• Paulo Briguet
  • 06 Setembro 2014

 

1. Reles cronista que sou, não tenho capacidade para mudar a opinião de ninguém, nem mesmo dos meus sete generosos leitores. Mas gostaria de dizer sete palavras aos amigos (inteligentes e bem-intencionados) que pretendem votar em Marina Silva e acham que ela é uma alternativa ao PT. Quem pensa assim, lamento dizer, não sabe o que é o PT. Não compreende a verdadeira natureza do Partido dos Trabalhadores. O PT é muito mais que um partido; é um movimento voltado à ocupação do poder e ao controle social em todo o continente. Seu verdadeiro nome é Foro de S. Paulo, entidade que hoje controla a maioria dos governos na América do Sul. Ganhe Dilma ou Marina, o controle da máquina estatal continuará sendo exercido por essa mesma entidade.
2. Acompanho atentamente a trajetória política de Marina Silva desde os tempos de Chico Mendes. Marina é uma petista de corpo e alma; militou no partido por três décadas e só saiu diante da perspectiva de ser candidata à Presidência da República.
3. Quando ocorreram as manifestações em 2013, eu avisei: isso vai dar PT. PT no sentido de perda total. Fui muito criticado por isso, mas nem nos meus momentos mais pessimistas poderia imaginar que o segundo turno se daria entre duas candidatas do Foro de S. Paulo. Dilma versus Marina é eleição de DCE.
4. A maior prova do DNA comum entre Dilma e Marina está na linguagem. O dilmês e o marinês são idiomas incompreensíveis. E essas línguas de madeira são utilizadas na hora de defender aberrações como o tal projeto de lei que institui a ditadura dos conselhos (sovietes) sobre o País.
5. Outra característica comum entre as duas candidatas de alma petista: elas se aproximam do metacapitalismo. Seus apoiadores, em geral, são aqueles empresários e banqueiros “companheiros de viagem”, amigos do rei que lutam incansavelmente por uma economia de mercado sem concorrência.
6. José Dirceu já mandou avisar por interlocutores: “Marina é o Lula de saias”. José Dirceu, você venceu.
7. Nova política, como diria o padre Quevedo, non ecziste.

* Jornalista

www.jornaldelondrina.com.br/blogs
 

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  • Ives Gandra da Silva Martins
  • 05 Setembro 2014

Dois decretos governamentais (8242 e 8243) podem afetar o regime democrático e a ação social das Instituições sem fins lucrativos, principalmente as católicas.

O primeiro cria inúmeras restrições às imunidades garantidas pela Constituição, matéria que é objeto de ação direta de inconstitucionalidade no STF (nº. 2028) de relatoria do Ministro Joaquim Barbosa e de repercussão geral da relatoria do Ministro Marco Aurélio, com resultado, até o momento, favorável às Instituições (4x0 – votos dos dois Ministros relatores e dos Ministros Luís Roberto Barroso e Cármen Lúcia). Se prevalecerem as ações (ADI e RE) o decreto perderá validade.

O segundo institui a Política Nacional de Participação Social – PNPS. Tal como descrita no Decreto 8243/14, tende a substituir o Congresso Nacional na representação popular, para “fortalecer e articular mecanismos e instâncias democráticas de diálogo” e em “atuação conjunta com a administração pública federal” da “sociedade civil” (art. 1º), criar Conselhos e Comissões de políticas públicas e sociais (artigos 10 e 11) eleitos pelo povo, objetivando auxiliar a Secretaria Geral da Presidência da República (artigo 9º) a “monitorar e implementar as políticas sociais” por eles definidas, com atuação junto às diversas instâncias governamentais.

Num curto artigo, é impossível descrever e analisar o nível de força que se pretende atribuir a instrumentos “populares”, na promoção com o governo, das políticas que desejarem, sem a participação dos legítimos representantes do povo, que são os senadores e deputados. Como os Conselhos e as Comissões serão eleitos pelo “povo”, mas a eleição não é obrigatória e o “povo” dificilmente terá condições de dedicar-se em tempo integral, deixando trabalho ou ocupações diversas, para estar presente nestas “eleições”, serão os “amigos do rei” os beneficiados pelas indicações, que lá estarão presentes, num verdadeiro aparelhamento do Executivo e redução do Congresso Nacional à sua expressão nenhuma.

