(Publicado em Direto ao Ponto)
Lula anunciou no começo do mês a descoberta da fórmula que garantiria à detentora do recorde mundial de rejeição a reconquista do título de campeã brasileira de popularidade: bastaria abandonar por uns tempos o local do emprego e sair por aí tapeando plateias que amam vendedores de fumaça. “Ela conviveu muito tempo comigo e sabe que, nas horas difíceis, nas horas mais difíceis, não tem outra alternativa a não ser encostar a cabeça no ombro do povo”, pontificou o doutor honoris causa em bravata & bazófia. “É preciso conversar com ele, explicar quais são as dificuldades e quais são as perspectivas”.
Para sorte da afilhada, nem o padrinho onisciente sabe onde fica essa parte da nação: se Dilma conseguisse encostar a cabeça no ombro do mundaréu de indignados, vaias e panelaços nunca antes ouvidos neste país produziriam estragos de bom tamanho no aparelho auditivo presidencial. Prudentemente, o neurônio solitário só se aproximou de plateias que aplaudem até acessos de tosse. Nem por isso escapou de afundar mais alguns metros na pesquisa divulgada pela Confederação Nacional dos Transportes. A mulher que não diz coisa com coisa talvez adiasse o afogamento se não tivesse dito tanta coisa de assustar doido de pedra.
Entre outros prodígios, o neurônio solitário saudou a conquista da mandioca, ordenou à homenageada que comungasse com o milho, descobriu a mulher sapiens, inventou o etanol que dá em planta, pintou de verde e amarelo o combustível brasileiríssimo, virou mais uma vez a página do Petrolão que a Operação Lava Jato ainda está escrevendo e enxergou na roubalheira da Petrobras a versão 2015 da Inconfidência Mineira, fora o resto. A bula do remédio receitado por Lula decerto omitiu a lista de efeitos colaterais. Um deles deixa com cara de suplente de vereador presidentes da República reeleitos seis meses antes.
O formidável fiasco não desativou a fábrica de ideias de jerico, revelou aFolha nesta quarta-feira. Acuado pela enxurrada de más notícias procedentes de Curitiba, Lula resolveu transformar Fernando Henrique Cardoso na corda que vai resgatá-lo do buraco negro em que se meteu. Sempre sinuoso, valeu-se de emissários para saber se FHC toparia um encontro clandestino. Gente que mente só se sente à vontade em conversas a dois: a ausência de testemunhas permite a divulgação de versões sem qualquer compromisso com a verdade.
É o que faria o camelô de empreiteira se o alvo do truque não tivesse desmontado a armadilha com um email publicado pela Folha: “O presidente Lula tem meus telefones e não precisa de intermediários. Se quiser discutir objetivamente temas como a reforma política, sabe que estou disposto a contribuir democraticamente. Basta haver uma agenda clara e de conhecimento público”. Os acólitos juram que o chefe da seita estendeu a mão ao inimigo por amor à pátria. Quer ajuda para manter Dilma no emprego. Papo de 171. Lula só pensa em Lula. O que pretende é salvar-se a si próprio — e prorrogar a sobrevida do sonho de voltar ao gabinete presidencial.
O que FHC precisa ouvir é a voz do país que presta. Não se tira para uma valsa quem só sabe dançar quadrilha. E o sentimento da honra não foi revogado pela era da canalhice. Desde 2003, quando acusou o antecessor de ter-lhe repassado uma “herança maldita”, o grande farsante não parou de atribuir ao homem que o derrotou duas vezes (ambas no primeiro turno) todos os males do Brasil. Primo da inveja, o ressentimento nunca passa. Há dois meses, o governante que jamais leu um livro atribuiu ao sociólogo brilhante até a paternidade do escândalo nascido e criado na cabeça baldia do chefão do bando gerenciado por José Dirceu.
“Quem criou o Mensalão foi o governo do FHC, quando estabeleceu a reeleição no país”, fantasiou em 12 de maio o São Jorge de bordel. A invencionice cafajeste foi reprisada uma semana depois: “Se o FHC quisesse falar de corrupção, ele precisaria contar para este país a história de sua reeleição”, reincidiu o palanque ambulante em 20 de maio. “Eu espero que, com a mesma postura com que ele foi agredir o PT ontem à noite na TV, ele diga - se não quiser dizer para mim não tem problema, eu sei como foi. Senta na frente do seu neto e conta pra ele”. Caso sobrasse tempo, o avô também deveria confessar que quebrou três vezes o Brasil.
