O capitalismo nasce da acumulação de capitais, sobretudo dos valores mobiliários. As grandes fortunas constituem excedentes de riqueza, isto é, capitais que podem ser aplicados em atividades lucrativas. A atual sociedade capitalista caracteriza-se por três formas de capitalismo: comercial, financeiro e industrial.
O capitalismo já existia na Antigüidade – Oriente, Grécia e Roma – porém em forma incipiente. No mundo antigo, a riqueza estava representada, sobretudo, pela propriedade imobiliária (terras, casas), os instrumentos de produção, as mercadorias e os escravos. A riqueza se achava em mãos de duas classes: nobres e sacerdotes. Não existia uma grande indústria: a economia era doméstica.
No Império Romano, as classes ricas moravam nas suas propriedades rurais, que – com a escravatura – desempenhavam o papel preponderante nesta economia natural. Havia manifestações capitalistas (sociedades financeiras, bancos, cambistas de moedas), mas em pequeno grau. A vida urbana tinha pouca importância; e são as cidades, justamente, as que vão permitir, mais tarde, o desenvolvimento do grande capitalismo.
Durante a Idade Média, a riqueza esteve em poder dos senhores feudais (grande nobreza e alto clero). A igreja se opunha ao empréstimo com juros, ao comércio do dinheiro, à especulação sobre câmbio e títulos de valores. (Estes pontos de vista serão alterados pelo individualismo econômico do século XVI e pela Reforma, sobretudo de Calvino).
Segundo Werner Sombart, a acumulação dos capitais começou a ser realizada, freqüentemente, por pessoas que arrecadavam os impostos, as taxas eclesiásticas e as rendas dos grandes proprietários. Mas a organização capitalista, na Idade Média, é ainda esporádica e embrionária. Durante séculos, sobretudo desde a época de Carlos Magno, a economia é quase unicamente rural; as cidades não passam de refúgios e fortalezas, e as corporações impedem a existência do capitalismo industrial, no sentido moderno. Por outra parte, o comércio medieval – afirma Sombart – tem lucros pequenos.
As Cruzadas e as diversas guerras (dos Cem Anos, das Duas Rosas) arruinaram grande número de senhores feudais, o que facilitou a emancipação dos servos. Muitos destes passaram a viver em “burgos”, onde se dedicaram à pequena indústria e contribuíram para a formação da burguesia.
A expansão do comércio internacional – sobretudo desde o século XIII, após as Cruzadas – deu início à formação do Capitalismo Comercial. O capitalismo comercial surgiu principalmente na Itália (Gênova, Pisa, Veneza) e nos Países Baixos. O comércio marítimo com o Oriente permitiu às repúblicas italianas a acumulação de grandes capitais. Por sua vez, os Países Baixos constituíram o principal empório entre o Oriente e o Norte da Europa.
Prosperaram, então, as famosas feiras internacionais (onde apareceu a ”letra de feira” e, mais tarde, a “letra de câmbio”). As feiras acabaram sendo substituídas pelas “Bolsas”, onde os novos valores mobiliários (os “papéis”) adquiriram a supremacia econômica.
Este novo capitalismo, os descobrimentos marítimos de portugueses e espanhóis (afluxo de mercadorias e de metais preciosos), os progressos do crédito público, o câmbio (indispensável, por causa da diversidade de moedas), o desenvolvimento dos bancos – provocaram o aparecimento do Capitalismo Financeiro.
Intensificaram-se, então, as especulações financeiras: empréstimos a juros, prática do câmbio, compra de bens prediais, hipotecas lucrativas. Os comerciantes e capitalistas eram, sobretudo, burgueses. Foram eles que financiaram as viagens dos descobrimentos, conquistas e colonizações. Surgiu, assim, o poderio econômico da burguesia, o qual foi emparelhado com a da nobreza (aristocracia rural) e tornou-se dominante após a Revolução Francesa.
* Economista
www.ricardobergamini.com.br
"A primeira lição da economia é a escassez: nunca há o bastante de algo para satisfazer todos aqueles que o querem. A primeira lição da política é ignorar a primeira lição da economia." (Thomas Sowell)
A notícia não é recente, mas não valeu nem a pena se apressar para ser mais um a dizer "eu falei". Falo da saída de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda – algo que estava mais claro do que cristal que iria acontecer cedo ou tarde.
