• Gilberto Simões Pires
  • 27 Abril 2016

(Publicado originalmente em www.pontocritico.com - 25/04/2016)


PENSAR+
O Pensar+, grupo fundado em 2009, o qual já aludi em editoriais anteriores, tem como propósito informar e/ou esclarecer a opinião pública sobre o -CUSTO- das decisões constantemente tomadas pelos nossos governantes e que tipo de BENEFÍCIOS as mesmas produzem para a sociedade.

ESPÍRITO VOLUNTÁRIO
Munidos com espírito totalmente -voluntário- os PENSADORES que integram o PENSAR+, entre os quais me incluo, se comprometem com a produção de conteúdos que visem esclarecer, a todo momento, até que ponto as medidas governamentais tomadas atacam as CAUSAS dos problemas públicos ou, como acontece na maioria das vezes, apenas se voltam para as CONSEQUÊNCIAS.

SEM RANÇO IDEOLÓGICO
Esta pronta vontade/necessidade de informar e esclarecer, tecnicamente, ou seja, desprovida de ranço ideológico, nasceu através da clara constatação do erro que a maioria do povo brasileiro comete ao atacar -CONSEQUÊNCIAS-, deixando intactas as CAUSAS dos problemas.

ESTUDOS CONFIRMAM TUDO
Portanto, desde 2009 venho publicando estudos produzidos pelo Pensar+ mostrando o quanto as decisões governamentais tem colaborado para o caos econômico-financeiro dos Estados.
Pois, recentemente, para confirmar o quanto os nossos conteúdos estavam corretos, o Ministério da Fazenda divulgou que os gastos com a folha dos 26 Estados e do Distrito Federal registraram alta média de 96,6% entre 2009 e 2015. Detalhe: neste mesmo período (sete anos), a folha de salários da União teve uma alta de 56%.

IRRESPONSABILIDADE FISCAL
Atenção: enquanto a INFLAÇÃO no período (2009/2015) foi de 40%, a folha dos servidores do RJ cresceu 146,62%, ficando em primeiro lugar no quesito IRRESPONSABILIDADE FISCAL. A seguir vem: SC (139,56%), Roraima (127,4%), Tocantins (+126,7%), Piauí (+121,9%), MG ( 112,73%), RS (102,78%) e SP (72,83%). Que tal?

SOLUÇÃO PELA ESTUPIDEZ
Perceberam a clara relação CAUSA/ EFEITO dessas barbaridades cometidas pelos governos Federal e Estaduais? Pois é. Na hora de conceder BENEFÍCIOS os privilegiados fizeram uma grande festa. Depois, como sempre acontece, o CUSTO das intensas e contínuas IRREPONSABILIDADES FISCAIS fica, como sempre, para os PAGADORES DE IMPOSTOS.

ESTADOS QUEBRADOS
Esta é a triste realidade. Enquanto o setor privado precisou dispensar mais de 10 milhões de trabalhadores nos últimos doze meses, o setor público, que nada produz mas se apropria do produto, não dispensou uma viva alma.
Mais: como os aposentados do setor público são beneficiados pela integralidade dos salários, mesmo sem levantar uma palha fizeram jus aos estúpidos aumentos dos salários concedidos pelos governantes irresponsáveis. Resultado: ESTADOS LITERALMENTE QUEBRADOS.

 

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  • Fernanda Barth
  • 26 Abril 2016

(Publicado originalmente em fernandabarth.com.br)
A obra A Democracia na América do francês Alexis de Tocqueville estabelece os principais fundamentos do sistema democrático, aponta as características do povo americano que ajudaram a consolidar o modelo e traça os caminhos possíveis da evolução de uma democracia, com seus prós e contras.

A Democracia na América é uma obra visionária, que antecipa cenários ao alertar sobre a “tirania da maioria” e o “despotismo democrático”, ambos consequências do fim do “homem político”. Cunha o termo socialdemocracia, expõe o lado escravizante do Estado de Bem-Estar Social e antevê a chegada da moderna sociedade de massas, com a formação da opinião pública, a indústria cultural, a espiral do silêncio e o agenda-setting, estando indiretamente presente em todo o debate moderno sobre comunicação de massa e sobre marketing político.