Por que Lula e Dilma querem agora ouvir o que pensa o Grande Satã? Por que o maior dos governantes desde Tomé de Souza anda mendigando encontros com o ex-presidente que o obrigou a reconstruir a nação em frangalhos? Porque sempre que se vê em apuros o espertalhão de ópera-bufa faz qualquer negócio para safar-se da enrascada. Até vender a mãe em suaves prestações e entregá-la em domicílio. Ou fingir que não liga o nome à pessoa quando alguém pergunta se já foi apresentado a Rosemary Noronha.
Por Ruth Cardoso e por milhões de vítimas da grande farsa, por tudo isso e muito mais, Fernando Henrique Cardoso tem o dever de ensinar a Lula que gente honrada não desperdiça palavras com quem só sabe falar a linguagem da infâmia.
Para muitos uma provocação, desrespeito, uma afronta. Para outros, - como para o Diretor da Sala de Imprensa do Vaticano - nada de "ideologia", mas um "sinal de diálogo muito aberto". No retorno da viagem apostólica pela América Latina, o Papa Francisco esclareceu o polêmico episódio do crucifixo talhado sobre o símbolo comunista da foice e do martelo que recebeu do Presidente da Bolívia [1].
[JORNALISTA]. Santidade, o que sentiu ao ver o Cristo sobre a foice e o martelo que o presidente Morales lhe ofereceu? Onde está este objeto agora?
[FRANCISCO]. É curioso, eu não conhecia isso e não sabia que o padre Espinal era escultor e ainda poeta. Eu soube estes dias. Quando vi, para mim foi uma surpresa. Segundo: pode-se qualificar como um gênero de arte de protesto. Por exemplo, em Buenos Aires, há alguns anos, fez-se uma exposição de um bom escultor, criativo, argentino - agora está morto -: era arte de protesto, e eu me lembro de uma obra que era um Cristo Crucificado sobre um bombardeiro que ia descendo. Era uma crítica do cristianismo que se aliou com o imperialismo, o bombardeiro. Então, primeiro, EU NÃO SABIA DE NADA; segundo, eu o qualificaria como arte de protesto que, em alguns casos, pode ser ofensivo, em alguns casos. Terceiro, neste caso concreto: o padre Espinal foi morto na década de 80. Era uma época em que a Teologia da Libertação tinha várias vertentes diferentes, uma delas era a análise marxista da realidade, e o padre Espinal pertencia a esta. Eu sabia, porque naquele tempo eu era reitor da Faculdade de Teologia e se falava muito disso, das diversas vertentes e dos seus representantes. No mesmo ano, o superior geral da Companhia de Jesus redigiu uma carta sobre a análise marxista da realidade na teologia, um pouco de "parar isso", dizendo: não, não, as coisas são diferentes, não é certo, não é justo. Quatro anos depois, em 84, a Congregação para a Doutrina da Fé publica o primeiro documento, pequeno, a primeira declaração sobre a Teologia da Libertação, e a critica. Depois o segundo, que abre a perspectiva mais cristã. Estou simplificando. Façamos a hermenêutica daquela época. Espinal é um entusiasta dessa análise marxista da realidade, mas também da teologia, usando o marxismo. Daí vem aquela obra. A poesia de Espinal também é daquele gênero de protesto: era a sua vida, era o seu pensamento, era um homem especial, com tanta genialidade humana, e que lutava com boa fé. FAZENDO UMA HERMENÊUTICA desse tipo EU COMPREENDO AQUELA OBRA. PARA MIM, NÃO ERA UMA OFENSA. Mas eu tive que fazer essa hermenêutica, e a digo a vocês para que não haja opiniões erradas. ESTE OBJETO AGORA EU CARREGO COMIGO, VEM COMIGO. O PRESIDENTE MORALES quis me dar duas honrarias: uma é a mais importante da Bolívia, e a outra é a Ordem do Padre Espinal, uma nova ordem. Agora, eu não aceito mais honrarias, não posso... MAS ELE FEZ ISSO COM BOA VONTADE E COM O DESEJO DE ME AGRADAR. EU PENSO QUE VEM DO POVO DA BOLÍVIA - eu orei sobre isso, e pensei: se levo para o Vaticano, vão para o museu e ninguém verá. Então eu pensei em deixar para Nossa Senhora de Copacabana, a Mãe da Bolívia, e vai para o Santuário de Copacabana, a Nossa Senhora, estas duas honrarias que eu entreguei. MAS O CRISTO EU TRAGO COMIGO. Obrigado [2].