Levy aceitou a oferta após nomes como Luiz Carlos Trabuco e Henrique Meirelles terem rejeitado a mesma. Na época das negociações, o que se noticiou foi que Trabuco e Meirelles não chegaram a um acordo com o governo por não concordar como o ajuste fiscal seria feito. Ambos entendiam que o ajuste deveria ser feito reduzindo gastos, e não aumentando receitas (impostos) como o PT queria. Levy por outro lado, tentou ser pragmático, e aceitou a oferta para fazer um ajuste fiscal aos moldes petistas, pois segundo Levy, era melhor um ajuste fiscal torto do que nenhum ajuste. Grande erro.
Levy deveria ter percebido que Dilma não queria ajuste nenhum; ela só queria um nome que o mercado gostasse, achando que bastava colocar um economista ortodoxo sentado na cadeira de Ministro da Fazenda para que a crise fosse resolvida. Essa é a visão de Dilma sobre o mercado - ela acha que o mercado é uma invenção do capitalismo burguês e que basta uma ação política para que ele se acalme. Ora, se vontade política fosse suficiente para resolver os problemas de um país não existiria mais pobreza no mundo.
Dilma não entende que o mercado vive de especulações, e que especulação é algo normal de qualquer ser humano. Especulamos se iremos nos casar, se iremos comprar uma casa, se iremos aceitar um emprego, etc. Os investidores fazem o mesmo – especulam se um país tem suas contas ajustadas para que eles possam investir.
Mas Levy não percebeu essa mentalidade de Dilma, e com isso ele foi duplamente ingênuo. Primeiro, por achar que o brasileiro que já está sufocado por altos impostos iria aceitar com passividade um ajuste que previa aumento de impostos. Segundo, por não perceber que o PT, a esquerda e os "economistas" como Belluzzo, iriam jogar nas costas do economista "neoliberal" a culpa da crise, culpando o "ajuste". (Haja aspas!) No final, esses canalhas conseguiram exatamente o que queriam - acharam os bodes expiatórios de sempre: o neoliberalismo, e o grande vilão de todos – o mercado financeiro.
Com os bodes expiatórios criados, Dilma e o PT acharam as justificativas perfeitas para voltarem a fazer o populismo desenvolvimentista que eles tanto gostam. E para colocar em prática a mesma receita que nos levou para o buraco, eles convocaram um autêntico desenvolvimentista que já estava no governo - o agora ex Ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. Mas isso não é tudo. Antes de assumir a pasta do Planejamento, Barbosa foi secretário executivo do Ministério da Fazenda de 2011 a 2013 quando Guido Mantega estava no comando da Fazenda promovendo todas as bizarrices que vimos no primeiro governo Dilma. Ou seja, Barbosa estava lá; concorda com tudo que foi feito. Sendo assim, alguém acha que com ele teremos algum ajuste? Alguém acha que com ele teremos algo diferente?
Então, meu caros, aqui não estamos falando de possibilidades, estamos falando de fatos concretos. Voltaremos a mesma política econômica expansionista que nos levou a ruína. Dilma e sua trupe desenvolvimentista não estão satisfeitos; querem dobrar a aposta; querem curar a ressaca se embebedando mais. Infelizmente, quem acordará com dor de cabeça seremos nós. E será uma longa dor de cabeça. Que Deus nos proteja, pois rezar e pedir misericórdia é só o que nos resta.
*Economista MBA, PMP
(Publicado originalmente na tribunadainternet.com.br)
Autor do voto que foi seguido pela maioria dos integrantes do Supremo Tribunal Federal, o ministro Luís Roberto Barroso enfim deu entrevista (somente ao Valor Econômico), para se defender das acusações que políticos e a mídia têm feito de sua postura no julgamento das liminares sobre o rito do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, o entendimento da corte 'não mudou uma linha sequer' do processo contra o ex-presidente Fernando Collor de Melo.
"Nós seguimos de ponta a ponta o rito do caso Collor. De modo que a reação de que o Supremo interveio é simplesmente não factual. O voto do relator originário [o ministro Edson Fachin] é que mudava muito o que foi feito no impeachment de Collor. Seguimos o caso Collor da primeira à ultima linha, sem nenhum desvio. Agora o país está dividido, as paixões estão mais exacerbadas e com mais razão nós temos que seguir a jurisprudência e os ritos que já foram adotados, sem mudar nada. É o que nos liberta", afirmou Barroso ao Valor Econômico.
