• Rodrigo Constantino
  • 09 Março 2015

(Publicado originalmente no blog do autor, na Veja, dia 8 de março)

A presidente Dilma fez um longo pronunciamento em cadeia nacional de televisão e rádio nesse Dia Internacional da Mulher. Como não poderia deixar de ser, vindo de quem vem, houve um abuso da “cartada sexual” logo no começo, com Dilma se colocando num papel especial só por ser mulher. Ou seja, esqueçam os argumentos, os fatos, pois o importante é “sentir”, algo que todas as mulheres podem compreender.

Em seguida, Dilma mostrou porque jamais poderia ser uma estadista, sendo apenas uma populista de quinta categoria. Vive em campanha eleitoral, não pensa no longo prazo, quer apenas ludibriar o eleitor. É incapaz de reconhecer um único erro. Conseguiu colocar até a alta das tarifas de eletricidade na conta de uma seca, ou seja, não tem nada a ver com a desorganização no setor após várias decisões demagógicas tomadas por seu governo, que resolveu reduzir na marra as tarifas antes, de olho nas eleições.

Dilma insistiu na desculpa esfarrapada da crise internacional, a “mais severa desde a crise de 1929?. Segundo ela, ainda estamos pagando o custo dessa crise, e o momento difícil que o Brasil vive hoje é apenas conjuntural e não tem ligação alguma com seu governo. Para “comprovar” isso, ela citou a situação na União Europeia. Ou seja, o Brasil não vai mal coisa alguma, quem diz o contrário mente, exagera, e basta olhar para o baixo crescimento da Europa para ver como estamos, na verdade, muito bem, obrigado. Haja cara de pau!

Foi repetido duas vezes que desta vez, ao contrário das crises passadas, o país não parou nem vai parar. Como é? Então quer dizer que a recessão que experimentamos já em 2014, e que será repetida em dose maior este ano, não é coisa de um país parado? De fato, é coisa de um país que está andando para trás, isso sim! Mas Dilma tentou vender novamente a ilusão de um país que não existe, ou que só existe na cabeça de seu marqueteiro. Tudo pela propaganda.
Enfim, tratou-se de um discurso típico de uma líder medíocre, incapaz de um ato de sinceridade para com o povo, incapaz de reconhecer seus equívocos. Dilma se pega na cartada sexual – é uma mulher, logo, merece créditos – e também num apelo nacionalista – precisamos ter fé pois tudo será melhor amanhã. A realidade é bem diferente, e subtraí-la do brasileiro é um absurdo.

Não sofremos efeitos de uma suposta crise internacional, pois os países emergentes estão em situação muito melhor e nossos problemas foram produzidos em casa. Não são problemas conjunturais, mas estruturais. E não serão resolvidos rapidamente; levarão muito tempo até serem digeridos, se o governo realmente mudar o rumo. O discurso eleitoreiro e mentiroso da presidente mostra que a ficha ainda não caiu, que Dilma ainda prefere culpar os astros pelos problemas que sua incompetência produziu.

É covardia, ou pior, é uma insistência asinina no erro. Afinal, talvez Dilma, uma desenvolvimentista, acredite mesmo em suas baboseiras, ache mesmo que fez tudo certo e que agora deve apenas fazer pequenas correções, pois o cenário mudou. Se os investidores acharem que essa é a crença de Dilma, aí é que vão retirar investimentos do país mesmo, pois sabem que somente uma mudança radical de postura pode salvar nossa economia, e não sem um grande custo a ser pago no curto prazo.

Por fim, e no auge da vigarice, Dilma citou o “lamentável episódio com a Petrobras”, como se fosse algo totalmente sem relação com o seu partido, com a quadrilha que o PT montou dentro da estatal, sendo que a própria Dilma fora presidente do Conselho da empresa e ministra de Minas e Energia, além de ter indicado para o comando da empresa Graça Foster, incapaz, por incompetência ou conivência, de identificar a roubalheira bem debaixo de seu nariz.
É tratar o povo brasileiro como idiota. Só que o povo parece ter acordado, e enquanto Dilma mentia em seu discurso, buzinas e “panelaços” podiam ser ouvidos por várias capitais do país, como protesto. O povo está cansado de tanta canalhice, e talvez o tiro saia pela culatra. Afinal, dia 15 de março está logo ali, e o pronunciamento hipócrita da presidente pode muito bem ter jogado mais lenha na fogueira das manifestações…

http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/economia/a-incapacidade-de-dilma-de-reconhecer-seus-erros/
 

Continue lendo
  • Anônimo
  • 06 Março 2015

 

O autor é um "anônimo" bem conhecido e muito amigo, cuja identidade não pode ser revelada.