Tocqueville vê na América uma democracia pura, baseada na liberdade e no livre associativismo, sem herança aristocrática, sem legado absolutista e sem revoluções, ao contrário da França pós Terror, onde, para ele, “a virtude pública tornou-se incerta e a moralidade privada, vacilante.” Para ele, as bases para a construção da democracia são a liberdade e a igualdade e o ponto central para sua manutenção são as raízes, os costumes e hábitos de um povo: “os povos guardam sempre as marcas da sua origem. As circunstâncias que acompanham o seu nascimento e serviram ao seu desenvolvimento influem sobre todo o resto da sua existência”.

Neste sentido, percebeu que as características encontradas no povo americano, como o senso de soberania (empoderamento), o amor à pátria (patriotismo), o associativismo, o civismo, o empreendedorismo, o respeito às leis, aos costumes e à religião, o senso de igualdade e o espírito de liberdade, favoreceram a instalação de um regime democrático. No Novo Mundo chegaram homens livres, em busca de uma vida melhor, contando apenas com seu próprio esforço para construir um futuro. Homens que tinham no apreço aos costumes, às leis e à religião (puritanismo) a sua base homogeneizadora, tornando-os iguais em princípios morais e valores. Esta igualdade foi condição indispensável para que a democracia fosse consolidada na nova nação.

O autor descreveu o sentimento de empoderamento existente, onde os americanos participavam na formulação das leis, na escolha dos legisladores, na pressão pelas demandas, como uma verdadeira democracia participativa: “O povo reina sobre o mundo político americano como Deus sobre o universo. É ele a causa e o fim de todas as coisas; tudo sai de seu seio, e tudo se absorve nele”. Para ele, cada americano se sentia parte do Estado e desenvolvia meios alternativos de discussão e participação populares que impediam a constituição de um governo centralizador e autoritário. Na América todo poder emanava do povo, sob o qual as leis e os governantes se subordinavam.

We, the people

A democracia nos Estados precedeu a formação do Estado, existindo já desde as 13 colônias. O Acordo de May-Flower (1620) foi seu documento fundador, um verdadeiro pacto social entre os colonos ingleses, ao estilo de Rousseau. Uma vez criado, o Estado americano passa a ser uma federação que realmente funciona, com cada estado componente sendo como uma pequena nação soberana e onde todos os homens dedicam-se a busca do bem comum, pela sua própria sobrevivência. Para ele um Estado verdadeiramente democrático só é possível com esta participação direta do conjunto dos cidadãos nas decisões do governo e na constante criação de espaços e canais para que isto aconteça.

Tocqueville também percebeu a crença dos pioneiros no poder do indivíduo como alguém capaz de prosperar através do trabalho, de empreender e de conquistar seu bem-estar e segurança (fundamentos do american dream). “Desde seu nascimento, aprende o habitante dos Estados Unidos que precisa apoiar-se sobre si mesmo para lutar contra os males e os embaraços da vida”. Via a autoridade governante com desconfiança e recorria da sua ajuda apenas quando era incapaz de prescindir dela. Percebemos que espírito de livre iniciativa também é a mola propulsora do associativismo, do empreendedorismo e da cooperação social em torno de causas comuns.

A obra também destaca o gosto pelo associativismo dos americanos. A busca de benefícios para a comunidade, de melhorias na infraestrura, de proteção contra inimigos, da organização da produção e do comércio eram parte da vida diária dos emigrantes. O surpreendia o fato de que em uma nação recém constituída, onde ainda não havia passado ou história comuns, o interesse coletivo (espírito público) e o senso cívico fossem tão fortes e se questionava: “como se explica que todos se mostrem interessados pelos negócios de sua comuna, de seu cantão, e do Estado inteiro como se fossem deles próprios?”. (CONTINUA…)

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  • Luiz Felipe Ponde
  • 26 Abril 2016


(Publicado originalmente na Folha de São Paulo, 18/04/2016)

A "batalha do impeachment" é a ponta do iceberg de um problema maior, problema este que transcende em muito o cenário mais imediato da crise política brasileira e que independe do destino do impeachment e de sua personagem tragicômica Dilma.