CHAPA AVULSA E VOTO SECRETO
O ministro tentou explicar por que o Supremo derrubou a comissão especial criada na Câmara para analisar o impeachment, a partir de chapa avulsa prevista no Regimento. Disse ele:
"O regimento da Câmara é expresso. Juridicamente funciona assim: o artigo 58, parágrafo 1º da Constituição diz que as comissões permanentes e temporárias serão constituídas na forma do regimento interno. E vem o regimento interno e prevê, de modo expresso, no artigo 33, parágrafo primeiro, que as comissões temporárias são compostas por membros indicados pelos líderes. Textual. A Constituição de 88 diz que é o regimento interno que cuida; o regimento interno diz que são os líderes que indicam".
"O voto para eleição da comissão especial tem que ser aberto, como foi no caso Collor, e indicação dos líderes [para integrar a comissão especial], como foi no caso Collor. Então nós seguimos de ponta a ponta o rito do caso Collor. De modo que a reação de que o Supremo interveio é simplesmente não factual. O voto do relator originário [o ministro do STF Edson Fachin] é que mudava muito o que foi feito no impeachment de Collor", acrescentou Barroso.
ENTENDA AS MENTIRAS DE BARROSO
Para se defender, o ministro Luís Roberto Barroso arranjou uma entrevista tipo vôlei, em que o jornalista apenas levanta a bola para o entrevistado cortar, sem fazer a ele as perguntas mais pertinentes e embaraçosas.
O fato é que Barroso, no julgamento, mentiu nas argumentações de seu voto, conduzindo a erro outros ministros, e agora continua faltando com a verdade ao tentar se defender. Na questão da Comissão Especial, por exemplo, ele adota a tese de que o regimento da Câmara tem de ser obedecido, como determina a Constituição, e por isso os membros da Comissão teriam de ser indicados pelos líderes dos partidos.
Ou seja, citou o Regimento pela metade, esquecido de que, na Câmara, em nome da democracia, não há eleição de chapa única, nem mesmo para escolher o presidente da Casa. Ao contrário, o Regimento determina que pode haver chapa avulsa em qualquer eleição, o que inclui a Comissão Especial do Impeachment. Mas Barroso esqueceu esta parte do Regimento, assim como também esqueceu que a chapa avulsa foi formada pelos líderes dos blocos partidários, que têm mais representatividade do que os líderes dos partidos.
VOTO SECRETO
Neste caso da chapa avulsa, a manipulação do raciocínio de Barroso foi até amena, ao citar apenas as partes do Regimento que lhe interessavam. Mas no caso do voto secreto, por exemplo, ele teve de pegar pesado. Não existe justificativa para seu voto, porque o Regimento determina que toda eleição seja por voto secreto, justamente para evitar pressões indevidas do Executivo, como está ocorrendo agora.
E o que fez Barroso na entrevista-vôlei? Simplesmente, abordou o importante assunto "en passant", dizendo apenas: "O voto para eleição da comissão especial tem que ser aberto, como foi no caso Collor, e indicação dos líderes [para integrar a comissão especial], como foi no caso Collor", disse Barroso, acrescentando: "O voto do relator originário é que mudava muito o que foi feito no impeachment de Collor", insistiu Barroso em culpar Fachin.
Como se vê, para defender seu voto abjeto, Barroso não tem dúvida em criticar o ministro Edson Fachin, que simplesmente votou na forma da lei e não tentou mudar nada no Regimento da Câmara.
E acontece que Barroso mentiu de novo, porque a eleição da Comissão Especial que cassou Collor não foi pelo voto aberto. Na ocasião, não houve interesse em formar chapa avulsa, o voto foi por aclamação. Quer dizer, Barroso falseou a verdade, mais uma vez.
REPÓRTER DISTRAÍDO
Na entrevista-vôlei, o repórter do Valor esqueceu de perguntar por que Barroso omitiu no julgamento a expressão "e nas demais eleições", mudando todo o sentido do Regimento da Câmara. Não perguntou também por que Barroso, que tanto diz conhecer o Regimento da Câmara, não se importou de se equivocar no julgamento ao afirmar, peremptoriamente: - "Considero, portanto, que o voto secreto foi instituído por uma deliberação unipessoal e discricionária do presidente da Câmara no meio do jogo".
