• Mateus Colombo Mendes
  • 16 Abril 2016

 

(Publicado originalmente em http://colombomendes.blogspot.com.br/)

Se tem algo que sempre me impressionou, que não cessa de me causar assombro (e, decerto, impressiona e assombra a qualquer um que pense no assunto), é o fato de nações inteiras[1] se prostrarem perante evidentes psicopatas e seguir-lhes cegamente. Como pode uma Alemanha inteira seguir um lunático como Hitler, aceitando que é preciso eliminar todo o resto do mundo, segundo um critério biológico? Como pode uma Rússia inteira seguir um lunático como Lenin, aceitando que é preciso eliminar todo o resto do mundo, segundo um critério social? Como pode, em ambos os casos, pai se voltar contra filho, filho denunciar mãe, mãe entregar marido, todos renunciarem à vida, à liberdade, à capacidade de discernimento e decisão, tudo para a força estatal e pela força estatal?

Em Hitler e os alemães, o filósofo Eric Voegelin, estudioso e inimigo declarado das ideologias, explica que as condições à aceitação do “führer” foram criadas por um processo de deterioração da linguagem, dos conceitos, das formas de estabilizar as percepções da realidade, a partir de concepções materialistas e pseudocientíficas, capazes de embrutecer as gentes e instaurar o reino da mesquinharia na nação. Os capitães desse processo foram os jornalistas e os intelectuais; ou melhor, cada jornalista e cada intelectual alemão de então, porque Voegelin não os aponta como categorias, grupos abstratos, mas como indivíduos específicos (de fato, culpar a todos, coletivamente, seria o mesmo que culpar a ninguém).

O resumo que ofereço no parágrafo acima decerto não dá a dimensão da excelência da obra de Voegelin, mas oferece uma pista para entendermos de que forma é possível a obtenção de sucesso pelos fenômenos fascistas, como o nazismo e o socialismo. Entretanto, mesmo compreendendo Voegelin e sua análise sem par, tais fenômenos não deixavam de me impressionar. As explicações do filósofo alemão jogavam forte luz sobre o problema; mas a luminosidade voegeliana era ofuscada logo em seguida pelo assombro que me causava a contemplação das histórias e das imagens legadas pelo nazismo e pelo comunismo (ainda que estas confirmassem perfeitamente as teses de Voegelin). Contudo, minha perplexidade acabou, graças ao petismo.

Contemple a imagem abaixo. Vemos um pequeno grupo bloqueando uma rodovia. São 28 pessoas a bloquear um lado de uma estrada, interrompendo o trânsito e atrapalhando o dia de milhares de pessoas – com pneus queimados e sua própria presença na via. Considerando a fumaça na extremidade direita da fotografia e o fato de o outro lado da rodovia estar vazio, concluímos que há lá outro pequeno grupo a obstruir a passagem de outros milhares de pessoas. A imagem é de 15 de abril de 2016, sexta-feira, dois dias antes da votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. Imagens semelhantes a essa surgiram por todo o Brasil, sempre com pequenos grupos de militantes pagos e treinados por PT, PC do B, PSOL, CUT, MST e outras associações de esquerda parando estradas e grandes cidades, em um dia útil, em horário de expediente.

Essa imagem poderia estar no livro de Eric Voegelin, acompanhada de notícias de jornais e análises acadêmicas seu contexto. Voegelin diria: “Vemos na imagem e em suas repercussões jornalísticas e acadêmicas exemplos perfeitos de distorções da realidade estabilizadas na linguagem, condições indispensáveis ao surgimento de fenômenos como Adolf Hitler e o nazismo.” Pois, o que a imagem mostra objetivamente e representa na conjuntura atual são pequenos grupos improdutivos atrapalhando a vida de milhões de brasileiros, de forma violenta e intransigente, a mando e a soldo de uma elite política e econômica, defendendo a permanência dessa elite no poder, a despeito da vontade da imensa maioria da população, ignorando o desejo do povo brasileiro – tudo isso sob o subterfúgio da defesa da “democracia”, da soberania do... povo. Ou seja, são empregados da elite atrapalhando a vida do povo, defendendo a elite e contrariando o povo, dizendo que assim procedem em favor do povo.