 

Ouço a notícia de que o governo está tentando mudar as regras para o cálculo do tal superávit primário. Dizem por aí que ele é definido como o dinheiro que sobra na conta do governo depois de pagar suas despesas, exceto os juros da dívida pública. Vamos simplificar: é o que sobra entre a bufunfa que entra para o governo e a que sai para pagar as despesas, sem contar os pagamentos de juros das dívidas do governo.

 Ora, querer alterar as regras para fazer este cálculo só pode representar uma de duas coisas: ou se quer inventar uma nova aritmética, uma nova maneira de fazer contas de adição e de subtração, ou é desonestidade mesmo. É bom lembrar que falo das adições e subtrações honestas, as que aprendemos – ou deveríamos - no colégio; não falo das adições e subtrações dA Petrobras e de tantas outras desconhecidas maquinações com dinheiro público.

 A obviedade da ausência da necessidade de uma nova aritmética é fácil de demonstrar. Você recebe mil reais brutos ao final do mês. O governo que você escolheu fica com, aproximadamente, cinquenta por cento deste valor, ou seja, quinhentos reais. Agora, pergunto eu, você tem alguma dúvida de que sobraram, por enquanto, somente quinhentos reais para você administrar? Você tem alguma dúvida que mil reais menos quinhentos reais são quinhentos reais? Não tem né?! Nem eu!

 Como vimos, não há necessidade de modificar a aritmética, ela funciona muito bem! Logo, a razão para alterar o modo de cálculo deve ser querer mostrar – ou esconder – algo. Neste ponto, falamos de honestidade. Você é membro de uma família onde o responsável está passando por dificuldades financeiras diversas. Para que você não fique triste, ele opta por contar para você uma história, perdão, uma estória (como um mero H pode fazer diferença... e se você não entendeu o problema do “h” é porque sua escola está ruim...). E continua contando uma estória, ao invés de uma história. Em determinado momento, a casa cai. Neste exemplo, literalmente! Você perde sua casa, sua capacidade de investimento sustentado no futuro, etc. Você descobre que o responsável pela casa não contou a verdade sobre as contas, mas alterou a regra de cálculo do superávit da família. Você descobre o que a humanidade já sabe há alguns milênios: se você gastar mais do que recebe, esta faltando dinheiro e não sobrando! Fazer de conta que gastos em investimentos não são gastos é não saber aritmética ou ser desonesto. Não há meio termo para Não há como o país funcionar sem honestidade e sem conhecimentos básicos de aritmética – infelizmente, a aritmética tinha razão.

 Anuncia-se por aí que o corte de despesas do governo será “...de chorar...”, como teria falado um assessor próximo à cúpula da presidência.

Duas observações, antes da conclusão do texto que, por absoluta clareza fática, é curto:
1 – assustador saber que se vão cortar é porque estava no orçamento. E se estava no orçamento é porque ou i) achavam que dava para cumprir ou ii) estavam mentindo para agradar. Na primeira opção, não sabem matemática; na segunda opção, são mentirosos. Ambas as opções não são adequadas a pessoas que tem um país para administrar;
2 – se o governo tivesse não orçado o impossível e não tivesse gasto o impossível, não precisaria fazer o tal corte “...de chorar...”.

Como vimos, obviamente não há necessidade de uma nova aritmética: dois mais dois são quatro, e não cinco.
Infelizmente, o chefe de família contou uma estória ao invés da história...e a casa realmente caiu!

 

Continue lendo
  • Bruno Braga
  • 05 Março 2015


"Jamais se guie pelas aparências; sempre se funde em dados concretos. Não há regra melhor do que essa" [1].


O protagonista do romance de Dickens havia se enganado quanto à identidade do "benfeitor" que patrocinava suas "grandes esperanças". Perplexo, ouviu do advogado - e também seu tutor - uma orientação que, para os termos deste breve artigo, será preservada como princípio de investigação.