Aliás, foi esta frase vigorosa que convenceu outros ministros a acompanharem o ardiloso voto de Barroso, levando o Supremo a cometer um brutal erro judiciário, numa causa importantíssima que o ilustre ministro considera apenas um "jogo".
*Jornalista
Mais do que pesquisar leis econômicas, ou realizar a prosperidade nacional (mercantilismo, fisiocracia, economia clássico-liberal, etc), o socialismo visa promover a justiça e a paz sociais. As doutrinas socialistas se opõem ao liberalismo, ao individualismo, ao capitalismo e à exploração do homem pelo homem.
Antecedentes Históricos. Utopias literárias
O coletivismo espartano, baseado nas chamadas leis de Licurgo (século IX a. C), tinha características de regime comunista. Platão (século IV a. C), no seu diálogo “A República”, idealiza uma sociedade, cuja divisão do povo em classes se baseia, não no nascimento ou na riqueza, mas na capacidade intelectual de cada indivíduo. Nesse Estado ideal, que Platão julga a melhor forma de governo, há três categorias de homens: os filósofos (que governam), os guerreiros (que protegem o Estado) e os trabalhadores (que trabalham, como escravos, para manter as outras duas classes). Entre os filósofos e guerreiros não haveria propriedade privada: tudo seria usado em comum.
Sir Thomas More, na “Utopia” (1516), imaginou uma sociedade ideal, num regime de comunhão de bens. E combateu a propriedade privada, como causa primordial da maldade humana.
Na “Cidade do Sol” (1623), o filósofo italiano Tommaso Campanella advogou a teocracia e preconizou uma sociedade comunista. Na “Nova Atlântida” (1624-1629), de Francis Bacon, a ciência é o instrumento da felicidade universal. Para o norte-americano James Harrington, autor de “Oceana” (1656), a propriedade – sobretudo da terra – é a base do poder político. Ele defende a idéia de que um mesmo homem somente deve permanecer por pouco tempo na chefia do executivo. A obra (mais um tratado do que um romance) exerceu profunda influência no pensamento político norte-americano. Também houve utopias de essência cristã: “Christianopolis”, de J.V. Andreae, e “Nova Solyma” de S. Golt (1648).
Dois séculos mais tarde, o francês Etienne Cabet descreve um país comunista ideal na “Viagem à Icária” (1848). O austríaco Theodor Hertzka, inspirado em idéias socialistas, escreve duas novelas utópicas (1890 e 1893) sobre comunas ideais na região central da África. Poucos anos depois, H.G. Wells publica a sua “Utopia Moderna” (1905).
Socialismo Utópico
O primeiro tipo de socialismo que se propôs curar os males do mundo foi o utópico. O socialismo utópico (também denominado “espiritualista” ou “romântico”) propugnava a fundação de comunidades-modelo, baseadas em sistemas coletivos. Herdeiro do Iluminismo, o socialismo achava que a reforma econômica da sociedade melhoraria os homens.
Entre os socialistas utópicos destacaram-se Saint-Simon, Fourier e Owen. Embora diferentes em muitos aspectos, suas idéias convergiam no associacionismo liberal e no desejo de emancipar, não somente o proletariado, mas toda a humanidade. Julgavam irracional e injusta a economia capitalista do mercado, baseada na concorrência e idealizavam substituí-la pelo reinado da razão e da justiça eternas.
Em decorrência da Revolução Industrial – e da conseqüente proletarização das massas operárias – houve, além de manifestações teóricas, uma série de experimentos sociais, de cunho prático.
Coletivismo e Cooperativismo
Robert Owen (1771-1858), natural de Gales, foi figura destacada na filantropia, no sindicalismo, no cooperativismo e nos experimentos de socialismo utópico. Fabricante de tecidos criou em New Lanark (Escócia) uma empresa e uma comunidade modelares. Nessa época, nas fábricas de algodão o período de trabalho era de 15 horas diárias; e trabalhavam até meninos de seis anos. Owen elevou a idade mínima para dez anos; e reduziu as horas diárias de trabalho a onze.
