Na mesma proporção em que cresce nas ruas o apoio ao impeachment de Dilma, começam a proliferar nos jornais, argumentos de gente de oposição afirmando que o impeachment não se aplica ao caso da Dilma, ou que, por diversas razões jurídicas (não há provas) ou políticas (é difícil obter 2/3 de votos no Congresso) o processo não é viável. Já os defensores da intervenção militar afirmam que são contra o impeachment por não adiantar substituir Dilma, e que só a volta dos militares possibilitaria a faxina nas instituições, destituindo e prendendo todos os políticos corruptos.
Nosso intuito aqui é combater esses argumentos e afirmar, que sim, o impeachment se aplica ao caso de Dilma, que é possível aplicá-lo e que ele é a solução adequada ao caso. Antes de mais nada é preciso reafirmar que um processo de impeachment é um processo político e não jurídico, embora seu ritual seja acompanhado de alguns requisitos análogos aos processos judiciais.
Para que um processo de impeachment seja instaurado e levado a cabo, é preciso, em primeiro lugar, que existam condições políticas. E o primeiro pré-requisito é o clamor popular. Dia 15 de março comprovará, com multidões nas ruas, que o clamor popular existe e é crescente. Essa será a primeira de uma longa jornada de manifestações que aquecerão o caldeirão da opinião pública até o Congresso até se dobrar à vontade das ruas.
Em segundo lugar, é preciso que as elites políticas da nação concluam que Dilma não tem mais condições de governar e entrem em acordo em torno da decisão de remover a petista do poder pela via democrática, como ocorreu com Collor. Conversas e acordos entre líderes das Forças Armadas, líderes dos principais partidos, líderes empresariais, líderes religiosos e de organizações socialmente relevantes devem preceder à decisão coletiva de instaurar o processo de impeachment.
Feito isso, é preciso ir aos fundamentos jurídicos do processo em busca dos argumentos que serão esgrimidos para legitimar a cassação de Dilma obedecendo o que a lei prevê para casos como esse. Os que dizem que o impeachment não se aplica difundem a falsa afirmação de que não haveria provas contra Dilma, dando a entender que ela teria que ser flagrada roubando para ter o mandato cassado.
O jurista Ives Gandra Martins já demonstrou quais são os fundamentos jurídicos e legais que legitimam a remoção de Dilma do cargo. A prevaricação, decorrente da omissão de Dilma em tomar as decisões necessárias no tempo certo para remover a diretoria da Petrobrás já seria suficiente motivo para o impeachment, isso, mesmo considerando o argumento de Janot para retirar Dilma das investigações judiciais.
Observe-se que a citação de Dilma e Lula pelos delatores premiados permite à CPI da Petrobrás trazer ambos para dentro das investigações parlamentares, já que o Procurador Geral da República se negou a indiciar Dilma, alegando a lei que impede investigar um presidente no cargo por atos anteriores ao mandato em curso. No entanto, não obstante essa lei, se Dilma se elegeu em 2010 financiada com dinheiro roubado da Petrobrás, seu primeiro mandato foi ilegítimo, ao mesmo tempo em que serviu se suporte para a conquista do mandato atual.
Tendo sido a primeira eleição de Dilma financiada com dinheiro roubado, nada impede que a CPI da Petrobrás investigue o financiamento da eleição de Dilma em 2014. Considerando-se que o assalto à Petrobrás transcorreu sem constrangimentos enquanto tramitava o processo do Mensalão, há sobradas razões para se acreditar que esquemas similares sigam em curso em outras estatais, bancos e órgãos públicos. No mínimo, o povo brasileiro tem direito à investigação sobre os financiamentos do BNDES, as contratações do setor elétrico, as concessões de rodovias, portos e aeroportos, as compras do Ministério da Saúde (lembremos da compra de Viagra). Enfim, queremos faxina completa.