Não, eles não são hipócritas; ao contrário: são absolutamente coerentes. Eles têm certeza de que defendem o povo de si mesmo, de sua ignorância. Por isso sentem-se grandes democratas, verdadeiros justiceiros, indispensáveis libertadores. Contudo, nada mais são, em verdade, que o resultado da deterioração da percepção da realidade oferecida pela intelectualidade e sedimentada pelo jornalismo; são, enfim, condições vivas à ascensão ao poder de figuras autoritárias, opressoras e psicóticas, com perigosos projetos de concentração de poder. Vejam como isso está escancarado na linguagem das faixas, em sua semântica, em sua retórica. Percebam a inversão dos predicáveis: o anseio do povo brasileiro é chamado de “golpe”; a manutenção do poder de uma elite corrupta e corruptora é chamada de “democracia”; e os termos são articulados de forma imperativa, inflexível, imposta, em um cenário de belicosidade, com direito a pneus queimados, bandeira vermelha, direito de ir e vir cerceado e punhos cerrados. É como se dissessem: “Não adianta vocês reclamarem, vocês não podem sequer locomover-se sem nossa autorização. E isso que vocês querem, não terão; imperará o que nós queremos.”

Não ignoremos que a ação vista na imagem pode ser lícita, justa, necessária. Em um contexto de real opressão, é legítimo que o povo se levante, normalmente, aos poucos, em pequenas minorias, para combater a repressão estatal, causando incômodo na maioria silente. Mas sabemos que não é o caso brasileiro. Aqui, temos o absurdo de um protesto a favor, com uma minoria favorecida defendendo uma minoria poderosa e ignorando os anseios da quase totalidade da nação.

As condições para os atuais absurdos brasileiros, representados pela fotografia acima, são semelhantes aos absurdos que permitiram a tomada e a manutenção do poder por fascistas, nazistas e comunistas – e foram igualmente gestados no ventre do jornalismo e do intelectualismo local. Há décadas, intelectuais formam e orientam e se associam a grupos como o da fotografia. Há décadas, jornalistas legitimam esses grupos, chamando-os de movimentos sociais. Esses movimentos sociais sustentam bandeiras que todo o restante da sociedade abomina: da prática corriqueira do aborto à expropriação violenta de rendas e propriedades, passando pela legalização de drogas entorpecentes e pelo desarmamento de civis. Ou seja, esses movimentos são qualquer coisa, menos sociais. Esses grupos se identificam como movimentos democráticos, a favor do povo e contra as elites, mas têm ditaduras como modelos de poder e defendem políticos que enriqueceram de forma impressionante desde que assumiram o governo. Esses grupos chamam seus inimigos de “fascistas”, mas exigem a estatização de todas as forças produtivas e o controle e o juízo estatal sobre as relações sociais, exatamente como propugna o ideário fascista. Enfim, esses grupos não percebem tampouco descrevem a realidade como ela é, com os termos apropriados; ao contrário, utilizam-se dos termos para alterar a realidade, para re-significá-la. Olham para si mesmos, uma minoria truculenta e defensora da elite, e, em vez de descreverem-se com os termos corretos, descrevem-se com os termos que imaginam merecer, projetando no restolho uma miríade de rótulos descolados da realidade. São, então, os democratas, os progressistas, os trabalhadores, os engajados, os iluminados. Nós, que não concordamos com eles, somos os fascistas, os alienados, os golpistas.

O fato é que observamos nessa pequena parcela da população brasileira o processo de imbecilização verificado na Alemanha nazista como um todo. Cabe, então, o questionamento:
Por que no Brasil o processo de estupidificação através da deterioração da linguagem, da percepção da realidade, conduzido por jornalistas e intelectuais, atingiu somente pequena parcela da população?

Acontece que, por aqui, esse processo se manteve restrito a grupos porque não possuíamos uma tradição acadêmica solidificada. Aqui, o sistema de ensino, em todos seus níveis, é precário, de modo que a imensa maioria da população sempre esteve alijada dos benefícios de uma educação de qualidade e, ao mesmo tempo, imune aos possíveis malefícios dessa educação em seu modo mais perigoso, o academicismo ressentido, engajado e revolucionário. Não por acaso, os governos do PT não se dedicaram a quase nada da forma como se dedicaram a criar, artificialmente, uma penetração do ambiente universitário e supostamente intelectual em todo o território.

