• Fernando Fabbrini
  • 17 Julho 2020

 

Na faixa dos 60 anos, meu amigo pertence à geração do grupo de risco, mas não parece. Boa-pinta e com saúde de sobra, participa de maratonas, escala cachoeiras, voa de parapente, essas doideiras. Divorciado, filhos criados, permite-se uma vida social animada em companhia de colegas do mesmo perfil atlético. Frequentando barzinhos, festas e clubes, mantém seus relacionamentos – sempre presenciais – em dia. No seu currículo de idoso tão moderno, registra-se apenas uma falha anacrônica: tem pavor de informática, computadores, celulares, aplicativos e congêneres eletrônicos.

Aí veio a pandemia e meu amigo, privado dos convívios humanos essenciais à saúde, entrou na fossa. A máscara o sufocava em três sentidos: no respiratório, no circulatório e no falatório, já que adorava bater pernas e conversar com a turma. Em abril, preso em casa, me ligou, disposto a se render finalmente às redes sociais – território onde jamais tinha se aventurado – para tentar mitigar a solidão.

- Como é esses troços de Facebook, Instagram? – perguntou, desanimado.

Expliquei que esse troço de Facebook já andava decadente, sobrou para os coroas como nós. Os jovens preferem o Instagram. Contei que, no meu caso, comecei a usar o Facebook para replicar minhas crônicas e acabei ganhando uma porção de leitores e novos amigos.

- Amigos, amigos, mesmo? – ironizou.

- São pessoas como nós, talvez meio sozinhas ou com tempo livre. Trocamos comentários, mostramos fotos da família, compartilhamos piadas... E assim vamos levando a pandemia. Quem sabe você até não arruma umas paqueras?

Relutante, ele criou um perfil, vi algumas postagens. Parecia que a coisa andava bem. De repente, sumiu. Ontem ligou-me de novo.

- Cheio de amigos via internet? – provoquei-o.

- Que nada. Uma chatice, isso sim.
- ??
- Ué, fiz tudo direitinho, escolhi uma foto minha mais jovem, na praia. Depois percebi que todo mundo põe foto mais jovem no perfil; não se pode confiar nas aparências. E surgiu muita bobagem, piadinhas idiotas, testes ridículos como “com qual pedra preciosa você se parece” ...

- Nem arrumou uma paquera?

- Tem até umas moças bonitas, mas só ficam fazendo pose, segurando o celular na frente do espelho, exibindo roupas e decotes, tipo “olhem como sou linda” ...

- Puxou conversa?

- Xi! Você pergunta um negócio e elas só respondem daí a uma semana. Outras, no primeiro papo, já escarafuncham se a gente é casado, solteiro, disponível. Sem falar nos assédios e merchandisings das profissionais, tá cheio.

Eu o compreendo. O “novo normal” permanece repleto das anormalidades de sempre. Como na vida real, a virtual é palco para algumas personalidades meio espaçosas, vaidosas, superficiais. Mas há também nas redes uma turma ótima e divertida, pena que meu amigo não teve sorte. Entretanto, uma coisa valeu na sua breve experiência:

- Pouco antes de largar o Facebook, conheci uma mulher muito interessante. Inteligente, gosta de cinema, de livros, de vinho. Fazia natação lá no meu clube e nunca tinha reparado nela, acredita? Já fizemos até umas “lives”; um sorriso lindo! Depois descobrimos que somos vizinhos; mora no prédio aqui ao lado! O melhor de tudo: me cumprimenta todo dia pela janela!

O futuro – caso seja tão chato como alertam os pessimistas - continuará intragável para quem não se contenta com a fantasia colorida de telas digitais. Já vou avisando: nós, anormais, adeptos dos cinco sentidos, do calor humano, das emoções sinceras e do contato à flor da pele, resistiremos.


*    Publicado originalmente em O Tempo de Belo Horizonte

**   https://www.otempo.com.br/opiniao/fernando-fabbrini/o-novo-anormal

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 16 Julho 2020

 

COMPLIENCE
A partir do momento que o mundo todo tomou conhecimento dos inúmeros atos de CORRUPÇÃO que assolou o nosso empobrecido Brasil, com grandes empresas envolvidas, boa parte delas, notadamente companhias de capital aberto, inclusive estatais, tratou, imediatamente de adotar o -COMPLIENCE-.

 

CONDUTA
Para quem não sabe, a palavra COMPLIENCE, ou -CONFORMIDADE- tem relação com a conduta da empresa e sua adequação às normas dos órgãos de regulamentação, com o propósito de corrigir e prevenir desvios que possam trazer conflitos judiciais para o negócio, sendo comumente atrelado à luta anticorrupção.


ESG
Mais recentemente, notadamente após o terrível acidente de Brumadinho, inúmeros players do COMÉRCIO MUNDIAL, passaram a dar atenção e/ou preferência, além do COMPLIENCE, às empresas comprometidas com o ESG - ENVIROMENTAL, SOCIAL AND GOVERNANCE -, ou, com as MELHORES PRÁTICAS AMBIENTAIS, SOCIAIS E DE GOVERNANÇA.