Como se pode ver, ante a estranha resistência de Janot para investigar Dilma, não obstante as citações dela na delação premiada, a CPI da Petrobrás é o lugar adequado para levar adiante a busca de elementos que encorpem a fundamentação jurídica e política do impeachment. Para entender como funciona o impeachment, leia aqui: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/os-seis-passos-de-um-processo-de-impeachment?utm_source=redesabril_veja&utm_medium=facebook&utm_campaign=VEJA.
Isso é possível? Os políticos estariam dispostos a fazer? Cremos que não se trata apenas de disposição, mas de uma necessidade vital para o PMDB. Renan Calheiros, Eduardo Cunha e o clã Sarney foram feridos de morte por sua cumplicidade com o PT. Impõem-se a eles usar suas posições no Congresso como arma para pressionar politicamente o governo e o Procurador Geral da República e para condicionar o curso das investigações, já que atribuem sua inclusão na lista de indiciados à mão nem tão invisível do PT. É sabido, também, que Janot quer ser reconduzido ao cargo e que isso passa por uma decisão de Dilma e pela aprovação do Senado.
Destruir o PMDB e desalojá-lo da posição de poder que desfruta no jogo político brasileiro é requisito estratégico do projeto hegemonista do PT, cuja meta é a perpetuação dos petistas no poder. Aliás, isso vale, também, para os demais partidos da base alugada. Portanto, esses partidos estão vivendo momentos decisivos de uma luta de vida ou morte contra o PT. E a CPI da Petrobrás é o palco central do teatro dessa guerra. Levar Dilma e Lula para os holofotes da CPI é, portanto, requisito fundamental para matar politicamente quem quer matá-los para a vida política.
Dilma está isolada até mesmo dentro do PT. A presidente é criticada em público por Lula e combatida pelo grupo majoritário do PT. Seus índices de desaprovação nas pesquisas mostram que ela está sem apoio inclusive de parcelas das bases sociais do petismo. Dilma está emocionalmente abalada e não consegue esconder isso de seu semblante, mesmo debaixo de toneladas de maquiagem. Dilma perdeu, como diria Marx, a capacidade de decidir com base na “análise concreta da realidade concreta”. Decide sozinha ou ouvindo Mercadante, e erra insistentemente, agravando sua já difícil situação.
Fruto do ajuste fiscal que precisa pôr em prática, Dilma é e seguirá sendo a causadora de uma crise econômica que se arrastará pelos próximos meses pareada com a crise política protagonizada pelas investigações do juiz Sérgio Moro e a CPI da Petrobrás, essa última condicionada pelas circunstâncias antes descritas.
Mas não é só Dilma que está tonta. O PSDB, um partido de tucanos criados em cativeiro, está assustado e não sabe lidar com o povo nas ruas. Seus próceres passaram a semana ziguezagueando aos olhos da opinião pública, sem saber se vão às ruas ou ficam em casa lendo a revista Caras em busca das suas fotos nas colunas sociais. FHC, o tucano mor, permitiu-se jogar um balde de água fria sobre o povo que vai às ruas dia 15, ao condenar o impeachment às vésperas da megamanifestação. O povo, portanto, já sabe que não pode contar com o PSDB. Para forçar os tucanos a descerem do poleiro e saírem da gaiola para apoiar o impeachment, só há uma solução: povo na rua! A perspectiva de aprovação do impeachment, portanto, passa pelas manifestações massivas de rua, e pelas decisões da cúpula do PMDB na condução da CPI da Petrobrás.
Outro obstáculo a ser removido para viabilização do impeachment é o argumento dos defensores da intervenção militar. As militaristas dizem que de nada adianta remover Dilma do cargo, pois ela será substituída por outro político dos partidos envolvidos em corrupção, e que só a intervenção militar permitiria fazer-se uma faxina completa nas instituições políticas nacionais. Alegam ser a intervenção militar constitucional, e que os militares ficariam pouco tempo no poder, convocando novas eleições logo em seguida à limpeza do sistema político dos corruptos que o dominam.
Com a onda de insatisfação crescente na sociedade e nas mídias sociais, muita gente jovem e desinformada aderiu à mobilização real e virtual comprando sem um olhar crítico esses argumentos tão simplistas quanto enganadores.