Owen propugnava a organização da sociedade em comunidades cooperativistas, com salários proporcionais às horas de trabalho. A fim de tentar a realização do seu ideal socialista, criou sete comunas cooperativistas. As mais famosas foram a de Orbiston (Escócia) e a de New Harmony (Indiana, Estados Unidos). Todas fracassaram em pouco tempo e Owen perdeu, nesses experimentos, 80% de sua fortuna.
* O autor é economista e integra o grupo Pensar+
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(Publicado originalmente em Diário do Comércio, 19 de abril de 2012)
Vocês conhecem alguém que tenha sido alfabetizado pelo método Paulo Freire? Alguma dessas raras criaturas, se é que existem, chegou a demonstrar competência em qualquer área de atividade técnica, científica, artística ou humanística? Nem precisam responder. Todo mundo já sabe que, pelo critério de “pelos frutos os conhecereis”, o célebre Paulo Freire é um ilustre desconhecido.
As técnicas que ele inventou foram aplicadas no Brasil, no Chile, na Guiné-Bissau, em Porto Rico e outros lugares. Não produziram nenhuma redução das taxas de analfabetismo em parte alguma.
Produziram, no entanto, um florescimento espetacular de louvores em todos os partidos e movimentos comunistas do mundo. O homem foi celebrado como gênio, santo e profeta.
Isso foi no começo. A passagem das décadas trouxe, a despeito de todos os amortecedores publicitários, corporativos e partidários, o choque de realidade. Eis algumas das conclusões a que chegaram, por experiência, os colaboradores e admiradores do sr. Freire:
“Não há originalidade no que ele diz, é a mesma conversa de sempre. Sua alternativa à perspectiva global é retórica bolorenta. Ele é um teórico político e ideológico, não um educador.” (John Egerton, “Searching for Freire”, Saturday Review of Education, Abril de 1973.)
“Ele deixa questões básicas sem resposta. Não poderia a ‘conscientização’ ser um outro modo de anestesiar e manipular as massas? Que novos controles sociais, fora os simples verbalismos, serão usados para implementar sua política social? Como Freire concilia a sua ideologia humanista e libertadora com a conclusão lógica da sua pedagogia, a violência da mudança revolucionária?” (David M. Fetterman, “Review of The Politics of Education”, American Anthropologist, Março 1986.)
“[No livro de Freire] não chegamos nem perto dos tais oprimidos. Quem são eles? A definição de Freire parece ser ‘qualquer um que não seja um opressor’. Vagueza, redundâncias, tautologias, repetições sem fim provocam o tédio, não a ação.” (Rozanne Knudson, Resenha da Pedagogy of the Oppressed; Library Journal, Abril, 1971.)
“A ‘conscientização’ é um projeto de indivíduos de classe alta dirigido à população de classe baixa. Somada a essa arrogância vem a irritação recorrente com ‘aquelas pessoas’ que teimosamente recusam a salvação tão benevolentemente oferecida: ‘Como podem ser tão cegas?’” (Peter L. Berger, Pyramids of Sacrifice, Basic Books, 1974.)
“Alguns vêem a ‘conscientização’ quase como uma nova religião e Paulo Freire como o seu sumo sacerdote. Outros a vêem como puro vazio e Paulo Freire como o principal saco de vento.” (David Millwood, “Conscientization and What It's All About”, New Internationalist, Junho de 1974.)
“A Pedagogia do Oprimido não ajuda a entender nem as revoluções nem a educação em geral.” (Wayne J. Urban, “Comments on Paulo Freire”, comunicação apresentada à American Educational Studies Associationem Chicago, 23 de Fevereiro de 1972.)
“Sua aparente inabilidade de dar um passo atrás e deixar o estudante vivenciar a intuição crítica nos seus próprios termos reduziu Freire ao papel de um guru ideológico flutuando acima da prática.” (Rolland G. Paulston, “Ways of Seeing Education and Social Change in Latin America”, Latin American Research Review. Vol. 27, No. 3, 1992.)
“Algumas pessoas que trabalharam com Freire estão começando a compreender que os métodos dele tornam possível ser crítico a respeito de tudo, menos desses métodos mesmos.” (Bruce O. Boston, “Paulo Freire”, em Stanley Grabowski, ed., Paulo Freire, Syracuse University Publications in Continuing Education, 1972.)
