticas do Brasil, sabemos dos conchavos, das meias verdades, mas poderemos conhecer, também, quem são as pessoas confiáveis, dignas e competentes, em quem se pode votar neste momento de recuperação da dignidade nacional – caras novas.

Chega de incompetência e de corrupção. Basta de canalhas dirigindo os destinos do Brasil. Não queremos e não podemos mais admitir este estado de anarquia nacional.
 

 Escritor, ex professor da PUC RIO, ex Presidente do IBGE.

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  • Lya Luft
  • 09 Agosto 2015

(Publicado originalmente na revista Veja)


Sempre procurei, tantas vezes em vão, encontrar o significado de tudo. Por exemplo, por que há pessoas boas e más, por que as pessoas boas fazem coisas más e vice-versa, por que entre pessoas que se querem bem pode haver frieza ou até maldade, por que… lista infindável, ainda mais para quem tem um pouco de imaginação. A cada momento reinventamos o mundo, reinventamos a nós mesmos, reinventamos nossos afetos para que seja tudo menos doloroso.

Escrevendo sobre a situação do Brasil um pequeno livro que deve aparecer em breve, observo ainda mais intensamente o que acontece, tanta coisa inacreditável, mas real. Assim reflito quase constantemente sobre todas as loucuras, baixezas, perigos, sustos, desalentos atuais, aqui e ali uma luzinha minúscula que logo bruxuleia. Vai se apagar para sempre? Nada é para sempre. As coisas más, as fases ruins, também hão de passar. Mas, no momento, não sou otimista. Falsidade, mentiras, arzinho superior e palavras fantasiosas sobre questões fundamentais, apontar o dedo para o adversário, tudo é pior do que a dura verdade. Assustam-me discursos com que neste momento dramático alguns negam ou diminuem a gravidade da situação, revelando-se o desvio de inacreditáveis fortunas que deveriam atender o povo mais carente, a maior vítima desse desastre, um povo despossuído, sem as coisas essenciais que lhe têm sido negadas - não por uma fatalidade, mas por ganância de quem já tinha uma boa fortuna, mas queria mais, e mais.

Hoje, os acusados reagem com ironias, amea¬ças, invenções: mas fizeram de nós um dos piores países do mundo em quase tudo, sobretudo educação e segurança. Ninguém assume sua responsabilidade, antes critica adversários ou países mais adiantados, como se fôssemos todos uns pobres crédulos. Começamos a perceber o que se passa no nevoento território da política que fragilizou a economia, e é cenário de tão grave incompetência e irresponsabilidade. Na grande negociata nunca vista, quase todos tinham seu preço: não foi barato. Pouco sobrou para o brasileiro que ignorava esses fatos que atingiram seu bolso, sua esperança e suas possibilidades de uma vida decente.

A política influenciou e dominou nossa existência nos últimos anos, com gestão incompetente, péssimo planejamento, desorganização nas contas públicas, maquiagem do desastre que foi escondido de um povo mal informado porque mal escolarizado (não é por acaso que negligenciamos tanto a educação). A pátria-mãe desvia o rosto; nós, os filhos, largados na floresta como num conto de fadas sinistro. Os próprios investigadores das gigantescas fraudes, impressionados, admitem estar diante de tramas de dimensão e sofisticação nunca vistas.

A paisagem brasileira está de pernas para o ar: nada faz muito sentido, tamanho o escândalo. Para começar, os salários com que tentamos manter uma vida honrada são patéticos diante das cifras roubadas, apresentadas pelos competentes e corajosos investigadores. Irresponsabilidade e incompetência comandaram as façanhas que esfacelaram o país, agora rebatizadas de “malfeitos”. Espantoso: os desvios não eram efetuados por bandidos oficiais, mas por grandes empresários que admitem, talvez forçados pelo medo, que, se não tivessem entrado no esquema de corrupção e pagado as irreais propinas, suas companhias teriam ficado “de fora” da roda dos mafiosos, prejudicando seus acionistas e trabalhadores. Quase todos afirmam com veemência que de nada sabiam: viviam em outro planeta. Não saber de nada passou a ser um triste refrão.

Os investigados, denunciados e presos continuam protestando contra tamanha maldade: todos vítimas do lobo mau da Justiça. Seus defensores encenam uma ópera-bufa de delirantes explicações: roubalheira mascarada de comportamento legal, nos parâmetros da decência. Se essas ficções patéticas fizessem sentido, nunca teria havido tantos inocentes no mundo: as elites e os estrangeiros seriam os culpados. Essa farsa acabou: não há desculpa perante uma nação ferida.
 