A primeira coisa que todos precisam fazer é ler o artigo 142 da Constituição. Lá está escrito que a intervenção militar só é constitucional se ela for convocada por um Chefe de Poder. Ou seja, se Dilma, Renan Calheiros, Eduardo Cunha ou Levandovski não convocarem os militares a intervir, a intervenção não será constitucional. Portanto, ou os militaristas são ingênuos para imaginar que Dilma, Calheiros, Cunha e Levandovski convocariam os militares para destituí-los do poder e levar a si mesmos para a cadeia, ou estão mal intencionados. Isto é, estão manipulando setores da opinião pública para darem sustentação a um golpe militar inconstitucional.
Em segundo lugar, há investigações em curso conduzidas pela Justiça, pelo Ministério Público, pela Política Federal e para CPI da Petrobrás. Dezenas de políticos já foram indiciados, apenas pelos delatores ligados ao PP. Novas listas decorrentes dos delatores do esquema do PT e do PMDB deverão ser enviadas do Procurador Geral da República, elevando o número de investigados para a casa das centenas. Michel Temer, Calheiros e Cunha, que as pessoas legitimamente querem ver fora do poder, também podem ser cassados em função de seu envolvimento nas investigações políticas e/ou policiais.
O rito investigatório e processual leva tempo, mas, é assim mesmo que deve ser para que se obedeça o que lei prevê numa democracia. A pressão popular persistente nas ruas é fundamental para impedir que o Procurador Geral da República e a cúpula do Judiciário se dobrem às pressões dos políticos para livrar todo mundo da devida punição. Assim, o que a intervenção militar pode causar é, isto sim, uma ruptura no rito legal das investigações em curso, possibilitando aos indiciados uma porta de saída, ou, então, o risco de que pessoas sejam punidas sem provas e investigações, coisa que somente se vê em ditaduras com a da Venezuela, por exemplo.
Por fim, convém lembrar, que os militares que tomaram o poder em 1964 anunciaram a pretensão de permanecer no governo por um ano apenas. Ficaram vinte anos no governo, suprimindo as liberdades democráticas e entregando ao povo um país endividado e mergulhado na hiperinflação. E de nada adiantou, pois, com a volta de democracia a esquerda retornou ao poder pelo voto, depois de vinte anos conquistando corações e mentes da juventude ao longo dos anos 1980 e 1990. Além, disso, as Forças Armadas passaram a ter sua imagem manchada pela pecha do autoritarismo, do golpismo e do uso da violência, num desgaste que somente agora começa a ser revertido.
A esquerda deve ser derrotada politicamente, no terreno das ideias e dos valores morais. As pessoas precisam ser convencidas com argumentos racionais de que o socialismo e o comunismo, assim como seus gêmeos siameses, o fascismo e o nazismo, não são ideologias generosas e justas como profetizam, mas sim, que produziram o assassinato de milhões, a miséria do povo e ditaduras em todas as sociedades onde seus defensores chegaram ao poder. Não adianta prender, torturar e matar os esquerdistas. Se queremos viver em sociedades livres e democráticas, precisamos, repito, derrotar suas ideologias com argumentos lógicos e compreensíveis ao cidadão comum.
Isso leva tempo e dá trabalho, mas é assim que as sociedades livres evoluem construindo a maturidade política da cidadania com educação e luta política dentro dos marcos legais da democracia. Não há atalhos.
Estamos diante de uma chance histórica e rara. A Venezuela, a Argentina e, agora o Brasil, nos oferecem a oportunidade preciosa de mostrar ao povo, com exemplos práticos, visíveis e compreensíveis, os danos políticos e econômicos que as ideias socialistas geram quando chegam ao poder e são postas em prática.