Mesmo após o teatro do impeachment, a história do Brasil narrada pelo PT continuará a ser escrita e ensinada em sala de aula. Seus filhos e netos continuarão a ser educados por professores que ensinarão esta história. Esta história foi criada pelo PT e pelos grupos que orbitaram ao redor do processo que criou o PT ao longo e após a ditadura. Este processo continuará a existir.

A "inteligência" brasileira é escrava da esquerda e nada disso vai mudar em breve. Quem ousar nesse mundo da "inteligência" romper com a esquerda, perde "networking".

Ao afirmar que a "história não perdoa as violências contra a democracia", José Eduardo Cardozo tem razão num sentido muito preciso.

O sentido verdadeiro da fala dos petistas sobre a história não perdoar os golpes contra a democracia é que quem escreve os livros de história no Brasil, e quem ensina História em sala de aula, e quem discorre sobre política e sociedade em sala de aula, contará a história que o PT está escrevendo.

Se você não acredita no que digo é porque você é mal informado.

O PT e associados são os únicos agentes na construção de uma cultura sobre o Brasil. Só a esquerda tem uma "teoria do Brasil" e uma historiografia.

Esta construção passa por uma sólida rede de pesquisadores (as vezes, mesmo financiada por grandes bancos nacionais), professores universitários, professores e coordenadores de escolas, psicanalistas, funcionários públicos qualificados, agentes culturais, artistas, jornalistas, cineastas, produtores de audiovisual, diretores e atores de teatro, sindicatos, padres, afora, claro, os jovens que no futuro exercerão essas profissões. O domínio cultural absoluto da esquerda no Brasil deverá durar, no mínimo, mais 50 anos.

Erra quem pensa que o PT desaparecerá.

O do Lula, provavelmente, sim, mas o PT como "agenda socialista do Brasil" só cresce. O materialismo dialético marxista, mesmo que aguado e vagabundo, com pitadas de Adorno, Foucault e Bourdieu, continuará formando aqueles que produzem educação, arte e cultura no país.

Basta ver a adesão da camada "letrada" do país ao combate ao impeachment ao longo dos últimos meses.

Ao lado dessa articulada rede de agentes produtores de pensamento e ação política organizada, que caracteriza a esquerda brasileira, inexiste praticamente opção "liberal" (não vou entrar muito no mérito do conceito aqui, nem usar termos malditos como "direita" que deixam a esquerda com água na boca).

Nos últimos meses apareceram movimentos como o Vem Pra Rua e o MBL que parecem mais próximos de uma opção liberal, a favor de um Brasil menos estatal e vitimista.

Ser liberal significa crer mais no mercado (sem ter que achá-lo um "deus") e menos em agentes públicos.

Significa investir mais na autonomia econômica do sujeito e menos na dependência dele para com paternalismos estatais.

Iniciativas como fóruns da liberdade, todas muitos importantes para quem acha o socialismo um atraso, são essencialmente incipientes.

E a elite econômica brasileira é mesquinha quando se trata de financiar o trabalho das ideias. Pensa como "merceeiro", como diria Marx. Quer que a esquerda acabe por um passe de mágica.

O pensamento liberal no Brasil não tem raiz na camada intelectual, artística ou acadêmica. E sem essa raiz, ele será uma coisa de domingo a tarde.

A única saída é se as forças econômicas produtivas que acreditam na opção liberal financiarem jovens dispostos a produzir uma teoria e uma historiografia do Brasil que rompa com a matriz marxista, absolutamente hegemônica entre nós. Institutos liberais devem pagar jovens para que eles dediquem suas vidas a pensar o país. Sem isso, nada feito.

Sem essa ação, não importa quantas Dilmas destruírem o Brasil, pois elas serão produzidas em série.

A nova Dilma está sentada ao lado da sua filha na escolinha

Clique no link abaixo para ler o texto completo:

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2016/04/1761876-a-historia-do-brasil-do-pt.shtml
 

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  • Olavo de Carvalho
  • 25 Abril 2016


(Publicado originalmente no Diário do Comércio, em 8 de junho de 2012)

No artigo anterior, mencionei alguns termos da “língua de pau” que domina hoje o debate público no Brasil, inclusive e sobretudo entre intelectuais que teriam como obrigação primeira analisar a linguagem usual, libertando-a do poder hipnótico dos chavões e restaurando o trânsito normal entre língua, percepção e realidade.

