O TRIUNFO DO SHOWBIZ SOBRE O ARGUMENTO


A respeito de um artigo de Rodrigo Constantino, com esse título

Está evidente que os debates eleitorais entre os candidatos presidenciais norte-americanos viraram espetáculos em que a retórica supera a solidez dos argumentos e fundamentos das propostas de cada um para o futuro do país. Em artigo com o título acima, que pode ser lido aqui, Rodrigo Constantino analisa a questão. Penso que os parágrafos a seguir sintetizam a compreensão que ele expressa no referido texto. Ele começa citando Douglas Murray, articulista do The Spectator.


“Se há uma causa central, é o triunfo do entretenimento sobre a política. Uma antiga tentação americana, nesta temporada ela finalmente ganhou por completo. Em parte porque cada um estava se divertido tanto que não conseguiu perceber que a nação estava perdendo.”


Como negar que seja divertido atacar os adversários políticos nas redes sociais? Como negar que seja hilário ver Trump detonando Hillary com tiradas ácidas? E se acadêmicos respeitados como Dinesh D’Souza não conseguem evitar as baixarias em seus debates, como cobrar isso das pessoas comuns, dos leigos, daqueles que simplesmente trocaram o futebol pela política como foco de diversão?


Luz, câmera e ação! O show começa, e o show sempre precisa continuar. Mas tratar a política como se fosse um espetáculo da Brodway é perigoso, e pode representar a morte definitiva da política como uma atividade nobre. Sei que ela não é tão nobre assim como gostaríamos. Sei que há jogo sujo, demagogia, populismo, desde tempos imemoriais. Mas isso não quer dizer que o que já era ruim não possa piorar. Murray diz:

“Embora os meios de comunicação americanos finjam que abominam a política agora em exposição, eles são sua progenitora. Em uma competição por telespectadores e leitores, eles passaram anos transformando o debate político em disputas acirradas por audiência. Fortunas foram feitas ao longo do caminho. Mas eles transformaram os Estados Unidos em um país onde a política se tornou showbusiness para pessoas desagradáveis.”

 

COMENTO
São corretas essas observações e apontam com justo discernimento um grave problema que pode afetar a qualidade da democracia e, com isso, a qualidade do futuro de um país. No Brasil não chegamos a esse ponto porque o número de candidatos torna indispensável engessar os tempos e as regras dos debates. Em compensação, esses eventos se incluem entre os mais chatos programas da TV brasileira.


Sinto necessidade, porém, de acrescentar uma observação. Os debates aqui mencionados - os norte-americanos e os brasileiros - são típicos do presidencialismo, um sistema que personaliza a política, um sistema em que fulanos e beltranos deixam de ser quem são para se apresentarem à sociedade como encarnação das maiores virtudes políticas. Em sociedades de massa, escolher governantes em espetáculos televisivos é inominável imprudência.


Num sistema parlamentarista, contudo, sendo o governante eleito pela maioria parlamentar, será o debate entre os agentes políticos dos partidos, em suas próprias bases, numa infinidade de eventos, em todas as circunscrições eleitorais, que definirá as maiorias e minorias ao longo das sucessivas legislaturas e governos.
 

  • 15 Outubro 2016

 

CÂMARA DOS DEPUTADOS VAI AMPLIAR SUA ÁREA CONSTRUÍDA!


Matéria da revista Época informa que a área a ser ampliada, a área do Anexo 4, é a que abriga o maior número de gabinetes de deputados. O projeto de ampliação, diz, "foi revisto após a saída do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. Ele pretendia construir um novo prédio – que ganhou o apelido de 'Parlashopping', por prever lojas – por meio de uma Parceria Público-Privada". E completa a informação com uma frase própria de quem não tem a menor ideia a respeito do que está afirmando: "O dinheiro para a expansão do Anexo 4 será da própria Câmara dos Deputados".


Não, senhor redator do texto, a Câmara dos Deputados não tem dinheiro seu. Ela não imprime moeda, não cria renda, não emite títulos. Ela usa recursos gerados pela sociedade em atividades produtivas e dela tomados através de um número assustador de meios tributários.