Interromper o processo democrático pela via de um golpe militar e abandonar a chance histórica de derrotar a esquerda e seus ícones, de desmascarar Lula aos olhos do povo e de convencer as pessoas que não se deve votar em gente assim, para repetir 1964 e daqui alguns anos ver Lula voltar ao poder como mártir da causa, seria um erro grave cujo preço não temos o direito de pagar. Os petistas sabem disso e estão desesperados. Defender a intervenção militar nesse momento, é tudo o que a esquerda quer para desmoralizar a mobilização democrática do povo pelo impeachment.
http://professorpaulomoura.com.br/o-caminho-para-o-impeachment/
O significado deste "15 de março de 2015", 30 anos exatos da "Nova República"
A era PT agoniza como numa tragédia grega, que não se sabe como irá acabar. É o 13º ano de um governo que custa passar, que custa entender o que poderá ter dado de tão errado em tudo o que fizeram. O coro acusa que a realidade pesa demais, e as moîras estão prontas para agir. É a hora e a vez do povo brasileiro, novamente, sair às ruas, como único protagonista da indignação geral, mesmo sem saber o que fazer para começar tudo de novo. A crise é sistêmica, uma crise das instituições, crise de liderança, de identidade, de representatividade, de auto-estima.
São 30 anos exatos da "Nova República", gestada ainda nos tempos do CEBRAP, para um projeto de poder que se revelou uma obsessão e uma volúpia, de patologia macunaímica, daquilo que os gregos tanto temiam: o furor da hybris, a desmedida das paixões. E o que houve, nesses 30 anos, foi isso: uma volúpia de poder que estrapolou em todas as dimensões.
O povo brasileiro sai às ruas agora, mais uma vez, como vórtice dessa crise, sem vislumbrar saída, de imediato. Mas sabe que precisa se manifestar, levantar a bandeira verde e amarela, faixas e cartazes "por um Brasil decente", como vem fazendo, desde as primeiras manifestações que fizemos, logo após o 2º turno das eleições presidenciais, em 26 de outubro passado. Como destacamos no "Manifesto pela Democracia", "o impacto da fraude eleitoral foi o ápice da insatisfação geral, agravado pelo escândalo dos desvios de recursos da Petrobrás e da confirmação dos propósitos bolivarianos do PT. (...) O sentimento geral do povo brasileiro é de indignação!"
Em meio a tudo isso, relendo o livro do meu amigo Gilberto de Mello Kujawski, "A Pátria Descoberta", emerge a necessidade de redescobrir o Brasil e reencontrar o "saber a que me ater, e aí vai incluído o destino da minha pátria, e nele inscrito o meu destino pessoal". Agora é a hora e a vez do povo brasileiro, no desafio de reencontrar a realidade projetiva da nação brasileira, porque "nesse projetar-me conjuntamente com a pátria reside a existência do patriotismo". Se nos encontramos neste sem saber ao que se ater, é porque a pátria está mergulhada em sombras e aviltada, e requer que recobremos a virilidade da verdadeira virtude cívica, para salvaguardar a pátria e o nosso próprio destino promissor, pois, "na essência da pátria eu me encontro com o destino", na essência da pátria, encontramos a alegria de sermos brasileiros. E completa Kujawski: "Para saber o que fazer com o País como um todo, para colocar a Nação em forma, é preciso um projeto nacional, um projeto de vida em comum, apto a mobilizar todas as regiões, todos os setores do trabalho, todas as classes, sinergicamente. Como perdemos de vista o projeto nacional, já não sabemos o que fazer conosco. Isso é a crise."
Por isso agora é a hora e a vez do povo brasileiro, protagonizar esta retomada, porque os fatos comprovaram que o PT nunca teve um projeto nacional, mas um projeto de gula de poder para uma facção inteiramente amoral e imoral, que em nome do povo, traiu a nação, com a vileza desmedida, hoje escancarada. Por isso pesa a realidade para os traidores da Pátria, com as manifestações efetivamente populares, "por um Brasil decente".
Hermes Rodrigues Nery é coordenador do Movimento Legislação e Vida. E-mail: hrneryprovida@gmail.com
(Publicado originalmente em O Globo de 14 /03/2015)
Para se sustentarem no poder, Lula e Dilma foram fartamente beneficiados pelo mensalão e pelo petrolão
Se você estava pensando em sair às ruas amanhã contra Dilma, petrolão e grande elenco, não precisa mais. Pode ficar em casa. Tudo será resolvido no Supremo Tribunal Federal pelo ministro Dias Toffoli, que presidirá o julgamento da Operação Lava-Jato.