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  • Victor Faccioni
  • 09 Agosto 2015


O sistema político em vigor no Brasil não pode continuar, e urge modificá-lo. Vejamos, em síntese, o mínimo e adequado para reanimar nosso sistema político, desafogar o Executivo e fortalecer nossa incipiente democracia.

1. Voto distrital misto, modelo Milton Campos: quando era deputado, apresentei Projeto de Emenda Constitucional (PEC nº 89/91) que foi arquivado. Creio, seria mais adequado que o modelo alemão, ou mesmo o distritão. No modelo Milton Campos, o Estado dividiria as eleições parlamentares por distritos, em número equivalente a metade das vagas; em cada distrito, seria eleito o candidato mais votado, sendo que os menos votados se classificariam com os votos obtidos no distrito para as vagas proporcionais, como hoje.

Com a campanha restrita a cada distrito eleitoral, o candidato ficaria mais próximo do eleitor, e mais transparentes suas ações de campanha, o custo e a prestação de contas, e o exercício do mandato. Sua atividade parlamentar, depois de eleito, também ficaria mais transparente perante os eleitores do distrito que o elegeu.

2. Presidencialismo com poder moderador: no presidencialismo puro, que virou “imperial”, a medida provisória debilitou o Legislativo, que urge se revitalizar para o bem da própria democracia. Para isso, teríamos o presidencialismo com poder moderador, adotado por Portugal e França, onde o presidente da República, eleito pelo voto direto do povo, não acumula a chefia de Estado com a chefia de governo, que o engessa, mas tem uma tríplice e decisiva missão: compor o governo, seu ministério desde o primeiro-ministro para a chefia de governo, passível de demissão pelo parlamento ou pelo próprio presidente: exercer o comando supremo das Forças Armadas e da segurança da nação: e, em nome da nação, comandar e promover a política externa. Diferente do parlamentarismo de Raul Pilla na eleição direta do presidente e na amplitude de suas funções.

Essas propostas contemplam o desafogamento do Executivo, o fortalecimento dos partidos e o sistema político-democrático nacional, melhorando o sistema eleitoral, resolvendo o esvaziamento do Legislativo e o exagerado custo da campanha eleitoral dos moldes atuais.

*Ex-deputado federal constituinte

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  • Reinaldo Azevedo
  • 08 Agosto 2015

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral

O PT levou ao ar ontem à noite o seu aloprado e desastrado programa no horário político. Nunca se viu nada igual. Quem estava em casa, nas empresas e nos escritórios parou para bater panela, apitar, gritar, fazer barulho. Quem estava nas ruas meteu a mão na buzina ou botou a boca no trombone nas calçadas.

Bastou a José de Abreu, no papel mais canastrão de sua carreira, nos ameaçar a todos com o abismo caso Dilma Rousseff tenha de deixar a Presidência, e o Brasil lhe deu a resposta, com dois picos especiais de euforia de contestação: quando Lula e a presidente apareceram. Houve assovios até em estações de metrô e terminais de ônibus. Uma eletricidade especial tomou conta dos quatro cantos do país.

Chega! Os brasileiros já não aguentam mais essa turma!

“Ah, mas eles não foram, afinal, eleitos?” Foram, sim! Mas não para mentir, não para trapacear, não para assaltar os cofres públicos, não para fazer pouco da nossa cara, não para impedir a realização dos nossos sonhos, não para atrapalhar os nossos anseios, não para comprometer o futuro dos nossos filhos.

Mas, ainda assim, nós poderíamos deixa-los lá, expressando o nosso desagrado, sem pedir que desocupassem a cadeira, não houvesse razões legais para isso. E elas existem! Esse governo, que bem cedo perdeu a legitimidade, descobriu-se também, atropelou a legalidade. E tem de sair por isso. Em cumprimento à Constituição e às leis. E é isso que o país dirá uma vez mais, aí nas ruas, no dia 16 de agosto.

Se dúvida houvesse sobre o estado das artes, não há mais. A pesquisa Datafolha se encarregou de revelar, referendando outras que a antecederam: a esmagadora maioria dos brasileiros quer a interrupção desse governo. Não reconhece nele as qualidades necessárias para tirar o país da crise. Dizem que a gestão Dilma é ruim ou péssima 71% dos entrevistados; nada menos de 66% pedem o impeachment.

Não obstante, o PT tem a cara de pau de levar ao ar um programa que ameaça três vezes o brasileiro com o pior se este decidir, ora vejam, exercitar uma prerrogativa constitucional, que é cobrar a saída de Dilma. Pior: classifica líderes de oposição de egoístas e oportunistas, continua a reivindicar o exclusivismo moral e ignora o mar de lama em que está mergulhado.