Esta é a posição do Papa sobre o assunto. Não é o propósito aqui considerar a resposta de Francisco ponto a ponto. Não. Interessa apenas um breve trecho: o que trata da "boa vontade" e do "desejo de agradar" de Evo Morales.
Em 2009, o Presidente da Bolívia participou do 9o Fórum Social Mundial (FSM). Um evento que é apresentado como um "contraponto" ao Fórum Econômico Mundial de Davos, apesar de ser concretamente um instrumento para a promoção do projeto de poder comunista latino-americano e um braço do Foro de São Paulo [3]. Evo Morales juntou-se ao tiranete venezuelano Hugo Chávez, ao então Presidente do Paraguai e "apóstolo" da Teologia da Libertação, Fernando Lugo, e a Rafael Correa, Presidente do Equador. Em Belém, no estado do Pará, o cocaleiro que preside a Bolívia fantasiado de índio disse o seguinte:
"Na Bolívia apareceram novos INIMIGOS; já não é somente a imprensa e a direita, senão, quero dizer para os irmãos e irmãs, grupos da IGREJA CATÓLICA. Os hierarcas da Igreja Católica, inimigos das transformações pacíficas. Eu estava refletindo um pouco, quero dizer-lhes. Como se grita permanentemente "outro mundo é possível", eu quero dizer, OUTRA FÉ, OUTRA RELIGIÃO, OUTRA IGREJA também é possível, irmãs e irmãs".
O público foi ao delírio com as acusações de Evo Morales. Um público formado por militantes políticos disfarçados de "movimentos sociais" - a mesma militância que o boliviano recebeu em seu país recentemente para participar com o Papa Francisco do "II Encontro Mundial de Movimentos Populares" [4]. João Pedro Stédile - o líder do "exército" do MST [5] - estava ao lado daqueles quatro Chefes de Estado comprometidos com o projeto comunista latino-americano.
No mesmo ano de 2009, Evo Morales foi mais direto sobre como combater o seu "inimigo":
"A IGREJA CATÓLICA é um símbolo do colonialismo europeu e, portanto, deve DESAPARECER da Bolívia" [6].
O cocaleiro boliviano estava disposto a determinar o controle estatal sobre a Igreja Católica para reduzir o âmbito de suas ações, uma vez que a considerava uma instituição "tradicionalista" [7].
No entanto, em 2013, veio a "conversão" - segundo o próprio Evo Morales, após ouvir Francisco dizer que "um cristão, se não é revolucionário hoje em dia, não é um cristão":
"Depois de escutar algumas mensagens do Papa, volto a confiar novamente na Igreja Católica" [8].
Disse que "Jesus Cristo foi o primeiro socialista do mundo" [9] e que a Jornada Mundial da Juventude no Brasil seria para "relançar a Teologia da Libertação", uma iniciativa com a qual, afirmou, "compartilho bastante" [10].
Não. Não é o caso de discutir a relação entre Francisco e a Teologia da Libertação. Independentemente disso, Evo Morales está empenhado em fazer do Papa um dos seus "apóstolos". A mudança de postura do cocaleiro com relação à Igreja Católica não é um sinal de "conversão". Trata-se de uma conveniência, uma oportunidade política. O mesmo aconteceu com o crucifixo talhado sobre a foice e o martelo. Ora, será que o Presidente da Bolívia não pensou sequer na repercussão - inevitável - de oferecer a Francisco uma peça e uma honraria com um símbolo comunista? O objetivo de Evo Morales é um só: instrumentalizar a fé para ampliar e fortalecer o projeto de transformar a América Latina na imensa "Patria Grande" comunista. Não se questiona a generosidade e a benevolência do Papa, mas "boa vontade" o índio de araque não teve, e as suas ofertas definitivamente não foram apenas uma expressão do "desejo de agradar".
REFERÊNCIAS.
[1]. "Francisco: a cruz, a foice e o martelo" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/07/francisco-cruz-foice-e-o-martelo.html].
[2]. Cf. [http://w2.vatican.va/content/francesco/it/speeches/2015/july/documents/papa-francesco_20150712_paraguay-conferenza-stampa.html]. Trad. Bruno Braga.