Toffoli é o homem certo no lugar certo. Ex-advogado do PT, ex-assessor da Casa Civil de Lula, defensor implacável dos companheiros no julgamento do mensalão, ele foi o presidente do TSE que proibiu a propaganda da “Veja” na véspera da eleição — porque a revista informava que Dilma e Lula sabiam de tudo. Alguma dúvida de que Dias Toffoli defenderá você, cidadão, contra a máfia progressista e humanitária que depenou a Petrobras e o Estado brasileiro?
Pronto. Agora que você tem certeza de que a justiça será feita, e que os autores do maior escândalo de corrupção da República serão punidos, relaxe. Economize a garganta e a sola do sapato, porque passeata é muito desgastante. Alugue um desses filmes sobre Al Capone, e viaje para aqueles tempos estranhos em que uma quadrilha tomava o poder constituído e tinha até juiz próprio... Que horror!
E já que você está com o domingo livre, desobrigado de se mandar para as ruas — o que é coisa da elite branca, e você não vai querer se misturar com essa gente que nunca deveria ter saído da cozinha —, aproveite para botar a leitura em dia. Há verdadeiras joias na literatura nacional recente. Comece pelo épico “Pedro Barusco na CPI da Petrobras”. É emocionante. O ex-gerente da estatal (que está disposto a devolver uns 100 milhões de dólares) contou que era uma espécie de freelancer da corrupção até começar o governo petista. A partir daí, o roubo foi “institucionalizado”, explicou o ex-gerente, que se reportava ao já famoso Renato Duque, diretor inoculado pelo PT na Petrobras.
“É chocante”, reagiu Joaquim Barbosa — aquele representante da elite branca que não manda mais nada, para alegria do Brasil progressista e amigo dos pobres. Quem manda agora é Dias Toffoli, e ele não há de permitir que a direita golpista ataque uma instituição que está funcionando tão bem desde 2003, como explicou Barusco.
E esse Brasil que dá certo há mais de década, com mensalão, petrolão e demais benfeitorias socialistas, continuou funcionando por um detalhe singelo: a cabeça da “institucionalização” jamais foi cortada. Joaquim Barbosa, esse golpista, botou em cana vários guerreiros do povo brasileiro — mas nenhum deles estava mais com a mão na massa, ou melhor, na máquina. No que Dirceu foi flagrado, passaram-no imediatamente para a penumbra, dando lugar a Dilma Rousseff. Esta foi eleita presidente sem jamais deixar de prestar solidariedade ao mensaleiro julgado e condenado — e todos sabem que solidariedade é uma marca dos companheiros. Especialmente quando faz chover centenas de milhões de reais do esquema nas duas campanhas presidenciais da candidata solidária.
Resumindo: para se sustentarem no poder, Lula e Dilma foram fartamente beneficiados pelo mensalão e pelo petrolão, esquemas montados e operados em seus governos, com a regência de seus sócios partidários — esses aos quais Lula e Dilma permaneceram publicamente solidários mesmo com toda fama, com toda grana, com toda lama. A gente vai levando, e o Brasil, esbofeteando o óbvio, resolveu aceitar que a presidente e o ex não sabiam de nada. Aí vem o doleiro do petrolão, sob os juramentos da delação premiada, informar: “Sim, eles sabiam de tudo”.
O que está faltando? O que mais precisa acontecer para que o país exija a investigação direta desses governantes que presidiram a “institucionalização” do roubo? Não, não... Ainda é cedo. Espere o PT bater na sua porta e pedir uma comissão para manter a sua luz acesa. Aí, talvez, quem sabe, seja a hora de agir.
Enquanto você assiste chocado ao DVD do Al Capone, o ministro da Justiça, o procurador-geral e o ministro relator da Lava-Jato fazem seu jogral da inocência, anunciando aflitos que não há fundamento para investigar Dilma Rousseff. O médico mandou não contrariar, mas tem muita gente querendo desobedecer — e responder o disparate nas ruas. Deve ser essa gente esbranquiçada que não sabe o seu lugar, e agora deu para sair da cozinha batendo panelas contra o Império do Oprimido.