Outros julgamentos do mesmo teor encontram-se na página de John Ohliger, um dos muitos devotos desiludidos (http://www.bmartin.cc/dissent/documents/Facundo/Ohliger1.html#I).
Não há ali uma única crítica assinada por direitista ou por pessoa alheia às práticas de Freire. Só julgamentos de quem concedeu anos de vida a seguir os ensinamentos da criatura, e viu com seus própios olhos que a pedagogia do oprimido não passava, no fim das contas, de uma opressão da pedagogia.
Não digo isso para criticar a nomeação póstuma desse personagem como “Patrono da Educação Nacional”. Ao contrário: aprovo e aplaudo calorosamente a medida. Ninguém melhor que Paulo Freire pode representar o espírito da educação petista, que deu aos nossos estudantes os últimos lugares nos testes internacionais, tirou nossas universidades da lista das melhores do mundo e reduziu para um tiquinho de nada o número de citações de trabalhos acadêmicos brasileiros em revistas científicas internacionais. Quem poderia ser contra uma decisão tão coerente com as tradições pedagógicas do partido que nos governa? Sugiro até que a cerimônia de homenagem seja presidida pelo ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, aquele que escrevia “cabeçário” em vez de “cabeçalho”, e tenha como mestre de cerimônias o principal teórico do Partido dos Trabalhadores, dr. Emir Sader, que escreve “Getúlio” com LH. A não ser que prefiram chamar logo, para alguma dessas funções, a própria presidenta Dilma Roussef, aquela que não conseguia lembrar o título do livro que tanto a havia impressionado na semana anterior, ou o ex-presidente Lula, que não lia livros porque lhe davam dor de cabeça.
O DR. FRANKENSTEIN BRASILEIRO
Econ. Pedro H.M. de Azevedo
"Ninguém gasta o dinheiro dos outros com tanto cuidado como gasta o seu próprio. Se quisermos eficiência e eficácia, se quisermos que o conhecimento seja bem usado, isso precisa ser feito por meio da iniciativa privada." (Milton Friedman)
Em um país recheado de cadeiras cativas, onde importa mais quem você conhece do que o que você conhece, é sempre bom desconstruir algumas figuras que são tidas como intocáveis. É o caso do economista Luiz Gonzaga Belluzzo.
Apesar de não ser formado em Economia, Belluzzo iniciou sua carreira na área ingressando no curso de pós-graduação em Desenvolvimento Econômico na Unicamp. O nome desse curso é bem sugestivo, pois mostra qual é a linha de raciocínio que a Unicamp utiliza para formar seus economistas. Em termos bem resumidos, os desenvolvimentistas pregam que o Estado deve realizar massivos investimentos públicos para que o país possa se desenvolver socialmente. Para eles, o Estado deve continuamente aumentar os seus gastos ofertando créditos subsidiados para grandes empresas nacionais via bancos públicos, além de criar empresas estatais com papel "estratégico". Essas empresas escolhidas, que muitos chamam que campeãs nacionais, seriam responsáveis pelo progresso do país.
Na teoria tudo é lindo, mas há um problema: não existe no mundo nenhum caso de sucesso. O desenvolvimentismo da Unicamp nada mais é do que uma cópia (mal feita) da teoria elaborada pelo economista John Keynes. Todos os países que fizeram essa aposta – mesmo que mal interpretando Keynes em alguns pontos - tiveram um ótimo início fantasioso, mas acabaram enfrentando uma alta inflação e uma recessão profunda em um médio e longo prazo. Para mostrar os desastres dessa ideologia não precisamos buscar experiências estrangeiras, o Brasil pode nos servir de exemplo.
Os governos militares, principalmente os de Médici e Geisel, que tinham Delfim Netto e Mario Henrique Simonsen como Ministros da Fazenda respectivamente, seguiram essa linha desenvolvimentista. No começo, tivemos o milagre econômico, e na década seguinte a década perdida. Uma pessoa sensata questionaria essa ideologia desenvolvimentista nesse momento. Mas quem disse que pessoas como Belluzzo são sensatas?