Não foi por acaso que, em seus 13 anos de governo, o PT investiu pesado em programas de acesso ao ensino superior, negligenciando criminosamente a educação básica. Os governos de Lula e Dilma esbanjaram o dinheiro recolhido do povo para levar exércitos de ignorantes despreparados aos bancos universitários. Milhões de pessoas que não tiveram seu processo de alfabetização plenamente ou mesmo minimamente concluído foram lisonjeados com diplomas de graduação e bolsas de estudo. Toda essa gente foi submetida a anos de intensas distorções e incompreensões da realidade e a currículos fundamentados em marxismo, desconstrucionismo e outras pseudociências. Toda essa gente tem saído das universidades com a arrogância típica ao ignorante, com uma dívida de gratidão para com o governo que lhe permitiu a realização de um sonho [o sonho de receber um papel pintado e carimbado, dizendo “Você é dotô!”] e com a mente preparada para dizer que um mais um não dá dois, que defender uma elite política e econômica e contrariar o povo é democracia, que oferecer privilégios a pequenos grupos de pressão em detrimento de todo o restante da população é ação afirmativa, que concentrar poder na mão do Estado é progressismo democrático e ser contrário a isso é fascismo.

Não, não estou dizendo que a ignorância não é uma bênção. Mas, sim, é preferível ser iletrado a ser mal-formado. O iletrado conta “apenas” com suas percepções diretas da realidade. Coloquei o “apenas” entre aspas porque isso – as percepções diretas – é tudo de que se precisa para entender a realidade. Os estudos servem à compreensão e a estabilização dessas percepções, para que possamos dizê-las de formas minimamente inteligíveis (mas sempre muito distante de sua substância real) e, no caso das técnicas e tecnologias, evoluir em sua utilização. Historicamente, os homens viviam a realidade; depois, perceberam as realidades e passaram a estabilizá-las e comunicá-las. Contudo, em vez de avançar nesse processo, aperfeiçoando a percepção e mesmo a realidade, parte dos estudiosos passou a “problematizar” a realidade, a duvidar do que é certo e a considerar o duvidoso. Por exemplo: este homem produzia lanças, aquele produzia machados, mas ambos precisavam de lanças e machados, de modo que passaram a trocar o que lhes era excedente. Isso é a realidade das relações comerciais, que depois foi percebida, estabilizada e aperfeiçoada. Muito tempo depois, vieram as problematizações, os desconstrucionismos e as inversões psicóticas que nos levaram a conceber que pode ser uma boa idéia concentrar todo o poder econômico na mão da burocracia estatal.

Ora, alguém discorda de que é mais prudente ouvir os conselhos de umavô iletrado que sustentou uma família com trabalho honesto, vivendo as referidas relações naturais de troca de fato, do que seguir as concepções distorcidas de um mestre revolucionário que jamais produziu algo de fato e vive de dar opiniões sobre algo que desconhece na prática, inspirado por uma ideologia totalmente descolada da realidade?

O ideal é que este avô iletrado fique culto, evolua em suas compreensões, estabilizando suas percepções com base na realidade. Na Alemanha pré-nazismo, contava-se – na imprensa, nas universidades, no empresariado, em casa, em todos os ambientes – com avós cultos e com mestres revolucionários. Já sabemos quem fez o estrago. No Brasil, dispomos apenas dos conselhos do avô iletrado (que está em todos os ambientes) ou das orientações do mestre revolucionário (limitado às universidades e redações). As pessoas da fotografia que ilustra este texto fizeram sua escolha; o restante da população não está representado na fotografia porque teve de viver a vida real.[2]
A esquerda não conseguiu concluir o processo que iniciou nos anos 1960 e que foi potencializado nos governos do PT – falo do processo de espalhar o veneno da educação afetada, ressentida e revolucionária a tempo de anestesiar por completo o país. Quase conseguiram. A missão desta nação, portanto, após derrubar o esquema petista, será a de espalhar o antídoto da simples percepção da realidade. Em primeiro lugar, teremos de reafirmar que um mais um dá dois, que a grama é verde, que a água molha. Cabe a nós – que, como nação, na melhor das hipóteses, somos experientes e justos avós iletrados – transformarmo-nos em avós cultos ou ouvir aqueles que assim se formarem, para que o canto da sereia problematizadora e ressentida seja inaudito, para que osmestres revolucionários não consigam mais fomentar ódio e destruição “por um mundo melhor” e sejam colocados em seu devido lugar: num canto, babando na gravata, sem se atrever a mover uma palha[3].

[1] Figura de linguagem; é claro que não foram “nações inteiras” que seguiram Hitler, Lenin, Stalin, Fidel etc., mas maiorias, enormes porções, grandes o suficiente para garantir a vitória dos fascínoras.

[2] No Brasil, além dos iletrados imunes à idiotia academicista e dos estúpidos adestrados, sobram ainda aqueles poucos que, como eu, passaram pelo ambiente universitário e não sucumbiram ao canto da sereia problematizadora. Pois, afirmo com toda a certeza que os indivíduos desse terceiro grupo (o menor de todos), enquanto estiveram expostos à mentalidade revolucionária universitária, não raro duvidaram da realidade, das verdades dos fatos, dos limites entre o certo e o errado.