Quando um órgão público aproveita esse dinheiro para ampliar área construída, está sinalizando aumento do contingente funcional porque prédio público não fica vazio, entregue a almas penadas. A folha de pagamento necessitará de mais páginas e as "almas" depenadas serão mais depenadas ainda.


A Câmara dos Deputados, se insistir nessa obra, estará na contramão da PEC 241. E se contrapondo ao fortíssimo apoio que está recebendo a PEC 106, que reduz o número de deputados federais de 513 para 386 e o de senadores de 3 para 2 por Estado. Apoie essa iniciativa votando aqui.

  • 14 Outubro 2016

Essas coisas precisam acabar! 

CELSO RUSSOMANO É RETIRADO DE AVIÃO APÓS RECUSAR-SE À REVISTA DE BAGAGEM DE MÃO

(Texto do Diario do Poder, imagem Diário do Brasil)

 

O candidato derrotado a prefeito de São Paulo, deputado Celso Russumanno (PRB), protagonizou vexame nesta terça-feira (11), no aeroporto JK, de Brasília. Ele se recusou a submeter sua bagagem de mão ao raio-x, alegando ser um parlamentar, e embarcou no voo 6628, da Gol.


A carteirada não funcionou como esperado pelo parlamentar e a discussão prosseguiu com os ânimos cada vez mais exaltados até que dois policiais foram acionados para retirá-lo do avião e continuar a conversa em local mais reservado.

 

A confusão trouxe consequências para todos os passageiros, obrigados a esperar por mais de 40 minutos até que o deputado fosse submetido à vistoria e retornasse ao seu assento.

 

Russomano não é o primeiro deputado a se considerar acima das regras internacionais de segurança de voo, em 2012, o deputado Paulo Maluf também protagonizou caso parecido, mas, apesar de resistir, acabou obrigado a render-se à revista.

 

A Câmara dos Deputados confirmou que deputados federais “não têm qualquer tipo prerrogativa” que impeça a revista. "São cidadãos como qualquer outro", explicou a assessoria.

  • 12 Outubro 2016

 

G1 E A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA MUNICIPAL


Percival Puggina

 

 Neste domingo 9 de outubro, com dados do TSE, o G1 publica matéria focada em informações contidas no gráfico acima. Como costuma acontecer com a leitura jornalística de gráficos, o texto realiza a incrível proeza de transformar em palavras o que até analfabetos leem na imagem.


Em resumo, a jornalista conclui que a população branca é a única cuja representação parlamentar nas câmaras municipais excede a própria participação no conjunto da população. Uma segunda imagem informa que dos candidatos em cada etnia elegeram-se 15,2% dos amarelos, 14,2% dos brancos, 11,7% dos pardos, 10,4% dos indígenas e 7% dos negros. Jornalismo investigativo é isso aí, pessoal.


Num surto de paciência mergulhei fundo nesses números e não consegui descobrir o que têm a ver com seja lá o que for, exceto com alguma tolice aboletada na cabeça da redatora, envolvendo o suposto binômio "cor da pele e democracia". No entanto, parlamentares são representantes de correntes de opinião, de ideias políticas, de valores e princípios. E, no viés oposto, não devem ser representantes de etnias, igrejas, interesses sexuais, atividades econômicas, etc.. Há um bom e transparente motivo para que tais representações sejam de fato evitadas (e em hipótese alguma estimuladas, pessoal do G1). Se a representação política for estabelecida sobre tais bases, teremos como produtos o fim da política, a falência do bem comum e a instalação dos conflitos entre essas tacanhas delegações.


Em todo caso vai aí minha sugestão. Proponho um retorno mais profundo à matéria, verificando a representatividade parlamentar dos idosos e dos adolescentes, dos diferentes níveis de formação escolar, dos extratos de renda, dos habitantes do meio rural e urbano, do setor público e do privado, do carecas e dos cabeludos.

 

  • 09 Outubro 2016

 

TIRAR O BRASIL DO VERMELHO

Percival Puggina


 Em matéria de opinião, publicada na edição de ZH desta sexta-feira, um deputado federal petista expressa indignação com o governo da União ante a publicidade que anuncia "Vamos tirar o Brasil do vermelho para voltar a crescer". A inconformidade do parlamentar é diretamente proporcional à qualidade do marca concebida pela comunicação do governo.