Um teólogo de esquerda disse que o movimento de 15 de março é coisa das elites que não ouviram a mensagem de Jesus. Pelo visto, o céu também já é deles. Nesse ritmo, seus branquelos, para vocês só vai sobrar mesmo a rua. Corram para lá — antes que seja tarde.
* Jornalista
Sempre que faço críticas ao PT, alguém me chama de elitista. E é verdade. Sou da elite que acorda às cinco da manhã e dorme depois das dez, trabalhando o dia inteiro. Pertenço à elite que vai de ônibus para o serviço, porque nunca aprendeu a dirigir. Sou da elite que come arroz e feijão todos os dias. Que conversa com os porteiros. Que lava a louça depois do jantar. Que assiste desenho da Peppa com o filho.
Sou daquela elite golpista e pernóstica chamada classe média, que faz das tripas coração para evitar o vermelho no banco. Elite que paga contas cada vez mais altas de água, luz, educação, saúde, condomínio. Elite que luta para não se afogar em impostos e taxas. Elite que se espanta com os aumentos de preços no supermercado, no sacolão, na padaria, no shopping, no restaurante. Que os companheiros me desculpem, mas continuo preocupado com a situação do País. Um elitismo incorrigível da minha parte!
Sou da elite que guardaria dinheiro na poupança – se tivesse dinheiro. Elite que anda pelo Calçadão diariamente, que já comeu muito pastel na feira, que não vive sem tomar uma cervejinha sexta-feira no bar do japonês.
Um de meus mais irritantes hábitos elitistas é percorrer os sebos da cidade atrás de livros que jamais encontro. Mas acabo achando outros livros e os levo para casa – meio escondido da mulher, porque já não há mais espaço nas estantes.
Estou entre os 88% de londrinenses elitistas que desaprovam o governo Dilma. Sou da elite que neste domingo vai sair às ruas contra a corrupção e a incompetência dos companheiros. Sou daqueles reacionários imperdoáveis que ainda acreditam em coisas antiquadas como moralidade, receitas e despesas, economia de mercado, liberdade de expressão, respeito à vida humana.
O pior, no entanto, é ser um elitista cristão. Escandaloso! Faço parte da elite que acredita em Deus, lê a Bíblia, vai à missa todos os domingos e reza o terço todos os dias. Só mesmo um burguês inimigo do povo para fazer isso. E agora vocês me dão licença, que eu vou brincar de sabre de luz com o Pedro. Gente fina é outra coisa.
http://www.jornaldelondrina.com.br/blogs/comoperdaodapalavra/
Tudo começa com a falta de Deus. Não há caridade, espírito comunitário, empreendedor e valorização do indivíduo. Em lugar de Deus vem outra fantasmagoria, o tal “homem social” e o culto à personalidade. Um Lênin, um Stálin, um Pol Pot, um Mao Tsé Tung, um Fidel Castro, um Chávez e até um pobre semianalfa como o Lula.
Todos eternizados como chama acesa em lugar de Deus, que, ao dizer de Dostoiévsky, quando não existe, tudo é permitido. Em lugar do Supremo, a revolução; em lugar Dele, o culto à personalidade. Chávez precisava existir para que Maduro pudesse assumir. Dilma existe porque Lula é seu mentor e chefe...
É um paradoxo: onde se dignifica o homem social, para apoia-lo é preciso cultuar um indivíduo como se fosse deus. Na verdade, institui-se uma caricatura idiota de demiurgo. Todos os que tentaram substituir Deus transformaram-se em déspotas sanguinários ou assassinos. No caso brasileiro, no entanto, nem se chegou a tanto, porque nosso demiurgo é carnavalesco, apenas um reles cachaceiro. Seria até bom para eles que Lula perdurasse para sempre como condutor, além da caninha 51. Mas, infelizmente, não é assim...