[3]. Cf. "A 'prestação de contas' do ex-Secretário do Foro de São Paulo" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/05/a-prestacao-de-contas-do-ex-secretario.html]; KINCAID, Cliff. "Grupo católico revela influência vermelha no Vaticano". Trad. Bruno Braga [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/06/grupo-catolico-revela-influencia.html].
[4]. Cf. [1].
[5]. "Lula ameaça com 'exército' do MST" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/02/lula-ameaca-com-exercito-do-mst.html].
[6]. "La Iglesia Católica es un símbolo del colonialismo europeo y por la tanto debe desaparecer de Bolivia", CNN, 24 de Junho de 2006, apud "Panorama Católico Internacional" [http://panoramacatolico.info/articulo/la-iglesia-catolica-debe-desaparecer-de-bolivia-dice-evo-morales].
[7]. Idem.
[8]. Erbol, 02 de Setembro de 2009 [http://www.erbol.com.bo/noticia/politica/02092013/evo_otra_vez_vuelvo_confiar_en_la_iglesia_catolica].
[9]. Terra, 29 de Julho de 2013 [http://noticias.terra.com.ar/mundo/renuncia-y-sucesor-de-benedicto-xvi/evo-morales-apoyara-a-catolicos-si-relanzan-teologia-de-la-liberacion,adc800b16cb20410VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html]
A internet trouxe vários efeitos benignos, que todos conhecemos. Mas também trouxe alguns vírus: a malignidade da rede aberta. Mesmo assim, qualquer ideia de regular, censurar ou monitorar a rede é uma aberração contra a qual temos que lutar até as vias de fato.
O escritor Umberto Eco chama de "máquina de lama" a miríade de sites destinados a propagar informações falsas - na qual muitos incautos caem -, inverdades e fraudes que versam o outro lado da verdade. Porém, lembro a vocês que não existem dois lados para a verdade: o outro lado da verdade é a mentira. O que tem faces diversas são as opiniões, a visão dos fatos. Mas fato é fato. Não tem meio-fato. O que não é fato, mas divulgado como tal, é factoide, ou seja, mentira. Cuidado com elas.
Eco diz que os sites que espargem verdades inventadas, são a versão atualizada e repaginada, com novo layout editorial, dos veículos sensacionalistas de um passado nem tão distante. Diante desse ambiente, a função da imprensa profissional é apurar fatos, checá-los e, a partir deles, fazer suas análises. Permitindo inclusive, a publicação da opinião do divulgador do fato jornalístico, mesmo diante de uma visão que pode ser controversa. Mas a verdade ignora o lado de quem a divulga. Faz pouco caso da elegância ou da estética. A verdade não participa de concursos de beleza, tampouco de concurso de simpatias. Não tem cores, não tem bandeiras, ideologias ou partidos. Não torce por ninguém, pois que se basta em si mesma, simplesmente por ser a verdade. Isso faz da verdade algo ímpar, sem cópias,subtítulos ou linhas de apoio. A verdade é pontual, e ponto!
A verdade é a ferramenta do verdadeiro jornalismo, e serve de espada e escudo ao leitor interessado. "Os jovens leem os jornais para saber se o que veem na internet é verdadeiro ou falso", disse o escritor há algumas semanas ao jornal espanhol El País, em entrevista.
A análise aparentemente em nível de superfície, feita por Umberto Eco, na verdade tem raízes extremamente profundas e consolidadas, e vale muito para o Brasil do momento. O Brasil atual, o qual nenhum de nós queria ver e ter que conviver. Seguramente gostaríamos que fosse apenas um sonho ruim, daqueles pesadelos que temos depois de um porre de vinho de má qualidade. Muita dor de cabeça e indisposição, mas que passa até a hora do almoço, depois que acordamos. Pena que seja mais que um porre. É uma brutal infecção, gestada há décadas, que agora eclode em septicemia social e moral, com efeitos colaterais de total ausência de ética, decência e moral. Nos tornamos a nação dos desmoralizados.
Nunca antes na história desse país a Justiça, todas as polícias e o Ministérios Público, trabalharam com tanta liberdade...até que a pata suja do Estado começasse a se mostrar, tal como agora, com determinação de que investiguem o Promotor Federal que indiciou Lula; da proibição do Juiz Federal Sergio Moro de emitir decisão sobre indiciamento de Eduardo Cunha, por ordem do ordenança do reino, Ricardo Lewandowski.