Ion Mihai Pacepa - um ex-agente do serviço de inteligência da Romênia comunista - revelou que os soviéticos utilizaram o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) para chancelar a Teologia da Libertação. Um simulacro de teologia criado pela KGB para ser inoculado na Igreja Católica, capaz de distorcer maliciosamente o sentido da fé e instrumentalizá-la em favor do projeto de poder revolucionário. Pacepa - que participou diretamente da operação - conta o seguinte:
"O CMI, sediado em Genebra e representando a Igreja Ortodoxa Russa e outras pequenas denominações em mais de 120 países, JÁ ESTAVA SOB O CONTROLE DO SERVIÇO DE INTELIGÊNCIA INTERNACIONAL SOVIÉTICO. POLITICAMENTE, HOJE AINDA PERMANECE SOB O CONTROLE DO KREMLIN por meio de muitos sacerdotes ortodoxos que são proeminentes no CMI e ao mesmo tempo agentes da inteligência russa" [2].
Muito bem. O senhor Leonardo - ou melhor, Genézio - Boff é um dos mais conhecidos "apóstolos" da Teologia da Libertação. E - quem sabe, não por coincidência - é um ilustre participante dos eventos promovidos pelo CMI. Na foto abaixo, ele aparece ao lado de "frei" Betto - outro ícone da teologia revolucionária - em um tal "Fórum Mundial sobre Teologia e Libertação". Evento realizado em Porto Alegre, em 2005, e patrocinado pelo Conselho Mundial de Igrejas [3].

Para aproveitar o "fenômeno" Francisco, Genézio - um crítico contumaz dos antecessores do Pontífice argentino - transformou-se em um entusiasmado papista. Expressou todas as suas expectativas em um livro: "Francisco de Assis e Francisco de Roma: uma nova primavera na Igreja". Nele, não se envergonhou - em sua "grande esperança" de construir uma "nova igreja" - de sugerir ao Papa estabelecer "o Dicastério da UNIDADE dos cristãos em Genebra, perto do CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS" [4].

Seria apenas coincidência? Ou melhor, seria apenas "mais uma" coincidência? Porque, além da Teologia da Libertação, Pacepa ainda denunciou uma das bases utilizadas para disseminá-la pela América Latina: o "Christian Peace Conference" (CPC). Uma organização religiosa internacional sediada em Praga e que era mais uma criação dos soviéticos [5]. Brian Norris, que participou de uma das assembleias na Tchecoslováquia, confirmou o caráter "pró-comunista" do CPC [6]. Não faz muito tempo, o Christian Peace Conference mantinha um site na internet, e quem contribuía com a sua plataforma de "evangelização" era - ora, ora - o senhor Genézio Boff [7].

É momento então de retomar o conselho do personagem de Dickens: "Jamais se guie pelas aparências; sempre se funde em dados concretos. Não há regra melhor do que essa". Pois bem. Já não se sabe o bastante sobre Genézio Boff para apontar a sua verdadeira identidade? Para alertar os incautos e ingênuos - sobretudo os católicos - que, caso se deixem impressionar pela "aparência" de "teólogo" e de "intelectual", serão fatalmente levados ao engano? E que, pelos "dados concretos" - considerando o objetivo prático dos seus escritos e discursos, as suas companhias e o histórico de sua militância - Genézio Boff é um agente político a serviço de um projeto de poder? Talvez seja oportuno tomar outro trecho do "Grandes esperanças". Não é uma orientação. É apenas uma lembrança do protagonista, a de quando ele deixa a sua pequena aldeia em direção a Londres e diz: "E todas as névoas se haviam dissipado solenemente, e o mundo se abria para mim" [8].

 

SITE DO AUTOR: http://b-braga.blogspot.com.br/2015/03/para-alem-das-aparencias.html

REFERÊNCIAS.

[1]. DICKENS, Charles. "Grandes esperanças". Trad. Paulo Henrique Britto. Penguin Classics Companhia das Letras: São Paulo, 2012. p. 460.

[2]. Cf. "A KGB criou a Teologia da Libertação". Tradução do Capítulo "Liberation Theology" (15), que é parte do livro "Disinformation": former spy chief reveals secret strategis for undermining freedom, attacking religion, and promoting terrorism (WND Books: Washington, 2013) - escrito por Ion Mihai Pacepa e Ronald J. Rychlak [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/01/a-kgb-criou-teologia-da-libertacao.html].

[3]. Cf. [http://www.wcc-coe.org/wcc/what/jpc/wsf2005-events.html].

[4]. BOFF, Leonardo. "Francisco de Assis e Francisco de Roma": uma nova primavera na Igreja. Mar de Ideias: Rio de Janeiro, 2014. p. 60.

[5]. PACEPA, Ion Mihai. "A Cruzada religiosa do Kremlin". Trad. Bruno Braga [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/04/a-cruzada-religiosa-do-kremlin.html].