Os homens não sobrevivem ao cruel socialismo e o socialismo não sobrevive quando acaba o dinheiro dos outros! Pobre câncer que arrefece as ambições amargas de quem pensa que pode assumir o lugar de Deus...
Aí vem aquela estória de denegrir o pensamento individual e sua capacidade de gestá-lo. Pensar, que é um privilégio de indivíduos não de corporações, passa a ser maquinação exclusiva dos movimentos sociais. Talvez seja por isso que, em 12 anos de pensamento petista, eles não conseguiram gestar sequer um premio Nobel!
Surgem então aqueles pensamentos típicos que são jogados à horda. À manada de carneiros, ovelhas ou búfalos espavoridos são espargidos slogans como lemas, repetidos à farta como se fossem verdades. Aí os ideólogos instruem-nos a repetir o que os gestores do chefe mandaram dizer, repercutindo palavras de ordem como se fossem outdoors sem mídia. Nada devem pensar, mas somente replicar, de modo surrado e irracional.
“Ora, impeachment é golpe; é terceiro turno”. Contra Collor não era; contra Dilma, sim. “Se o PT é sujo, corrupto e propineiro, o governo FHC também o era. Sim, o PT é uma merda, mas se o compararmos com o passado, ele fica perdoado." Então, tudo bem e vamos comer pizza.
Nosso líder nos instruiu: “a causa merece o sacrifício da cumpanheirada”, desde que o pescoço dele naturalmente fique livre. “Roubar faz bem à saúde, desde que salvemos nosso pobre povo da miséria, que já sofreu tanto antes e que agora não sofre mais...”
Dirceu era capitão do time e foi sacrificado. E não se pode bradar aos quatro ventos, porque “são os ricos e a elite branca que estariam a protestar” – dizem eles. E a presidanta precisa completar o mandato sem que se moleste a sua pobre legitimidade que, aliás, já morreu! Então, “preparemos o exército do MST para que eles percebam que está tudo dominado.”
Só falta deter a mídia golpista, que lembra a todos que houve corrupção, ora, “apenas um pequeno detalhe da passagem de um polo a outro, do capitalismo neoliberal ao socialismo bolivariano”, capitaneado pelo Foro de São Paulo e que irá alçar a América Latina como o continente mais desenvolvido do concerto das nações.
Nossa presidanta, afinal, disse-nos em recente cornucópia, que só falta superar a “grave crise internacional”. Os países estão todos parados lá fora, esperando o estonteante crescimento do Brasil, sob a tutela extraordinária do MST, dos haitianos, venezuelanos e cubanos que irão dominar desta vez o nosso território.
E o PT, em suprema agonia, substituirá de vez os regimes baseados na tutela de Deus, substituindo-os por algum prócer terreno que será adorado pelas massas como aquele que nos devolveu a dignidade e a felicidade eternas.
O homem social demonstrará que poderemos viver com a tenacidade e dignidade das formigas ou o protagonismo da cachaça e das amantes pagas pelo contribuinte e por cartões corporativos. E o povo, estupefato, depois que acabou o Carnaval e o verão, começando o outono, prepara-se para um inverno de sangue, sem pão à mesa.
Mas tudo termina com a falta de Deus e os petistas estão em distinta e merecida agonia.
Enterremo-los, com as devidas orações...
* Escritor e ghost writer
Há décadas ouvimos sempre a mesma sentença, o Brasil é o país do futuro. Temos honrado fielmente esse título, outorgado por Stefan Zweig, escritor austríaco que optou por adotar nosso país como sua residência até acabar com a própria vida, desanimado com o futuro da humanidade.
Ser o país do futuro pode ter dupla interpretação.
Pode ser como o nosso, sempre correndo atrás de um pretenso desenvolvimento, sem nunca alcançá-lo efetivamente ou sempre chegando depois de quase todos os demais.
Imaginamos que a vontade e a marcha do tempo serão suficientes para nos colocar no primeiro time de nações. Porém acabamos, pela nossa própria inépcia, mantendo o futuro, entendido como o desenvolvimento pleno e desejável, sempre à frente e distante.