[3] << Até o século XIX o idiota era apenas o idiota e como tal se comportava. E o primeiro a saber-se idiota era o próprio idiota. Não tinha ilusões. Julgando-se um inepto nato e hereditário, jamais se atreveu a mover uma palha, ou tirar um cadeira do lugar. Em 50, 100 ou 200 mil anos, nunca um idiota ousou questionar os valores da vida. Simplesmente, não pensava. Os “melhores” pensavam por ele, sentiam por ele, decidiam por ele. Deve-se a Marx o formidável despertar dos idiotas. Estes descobriram que são em maior número e sentiram a embriaguez da onipotência numérica. E, então, aquele sujeito que, há 500 mil anos, limitava-se a babar na gravata, passou a existir socialmente, economicamente, politicamente, culturalmente etc. houve, em toda parte, a explosão triunfal dos idiotas. >> Nelson Rodrigues
 

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  • Juan Koffler
  • 16 Abril 2016


De repente, na contramão das nações mais avançadas do planeta, o continente sul-americano retrai-se e muda de rumo.

Helen Deresky, da State University of New York, Plattsburg, em seus estudos sobre Administração Global, aponta para um paradoxo que parece indiscutível: as nações do planeta enfrentam insegurança e mudanças em amplo sentido nos campos político, econômico e social, constituindo-se em ingente desafio para os executivos globais. "O afastamento generalizado do modelo comunista combinado à tendência à privatização teve uma enorme influência sobre a economia mundial". Deresky ainda complementa que o "mais impressionante do mundo atual é que quase todas as nações de repente começaram a desenvolver sistemas descentralizados, de livre mercado, para terem condições de conduzir uma economia global de intensa concorrência, a complexidade da industrialização de alta tecnologia e o despertar de um sentimento generalizado de anseio por liberdade".

Tais características, quando observadas nas regiões da Europa Central e Oriental - explica ainda Deresky -, tornou o comunismo insustentável levando-o ao total colapso. Na contramão de tal movimento mundial de repúdio ao comunismo, contudo, a situação em América Latina e Caribe resiste a tal tendência. Com o surgimento do Foro de São Paulo, seus promotores, de perfil voltado à esquerda, denunciam as políticas neoliberais, a ampliação da exclusão de certos segmentos sociais, a concentração de poder em mãos capitalistas.

Tal inversão de foco acabou gerando não apenas um Brasil comunista, senão que também similar tendência em países como Colômbia, Venezuela, Equador, Nicarágua, Bolívia, Argentina (antes do atual governo de Macri). Em suma, abriu-se espaço para um "comunismo neoliberal"; uma adaptação conveniente que fundamentasse o renascimento e/ou fortalecimento dessa ideologia aparentemente fragilizada.

Brasil hoje (e desde 2002) sofre as consequências de Governos de esquerda, que desestabilizaram e atrasaram substancialmente os rumos da nação, condenando-a a um limbo mundial, à estagnação econômica, à desestabilização social e ao confronto de classes, claramente percebido pela sociedade em situação dicotômica.

Os rescaldos dessa inversão de valores já começam a aparecer em amplo sentido, levando a sociedade a uma verdadeira "luta de classes", redundando em divisão da unidade nacional e em desavenças indesejadas e obstrutivas do bom desempenho econômico nacional.

Um verdadeiro e incômodo paradoxo que, certamente, derivará num alto preço a ser pago por toda a sociedade brasileira e também aquelas latino-americanas que comungam de similar ideologia político-social.

* Consultor jurídico-social, professor-orientador de mestrado e doutorado, escritor, doutor em Sociologia.
 

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  • Cesar Maia
  • 15 Abril 2016


1. Quando aceito o pedido de Impeachment de Dilma e aberto o varejo de cargos, se esperava que Dilma, Lula e seu núcleo duro suavizassem sua comunicação e seus discursos, de forma a não gerar insegurança nos deputados do baixo clero que procurava atrair.

2. Ou seja, para ter votos suficientes, deveriam caminhar em direção ao Centro. Mas fizeram exatamente o contrário. Se encantaram pelo slogan que seus comunicadores criaram, "não vai ter golpe", e subiram o tom.

3. Se alguns deles imaginavam que esse slogan apontaria para um debate suave e jurídico sobre questões de constitucionalidade, o que ocorreu foi exatamente o contrário. O slogan "não vai ter golpe" foi sendo interpretado como algo do tipo "se for necessário pegaremos em armas para defender o mandato de Dilma".