Mas estou longe de pensar que os chavões são inúteis. Para o demagogo e charlatão, eles servem para despertar na platéia, por força do mero automatismo semântico decorrente do uso repetitivo, as emoções e reações desejadas. Para o estudioso, são a pedra-de-toque para distinguir entre o discurso da demagogia e o discurso do conhecimento. Sem essa distinção, qualquer análise científica da sociedade e da política seria impossível.

A linguagem dos chavões caracteriza-se por três traços inconfundíveis:
1) Aposta no efeito emocional imediato das palavras, contornando o exame dos objetos e experiências correspondentes.

2) Procura dar a impressão de que as palavras são um traslado direto da realidade, escamoteando a história de como seus significados presentes se formaram pelo uso repetido, expressão de preferências e escolhas humanas. Confundindo propositadamente palavras e coisas, o agente político dissimula sua própria ação e induz a platéia a crer que decide livremente com base numa visão direta da realidade.

3) Confere a autoridade de verdades absolutas a afirmações que, na melhor das hipóteses, têm uma validade relativa.

Um exemplo é o uso que os nazistas faziam do termo “raça”. É um conceito complexo e ambíguo, onde se misturam elementos de anatomia, de antropologia física, de genética, de etnologia, de geografia humana, de política e até de religião. A eficácia do termo na propaganda dependia precisamente de que esses elementos permanecessem mesclados e indistintos, formando uma síntese confusa capaz de evocar um sentimento de identidade grupal. Eis por que a Gestapo mandou apreender o livro de Eric Voegelin, História da Idéia de Raça (1933), um estudo científico sem qualquer apelo político: para funcionar como símbolo motivador da união nacional, o termo tinha de aparecer como a tradução imediata de uma realidade visível, não como aquilo que realmente era – o produto histórico de uma longa acumulação de pressupostos altamente questionáveis.

Do mesmo modo, o termo “fascismo”, que cientificamente compreendido se aplica com bastante propriedade a muitos governos esquerdistas do Terceiro Mundo (v. A. James Gregor,The Ideology of Fascism, 1969, e Interpretations of Fascism, 1997), é usado pela esquerda como rótulo infamante para denegrir idéias tão estranhas ao fascismo como a liberdade de mercado, o anti-abortismo ou o ódio popular ao Mensalão. Certa vez, num debate, ouvi um ilustre professor da USP exclamar “Liberalismo é fascismo!” Gentilmente pedi que a criatura citasse um exemplo – unzinho só – de governo fascista que não praticasse um rígido controle estatal da economia. Não veio nenhum, é claro. A palavra “fascismo”, na boca do distinto, não era o signo de uma idéia ou coisa: era uma palavra-gatilho, fabricada para despertar reações automáticas.

Deveria ser evidente à primeira vista que os termos usados no debate político e cultural raramente denotam coisas, objetos do mundo exterior, mas sim um amálgama de conjeturas, expectativas e preferências humanas; que, portanto, nenhum deles tem qualquer significado além do feixe de contradições e dificuldades que encerra, através das quais, e só através das quais, chegam a designar algo do mundo real. Você pode saber o que é um gato simplesmente olhando para um gato, mas “democracia”, “liberdade”, “direitos humanos”, “igualdade”, “reacionário”, “preconceito”, “discriminação”, “extremismo” etc. são entidades que só existem na confrontação dialética de idéias, valores e atitudes. Quem quer que use essas palavras dando a impressão de que refletem realidades imediatas, improblemáticas, reconhecíveis à primeira vista, é um demagogo e charlatão. Aquele que assim escreve ou fala não quer despertar em você a consciência de como as coisas se passam, mas apenas uma reação emocional favorável à pessoa dele, ao partido dele, aos interesses dele. É um traficante de entorpecentes posando de intelectual e professor.

A freqüência com que as palavras-gatilho são usadas no debate nacional como símbolos de premissas autoprobantes, valores inquestionáveis e critérios infalíveis do certo e do errado já mostra que o mero conceito da atividade intelectual responsável desapareceu do horizonte mental das nossas “classes falantes”, sendo substituído por sua caricatura publicitária e demagógica.