[6]. NORRIS, Brian. "Crítica do 'Christian Peace Conference'". Trad. Bruno Braga. Publicado no periódico "Religion in Communist Lands", Keston Institute, 1979, Vol. 7/3. pp. 178-179 [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/07/critica-do-christian-peace-conference.html].

[7]. Cf. Nota [6], Apenso I.

[8]. Cf. Nota [1], p. 234.

Continue lendo
  • Ubiratan Iorio
  • 05 Março 2015

 

Avisamos, cansamos de avisar, repetimos, frisamos, gritamos, alertamos e berramos, desde meados de 2008, que o que está acontecendo com a economia brasileira hoje era inexoravelmente certo, assim como o logaritmo de 1 em qualquer base é 0 e como beber em excesso causa embriaguez e comer exageradamente dá indigestão. Não poucos achavam que estávamos exagerando, ou que prenunciávamos a futura catástrofe porque “não gostamos do PT” ou até porque estávamos abandonando os conhecimentos técnicos pela “ideologia liberal” ou todos esses pretensos motivos juntos. Mas – e os dados e fatos estão aí para demonstrar – eu e diversos colegas economistas seguidores da tradição da Escola Austríaca estávamos absolutamente corretos em nossas avaliações!

 

A manchete do Estado de São Paulo de hoje, 2 de março, é fulminante: “Mercado projeta retração de 0,58% do PIB em 2015, a maior queda em 25 anos” (em 1990, o PIB “fechou” em -4,35%, como decorrência do legado de Sarney e das maluquices daquela senhora que Collor escolheu para comandar a economia). E complementa o jornal: “para a inflação, a projeção foi elevada para 7,47%”. A avaliação é do Relatório de Mercado Focus que, como se sabe, é divulgado pelo Banco Central com base em opiniões colhidas nos mercados financeiros.

Surpresa? Sinceramente, nenhuma! Heterodoxia em política econômica e fracasso na economia do mundo real são inseparáveis: a primeira sempre determina, mais cedo ou mais tarde, o segundo. E até que demorou muito para essa verdadeira hecatombe vir à tona. Demorou porque, sempre por motivos eleitoreiros, as equipes econômicas de Lula (especialmente desde 2008) e, principalmente - e com uma distinção suma cum laude em termos de incompetência - Guido Mantega e sua companheirada heterodoxa usaram, abusaram e exorbitaram na produção de equívocos e enganaram a boa teoria econômica, estuprando-a e avacalhando-a seguidamente, com obstinação e morbidez impressionantes.

A heterodoxia econômica, então, – que tanto mal causou ao país até o início dos anos 90 – e que pensávamos estar sepultada -, reapareceu sob a forma de um fantasma que está hoje aterrorizando os descrentes e incautos de ontem, que são os surpresos deste momento.

Essas pessoas agora estão vendo e sentindo na pele a volta célere da inflação, o crescimento econômico ao estilo “rabo de cavalo”, o dólar, as tarifas de concessionárias e outros preços que foram mantidos artificialmente estáveis (o eufemismo para esse crime contra a economia é “preços administrados”), por razões políticas, subirem como foguetes, os preços determinados pelos mercados também subirem, o desemprego aumentar, o pior desempenho da balança comercial desde 1980, dólar a R$ 2,89 hoje, o referido relatório Focus revisar para baixo por nove vezes consecutivas o PIB de 2015, o mesmo acontecendo com a trajetória esperada dos tais “preços administrados”, só que, neste caso, para cima... Greve de caminhoneiros, que não suportam mais os custos a eles impostos pelo Estado glutão, passeatas pelo impeachment da presidente programadas, respostas irresponsáveis do ex-presidente convocando o exército do Stedile, rebelião do PMDB no Congresso contra o governo, incerteza, impaciência, preocupações e interrogações quanto ao futuro. Somemos a isso os valores extraordinários extraídos dos cidadãos e empresas pela corrupção, cujo carro chefe, até aqui, é a impressionante relação de crimes cometidos por diretores daquela empresa de petróleo que seria o “orgulho dos brasileiros” e por doleiros e diretores de empreiteiras ligadas a ela.

Todo esse quadro preocupante é consequência, a meu ver, de três elementos: o decrépito e comatoso socialismo petista, o projeto do governo de perpetuar-se no poder a qualquer preço e a política econômica medíocre de Mantega, que se encaixava perfeitamente nesses dois motivos.