4. Os dois lados interpretaram assim, a começar pelos apoiadores de Dilma, deputados, senadores, ministros da casa, lideranças do PT, da CUT e por aí foi. Os discursos no Planalto, no Congresso e nos Comícios subiram o tom como um slogan latino-americano das esquerdas em diversas situações: "Não passarão". Ou parafraseando: "Governo Dilma ou morte".

5. As caras e bocas dos deputados escalados para falar, ministros da casa, de Dilma, Lula, parlamentares do núcleo duro, etc., foram ganhando feições e expressões crescentemente raivosas. As fotos e vídeos mostravam isso todos os dias. Era como se fosse um alerta de "guerra civil". Claro, um blefe, mas que os militantes exaltados acreditaram.

6. Os que defendiam o impeachment de Dilma passaram a ser chamados de golpistas, fascistas, nazistas e coisas no estilo.

7. Toda essa coreografia foi percebida pela opinião pública difusa, pelos deputados e senadores que estão fora da esgrima ideológica como se, não passando o impeachment, nos dois e meio últimos anos de governo, Dilma radicalizaria à esquerda. A distribuição de cargos não seria redistribuição de poder, muito pelo contrário.

8. O poder estaria mais centralizado ainda e sob a batuta dos raivosos oradores, na ópera bufa do "não vai ter golpe". Ao tempo que convenceu os seus, assustou os demais. Nem precisava mais de argumentos para que os deputados -acompanhando e presenciando esta escalada- se assustassem. E comentassem: É, desse jeito virá um novo governo, mas agora sem cooptação, sem coalizão e sem pactuação alguma, nem no último escalão. Será a integração completa governo-partido.

9. E lembraram os conselhos de Chávez a Lula: "Rompa logo esse impasse e radicalize em defesa do povo". Esse é o entusiasmo dos lulistas e é o pânico dos demais.


Pesquisa e Edição: JCM do Ex-Blog do Cesar Maia , 14.04.16
 

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  • David Coimbra
  • 14 Abril 2016

 

(...)
Agora, pela primeira vez, a direita se assume, no Brasil, e se torna um movimento popular. Há movimentos de direita explodindo por todo lugar, desde neoliberais na economia a ultraconservadores nos costumes.

Quem os pariu?

O PT.

O PT é responsável pelo estabelecimento da primeira direita orgânica e popular da história do Brasil. No momento em que o governo consagrou o discurso da elite branca versus pretos e pobres, jogou grande parte do país no outro lado. É a terceira lei de Newton, de ação e reação. Um governo que se diz de uma classe só pode encontrar resistência nas demais classes. O PT não dividiu o país, porque o país não está dividido: está unido. Contra o PT.

Cada vez que um petista mia que o partido é perseguido por defender os pobres, solidifica a união contra o partido. O PT poderia aprender com Obama: um presidente negro não deve ser um presidente dos negros. Deve ser presidente de todos.

Leia toda a coluna aqui.
 

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  • Nivaldo Cordeiro
  • 14 Abril 2016

(Publicado originalmente em www.midiasemmascara.org)

Parece que o impeachment vai se impor porque foi formada uma sólida maioria contra o PT e suas práticas perniciosas, que se estende até o Congresso Nacional. Na semana que entra poderemos ter o desfecho, mais rápido do que muitos imaginariam, com a conclusão do impeachment na Câmara de Deputados, para o devido julgamento do Senado Federal. Se A Câmara de Deputados, por maioria absoluta, decidir pelo impeachment, não caberá a Dilma Rousseff que não a imediata renúncia, a única coisa sensata a fazer, imitando o gesto de Fernando Collor de Mello.
Sintoma dessa sólida maioria é o fato da liderança do PSDB ter declarado apoio ao possível futuro governo Temer. Esse foi talvez o fato político mais importante da semana. Temer conseguiu algo que o PT pagaria em dobro para ter, se preço tivesse tido (bem sabemos que não). O gesto dos tucanos é ainda mais importante porque mostra que parte significativa da nossa elite política está mesmo preocupada com os rumos do país, com a reconstrução necessária depois da saída do PT do poder, com o conserto de tudo que está avariado na Nação.