Diferentemente do que ele afirma, a peça não tem um duplo sentido exato. Sair do vermelho ou tirar do vermelho são expressões que, inequivocamente, significam equilibrar as contas, seja na economia doméstica, seja na empresarial, seja na esfera pública. E é por não ser exato o duplo sentido, como se verá a seguir, que a interpretação petista se volta contra o próprio partido.


Numa primeira hipótese, se os petistas leram a frase e entenderam que ela tem copa de chapéu, aba de chapéu e fita de chapéu, talvez seja porque o adereço se encaixa nas principais cabeças de um partido que sempre, na oposição e no governo, agiu como antagonista da responsabilidade fiscal que Temer passa a buscar com absoluta determinação. A frase expressa o principal objetivo anunciado pelo novo governo para os próximos dois anos: cadeado na porta da tesouraria, que de tão arrombada e saqueada está a exigir tranca de ferro.


Na segunda hipótese, a dubiedade que o PT aponta na frase, implica identificar "vermelho" com PT. Certo? Ao menos esse é o rumo tomado pelo deputado que se alvoroçou a condenar a peça publicitária. Ao sentir-se atingido pela frase, o PT está entendendo que "Vamos tirar o Brasil do vermelho" significa "Vamos tirar o Brasil do PT". Ora, se Vermelho=PT, o partido do deputado seria uma espécie de proprietário, feudatário, usuário ou posseiro do Brasil. Então, se os petistas sentem assim, a nação deve saltar na frente e afirmar - "Nem pensar, senhores!". Nesse caso, é a reação petista que dá duplo sentido exato e necessário à frase do governo.


O Brasil não tem dono. O que se percebe com a reação petista à frase em questão é efeito da crise de credibilidade do partido, que levou boa parte das campanhas municipais petistas a tirarem o vermelho do PT. Parece que essa crise, medida com larga escala na eleição do último domingo, não reduziu a confusão, nada republicana, em que o partido e seus coadjuvantes se enredaram com a República e seus pertences.
 

  • 07 Outubro 2016

Em uma declaração de guerra ao atraso a que todos deveriam aderir


DORIA PROJETA ARRECADAR R$ 7 BILHÕES COM VENDA DE INTERLAGOS E ANHEMBI

 

Segundo registra o Estadão de ontem, o prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), informou que a venda do complexo de Interlagos e do Anhembi devem render R$ 7 bilhões ao município.

 

"Estima-se que o Parque Anhembi e o Parque Interlagos possam render cerca de R $ 7 bilhões. Esse valor pode ser maior ou menor dependendo das circunstâncias. É um valor substantivo, cujo os recursos serão prioritariamente investidos em saúde e educação". Aduziu o futuro prefeito que não há estimativa de valor para a concessão do Estádio do Pacaembu.


Qu8m vencer aq licitação do Anhembi será obrigado a ceder o sambódromo à Prefeitura por ocasião do Carnaval.

 

COMENTO
Doria Jr. venceu a eleição para prefeito do principal município do Brasil com um discurso francamente liberal e a favor do capitalismo. Nada melhor poderia acontecer a São Paulo após quatro anos de compromisso com o atraso. As duas primeiras providências que anunciou são uma reafirmação disso. São duas privatizações, uma por venda e outra por concessão para exploração.

 

Não há motivo para que esses equipamento sejam públicos. Aos paulistanos, é preferível desfrutarem desses equipamentos podendo utilizar os recursos da privatização em outras finalidades. Um dos equívocos que inibe desestatizações é a crença de que ao vender algo o Estado "deixa de ter". Na verdade, o Estado apenas "deixa de ter como seu" porque o equipamento e o serviço continuam disponíveis enquanto o poder público com o produto da operação, dispõe de recursos para outros fins socialmente mais importantes.


Reconhecer que o Estado gera despesa e o capitalismo gera investimento, emprego e renda é condição indispensável para desamarrar a economia brasileira. Espero que a experiência paulistana sirva de exemplo ao país.
 

  • 05 Outubro 2016