Como chegamos a esse estado de coisas? Investigá-lo é trabalhoso, mas não substancialmente complicado. É só rastrear o processo da “ocupação de espaços” na mídia, no ensino e nas instituições de cultura, que foi, pelo uso obsessivamente repetitivo de chavões, uniformizando a linguagem dos debates públicos e imantando de valores positivos ou negativos, atraentes ou repulsivos, um certo repertório de palavras que então passaram a ser utilizadas como gatilhos de reações automatizadas, uniformes, completamente predizíveis.

Se você é treinado para ter sempre as mesmas reações diante das mesmas palavras, acaba enxergando somente o que é capaz de dizer, e dificilmente consegue pensar diferente do que os donos do vocabulário o mandaram pensar. Esse foi um dos principais mecanismos pelos quais a festiva “democratização” do Brasil acabou extinguindo, na prática, a possibilidade de qualquer debate substantivo sobre o que quer que seja.
 

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  • Juan Koffler
  • 25 Abril 2016


Até que ponto a deseducação humana tem avançado sobre o todo social, destruindo-lhe seus fundamentos existenciais?

Uma pergunta que não quer calar: à medida em que as tecnologias (em sentido lato) avançam e rompem barreiras inimagináveis, antes pensadas como intransponíveis, a educação se tecnologiza em níveis incríveis e globalizados; a informação torna-se massiva, invadindo todos os rincões das classes sociais; a comunicação expande seus tentáculos e assume velocidade incrível, superando o lapso espaço-tempo; o ser humano passa a ser um frio conjunto de bits e bites; que avanços efetivos e claros houve para a inter-relação social?

Uma mirada superficial já parece ser suficiente para arriscar uma resposta: os conflitos intersubjetivos cresceram exponencialmente; a desagregação familiar foi potencializada; a alienação parental alcançou patamares nunca antes vistos; o ser humano, em suma, perdeu seu Norte, incentivado pela gana insana de querer sempre mais, não importando o custo desse seu desvairado sonho.

Nos contornos da política brasileira, ficaram cada vez mais claros os sintomas que caracterizam uma luta de classes sem quartel. Em apenas treze anos, o Brasil tornou-se um verdadeiro campo de batalha sem quartel, sem normas, sem ordem, sem progresso. Os conflitos bélicos em outros cantos do planeta, cresceram em seus tons ameaçadores. As "guerras santas" pós-modernas, ao som do extremismo islâmico, colocaram em cheque todo o globo. Os discursos politiqueiros inflamaram-se, embora nada de enriquecedor e de pacificador tenham carreado à conturbada sociedade nacional e mundial.

A educação é a base da sociedade
Como compreender o recrudescimento virulento do animus vivendi nacional e mundial, se aquelas tecnologias da informação e da comunicação (TIC), supracitadas, avançaram a passos gigantescos? Simples. Se em tempos de outrora as instituições de educação (lato sensu) já eram escassas, hoje, com sua multiplicação desordenada, geraram um universo educativo difuso e puramente mercantilista no qual o importante passou a ser arrecadar cada vez mais, com o mínimo de esforço empreendedor.

Tergiversaram-se entendimentos (como o da dicotomia clássica feminino x masculino), oficializando-se a opção pelo sexo ao bel-prazer do indivíduo. Algo como "assuma o sexo que lhe pareça melhor ou mais interessante" e, o que é ainda pior, já desde tenra idade. Um ilegítimo crime contra a natureza humana, o qual, quando aplicado a seres ainda em formação (crianças impúberes), podem (e provavelmente irão) confundir o frágil entendimento desses indivíduos.

Em relação à educação familiar, o distanciamento trazido pela pós-modernidade às relações parentais praticamente deixou o ser em formação à deriva, sem qualquer bússola comportamental. Fundou-se, assim, a auto-educação, sem castigos, sem limites, sem orientação, sem responsabilidade. Para tanto, colaborou ativamente a desagregação do núcleo familiar básico, agora transmutado em brilhantes telas de TV, de jogos eletrônicos, de artefatos portáteis de inter-comunicação.

A educação (informal-familiar e formal), em suma, foi despejada sobre a responsabilidade do próprio indivíduo, cru e nu ainda, para que se auto-moldasse ao sabor da sorte (ou do azar). E é este indivíduo que ingressará a uma universidade e à sociedade como mais um profissional, suportado por uma formação nada condizente com os níveis de competitividade crescentes; que poderá ser o professor do futuro; que assumirá um cargo político e os destinos de uma nação. Um estranho e bizarro paradoxo social.