Por pior que seja, o Legislativo é eleito pelo povo. Nele está contida 100% da representação popular (situação e oposição). No atual Executivo, nem 50% do povo brasileiro está representado, pois a atual presidente teve que ir ao 2º turno para ganhar as eleições. Em outras palavras, pretende o decreto que a autêntica representação popular de 130 milhões de brasileiros seja substituída por um punhado de pessoas,que passará a DEFINIR A POLÍTICA SOCIAL DE TODOS OS MINISTÉRIOS, INDICANDO AO EXECUTIVO COMO DEVE AGIR!

A linha da proposta é tornar o Congresso Nacional uma Casa de tertúlias acadêmicas, pois os Conselhos e Comissões eleitos pelo “povo” serão aqueles que dirigirão o país. Por exemplo, a Comissão encarregada da Comunicação Social poderá determinar que o Ministério correspondente imponha restrição de conteúdo à imprensa, a pretexto de que é esta a “vontade do povo”, que será “obrigado” a atender aos apelos populares. As políticas públicas e sociais não mais serão definidas pelo Poder Legislativo, mas, por este grupo limitado de cidadãos enquistados nestes organismos.

Estamos perante uma autêntica ressurreição, da forma mais insidiosa e sorrateira, do PNDH-3, que recebeu o repúdio nacional e, por isto, nunca foi aplicado. Às vezes, tenho a impressão, com todo o respeito que tenho pela figura da presidente da República, que ela tem recaídas “guerrilheiras”. Talvez, a “devoção cívica” que demonstrou nutrir pelo sangrento ditador Fidel Castro – tão nítida no retrato exibido por todos os jornais, de sua recente visita a Cuba – a tenha levado a conceber e editar esta larga estrada para um regime antidemocrático. É que o decreto suprime as funções constitucionais do Parlamento e pretende introduzir entre nós o estilo bolivariano das Constituições da Venezuela, Bolívia ou Equador. Nelas, o Executivo e o “povo” são os verdadeiros poderes, sendo –é o que está naquelas leis maiores— o Legislativo, Judiciário e Ministério Público, poderes acólitos, vicários, secundários e sem maior expressão.

Por ter densidade normativa própria, o referido decreto é diretamente inconstitucional, ferindo cláusula pétrea da Constituição, que é a autonomia e independência dos Poderes (artigos 2 e 60 § 4º, inciso III). spero que o Congresso Nacional repila o espúrio diploma, com base no artigo 49, inciso XI, da Carta Maior, zelando, como deve, por sua competência legislativa.

* * Advogado, professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra
 

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  • Olavo de Carvalho
  • 05 Setembro 2014

 


No último número da elegante revista do Banco Itaú Personnalité, Ruy Castro enfatiza o contraste entre duas fases da existência do poeta Vinícius de Moraes:

"Há um Vinícius de Moraes sobre o qual não resta a menor dúvida: ... o compositor, o letrista e o showman; o diplomata, o homem do mundo e o amigo de ilustres; o boêmio, sempre com um uísque a bordo, e o liberal, o homem de esquerda, com muitas amizades entre os comunistas; o cantor da beleza, o homme à femmes, que se casou nove vezes e vivia em permanente estado de paixão; o capitão do mato e o branco mais preto do Brasil, na linha direta de Xangô; o diletante da crônica, do teatro e do cinema..."

"Mas houve também um Vinícius tão real quanto esse acima, e que seus admiradores mal conseguiriam reconhecer se descrito sem as necessárias ressalvas. Um Vinícius profundamente católico, metafísico, passadista, politicamente de direita, simpático ao fascismo, íntimo de assombrações, inimigo do cinema falado, alérgico ao jazz moderno, desconfiado da juventude – e olhe que ele também era jovem – e certo de que o sexo era uma coisa apenas espiritual. O que? Sim, esse era o Vinícius de 1933."

Sim, esses dois Vinícius existiram, e, se o do primeiro parágrafo é ainda um personagem popular decorridos trinta e tantos anos da sua morte, o do segundo permanece tão desconhecido que Ruy Castro tem de revelá-lo a um grupo de admiradores estupefatos, numa revista de poucos e requintados leitores.