Lula, no papel de Lula — alheio à brutal corrosão de sua biografia e de sua imagem —, estava lá para assegurar que o PT é muito melhor do que os antecessores, que nunca antes na historia “destepaiz” etc. e tal. O tempo passou. Lula não se deu conta. A mística passou. Lula não se deu conta. A mistificação passou. Lula não se deu conta. Lula não se deu conta, enfim, de que é hora de pendurar as chuteiras — na melhor das hipóteses para ele. A pior ficará por conta da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça.

Alheia à realidade que a cerca, Dilma surgiu no vídeo para, santo Deus!, fazer promessas eleitorais que nem novas chegam a ser. Era aquela mesma senhora da campanha, a acenar com os mesmos amanhãs sorridentes. E, hoje, em agosto de 2015, a esmagadora maioria dos brasileiros já sabe que a candidata de outubro estava mentindo.

Mas não bastaram as ameaças. O PT decidiu também fazer pouco caso daqueles que protestam, ironizando os panelaços, como se, hoje, fosse o partido a falar em nome de uma maioria. O programa desta quinta certamente entrará para a história das decisões mais estúpidas jamais tomadas pela legenda.

E volto, para começar a encerrar, às ameaças de caos, abismo, crise institucional e golpe, que foram levadas ao ar. Cumpre fazer uma pergunta direta aos petistas: seus militantes e milicianos, por acaso, estão se armando? Quem encarna esse risco? Certamente não são aqueles que vão às ruas protestar, exibindo as cores verde e amarela e portando a bandeira do Brasil, onde se lê com clareza: “Ordem e Progresso”.

Eu entendi errado, ou os petistas estão dizendo que, caso o Congresso — um Poder da República — ou o TSE, expressão de outro Poder, casse o mandato da presidente, os militantes da sigla e seus acólitos não aceitarão a decisão? E, nesse caso, farão exatamente o quê? A esmagadora maioria da população não tem armas. Os petistas estariam ameaçando as instituições? Com quais forças? Com quais, então, armas? Com quais líderes?

Nós, sim, os homens comuns, é que não podemos tolerar as ameaças feitas pelo PT no seu horário político.

Não! Se Dilma cair, não acontecerá nada de trágico para o país. Vai se respeitar a Constituição. Os que defendem a sua saída não têm armas — e quero crer que também não as tenham os que querem a sua permanência. A lei será cumprida. E os que quiserem que não se cumpra hão de se submeter aos rigores do estado democrático, que detém o monopólio do uso da força, se necessário, no cumprimento da Constituição também democrática. É simples.

O resto é papo furado! O PT já não seduz, não convence nem assusta mais ninguém.

Faremos nas ruas a luta armada, sim! Iremos armados com a força do argumento. E só! E que ninguém ouse deter os pacíficos!

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  • Maria Lucia Victor Barbosa
  • 08 Agosto 2015

 

A corrupção no Brasil tem uma longa trajetória, que aliada à impunidade nos infelicitou ao longo dos séculos. Sem me alongar sobre o tema recordo que o Estado brasileiro teve desde seu início ação centralizadora e tuteladora da Nação. Tudo dependia do governo e, assim, o comércio e a indústria estavam atados às autorizações, às tarifas protecionistas, às concessões, o que facilitava o suborno. Em essência nada mudou.

Em 2002, o PT chega à presidência da República jactando-se de ser único partido ético que vinha para acabar com as mazelas da política brasileira. E melhor: à frente do partido havia um “pobre operário” capaz de salvar a pátria, um padroeiro dos pobres e oprimidos.

Contudo, pode-se dizer que nunca antes nesse país houve um partido tão corrupto quanto o PT. Os petistas institucionalizaram a corrupção e convidaram aliados políticos e a inciativa privada para abrir franquias de roubalheira.

A força e a impunidade do PT se deveram basicamente a três fatores: a ilusão gerada pela propaganda, através da qual Lula da Silva foi endeusado. A inexistência de oposições, tanto partidárias quanto institucionais. A falta de cultura cívica do povo sempre dependente do Estado paternalista e indiferente aos escândalos de corrupção dos poderosos.
Além da corrupção o governo petista expandiu os males do Estado Brasileiro: o patrimonialismo, o nepotismo, a burocratização e, sobretudo a incompetência. Tudo sob a imagem da perfeição, das maravilhas que o magnânimo pai Lula prodigalizava aos desvalidos salvando-os da miséria.

Nos porões do poder, porém, muito mais lucravam os que Lula, para efeitos externos, chama de elites, várias das quais se associaram em contubérnios com a companheirada de modo nunca visto. E, assim, roubou-se em milhões, em bilhões, em avantajadas cifras no país do dá-se-um-jeito.