Sem educação é uma característica semelhante à de um edifício cuja estrutura de concreto foi mal calculada, frágil e pouco ou nada duradoura. Assim é também o ser humano pós-moderno.

 

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  • Luiz Carlos Da Cunha
  • 24 Abril 2016


“Percamos o Império, mas salvemos o livro único, Shakespeare”. Carlyle

Há quatrocentos anos morria o maior dramaturgo da língua inglesa. Singularmente no mesmo dia em que nasceu em Stratford-on-Avon. Ainda jovem ligou-se a grupos teatrais, populares na época em que não havia cinema o teatro era presença indefectível em todo lugarejo. Principiou sua carreira de escritor criando peças cômicas. Quando descobriu as tragédias gregas de Sófocles, Eurípedes traduzidas ao latim, seu interesse literário derivou para o épico e histórico. A partir desta descoberta sua imaginação e criatividade dramática disparam num suceder de peças imortais que abordam todos os sentimentos humanos; esmiúçam o ódio, o amor, a calúnia, o ciúme, o cinismo, a angustia, a ambição, o poder, a honra. Todas estas idiossincrasias já perfilavam o teatro dramático grego. Shakespeare não plagiou, ele inspirou-se naquelas tragédias adaptando-as a língua falada inglesa, quando o latim predominava como idioma vernáculo; Thomas Bacon, homem de ciência escrevia em latim o idioma universal sob o primado da Igreja Católica e erudito da aristocracia européia, com ênfase na realeza britânica, cujos personagens históricos permeados por outros ficcionais de textura psicológica foram imortalizados pelo seu gênio, consagraram-se encarnações do ódio e do amor extremados ao paroxismo da loucura humana se derramam nas peças rei Lear, MacBeth, Ricardo III, Henrique VIII. No teatro burilou a língua inglesa onde as palavras soam na musicalidade apropriada ao momento e a precisão da idéia. Shakespeare navega no Renascimento literário tal como Dante firma o idioma italiano padrão literário, Cervantes nas figuras de Don Quijote e Sancho Pança espelham a “alma da civilização ocidental”, no dizer de Santiago Dantas, alicerça o classicismo da língua espanhola. São três artífices do idioma nacional, divisores do antes e depois de cada um na evolução da literatura de suas nações. Camões o equivalente em nossa língua infelizmente foi se esvanecendo como um luminar distante restrito a Portugal. Não se sustentou na altitude consagradora e perene dos seus iguais europeus, como merece. Entre os brasileiros permanece tão desconhecido de nossos estudantes universitários como os hieróglifos de Tutancâmon. Certamente o conhecimento do latim proporcionou a Shakespeare as traduções gregas dos clássicos dramaturgos Sófocles, Eurípedes e Aristófanes ensinaram-lhe a técnica teatral de hipnotizar o espectador ao ver representadas nas cenas fictícias suas próprias inquietações psicológicas, os paradoxos emocionais da espécie humana que permanecem insolúveis pro tempore. Em Romeu e Julieta ou O mouro de Veneza Shakespeare se inserem na atmosfera social da Itália e se apóiam em histórias venezianas vertidas ao inglês. Daí a reprodução perfeita do cenário social e urbano e familiar veneziano da época onde se desenrolam a tragédia e as comédias.

Os personagens shakespearianos conflitam no palco os sentimentos dramáticos da condição humana, expostos na rudeza e paroxismo das paixões. Hamlet – o príncipe da Dinamarca encarna a vingança. Othelo - o rei enlouquecido pelos ciúmes sutilmente instilado à sorrelfa pelo êmulo vira homicida da mulher amada. Brutus – o político padrão e espelho da moral republicana - mata o imperador Cesar que anelava ser rei. Romeu e Julieta – os amantes apaixonados que se desenlaçam no suicídio para vencer suas famílias rancorosas e inconciliáveis. A morte igualmente sentida pelos inimigos é o preço do arrependimento.

O bardo escreveu, estima-se, mais de cem peças teatrais. Setenta chegaram impressas até ao conhecimento documental do presente.