Reconstrução? Sim, cabe falar essa palavra sinistra, típica de uso em situações de destruição bélica. O que o PT fez nesses quatorze anos equivale ao que faria uma força de ocupação estrangeira. A queda do PIB é apenas um dos sintomas da tragédia, que joga numerosos brasileiros na penúria. Tudo está por ser refeito, a começar pela administração da moeda, da Petrobras, das contas do Estado. Certamente essa será uma tarefa hercúlea, que não se fará sem sofrimentos. A união em torno do saneamento, que chamo aqui de reconstrução, é vital para que o mandato-tampão de Temer sirva para aplainar os caminhos do governante a ser eleito em 2018.

O descalabro administrativo do PT equivaleu a uma praga de gafanhotos em plena época de colheita da lavoura, a safra do Plano Real. Terra arrasada, economia destruída. Agora sabemos que Lula e sua gente instituíram a economia do crime, entrópica em si mesma. Destrutiva em mais alto grau. A compra ignominiosa da refinaria de Pasadena será talvez o emblema mais acabado da lógica mafiosa empregada pelo PT na condução dos negócios do Estado. O simples cessar dessa lógica, com a saída do PT, já produzirá um grande bem para o país. Se tivermos uma administração empenhada na reconstrução aqui mencionada podermos, nós brasileiros, recolocar o Brasil na trilha do progresso.

Considero que o dia seguinte da saída do PT do poder será pacífico e festivo. Os tais movimentos sociais raivosos e ameaçadores que tomam as ruas em defesa de Lula e Dilma e fazem ameaças apocalipticas desaparecerão por um passe de mágica, sejam porque perderão a proteção do Executivo, seja porque ficarão sem os fartos recursos que são jocosamente traduzidos na diária de trinta reais e na distribuição do pão com mortadela que é a marca registrada da “mobilização” desses movimentos. Sem o dinheiro farto da corrupção e do compadrio do PT isso acaba instantaneamente e certamente a disposição de luta também. Essa gente não tem força para quebrar a paz social. E, se tentar, quebrará a cara. Estamos vendo o que a Justiça está fazendo com os chefes mafiosos do PT, o que faria com os soldados rasos comedores de mortadela?

O que vemos é que todos os governos alinhados com o Foro de São Paulo estão sucumbindo vítimas de sua própria incúria, incompetência e má fé. Não será diferente por aqui. A via da cassação no Congresso vai consagrar a democracia brasileira, que poderá conseguir produzir uma troca de poder em termos civilizados, mesmo com todo o esperneio dos petralhas. Falta pouco tempo para que esses fatos históricos sejam registrados. Mal posso esperar para ver.

Quem viver verá.

www.nivaldocordeiro.net
 

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  • Lobão
  • 14 Abril 2016

Caros amigos.

Há uma semana escrevi uma carta aberta a vocês e ,como já poderia prever, não houve nenhum sinal significativo de resposta .

Saliento comovido e contente o meigo e solitário depoimento de Gil ao aceitar as minhas desculpas. Contudo, se Gil se dispusesse a ler o texto com atenção constataria que o cerne da questão gira em torno de um outro intento: uma convocação.

Chico deixou bem claro que sequer se interessara em ler a mensagem quanto mais respondê-la e Caetano adotou uma atitude evasiva eximindo-se de qualquer manifestação a respeito.

Pois bem, apesar desse comportamento um tanto lacônico por parte de vocês três, sou forçado a constatar que a carta causou um forte impacto entre oposicionistas , governistas , populares , isentões e intelectuais dos mais variados sexos, feitios e tamanhos. Reações que variaram entre o rejúbilo, o amor, a compreensão do meu gesto (era essa a minha meta) ,e o repúdio, a indignação e o desprezo( para o meu espanto!) sendo que nessa segunda categoria de reações descontroladamente apaixonadas , expressaram seu veemente protesto , tanto alguns muitos oposicionistas me criticando por ter "amarelado " diante de "artistas vendidos", como governistas explodindo de indignação por acharem o cúmulo dos cúmulos um nada como eu pleitear uma conversa com o Olimpo "da nossa MPB.

A que ponto chegamos, não é verdade? Entretanto, nutrido pelos sinceros sentimentos que me guiam somados a uma necessidade premente de esclarecimentos e mudanças, não somente na mentalidade como também nos desígnios políticos em que se enredou a nossa classe, retorno ao teclado do computador para redigir-vos mais um insistente apelo.
Optarei , como recurso didático e adequado para essa ocasião , adotar a abstrata condição de nada. Portanto, a partir de agora , me apresentarei assim: Muito prazer, meu nome é Nada .

Ser Nada muito me convém para que meus motivos se ergam das névoas da dúvida. Ser o Sub do Mundo é uma condição que muito me convém para ser mais bem sucedido em mostrar a vocês três os absurdos , discrepâncias e cacoetes comportamentais que doravante exporei.