Primeiro, articulou-se o mensalão ou compra de congressistas como forma de sustentar o projeto de poder do PT. Inabalável, mesmo sob o efeito das condenações do STF onde se notabilizou o ministro Joaquim Barbosa que logrou enviar para a cadeia maiorais do PT como José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, João Paulo Cunha, além dos auxiliares dos criminosos, Lula logrou eleger uma mulher que não consegue sequer proferir um pensamento coerente.
Com ela deu-se o terceiro mandato de Lula da Silva. Foi o tempo do descalabro com todos os possíveis erros que se pode cometer em economia. Mesmo assim, Rousseff, com pouca margem de votação se reelegeu montada nas mentiras e no terrorismo politico do marqueteiro João Santana, que atribuiu ao adversário o apocalipse brasileiro que se vê agora é da autoria da criatura de Lula e dele próprio.

O presidente de fato seguiu inimputável, sempre a repetir que não viu nada, não sabia de nada, não ouvia nada, enquanto a inflação, o desemprego, a inadimplência vão infelicitando eleitores e não eleitores do PT.
O megaescândalo do petrolão estilhaçou a Petrobrás, orgulho nacional, tomada de assalto pelo aqui citado contubérnio. Mas, assim como o ex-ministro Joaquim Barbosa surgiu alguém que fez a diferença, o juiz Sérgio Moro, destacando-se também o trabalho da Polícia Federal e de procuradores na 0peração Lava Jato. Nesta ação inédita no Brasil estão indo para cadeia não só doleiros e auxiliares da rapina chamados de operadores, mas também presidentes das maiores empreiteiras, seus diretores e ocupantes de altos cargos na Petrobras.

Possivelmente, o povo tomaria conhecimento desses fatos com indiferença se não fosse o esboroar da economia, pois é certo que não há governo que resista quando a economia vai mal. Junte-se a isso a inconformidade popular que não aceita pagar pela incompetência governamental e temos o resultado da última pesquisa Datafolha, na qual Rousseff aparece como a pior presidente que o Brasil já teve, com 71% de reprovação e só 8% de aprovação.
É dito, falseando a questão, que um impeachment da inoperante presidente levaria ao caos institucional. Quando Collor, com grande participação do PT, sofreu o impeachment por muito menos do que hoje ocorre, as instituições ficaram intactas.

Falso também a presidente dizer-se intocável porque foi eleita pelo voto. Uma coisa é autoridade legal, outra é autoridade legítima. No momento ela não é mais legitimada pela população e o que se chama de crise política pode ser traduzida por crise de representatividade. Ela não representa mais o povo cansado de seu estelionato eleitoral e de sua incompetência.

O PT legou ao Brasil uma crise política de representatividade, uma crise econômica e uma crise de valores. A saída de Rousseff da presidência, dentro dos trâmites legais não é golpe. Golpe é sua permanência. Afinal, a emblemática segunda prisão de Jose Dirceu demonstrou que o PT nunca agiu em nome da causa, mas em causa própria. Não dá para suportar mais um governo assim. A causa caiu.

* Socióloga

www.maluvibar.blogspot.com.br
 

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  • Evaristo E. De Miranda
  • 07 Agosto 2015

(Publicado originalmente em O Estado de São Paulo de 25/07/2015)

A encíclica Laudato Si, do papa Francisco, emprega 74 vezes a palavra “natureza”, 55 vezes “meio ambiente” e uma só vez a expressão “Jesus Cristo”, aquela que designa a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Já o mestre, não divinizado, chamado apenas de Jesus, aparece 22 vezes, o mesmo número de citações de “tecnologia” e menos de metade da “ciência”, evocada 55 vezes. Contudo, a Academia Pontifícia de Ciências, com mais de uma dezena de Prêmios Nobel, parece não ter contribuído muito e não é evocada. A palavra democracia não existe no texto.

A encíclica é densa. A questão ecológica é abordada não apenas em sua dimensão “natural”, mas no contexto humano, social, político, religioso e cultural. Fato raro, o papa fala na primeira pessoa do singular e deixa de lado o “nós”, característico de pronunciamentos pontifícios. Ele se dirige a crentes e não crentes e evoca a responsabilidade de todos em gerir a Terra: nossa casa comum. E defende um crescimento econômico com temperança e sobriedade, fundado em mudanças de comportamentos.

A encíclica não usa uma única vez as palavras capitalismo e socialismo. Já alguns “ismos” são de uso amplo: consumismo, individualismo, relativismo, antropocentrismo, ceticismo. Sobre um documento que coloca muitos questionamentos, cabem algumas questões.