Carl Sagan, o cosmólogo, lamentava tenham se perdido outras maravilhas no tempo. A propósito da referência ao cientista, devo apontar com admiração e gáudio a recorrência de personalidades científicas anglo - saxônicas aos pensamentos de Shakespeare. Recordo de Stephen Hawking, Richard Dawkings, James Watson (Nobel de medicina de 1954) ou Bertrand Russel abrindo suas teses com epígrafes do bardo inglês. Citarei algumas: As horas silenciosas se aproximam (Ricardo III); Não se coloque entre o ladrão e sua presa (Rei Lear); Quando os três nos encontraremos de novo? (MacBeth); O que foi que viste no sombrio passado no abismo do tempo? Ser ou não ser? Eis a questão; Há mais mistérios entre o céu e a terra do que imagina nossa vã filosofia; Há algo de podre no reino da Dinamarca (Hamlet) Glorias vãs deste mundo, pompas fúteis. Tenho-vos ódio. (Henrique VIII); Posso viver numa casca de noz e me sentir o rei do universo. (Epígrafe de Breve historia do tempo, de Hawking).

Explica-se a familiaridade dos cientistas ingleses pela obra shakespeariana pela presença da literatura nos currículos universitários. Trata-se de condição inarredável a todo acadêmico saído de Oxford falar e escrever com elegância e clareza a língua materna, exigência normal na formação científica. Não há conflito entre literatura e ciência. Escolho dentre tantas peças de sua lavra, no fito de homenageá-lo aos 400 anos de sua morte, a tragédia histórica Júlio Cesar. O tema político que nela é o cerne, guarda a perenidade dos dramas políticos de todos os tempos. Podemos encontrar aqui e ali nas falas dos personagens conflituosos a semelhança com os confrontos e contradições e desmazelos hodiernos. A verossimilhança não é proposital; as ilações derivam de cada juízo particular no viés tendencioso de cada qual. Conhecer Shakespeare e sua arte pode contribuir para entender a política coeva, aos estudiosos das relações humanas, um instrumento elucidativo das paixões humanas desatadas no jogo pelo poder. Emocionante captar o ritmo crescente da oratória subversiva em Júlio César- o imperador temido e respeitável - que a ambição desmedida e a volúpia em vestir a coroa real, desafiam os brios republicanos. Para a máxima audácia, a máxima pena: Lex romanorum.

Seu filho adotivo Brutus, requestado pelos optimates senatoriais, assume a liderança da revolta. O dramaturgo faz deste o personagem principal, o epicentro do drama, esculpido no conflito moral e psicológico imortalizado na figura moral do político republicano. A subordinação do interesse individual ao imperativo da lei legitimada pelo Estado, e o Estado legitimado pela lei, e limitado em seu poder na igualdade de direitos cívicos. César ameaçou o estado de direito quando ambicionou a realeza. A justiça não era um poder independente; ao senado cumpria resolver o conflito entre o executivo amparado na força das Legiões e a corporação legislativa. Porém, quem desafiar Cesar sem o respaldo das Legiões, dos generais e senadores, está fadado ao cutelo. Assim funcionava a justiça governamental do Império Romano. Para cortar a ambição de Cesar impunha-se antecede-lo na ação. Na execução do plano letal de justiciamento, Bruto lidera o cortejo funéreo com aparência de séquito de honra, seguindo Cesar no anfiteatro do Senado. De chofre o atacam. Em golpes sucessivos de espadas e punhais, um a um os confidentes sangram o desavisado imperador. O grande César, imperador do mundo demora seu último olhar na face do último agressor: Até tu Bruto? Na história da humanidade a luta pelo poder adulcora os crimes por justificativas morais. Abro aqui um parêntese enfático: Eça Queiroz pode surpreender os apaixonados pela Marselhesa quando escreveu sobre a Revolução Francesa; “Eram sanguinários, mas exerciam a crueldade sob a ilusão do bem universal”.