Vou dividir meu carinhoso pito em duas partes: A primeira caberá a Caetano e Gil , a segunda a Chico. Prossigamos.
Querido Gil , você ocupou o cargo de ministro da Cultura durante os oito anos da administração Lula e prossegue , na administração Dilma com forte penetração no ministério , pois o atual ministro Juca Ferreira é homem de sua inteira confiança tendo atuado como seu subordinado no tempo em que você foi o titular da pasta. Não sei se é apenas uma estranha coincidência, mas foi exatamente durante todo esse período que as perversidades e aberrações da Lei Rouanet começaram a pulular em total descontrole. Foi aí inaugurada a era em que artistas consagrados com grande nicho de público e mercado , começaram a pautar seus eventos , shows , projetos , discos e DVD por intermédio de subvenção de incentivos hospedados no bojo dessa lei , transformando o mainstream cultural num antro de parasitas , chapas-brancas e castrados de opiniões confiáveis.

Essa lei proporcionou que a criação artística decrescesse a níveis alarmantes pois os tais editais dos quais se extrai a grana dos medalhões privilegiam as enfadonhas comemorações de aniversários de carreira , reuniões insólitas entre aristas improváveis , homenagens pouco sinceras a astros falecidos , festas sem algum sentido real de se comemorar e outras chicanas lamentáveis para justificar o uso do dinheiro público.

Para piorar a situação , como se isso só não bastasse, esse grupo de parasitas passa a atuar como um grupo de ardentes defensores do governo. É a Era do Artista Chapa-Branca. Uma era a ser esquecida.

Imagine você , Gil, faça um exercício de alteridade e experimente o meu espanto em saber um ministro da Cultura ter um camarote no carnaval de Bahia subvencionado com uma grana possante da lei Rouanet ! Isso , definitivamente não é bonito . E para agravar a situação , é de se prever que artistas periféricos sem a metade de seu talento se estimulem e muito em se lambuzar nesse mesmo estilo sem o menor prurido de consciência , não é mesmo?

Quanto a você , Caetano , pilotando uma outra desastrosa escaramuça temos o Procure Saber capitaneado por sua esposa , arregimentando algumas dezenas de artistas a impor goela abaixo , a toque de caixa , uma lei absurda que estatiza os direitos autorais aprovada com uma celeridade inexplicável extraída dos parlamentares diante daquele decadente espetáculo no Congresso Nacional protagonizado por nada mais nada menos que Roberto Carlos cercado de uma plêiade de artistas circunstantes . Roberto que aceitou ser anexado ao grupo em troca de vossas presenças , Caetano Gil e Chico na defesa a censura das biografias não autorizadas .

Isso também não é bonito.
E o resultado disso? Se vocês ainda não sabem, procurem saber! A lei que estatiza os direitos autorais designando ao ministério da Cultura o controle das entidades de arrecadação, provocou uma decréscimo dramático na arrecadação de mais de 350mil autores, compositores e músicos em todo o Brasil. Sem falar das demissões em massa de funcionários no ECAD e nas Associações de músicos e compositores.
Eu tenho aqui comigo os dados e se vocês tiverem maior interesse, posso mostrá-los com mais detalhes assim que vocês o desejarem.

E é como Nada que me dirijo a vocês, como um anônimo entre esses autores e músicos que tocam nos bares , botequins , churrascarias , quermesses , puteiros e coretos , como par desses artistas que estão apartados de grandes eventos , que não têm acesso a leis de incentivos , que não são residentes de trilhas de novelas de grande emissoras , que não contam com o beneplácito dos editorias de cultura dos jornais...É como um Nada amalgamado àqueles que não fazem parte de cortes de subservientes a posar como um entorno cenográfico de coronéis da canção que profiro um apelo angustiado : Seria plausível vocês reverem suas posições quanto a essa lei de direitos autorais e nos ajudar a revogá-la? Ainda é tempo . O STF está analisando nosso pedido de revisão e o relator é o Ministro Fux . Seria lindo nos aliarmos nesse momento de tamanha gravidade . Seria mais lindo ainda derrubar a Lei Rouanet como vigora e tentarmos direcionar seus benefícios àqueles que realmente dela precisam(Sou o Nada mas , mesmo nessa hipótese continuaria a não me incluir como beneficiário).