Só há um problema. O "Vinícius de 1933", que Ruy Castro descreve em termos que fazem dele um monstrinho antediluviano, era, malgrado algumas esquisitices inegáveis, um dos poetas mais sérios e profundos do idioma. Já o Vinícius nacionalmente conhecido – para Ruy Castro, o único normal e digno de admiração irrestrita – nunca passou de uma figura do show business, um velho caricato macaqueador da moda juvenil, gabando-se de ser "o branco mais preto do Brasil", mas bebendo uísque importado em vez de cachaça, namorando populisticamente mulheres da alta sociedade, e escrevendo nada mais que sambinhas autocongratulatórios e umas frases de efeito que se conservaram na memória nacional não por meio da história literária, mas da indústria de discos e do governo que ele tanto ludibriou, vivendo de dinheiro público sem nem marcar o ponto na repartição.

"A vida é a arte do encontro embora haja tantos desencontros pela vida", "A mulher amada é o tempo passado no tempo presente no tempo futuro no sem tempo", "Quem já passou por essa vida e não viveu pode ser mais, mas sabe menos do que eu...", "Quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém" e milhares de tolices semelhantes, que parecem ter sido produzidas especialmente para diários de moças, assinalam com toda a clareza a decomposição de um talento de poeta e de um caráter de homem, diluídos em álcool para mais rentosa distribuição comercial.

Não é coincidência, de maneira alguma, que essa transfiguração da literatura em cocô acompanhasse pari passu a aproximação cada vez mais íntima do poeta com os grupos de esquerda, que naqueles anos da ditadura precisavam desesperadamente de poster men. Se para servir a esse fim um grande homem tinha de ser infantilizado por meio de paparicações grudentas e seduções corruptoras, tanto melhor.

Era uma política consciente. Lembro, como se fosse hoje, o zunzum entre os comunistas da redação quando Carlos Alberto Libânio Christo, o "Frei Betto", veio trabalhar na Folha, naquele intervalo de retorno ao ambiente profano, que nos seminários precede a opção definitiva pela ordenação sacerdotal. Era necessário, era urgente, comentavam, fazer amizade com o padreco, embebedá-lo, levá-lo a boates e puteiros, fazer dele um membro em regra da patota dos bons.

A ética por trás disso era a boa e velha inversão: já que a sociedade burguesa é corrupta e hipócrita, é preciso combatê-la desde dentro por meio da corrupção ostensiva, exibida, orgulhosa de si. Os serviços prestados ao Partido santificavam tudo. Quando Vinícius trocou o cristianismo por uísque, mulheres, samba e comunismo, tornou-se um modelo de virtudes.

Às vezes não era preciso chegar a tanto. O Partido sabia tocar o ponto sensível de cada um. Se o alvo escolhido fosse um pobretão apavorado com a perspectiva de morrer de fome, como Otto Maria Carpeaux, bastava oferecer-lhe empregos em troca de favores prestados, depois ir pedindo cada vez mais favores até que consumissem por inteiro o tempo e os talentos do infeliz, bajulando-o e aplaudindo-o à medida que se imbecilizava cada vez mais.

O apoio na hora da encrenca sempre deixava marcas fundas. Roland Corbisier, brilhante intelectual do Partido Trabalhista, intermediou o apoio dos comunistas à candidatura de Negrão de Lima ao governo do Rio em 1965, foi demitido do Ministério da Educação pelos militares e acabou fisgado. Virou o típico "bom sujeito": divorciou-se da mulher, abandonou a Igreja e, de seus primeiros livros, A Responsabilidade das Elites e Formação e Problema da Cultura Brasileira (ambos de 1956), estudos magníficos sobre a vida intelectual no Brasil, passou a escrever manuais de marxismo-leninismo dignos da Academia de Ciências da URSS.

À medida que o gramscismo se consolidou como doutrina dominante nas universidades, a política de cooptação perdeu seu caráter de seleção individual e se tornou o critério geral de aprovação na carreira acadêmica e jornalística, a conditio sine qua non para os neófitos serem reconhecidos como "intelectuais". A imbecilização industrializou-se e a cultura superior no Brasil acabou.

 

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  • Paulo G. M. Moura
  • 05 Setembro 2014

O custo do Estado brasileiro é compatível com os serviços que presta? O que O Estado faz com ineficiência e custos desnecessários e deveria deixar de fazer? O que o Estado deveria fazer com eficiência e não faz?

Ao responder essas perguntas o pagador de impostos dificilmente negará a necessidade de se reformar o Estado no Brasil. Mas, ao olharmos para os candidatos nessa eleição constataremos que eles não têm as mesmas respostas àquelas perguntas.