Até aqui, antes do retrocesso com sintomas fétidos, empresários e políticos poderosos foram investigados e muita sujeira saiu debaixo do tapete, borbulharam os bueiros entupidos com os dejetos da corrupção. Outros tantos, por decisão abalizada da Justiça, foram encarcerados. Isto foi um sinal de saúde democrática, em meio a história repleta de imoralidade e privação de liberdade e autonomia dos poderes. Um sinal de democracia madura, mas que começa a dar seus sinais de falência, caso a inércia dos cidadãos permita a reconstrução da pizzaria.
Jornalismo não é militância, e nem pode ser. Cabe à imprensa profissional manter a sobriedade. Mais: a serenidade e a independência absoluta. Fazer jornalismo para o leitor é a regra fundamental. Nunca, penas à soldo.
O exemplo mais profundo do jornalismo verdade que se tem buscado - e encontrado em alguns veículos, e em muitos trabalhos independentes, porém muito profissionais - foi a afirmação de Emílio Odebrecht, que disse em entrevista à uma revista, diante da iminência da prisão de seu filho Marcelo: "Ao prenderem o Marcelo, terão que arrumar mais três celas. Uma para mim, uma para o Lula e outra para Dilma".
"A existência da imprensa é uma garantia de democracia, de liberdade", disse Umberto Eco naquela entrevista aos espanhóis. Que as sábias palavras de Umberto façam Eco em nossos ouvidos e que não deixemos passar o bonde superlotado da história, da qual somos partícipes, autores e atores.
Estamos cansados de ser os mal pagos coadjuvantes de um história suja, onde os que nos roubam o circo sempre ficam com a parte do leão.
*Jornalista
Os seres humanos têm apenas duas maneiras de lidar uns com os outros: por meio da razão e por meio da força.
Se você quer que eu faça algo por você, há duas opções: ou você me convence por meio de um argumento racional ou você recorre à ameaça de violência.
Toda e qualquer interação humana necessariamente recai em uma dessas duas categorias. Sem exceção. Razão ou força. E só.
Em uma sociedade genuinamente moral e civilizada, as pessoas interagem exclusivamente por meio da persuasão. A força não é um método válido de interação social.
Sendo assim, e por mais paradoxal que isso possa parecer para alguns, a única ferramenta que pode remover a força dessa lista de opções é uma arma de fogo pessoal.
E o motivo é simples: quando estou portando uma arma de fogo, você não pode lidar comigo por meio da força. Você terá de utilizar apenas a sua razão e a sua inteligência para tentar me persuadir. Portando uma arma de fogo, eu tenho uma maneira de neutralizar a sua ameaça ou o seu uso da força.
A arma de fogo é o único objeto de uso pessoal capaz de fazer com que uma mulher de 50 kg esteja em pé de igualdade com um agressor de 100 kg; com que um aposentado de 75 anos esteja em pé de igualdade com um marginal de 19 anos; e com que um cidadão sozinho esteja em pé de igualdade com 5 homens carregando porretes.
A arma de fogo é o único objeto físico que pode anular a disparidade de força, de tamanho e de quantidade entre um potencial agressor e sua potencial vítima.
Há muitas pessoas que consideram a arma de fogo como sendo o lado ruim da equação, a fonte de todas as coisas repreensíveis que acontecem em uma sociedade. Tais pessoas acreditam que seríamos mais civilizados caso todas as armas fossem proibidas: segundo elas, uma arma de fogo facilita o "trabalho" de um agressor.
Mas esse raciocínio só é válido, obviamente, se as potenciais vítimas desse agressor estiverem desarmadas, seja por opção ou por decreto estatal. Tal raciocínio, porém, perde sua validade quando as potenciais vítimas também estão armadas.
Essas pessoas que defendem a proibição das armas estão, na prática, clamando para que os mais fortes, os mais agressivos e os mais fisicamente capacitados se tornem os seres dominantes em uma sociedade — e isso é exatamente o oposto de como funciona uma sociedade civilizada. Um bandido, mesmo um bandido armado, só terá uma vida bem-sucedida caso viva em uma sociedade na qual o estado, ao desarmar os cidadãos pacíficos, concedeu a ele o monopólio da força.
E há também o argumento de que uma arma faz com que aquelas brigas mais corriqueiras, as quais em outras circunstâncias resultariam apenas em pessoas superficialmente machucadas, se tornem letais. Mas esse argumento é multiplamente falacioso.