Seria muito triste vocês , que tanto fizeram pela música e a cultura brasileiras , se resumissem , se reduzissem já entrados nos seus setenta anos , como ícones de uma era vergonhosa , como defensores de um governo execrável , incompetente, corrupto , criminoso . É disso que estou falando . Ainda há tempo ! Só o perdão liberta ! Posso dizer de coração , uma vez que vim a público vos pedir o meu . O arrependimento lhes concederá uma verdadeira bênção , podem crer.

Chico , te deixei por último , longe de ser o menos , pois hei de fazer aqui uma ressalva em sua defesa por ter sabido através de uma amiga em comum ser você contrário a utilizar pessoalmente da Lei Rouanet e perceber , até onde posso conceber o que é justiça , não ser você responsável por aparentados seus nem mesmo o diretor que fez um filme sobre sua obra , todos estes , maiores de idade , serem beneficiários dos incentivos da dita-cuja. Se isso realmente procede , preciso de dar-lhe meus parabéns "localizados".

Localizados sim , pois gostaria muito de ampliá-los ao resto de sua conduta , no entanto é na clave da tristeza e da angústia o diapasão que domina todo o restante da minha mensagem .

Caro Chico , você já tem 50 anos de vida pública , pelo menos . Com a sua inteligência e talento é de assustar sua impermeabilidade diante da falência absoluta de suas crenças ideológicas . E por isso mesmo , um exemplo vivo do modelo do intelectual brasileiro a viver na infâmia da delinquência intelectual .

Se todos nós concordamos que toda a ditadura é algo injustificável , mais injustificável ainda atacar uma ditadura defendendo outra e é exatamente assim que você agiu no período da ditadura militar e vem assim se jactando imune a dúvidas no transcorrer de todas essas décadas .
Para deixar escancarada a minha angústia , gostaria de invocar um Nelson Rodrigues descendo do céu em que atualmente habita , com seu olhar sampaco , suas bochechas ondulantes , com as mãos apoiadas nos cotovelos a dirigir-lhe entre baforadas de Caporal Amarelinho uma súplica daquelas , rodrigueanas...algo como : Chico Buarque , só o perdão liberta ! Encha de ar vossos pulmões e brade forte e alto como jamais outrora ousara bradar dirigindo-se contrito ao povo brasileiro : Povo brasileiro , me perdoe. Me perdoe por ignorar seu descontentamento , suas desgraças e sua legitimidade em protestar contra esse governo criminoso. Me perdoe por aviltá-lo chamando de golpista toda uma nação genuinamente enfurecida.

Me perdoe povo brasileiro por ser um charlatão em posar contra uma ditadura militar e ser amigo durante todos esses anos de um dos maiores ditadores genocidas da história , Fidel Castro.

Me perdoe , povo brasileiro por defender o indefensável , por interferir com o meu prestígio logrando a confiança que milhões de brasileiros depositaram em meu chamado , por defender uma presidente que beira a demência , por defender um psicopata que anseia se perpetuar no poder através do crime , do suborno e da falcatrua. Me perdoe , povo brasileiro por defender uma organização criminosa como nunca dantes na história da humanidade ocorreu aqui em terras brasileiras e que é dirigida pelo Foro de SP tendo como os irmãos Castro centro de todas as ações criminosas perpetradas em toda América Latina. Me perdoe por ser leniente com narco ditaduras como a Venezuela e a Bolívia , com seus milhares de assassinatos e presos políticos , por esse regime brega , retrógrado , autoritário e cafona que é o bolivarianismo.

Me perdoe , povo brasileiro por ser cúmplice de toda essa ignonímia , e por isso mesmo , carregar minhas mãos respingadas com o sangue desses incontáveis que tombaram sob o jugo de assassinos . Me perdoe , povo brasileiro por ser eu , um mimado por uma corte de intelectuais flácidos ao meu redor me tornando imune a qualquer drama de consciência e insistir em subscrever um ideário comunista que tem sob seu manto a opacidade dos medíocres , cujo o único brilho que emana de seus anseios é o da inveja , da revanche e do ódio . Enfim , povo brasileiro, me perdoe por te trair."

Desincorporando Nelson e retornando a minha condição de Nada , de Sub-do-Mundo quero terminar essa carta ressaltando mais uma vez esse momento terrível que o Brasil está passando , as nossas responsabilidades diante desse momento e de nossa boa vontade independente de quais lados nos posicionemos , esperando que as linhas desse Nada que vos escreve possam fazer alguma diferença (para melhor) nesse impasse a nos envolver. E que elas tenham alguma chance real com a vossa determinante ajuda , em contribuir para um Brasil mais adulto , mais justo e mais unido.

Um forte abraço. LOVE , LOVE , LOVE
Lobão (SP, 3 de abril de 2016)
 

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