Após mentir sem o menor pudor na campanha presidencial do ano passado e já na primeira semana depois da divulgação do resultado das eleições, o que fez a presidente reeleita à custa do desrespeito à verdade e do programa Bolsa Família? Simplesmente - com despudor e aquele tom autoritário que lhe é característico – admitiu alguns problemas, decretou os primeiros reajustes nos “preços administrados” e sinalizou que seu futuro ministro da Fazenda seria alguém que viria para fazer um “ajuste fiscal”...

Passaram-se apenas quatro meses, a cortina caiu, o que – repito – era absolutamente previsível e o real estado de nossa economia foi desnudado. O país vive hoje, infelizmente, um período de tensões. Os incautos do passado que ajudaram a reeleger a presidente começaram, um a um, a se sentirem ludibriados; os inocentes úteis de ontem perceberam aos poucos que haviam sido iludidos e os beneficiários dos bolsa-isso-bolsa-aquilo, que sua dignidade não depende de esmolas, mas de oportunidades de trabalho, algo que o governo, simplesmente, foi tolhendo com o agigantamento do Estado alimentado pelas trapalhadas de Mantega.

Veio o novo ministro, pretenso salvador da pátria, e o que fez? Premido em parte por injunções políticas, mas também por concepções equivocadas a respeito da necessidade de reduzir fortemente o tamanho e a influência do Estado em nossas vidas, cortou pensões e mexeu em “direitos trabalhistas” que o governo antes jurava de mãos juntas que eram intocáveis, onerou empresas e pessoas físicas com mais impostos e ameaça colocar mais peso na canga do Estado, tornando o jugo impossível para os brasileiros que trabalham e produzem. Cortes de gastos públicos? Extinção de ministérios e programas inúteis? Ora, não podemos nos esquecer de que os que estão mandando no país são socialistas e acreditam nessas chuvas de “carochinhas” serôdias. A expectativa, nesse campo, é de que, se o governo cortar meia dúzia de centavos em seus gastos, já será de bom tamanho.

O ambiente está conturbado: o governo acuado de um lado pela situação lamentável a que levou a economia e de outro pelas acusações de corrupção; o Congresso sinalizando que não continuará a dizer amém aos descalabros palacianos; os empresários e empreendedores sufocados e manifestando crescente insatisfação e uma parcela substancial da população sentindo-se ludibriada.

Fala-se em impeachment da presidente, mas, sinceramente, não creio que essa possibilidade seria a solução, primeiro porque um eventual impedimento exigiria provas de que a presidente participou ativamente das atividades de corrupção, ou de que tinha pleno conhecimento delas – o que, a essa altura, acredito que seria leviano afirmar e exigiria provas. E, segundo, porque, no caso de se concretizar o impeachment, quem assumiria em seu lugar? O PMDB – o mesmo que fez os planos Cruzado, Bresser e Verão e que é um verdadeiro saco de gatos? Não, penso que a presidente deve permanecer no cargo. Tal como diz o velho ditado, quem pariu Mateus que o embale. Que pague com o preço da impopularidade, minuto a minuto, até o último dia de 2018, quando entregará o cargo a seu sucessor. Quem semeia ventos colhe tempestades e nosso povo, até lá, talvez aprenda, pelo sofrimento, a não votar em socialistas e demagogos. A tempestade está aí e nem o maior estadista de toda a história, caso assumisse a presidência do país hoje, poderia aplacá-la com sua simples presença. Os protestos, contudo, devem continuar, tal como o PT fazia intensamente, desde 1980, quando foi fundado, até o final de 2002. Agora, é tempo de ouvirem do povo: ipse venena bibas, como na oração de São Bento. Enfim, a cortina desceu e a máscara caiu.

Escrevo essas linhas com tristeza, com grande tristeza, mas não posso deixar de exprimir que não foi por falta de aviso.

 

http://www.ubirataniorio.org/index.php/artigo-do-mes/283-aviso

Continue lendo
  • Leonardo Faccioni
  • 05 Março 2015


Acusar petistas de corrupção (o tipo penal previsto pelo texto legal) pode funcionar para fins eleitorais (há controvérsias), e seguramente corresponde à realidade, mas é inexato e insuficiente. Corruptos sempre os houve e sempre haverá — ainda que nunca antes vistos em tamanhos volume e desfaçatez.