Em primeiro lugar, se não houver armas envolvidas, todos os confrontos serão sempre vencidos pelo lado fisicamente superior, o qual irá infligir lesões e ferimentos avassaladores ao mais fraco. Sempre.
No que mais, pessoas que acreditam que punhos cerrados, porretes, pedras, garrafas e cacos de vidro não constituem força letal provavelmente são do tipo que acreditam naquelas cenas fantasiosas que vêem nos filmes, em que pessoas tomam variados socos, pauladas e garrafadas na cabeça e ainda continuam brigando impavidamente, no máximo com um pouco de sangue nos lábios.
O fato de que uma arma de fogo facilita o uso de força letal é algo que funciona unicamente em prol da vítima mais fraca, e não em prol do agressor mais forte. O agressor mais forte não precisa de uma arma de fogo para aniquilar sua vítima mais fraca. Já a vítima mais fraca precisa de uma arma de fogo para sobrepujar seu agressor mais forte. Se ambos estiverem armados, então estão em pé de igualdade.
A arma de fogo é o único objeto que é tão letal nas mãos de um octogenário em uma cadeira de rodas quanto nas mãos de um halterofilista. Se ela não fosse nem letal e nem de fácil manipulação, então ela simplesmente não funcionaria como instrumento equalizador de forças, que é a sua principal função.
Quando estou portando uma arma, eu não o faço porque estou procurando confusão, mas sim porque quero ser deixado em paz. A arma em minha cintura significa que não posso ser coagido e nem violentado; posso apenas ser persuadido por meio de argumentos racionais. Eu não porto uma arma porque tenho medo, mas sim porque ela me permite não ter medo. A arma não limita em nada as ações daqueles que querem interagir comigo por meio de argumentos; ela limita apenas as ações daqueles que querem interagir comigo por meio da força.
A arma remove a força da equação. E é por isso que portar uma arma é um ato civilizado.
Uma grande civilização é aquela em que todos os cidadãos estão igualmente armados e só podem ser persuadidos, jamais coagidos.
* Pertenceu ao corpo de fuzileiros navais dos EUA. Está hoje aposentado.
Existem dois instintos subjacentes a toda a ação humana: o instinto da criação e da realização; e o instinto do medo e da insegurança. Quando o instinto de realização e criação é dominante no indivíduo, a liberdade se torna para ele o valor mais precioso. Quando, pelo contrário, a segurança é o instinto dominante, a inércia ou a estabilidade surgem como o valor mais apreciado.
No campo político — isto é, em toda essa área social na qual as pessoas procuram determinar regras e procedimentos comuns, aos quais todos os elementos de uma sociedade devem estar sujeitos —, aqueles dois valores são materializados em duas ideologias ou princípios de valores: o liberalismo e o intervencionismo.
O liberalismo se assenta essencialmente no primeiro daqueles valores: a liberdade. Já o intervencionismo se assenta inteiramente no segundo, a inércia.
Por sua própria definição, o liberalismo tem um caráter muito menos político do que o intervencionismo: o liberalismo simplesmente recorre ao essencial princípio da ação humana — inerente a cada indivíduo — para efetuar realizações e criações.
O liberalismo representa a ação positiva. E ele requer apenas única ação negativa: os indivíduos não podem agredir e coagir terceiros inocentes. Não se pode agredir a integridade física e a propriedade (inclusive a renda) de outros indivíduos. É apenas este aspeto, de um modo geral, que é para o liberal o objeto de ação política.
Já o intervencionismo se assenta em um conjunto de valores essencialmente negativos. Sob o intervencionismo, estabilidade e segurança financeiras são preferidas em detrimento da realização pessoal. Consequentemente, a inércia e o medo adquirem total proeminência ao passo que a liberdade pessoal vai se apequenando continuamente.
No intervencionismo, o campo de ação política estende-se indefinidamente, já que deve ser garantida a priori (em teoria), a todos os indivíduos, a tal segurança financeira. Como o ser humano, em liberdade, é a maior fonte possível de criação na natureza, e esta criação implica uma alteração contínua de padrões sociais e econômicos (aquele que sabe criar mais valor ficará financeiramente mais rico, e o que não souber ficará estagnado), o intervencionismo tem de recorrer a vários tipos de repressão para coibir essa "desestabilizadora" liberdade criativa do homem. Os tipos mais comuns de repressão são regulações burocráticas, legislações restritivas e impostos progressivos.