Embora as perguntas, formuladas como estão, sugiram respostas óbvias, tudo indica que não há consenso sobre a necessidade de reformar o Estado. Isso acontece devido às consequências resultantes da forma como a Reforma do Estado foi conduzida no passado, dado que a imagem dos que abraçaram essa causa foi corroída pela guerra entre governantes reformistas e a oposição estatista. A retrospectiva revela diferentes posturas diante da Reforma do Estado. Collor compreendia a necessidade das reformas, iniciou-as, mas isolou-se e subestimou a força dos interesses contrariados.

A retrospectiva revela diferentes posturas diante da Reforma do Estado
Ciente disso, FHC tentou contornar as resistências. Diante do muro que se ergueu no seu caminho ao tentar a Reforma da Previdência, puxou as reformas do capítulo da ordem econômica para o topo da pauta e, entre março e julho de 1995 aprovou todas as emendas constitucionais que encaminhou ao Congresso com maioria absoluta, amparado que estava na vitória em primeiro turno e numa ampla aliança partidária.

Quando chegou a hora de reformar o Estado, FHC pautou a emenda da reeleição, sob o pretexto de que necessitaria de mais um mandato para concluir a empreitada. A tramitação da emenda da reeleição se arrastou até dezembro de 1997. Tendo que conduzir a economia em turbulência internacional; cavalgando um Estado paquidérmico e desgastado pela batalha da reeleição, FHC reelegeu-se, mas, ao desvalorizar o real em 1999, perdeu apoio social e pavimentou o caminho para a eleição de Lula.

Eleito sob desconfiança, Lula executa um movimento à direita, aprofundando as diretrizes da política econômica de FHC e aprovando no Congresso uma reforma parcial da previdência. Legitimado pelos benefícios desse ajuste de 2005 e cooptando amizades no meio político e empresarial, Lula abandonou a impopular agenda das reformas e implantou, gradualmente, sua “nova matriz econômica”. A essência desta “nova matriz” foi o abandono da bem sucedida combinação entre a política de juros, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal para controle da inflação. Beneficiado pelo bom momento da economia mundial e pela herança bendita da política econômica que abandonou, Lula reelege-se e elege Dilma.

O resultado das escolhas de Lula é a estagflação. Dela só saímos com a retomada da política econômica abandonada e com readequação do tamanho, do custo e da eficiência do Estado às necessidades da sociedade e aos desafios da economia globalizada.

Mas, quem estaria disposto a abraçar essa causa?


* Cientista Político
 

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  • Francisco Ferraz
  • 03 Setembro 2014


Democracia entre nós costuma ser definida predominantemente de forma jurídica. Subestimam-se ou se ignoram os aspectos históricos, sociológicos, culturais e políticos que constituem a tessitura de uma organização social e política.
Há mais de meio século, democracias institucionalmente fracas e consequentemente instáveis formavam a grande maioria das nações, situadas na quase totalidade em países da África, Ásia e América Latina. Essas nações eram chamadas de pré-modernas, tradicionais, subdesenvolvidas, em desenvolvimento. Suas democracias, de curta duração e muito precárias em eficiência e legitimidade, não conseguiam superar o ciclo que as levava da crônica instabilidade institucional a formas autoritárias de governo, via ditaduras, golpes de Estado e revoluções. Democracias estáveis com alta legitimidade, eficiência e duração eram poucas, não mais que duas dezenas.
A predominância de democracias instáveis devia-se, em grande parte, à persistência de uma ilusão - falsa, mas tentadora - a cegar os olhos dos líderes políticos: a falácia da imitação institucional, apoiada no falso pressuposto de que a democracia estável depende fundamentalmente de uma boa Constituição democrática.

Historicamente, essa forma de conceber a política dependeu sempre de três procedimentos: 1) Cópia de instituições políticas das democracias estáveis ou instáveis preferidas; 2) capacidade inventiva de políticos e juristas para criar novidades institucionais sem respaldo na experiência prática e histórica; e 3) desconsideração pelas características do "terroir" em que as instituições políticas nascem, sobrevivem e funcionam e as do "terroir" para o qual estão sendo transplantadas.

A expressão política mais frequente dessa forma de pensar é a obsessão por reformas políticas, pela convocação de constituintes, pela atração por plebiscitos, referendos, práticas de ação direta e a judicialização da política, como forma de se evadir do desgaste da decisão, transferindo-a para o Judiciário.