Ao final de Júlio César Bruto, o honrado Bruto dirige-se ao povo justificando o crime. Agiu em defesa da república. A multidão se solidariza com o honrado Bruto. Morra Cesar! Seguiu-lhe o discurso do amigo de Cesar, Marco Antônio. É o momento da oração apoteótica, o elogio de Cesar, o discurso emocionante do talento político capaz de torcer a crença popular adversa na direção oposta da crença popular. Inverte-a seu favor. É a arte da eloqüência. A mesma claque que há pouco aplaudia Bruto, se volta contra ele em fúria repentina.

Em 1954 na crise provocada pelo suicídio de Vargas, seu adversário Carlos Lacerda, escritor primoroso, traduziu a peça política de Shakespeare com a eloqüência oratória de que era exímio portador. Transcrevo frases pinçadas mais sugestivas.

Bruto - Se houver aqui um amigo de César perguntar por que Bruto se levantou contra ele, eis minha resposta: Não foi por amar menos César, mas por amar mais a Roma. Lágrimas para sua amizade, alegria para sua fortuna, honra para seu valor e morte por sua ambição.

Marco Antônio (trechos selecionados) – Vim para fazer o enterro de César, não para elogiá-lo. O mal sobrevive aos homens que o fazem, mas o bem fica enterrado com seus ossos. O nobre Bruto vos contou que César era ambicioso. Se ele foi, grave falta era a sua. Gravemente ele a espiou. Até ontem a palavra de César podia resistir o mundo inteiro. Hoje ei-lo aí, sem que ante seu cadáver se curve o mais humilde. Vede este manto? O furo deixado pela adaga de Cássio; Vede o furo deixado pela adaga de Cássio; contemplai o estrago feito pelo invejoso Cássio. Através deste furo apunhalou-o Bruto. Foi o golpe mais ingrato. De todos, foi o golpe mais ingrato, pois quando a Bruto viu o nobre César, a ingratidão mais forte que o braço dos traidores.

Este discurso inverteu num relance a crença popular. De solidariedade a Bruto virou a dvinização de Cesar. Assim redirecionando a história. Cesar morto vence Bruto.

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Sonetos
Impossível esquecer neste sumário sumaríssimo o significado dos sonetos na obra literária do poeta. Deixou uma centena lapidada em brilhantes versos. A motivação é teimosamente a senectude e a superação da velhice pela herança filial. Não há em qualquer deles apelo a Deus. O soneto é a expressão poética definida por dois quartetos e dois tercetos; nos primeiros apresentam-se parâmetros da idéia central; o último terceto revela o fecho de ouro. É o sublime. Todos os versos são rimados e obedecem a métrica definida. Obedecidas estas condições definidoras que desafiam o talento dos grandes poetas. Shakespeare consagrou nos sonetos a mais excelsa melodia da palavra. Escolhi dois traduzidos pelo escritor e poeta brasileiro Ivo Barroso. Certo estou de que não pode haver melhor homenagem aos quatrocentos anos da morte de Shakespeare, vinda do Brasil e da língua portuguesa que esta versão portuguesa de seus sonetos:

1 - Dos seres ímpares ansiamos a prole / Para que a flor do belo não se extinga, / E se a rosa madura o tempo colhe / Fresco botão sua memória vinga. / Mas tu, que só com os olhos teus centrais / Nutres o ardor com as próprias energias / Causando fome onde a abundância jaz / Cruel rival, que o próprio ser crucias. / Tu, que és do mundo hoje o galardão / Arauto da festiva Natureza / Matas teu prazer inda em botão / E sovina, esperdiças na avareza / Piedade, senão ide, tu e o fundo / Do chão, comer o que é devido ao mundo.

2 – Quando o assédio dos quarenta invernos / Se cavarem as linhas de teu rosto / Da juventude os teus galões supernos / Pobres andrajos se tiverem posto /Se então te perguntarem pelo fausto / De teus dias de glória e de beleza / Dizer que tudo jaz no olhar exausto, / Opróbrio fora, encômio sem grandeza. /

Mais mérito terias nessa usança / Se pudesses dizer: “Meu filho há de / Saldar-me a dívida, exculpar-me a idade” / Provando que a beleza é tua herança. / Fora tornar em novo as coisas velhas / E ver o sangue quente enquanto engelhas.

X x x

PS. Eu não abandonei o trema; não obedeço a picaretagem de acadêmicos subsidiados. Quem pode acompanhar com os versos do original inglês, valorizará o talento do tradutor.
 

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