Ciente da complexidade do tema, o papa reitera: “Há discussões sobre problemas relativos ao meio ambiente, onde é difícil chegar a um consenso. Repito uma vez mais que a Igreja não pretende definir as questões científicas nem substituir-se à política, mas convido a um debate honesto e transparente, para que as necessidades particulares ou as ideologias não lesem o bem comum” (188). Pode-se indagar: os homens e as sociedades podem ser geridos por consenso? Quais ideologias lesam o bem comum? Quem pode identificá-las? Qual a diferença entre necessidades (termo da encíclica) e interesses (termo na mídia) particulares na temática ambiental?

O balanço ecológico do progresso planetário, logo no primeiro capítulo, é negativo, pessimista e pouco equilibrado. Ele fala de poluição generalizada provocando milhares de mortes prematuras. Contudo, mais generalizado ainda foi o aumento da esperança de vida e da educação em todo o planeta, acompanhando o crescimento industrial e a tecnificação da agricultura. Nunca se viveu tanto, nunca se comeu tanto nem se estudou e se votou tanto em todo o planeta.
Problemas de poluição não existiam em sociedades pré-históricas. Se eles são concomitantes ao desenvolvimento, também foram e são resolvidos pelos avanços da ciência e da tecnologia. O desenvolvimento econômico é essencial para generalizar essas soluções e não transferir problemas. A exportação de indústrias poluidoras para países periféricos, estratégia de limpeza ambiental praticada há décadas por nações desenvolvidas, não foi lembrada na encíclica.

“Em muitos lugares do planeta, os idosos recordam com saudade as paisagens de outrora, que agora veem submersas de lixo” (21). Essa afirmação parece um pouco reducionista quando consideradas as condições insalubres nas quais se vivia até o começo do século 20 na Europa e nas quais ainda vive grande parte da população mundial. Não há razão para não investir numa gestão mais eficiente dos resíduos e na redução de sua produção, mas as paisagens de outrora, mesmo na Europa, sem drenagem ou barragens, eram marcadas por enchentes, epidemias, doenças crônicas, períodos de fome, com pessoas subnutridas em hábitats insalubres, sem aquecimento ou energia elétrica.

Sociedades economicamente desenvolvidas têm meios para cuidar de sua biodiversidade, reduzir a poluição, proteger e manter limpos mares e rios. Elas universalizaram o saneamento básico com tecnologias avançadas de gestão de efluentes. Em países ricos, o ciclo de vida das mercadorias é planejado; o lixo é classificado e reciclado; ecossistemas são preservados e desfrutados por uma população com amplas garantias sociais e acesso a intensa vida cultural.
Ao associar o uso de insumos modernos na agricultura apenas a seus possíveis efeitos tóxicos, a encíclica não faz justiça à segurança alimentar conquistada por recordes de produção. Nem aos ganhos de qualidade nutritiva e sanitária e à queda no preço dos alimentos que esses mesmos insumos, frutos de ciência e tecnologia, permitiram obter, beneficiando, sobretudo, os mais pobres. Unilaterais, os oráculos consultados pelo papa não tiveram aqui e alhures o justo equilíbrio. “Para os países pobres, as prioridades devem ser a erradicação da miséria e o desenvolvimento social dos seus habitantes” (172), diz o papa. Como atingir esses objetivos sem crescimento econômico e novas técnicas e tecnologias? Por consenso?

O papa Paulo VI já evocara o tema ambiental, em 1971, na Pacem in terris. S. João Paulo II foi o primeiro a convidar para uma conversão ecológica, apesar de a mídia tratar a ideia como novidade da Laudato Si. Ele o fez em 2002, com o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, numa declaração comum pela salvaguarda da Criação, em Veneza.

Bento XVI tratou de ecologia ao longo de todo o pontificado. Graças a ele, o menor Estado do planeta tornou-se neutro em emissão de carbono e adotou metas ambientais ambiciosas. Não há indústria poluidora em seus 44 hectares (só faltava!). O papamóvel foi transformado em veículo flex. Painéis solares fornecem energia para a sala de audiências ao lado da Basílica de S. Pedro. Bento XVI também plantou uma floresta de 7 mil hectares na Hungria, destinada a compensar as emissões de gases de efeito estufa do Vaticano. Se o papa Francisco pode dirigir injunções ambientais aos outros países, é porque também, de certa forma, o Vaticano fez sua lição de casa.

*Evaristo E. De Miranda é pesquisador da Embrapa, doutor em Ecologia, é diretor do Instituto Ciência e Fé.
 

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