Da regulação e da legislação surge a coibição da realização e da criação; e dos impostos surgem a espoliação e a redução do incentivo material àquela criação. Destes três modos de coerção surge uma sociedade cujo centro principal de ação é a ação política — a ação que consiste em A decidir o que B pode ou deve fazer.
O intervencionismo é por isso o ecossistema natural da política, a sua justificação maior. Em uma sociedade em que as ideias socialistas prevalecem (clique aqui para entender a definição moderna de 'socialismo'), a instituição central do corpo político, o estado, cresce e prospera, pois sua ação é legitimada pelos valores essenciais da ideologia predominante. A ação política torna-se assim um dos principais campos da ação humana. Compensa mais trabalhar para o estado do que trabalhar para o consumidor. O estado é utilizado para restringir a concorrência nos negócios privados (concorrência entre empresas, profissões e setores) e para obter rendimentos que seriam ilícitos em uma sociedade verdadeiramente livre.
A legislação, a regulação e o nível de impostos não têm limites — basta que sejam justificados com o chavão de "garantir o bem comum". Todos os setores são "regulados" pelo estado, desde as universidades privadas (cujos cursos estão sujeitos à aprovação do Ministério da Educação e cujos currículos são integralmente definidos por este) aos serviços de táxi, passando pela proibição do comércio funcionar aos domingos e culminando na concessão de poder a uma ordem profissional para regular os padrões de qualidade dos seus profissionais quando o objetivo último é travar a concorrência dos jovens licenciados. De um extremo ao outro, a livre concorrência é proibida por agências reguladoras em todos os grandes setores da economia, e sempre em prol dos grandes empresários já estabelecidos neste setor.
Enfim, uma lista interminável que, com o argumento de regular, qualificar e legislar, tem como objetivo último a estabilidade e a segurança de organizações e grupos de pessoas em detrimento de outras.
O problema insolúvel do intervencionismo é que, para garantir a estabilidade de uns, promove a instabilidade e a destruição de outros. Em qualquer um daqueles exemplos é possível ver que, de um modo arbitrário, uns ganham e outros perdem. Em regra, o fator determinante para se ganhar é fazer parte do estado ou então estar próximo dele, por meio de amigos no alto escalão ou tendo influência ($) junto ao mesmo.
Mas, a partir de um certo ponto, todos os cidadãos são presas da própria figura do estado, mesmo os que vivem essencialmente dele e para ele. Quando o estado se instala em todo o seu esplendor intrusivo e tentacular, torna-se uma máquina com vida própria: os governos passam, os políticos passam, os altos funcionários e os sindicatos passam, mas as regulamentações e as legislações ficam, e a instituição estatal torna-se sempre um pouco maior a cada novo ciclo de ocupantes.
Cada mortal que passa pela estrutura burocrática do estado gosta de acrescentar uma legislação, uma regulação, uma secretária, repartição ou agência, um cargo, um imposto ou uma taxa.
Pessoas que fariam um grande bem a todos caso se dedicassem a criar e a produzir em seu benefício e do próximo, dedicam-se antes ao ofício político. Funcionários públicos que poderiam ter uma carreira mais válida do ponto de vista de realização pessoal e mais legítima do ponto de vista do bem social trocam a incerteza "do setor privado" pela segurança e comodismo do estado. Atividades que prosperariam mais se deixadas à livre concorrência já não são imagináveis fora do estado pelo comum dos cidadãos.
O estado é detestado porque intrusivo e autoritário, mas ao mesmo tempo é santificado, pois faz o que "os privados" não fariam — o cidadão comum já não consegue conceber que a educação, a saúde e a segurança social não sejam providos essencialmente pelo estado.
Ele acredita que, se não fosse o estado a ajudar os pobres, os desempregados e os aposentados, estes estariam todos na sarjeta (isto é, metade da população). Ele não consegue conceber que uma sociedade livre tem os seus próprios mecanismos naturais de solidariedade e que estes são pouco visíveis agora precisamente porque o estado monopolizou a assistência social absorvendo os recursos da sociedade civil que seriam destinados a esses fins. "Por que farei caridade se já pago impostos para que o estado faça a caridade por mim?"