Já na década de 1980, tivemos diversos planos elaborados por grupos de economistas para tentar salvar o Brasil da recessão. Nessa época, no governo Sarney, mesmo não sendo o Ministro da Fazenda, Belluzzo estava lá propondo as mesmas ideias desenvolvimentistas para salvar o país da crise. Não deu certo novamente. Mas é aí que começa a história do nosso personagem.
No final da década de 1980, já nas eleições presidenciais de 1989, um grupo de economistas chegou a um consenso que a solução para o Brasil conter a hiperinflação era o confisco. É isso mesmo que você leu. Aquele confisco que Fernando Collor implementou, seria feito se Lula ou Mário Covas fossem eleitos. Aquilo não tinha sido uma ideia isolada da distorcida cabeça de Zelia Cardoso de Melo. E quem estava nesse grupo de economistas? Belluzo! E lá se foi mais uma tentativa desenvolvimentista que não deu certo. Na época, Roberto Campos, um dos poucos economistas liberais da época, soltou a seguinte frase: "Ou o Brasil acaba com os economistas da Unicamp, ou eles acabam com o Brasil". Dito e feito - eles acabaram com o Brasil.
Precisou de toda essa lambança desenvolvimentista durante quase 20 anos para que na década de 1990 um grupo de economistas da PUC idealizasse o Plano Real, finalmente abandonando as ideias dos malucos da Unicamp. O resultado foi que tivemos a moeda mais longa da nossa história. O Plano Real deveria ter colocado um fim nos desenvolvimentistas. Deveria, mas aí veio o PT.
Dilma e Mantega - também discípulos do desenvolvimentismo da Unicamp -, trouxeram de volta as mesmas receitas desenvolvimentistas já no segundo mandato do governo Lula. Quando Dilma assumiu, ela adicionou a cereja do bolo. Como seu consultor pessoal, adivinhem quem a estocadora de ventos chamou. Quem? Quem? Belluzzo, de novo! Não é impressionante? O Dr Frankenstein que participou das piores experiências econômicas que o Brasil já teve resolveu tentar a mesma receita que nos levou a ruína. E o resultado...Bem, o resultado eu não preciso nem explicitar, pois todos nós estamos vendo – inflação alta, recessão profunda, dólar disparado, déficit público exorbitante, NOVAMENTE.
Com todos esses erros grotescos, Beluzzo deveria estar trancado dentro de casa (ou seria um manicômio?) com vergonha de sair. Mas o que acontece é o contrário. Belluzzo, e outros inflacionistas que quebraram o Brasil, como Delfim Netto e Bresser-Pereira, gozam de um alto prestígio na mídia. Recentemente, Belluzo deu uma entrevista ao Valor Econômico acusando que a crise atual foi devido ao ajuste fiscal inexistente! Ou seja, a culpa não foi dos gastos desenfreados que ele e Dilma propuseram, foi do ajuste fiscal fictício. É uma piada! E cabe ressaltar que nem vou me dar o trabalho de relatar a experiência desenvolvimentista que Belluzzo fez com o meu querido Palmeiras, pois já deu para perceber qual foi o resultado. Quebrou o Palmeiras também.
Sendo assim, a imprensa precisa ter mais coerência a quem ela dá ouvidos, pois uma pessoa como Belluzzo presta um desserviço ao país. Já vi pessoas da imprensa "especializada" falando que o PT fez o que Armínio Fraga – que seria Ministro da Fazenda de Aécio – faria se Aécio fosse eleito. Nada mais falso! O ajuste fiscal proposto por Armínio era diametralmente oposto ao que Joaquim Levy e o PT fizeram. Armínio propunha um ajuste pelo lado da despesa, ou seja, cortando gastos. Já Levy e o PT, querem fazer o ajuste pelo lado da receita, ou seja, aumentando impostos e até reinventando o nefasto CPMF.
Então meus caros, já que imprensa dita especializada não faz, eu farei. Toda vez que virem uma entrevista de pessoas como Belluzzo, Delfim Netto, Bresser-Pereira, Maria da Conceição Tavares, enfim, todos aqueles que propõem aumento de gastos públicos como solução para o nosso país, lembrem-se: vocês estão diante de verdadeiros charlatões. O que precisamos é de menos Estado e mais mercado. Quando ouvirem um economista falando isso, aí sim, podem ficar tranquilos. Esses são verdadeiros economistas.
Pedro Henrique Mancini de Azevedo é economista, MBA, PMP.