Temos sido governados por personagens que, com sua retórica populista e demagógica, nos tratam como se fôssemos mulas, aquelas nas quais se amarra uma cenoura à frente para estimulá-las a seguir adiante, irracional e resignadamente, perseguindo uma isca, um objetivo, que jamais alcançarão.
Ser o país do futuro pode significar também, por outro lado, ser uma nação de vanguarda, inovadora nas ciências e na tecnologia. Criativa e crítica na cultura e na educação. Libertária e resolvida nas relações sociais e políticas. Interdependente e cooperativa nas relações internacionais. Desenvolvida e empreendedora nas atividades econômicas e empresariais.
Essas características descrevem um país de futuro pródigo e desejável, fundado em princípios que privilegiam a todos por promover o indivíduo como um fim em si mesmo.
Uma sociedade do futuro pode ser uma referência, um marco de avanços sociais e econômicos consistentes que transformam conhecimentos e demandas diferentes em riqueza, distribuída justamente, de acordo com o que cada um contribui e em conformidade com a capacidade que cada um tem de bancar.
A divisão do trabalho, base para o aprimoramento empresarial e laboral, e a cooperação voluntária, essencial para a satisfação mútua, submetidas a uma ordem livre e espontânea que chamamos de mercado, levarão a sociedade à riqueza, fazendo com que o futuro nos encontre antes do que imaginamos e mais preparados para aproveitá-lo.
Não é por outra razão que vemos países chegarem ao futuro antes do que nós, senão porque seus mercados são mais livres e suas instituições protegem com mais veemência e estabilidade os que neles interagem livre e espontaneamente.
O grande problema do Brasil é que ainda não fizemos nossa revolução capitalista. O capitalismo, sistema que preza a liberdade, a cooperação, a competitividade, a propriedade privada, é a porta para um futuro melhor a qual jamais ousamos abrir.
O Brasil nunca adotou o capitalismo como sistema de organização econômica e social, por aqui jamais passou o liberalismo, seja na sua versão clássica ou, como chamam os estatistas, neo.
Não faz parte da doutrina libertária defender um Estado que existe para restringir o empreendedorismo, a contratação particular entre indivíduos, o uso da propriedade privada em suas diversas formas; nem para estabelecer proteções, cotas, subsídios, incentivos para uns, privilegiados, em detrimento de outros, oprimidos.
O verdadeiro capitalismo requer a separação absoluta entre o Estado e a economia, do mesmo jeito, que o laicismo requer a separação entre o Estado e a igreja. O liberalismo permite que o indivíduo seja autônomo e que qualquer associação seja decorrente de sua livre e legítima vontade.
Num sistema capitalista, é vedado ao Estado, como é a qualquer indivíduo isoladamente, utilizar o poder de coerção para, em detrimento de alguns, beneficiar a si ou a outros.
Vivemos sob a égide de uma economia regida pelo Estado, sempre autocrático, por demais castrador, e invariavelmente perdulário.
Sofremos com instituições que desprezam os direitos individuais e que, portanto, não garantem nem o interesse público nem o interesse privado legitimamente, sendo de forma contumaz, pervertidas para benefício escuso de pequenos grupos de interesse que se alternam cíclica e constantemente.
É como se estivéssemos amarrados a um pêndulo ideológico que oscila de um lado para o outro, ora tocando o fascismo, ora o socialismo. Por aqui, as revoluções que se sucedem tem conseguido instituir apenas o statu quo. Nossos revolucionários acabam completando giros de 360 graus e terminam seguindo no mesmo sentido e direção para onde rumavam aqueles que lhes antecederam.
Porém, não custa lembrar, a porta do futuro sempre esteve ali, a nossa frente, fechada, esperando para nos surpreender, de acordo com a chave que usarmos para abri-la. A chave que abre a porta para um futuro melhor está ao nosso alcance, basta reconhecê-la.
Nada mais do que a liberdade, o direito de propriedade e o direito à vida é necessário para abrir a porta que nos conduzirá à busca da felicidade, força-motriz que pretende e permite um futuro melhor.