Essa concepção de política, da forma como foi acolhida pelos políticos dos países "importadores de instituições", implicava alguns pressupostos logicamente necessários que implicitamente se insinuavam na forma de pensar a política.
- As condições básicas para orientar o comportamento político são inatas.
- Os fatos sociais são facilmente assimiláveis pelas normas jurídicas promulgadas.
- As instituições, formais, podem ser transplantadas de um sistema político para outro, produzindo invariavelmente os mesmos resultados.

Esse é o enfoque dominante no Brasil e nos países de forte tradição bacharelesca, o enfoque jurídico formal, em que a política é tratada sob um ângulo estritamente jurídico. Tão hegemônico que plasmou uma cultura política com esse viés, como ilustra nossa própria história política: tivemos 12 episódios de mudanças radicais e abruptas nas instituições políticas e governamentais em 58 anos, da Revolução de 1930 à Constituição de 1988, um a cada cinco anos.

Além de dominante, esse enfoque é também responsável por um círculo vicioso interminável de produção legislativa, por uma verdadeira "fábrica de democracias instáveis". Quando algo não está funcionando a contento, a causa alegada é ou a ausência de um regramento que discipline a matéria, ou que o regramento existente foi mal concebido. Em ambos os casos, "a falha é jurídica e a solução é jurídica (novo regramento) o que dará origem a uma nova falha que vai exigir outra nova norma, e assim sucessivamente", formando um círculo vicioso infindável.
Se o problema é de uma lei individual, faça-se outra lei. Se é de insatisfação generalizada com o sistema político, a "solução" é uma constituinte, inaugurando-se então o período do "bizantinismo político" cujo primeiro e emocionante tema de debate é: "Constituinte exclusiva ou parlamentar?".

O resultado dessa maneira de ver a política é a proliferação legislativa, uma teia normativa crescente que judicializa as relações sociais e onera, reduz, quando não impede, a eficiência administrativa.  O século 20 foi o auge da disseminação do enfoque jurídico formal e, com ele, da criação de democracias cronicamente instáveis, sempre institucionalmente fragilizadas e oscilando entre democracias "enlouquecidas" pela prática da ação direta e golpes de Estado, ditaduras, revoluções totalitárias.
Essas são as fragilidades das Constituições produto do exercício da razão pura, aquelas em que instituições políticas e regras constitucionais resultam de construções teóricas e abstratas, apoiadas em critérios de plausibilidade e na cópia acrítica de instituições políticas de outros países.

A obra-prima de construção institucional pelo uso da razão pura, célebre por sua reputação de perfeição, foi a Constituição de Weimar (1918). Sua indiscutível qualidade, que a tornou o modelo de todas as Constituições democráticas desde então, não foi, entretanto, suficiente para evitar que a monstruosidade do regime nazista tenha logrado sua ascensão ao poder, dentro das formalidades estabelecidas pela Constituição "perfeita". Nas palavras do próprio Hitler, "a democracia devia ser destruída pelas armas da democracia".

A grande lição que se extraiu da experiência da Constituição de Weimar é que as Constituições, e por extensão as leis, não têm o poder de estabelecer ou mudar os comportamentos que colidam com os valores individuais culturalmente consagrados pela organização social. E isso é verdadeiro, acima de tudo, com relação às Constituições que são produto da "razão pura".

Passado mais de meio século, as democracias que eram estáveis então continuam basicamente as mesmas em 2014 e as que eram instáveis seguem instáveis. Não encontro nenhuma razão, não visualizo nenhuma tendência pela qual essa realidade, que não mudou nos últimos 50 anos, deva mudar nos próximos 50.

* Professor de Ciência Política na UFRGS

www.politicaparapoliticos.com.br

 

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  • Bruno Braga
  • 02 Setembro 2014



Promotores, "apóstolos" e entusiastas do projeto de reforma política da CNBB frequentemente destacam - como sinal da inspiração divina dele - o item que propõe o "financiamento público" das campanhas eleitorais. Pregam que proibir doações de empresas privadas a partidos e candidatos - mantendo a permissão para doações de pessoas físicas - visa a eliminar a influência do "poder econômico" nas questões políticas e a evitar que os interesses do "capital" se sobreponham ao interesse público.

O componente ideológico do termo é escandaloso: demonização da iniciativa privada e divinização do Estado. É como se as empresas - representadas por seus proprietários - fossem excluídas da vida pública e ficassem impedidas de se posicionarem sobre o plano que determina o exercício de suas atividades.