A diferença específica do petismo não é que assaltem o erário aqui, acolá e onde quer que se instalem, tratando como sua a coisa pública. O projeto de poder do PT não tem por fim o enriquecimento dos líderes partidários (embora seu enriquecimento lhes seja um bem-vindo incidente). Petistas de pura cepa não hesitariam em perder fortuna, liberdade, ou mesmo a vida pelo campo político que integram, e esse tem sido o grande trunfo das esquerdas ao longo dos últimos três séculos: diferente do ethos aristocrático, a ética burguesa que hoje lhes é contraposta — nisso Marx estava certo — traz por fundamento a autopreservação, incitando a covardia; enquanto a Revolução chama ao martírio.

Isso porque a apropriação das verbas estatais pelos partidos de esquerda é meio, e visa a um fim de natureza tipicamente transcendente, que, em sociedades retamente ordenadas, estaria a encargo da religião. É a paralaxe estrutural das esquerdas que as faz buscá-lo dentro do universo imanente, ensejando o surgimento de indivíduos e coletividades aberrantes.

Petistas não são meros ladrões. São corruptores da alma e do espírito, e essa é ferida profunda — a mais difícil de tratar em uma nação. Pervertem caracteres um a um, inoculando ódios insaciáveis, capazes de devorar o mundo sem se exaurir. Ódio contra a realidade em si. Todo o poder humano não lhes seria o bastante: através do partido — ou, mais amplamente, do campo político esquerdista — o petista ambiciona tornar-se o primeiro dos “novos homens” (para Nietzsche, super-homem), que realizará em si a promessa da Serpente: “sereis como deuses!”


Não é à toa que Saul Alinsky, um dos maiores nomes do movimento americano conhecido como “New Left” (Nova Esquerda), dedica seu livro mais influente (Rules for Radicals) “ao primeiro radical...que rebelou-se contra a ordem estabelecida, e o fez tão eficazmente que, ao menos, conquistou seu próprio reino: Lúcifer”.
______________________________

Petistas chegaram ao poder político formal após vinte anos de acusações aleatórias contra tudo e contra todos, todas fundadas em alegações de corrupção financeira. Entretanto, ao tomarem posse do governo, inauguraram o mais abrangente esquema de corrupção imaginado em nossa História.

Como se explica a incoerência?

É em semelhantes ocasiões que a sabedoria imemorial estapeia, com luvas de pelica, nossa soberba geração:
“Tomando Maria uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa encheu-se do perfume do bálsamo. Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de trair, disse: 'Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres?' Dizia isso não porque ele se interessasse pelos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, furtava o que nela lançavam.” (Evangelho segundo São João, 12.3-6).

http://www.leonardofaccioni.org/

 

Continue lendo
  • Luiz Carlos Da Cunha
  • 02 Março 2015

O bom senso reconhece a justeza do protesto dos caminhoneiros contra o preço da energia que alimenta seu ganha pão. O governo da senhora Dilma que no quatriênio anterior amarrou os preços dos combustíveis saídos da Petrobras, em defasagem com os preços de mercado internacionais, os decretou no fito político de conter a inflação pelo artifício intervencionista.

Aos caminhoneiros, vindicar agora a redução do preço do diesel ao patamar antes decretado pela mesma presidente, tem coerência, quando seu preço internacional caiu 50%. Em contrapartida os protestos urbanos contra o aumento das passagens dos coletivos se dirigem às autoridades municipais, quais sejam elas as responsáveis pelo custo do combustível alimentador do transporte. Um pleito na direção errada. Tanto no limite urbano como no circuito nacional, tratando-se do combustível, a responsabilidade cabe a Petrobras e sua interventora, a presidente da república e não ao prefeito ou empresários do sistema de transporte urbano, personalidades terciárias na escala de domínio do fato.

A equação é tão simples e compreensível que vale indagar qual a razão que orienta seus protagonistas a tão desfocado alvo? Quando os dois movimentos se confundem em objetivos: combater o custo de vida na cidade e nas estradas. Aprofundando o significado dos dois movimentos na atmosfera política e econômica que atravessamos, pode-se vislumbrar no âmago desse conflito complexo e simples, o atraso secular de nossa infraestrutura ferroviária e rodoviária, reduzido a dois modais golpeados brutalmente nestes dias.

Delata a falta e ineficiência do transporte ferroviário no distenso do país e na extensão das grandes cidades. Esta carência, que pode ser atribuída a uma cina histórica de nossa deformação cultural e política, não deve servir de pretexto para desculpar as autoridades presentes, cujas ações desastradas na condução de políticas econômicas equivocadas e populistassomente agravaram, e teimam em agravar um erro atávico. A greve de caminhoneiros no Chile em 73 finou o governo Allende.
 

Continue lendo