O cidadão comum sente-se intimidado quando os intelectuais de esquerda o lembram dos trabalhadores darevolução industrial e das crianças que trabalhavam 10 horas por dia — mas não se lembra que esses trabalhadores foram para a cidade porque ganhavam aí muito mais do que no campo. E se na cidade e nas fábricas escuras e sujas as condições ainda estavam longe do ideal (estava-se no começo), esses heróis do proletariado morriam de inanição nos campos idílicos fantasiados pela esquerda onde as crianças trabalhavam igualmente, mas morriam muito mais. É como a China "comunista neoliberal": os trabalhadores chineses ganham uma miséria quando comparados aos ocidentais, mas ganham 10 vezes mais do que no campo, e ainda mandam dinheiro para lá.
Apesar de todas as "ajudas" do estado serem sempre pagas pelo cidadão comum, ele de alguma forma acha que está se beneficiando dele; e se não estiver agora poderá vir a beneficiar depois. A quantidade de impostos que ele paga não é muito sentida, pois os impostos indiretos já são retidos pelas lojas, o imposto de renda e o INSS são retidos na fonte, e toda a cornucópia de outros impostos sobre o consumo já ficam na fatura — mais da metade do que ele paga na gasolina são impostos, mas nem se nota.
Os políticos são considerados moralmente corruptos, o atual modelo democrático-partidário está moralmente falido e financeiramente também (mas pode-se aumentar sempre os impostos), e o próprio estado já não é considerado pessoa de bem pela maior parte das pessoas.
Mas enquanto essa ideologia intervencionista — que nada mais é do que um desdobramento da ideologia socialista —, predominar na mente dos cidadãos, não se pode esperar outra coisa senão o progressivo crescimento desse estado, até ao ponto de putrefação e ruptura total.
* Economista e pesquisador-chefe do Instituto Ludwig von Mises de Portugal.
ATÉ AGORA, O JUIZ FEDERAL SÉRGIO MORO ESTÁ VENCENDO A PARADA…
Apesar da imensa decepção com o PT, um partido que tinha apoio maciço de intelectuais, servidores e estudantes, e com o consequente desalento com a política em geral, é preciso proclamar que hoje o Brasil tem motivos para vislumbrar um futuro melhor. Em meio à podridão que contamina os três poderes, podemos dizer que ainda temos juízes, como está ficando demonstrado no prosseguimento da operação Lava Jato.
As tentativas de tumultuar o inquérito e anular as provas já eram esperadas, fazem parte da estratégia dos grandes escritórios de advocacia. Em determinado momento, quando o ministro-relator Teori Zavascki mandou libertar um dos ex-diretores da Petrobras, Renato Duque , houve quem pensasse que o sonho estava acabado. Mas o juiz federal Sergio Moro teve paciência, esperou o momento certo e voltou a mandar prender Duque, que até hoje está na prisão.
Pelo que se sabe, as investigações e os processos vão muito bem e o ministro-relator Zavascki está impressionando com a alta qualidade do trabalho da força-tarefa da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República. Eles são jovens , a grande maioria tem menos de 40 anos, isso é maravilhoso, porque demonstra que ainda podemos confiar neles e acreditar que realmente vão reformar este país.
TUMULTUAR É PRECISO
Continuam a haver tentativas de tumultuar a Lava Jato e suas consequências. Na semana passada, advogados do ex-presidente Lula entraram com uma reclamação visando a punir o procurador da República Valmar Furtado, que pediu a abertura de investigações contra ele. Esta semana, os advogados de Eduardo Cunha entraram nessa onda, apresentando um pedido para anular investigações da força-tarefa sobre o presidente da Câmara, a pretexto de que estariam usurpando competência do Supremo. Mas estas iniciativas não vão adiantar nada. A fila vai continuar andando.
Do alto de sua conhecida prepotência, o empreiteiro Marcelo Odebrecht armou uma ampla estratégia visando a tumultuar e obstaculizar as investigações sobre o grupo dele. Para tanto, contava com apoio da própria Ordem dos Advogados do Brasil. Também não vai adiantar nada.
O avô dele, Norberto Odebrechet, criador do maior projeto social e ambiental do país, no Sul da Bahia, morreu no ano passado. Se ainda estivesse vivo, com toda certeza recomendaria que o neto fizesse delação premiada.
Mas acontece que seus descendentes estão acostumados a ganhar tudo no tapetão, no conchavo e na mutreta. Ainda acham que podem vencer no Supremo, dando um jeitinho nas coisas. Pode até acontecer, mas apostar nesta hipótese é um risco enorme.