Mas o item citado - o financiamento público das campanhas eleitorais - é ineficaz inclusive para os fins alegados. Primeiro. A proposta veta a doação de "empresa privada", mas não a do dono dela, a do "empresário" - pessoa física que pode figurar como doador. E mesmo que limite a contribuição individual ao valor de R$ 700, nada impede que "laranjas" sejam utilizados para burlar a limitação. E mais. Uma vez que as empresas privadas serão proibidas de fazer doações para candidatos e partidos, na contabilidade das campanhas não haverá mais nenhuma menção a elas - o que não coíbe as doações ilegais, pelo contrário, poderá inclusive facilitá-las.

Outro ponto. Se um dos propósitos da reforma política é diminuir os custos das campanhas eleitorais, então soa disparatado exigir - fixando a escolha dos parlamentares em dois turnos - o financiamento público para boa parte das despesas dos candidatos e partidos. Isso é exigir que o Estado, que o dinheiro público, do cidadão, banque as contas. Ademais, é necessário observar que "O Estado" não é uma entidade abstrata e supra-natural; ele é formado por pessoas de carne e osso que irão estabelecer - através do jogo político e do confronto de interesses - o valor das verbas e os "critérios" para a distribuição delas.

No entanto, há na proposta de reforma política da CNBB algo ainda mais grave. Se os seus "apóstolos" pretendem "exorcizar" o "poder econômico" da política, então, como explicar que as entidades e organizações que pretendem inserir na administração pública - sob o disfarce de "movimentos sociais" - sejam financiadas pelo "grande capital"? Duas amostras relevantes: a ABONG - que congrega uma série de organizações não-governamentais; e a Cáritas - que é um organismo da CNBB (Cf. Cartilha Coalizão pela Reforma Política e Democrática, p. 43) são financiadas por eminentes e poderosas organizações financeiras e empresariais através de suas fundações. A Caritas, pela Fundação Ford e a ABONG, entre outras, pela Fundação Ford, Fundação Bradesco, Bovespa Social, Fundação Bunge, Brazil Foundation.

Abong, consultar: [http://abong.org.br/links.php?id=13].

Cáritas, consultar [http://caritas.org.br/parceiros-e-apoiadores].


É preciso notar que aqui há outro problema. Quando um candidato recebe doação de empresa privada, o eleitor tem a liberdade de votar nele ou não; mas os "movimentos sociais" - patrocinados por fundações multibilionárias - serão introduzidos pelo projeto de reforma política em instâncias decisórias do poder público sem a participação do cidadão brasileiro.

Nestes termos, a pregação sobre o "financiamento público" das campanhas eleitorais é uma fraude em todos os sentidos. A proposta de reforma política da CNBB maquia o estabelecimento de um consórcio para o exercício do poder político - consórcio que inclui agentes determinados do "poder econômico". Para a Conferência dos Bispos, tal comprometimento é um pecado imperdoável porque implica contrariar os princípios e orientações da Igreja Católica - que ela, a Conferência, não representa - fortalecendo um projeto de poder totalitário - o PETISTA-SOCIALISTA-COMUNISTA - e a engenharia social e comportamental que o envolve, com o ABORTO, a IDEOLOGIA DE GÊNERO, a LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS, etc.


ARTIGOS RECOMENDADOS.

BRAGA, Bruno. "Padres pregam proposta de reforma política. Fiéis, não assinem!" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/07/padres-pregam-proposta-de-reforma.html].
______. "O porta-voz comunista da reforma política celebrada por padres" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/07/o-porta-voz-comunista-da-reforma.html].
______. "A reforma política da CNBB. Católicos, não assinem!" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/08/a-reforma-politica-da-cnbb-fieis.html].
______. "CNBB firma PACTO com Governo PETISTA: promover a reforma política SOCIALISTA-COMUNISTA" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/08/cnbb-firma-pacto-com-governo-petista.html].
______. "'O Chefe' convoca a militância para a reforma política da CNBB" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/08/o-chefe-convoca-militancia-para-reforma.html].
______. "Padre Rodrigo Maria. Eleições 2014 e a desastrosa proposta de reforma política que promove o projeto de poder PETISTA-SOCIALISTA-COMUNISTA [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/08/padre-rodrigo-maria-eleicoes-2014-e.html].
 

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