IMPOSSÍVEL DESMATAMENTO ZERO
Nesta semana, como se sabe, voltou a ganhar força, mais uma vez, o velho problema do DESMATAMENTO E DAS QUEIMADAS DA AMAZÔNIA, onde grandes empresas e investidores internacionais informam que para continuar comprando/investindo no Brasil exigem um -IMPOSSÍVEL- DESMATAMENTO ZERO.

PRESSÃO
Pois, em meio à pressão de investidores para que o Brasil ajuste a política ambiental com base no ESG, vários ex-ministros, como, por exemplo, Pedro Malan, Fernando Henrique Cardoso, Henrique Meirelles, Joaquim Levy e Zélia Cardoso de Mello, Rubens Ricupero, etc., e ex-presidentes do BC, como Armínio Fraga, Gustavo Loyola, Pérsio Arida e Ilan Goldfajn, assinaram um texto com os seguintes dizeres:
"Superar a crise exige convergirmos em torno de uma agenda que nos possibilite retomar as atividades econômicas, endereçar os problemas sociais e, simultaneamente, construir uma economia mais resiliente ao lidar com os riscos climáticos e suas implicações para o Brasil".


NADA FIZERAM
Ainda que não tenha nada de surpresa, o fato é que todos os que colocaram suas assinaturas na nota nada fizeram para DIMINUIR O DESMATAMENTO NO BRASIL. Ao contrário, durante os períodos que estiveram à frente de seus respectivos ministérios, tanto o DESMATAMENTO quanto as QUEIMADAS correram solto no ambiente da Amazônia. Pode?

*Publicado originalmente em pontocritico.com, no dia 15 de julho de 2020
 

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 14 Julho 2020

 


Li comentário de um Sr., referente à artigo em que critico às decisões autoritárias de governantes, e o isolamento social drástico com fechamento da economia gaúcha imposto por eles, inferindo minha insensibilidade frente mais de 70 mil mortes.

Assim quero, mais uma vez, esclarecer minha visão sobre os fatos.


Esse Sr. chama-me de bolsonarista, e acusa-me de exagerado e “sonhador” em relação a minha preocupação com a perda de liberdades individuais.

Vou repetir: especificamente em relação ao RS, não tenho dúvidas de que as iniciativas implementadas pelo governador e pelo prefeito de POA em relação ao combate ao vírus, foram totalmente exageradas!

Não acredito na ciência sem evidências comprovadas; não acredito em previsões histéricas baseadas em análises estatísticas que partem de premissas equivocadas, e reitero que o isolamento social drástico, com a paralisação da economia, causará maiores males do que benefícios a SAÚDE INTEGRAL (física/econômica/social) da população gaúcha.

Os modelos epidemiológicos elaborados por médicos e cientistas, por si só, já apresentam algum tipo de viés de confirmação. (Honestamente, se fosse médico, creio que isoladamente cairia nesse mesmo "risco", pois a formação e a missão do médico é salvar vidas com base na saúde física!).

Mas os modelos empregados por eles assumem que todas as pessoas têm chances iguais de se infectar, além de desconsiderarem circunstâncias idiossincráticas de cada contexto econômico e social. Há, por exemplo, amplas evidências de que jovens dificilmente contraem a doença na mesma proporção e gravidade de idosos acima dos 60 anos, portadores de outras comorbidades.

Quando tais modelos (com dados incorretos e/ou mal calculados) são utilizados por políticos para atuar em meio a situações de crise, não hesito em afirmar que muitas vezes são utilizados de forma populista e eleitoreira.
Aqui no RS e em POA, ninguém vai me fazer não enxergar aquilo que transparentemente enxergo e repudio. A pretexto da saúde, esses jovens governantes estão exercendo suas amplas liberdades de capar nossas vitais e inegociáveis liberdades individuais.

Não consigo ver lógica e inteligência, por exemplo, em observar grandes supermercados superlotados operarem, enquanto se proibi que pequenos mercados possam trabalhar, a fim de garantir o sustento desse pequeno empresário e seus familiares. Nada mais ESSENCIAL para esses micro, pequenos e médios empreendedores que o trabalho que provê o pão de cada dia!

Se alguém conseguir explicar o "racional" dessa decisão, poderia repensar... impossível!

E tem gente que aprova atos ditatoriais e desproporcionais desses jovens burocratas, focados em mandar prender indivíduos que desejam - porque precisam comer! - simplesmente exercerem seus direitos de poderem trabalhar!

A grande verdade é que governantes tomam decisões sem atentar para as consequências não intencionais de tais deliberações. O planejador central não quer atentar para a total imprevisibilidade da distintiva ação humana! Mas eles, demagogicamente, insistem...

Não, caro Sr., não sou insensível, mas procuro recorrer a razão e a lógica do real conceito de vida, e de suas inseparáveis dimensões saúde e economia, não aos puros instintos, a fim de não me deixar abalar pelo viés da disponibilidade, julgando os perigos e os riscos da Covid-19, com base nas histórias sensacionalistas da mídia interessada. A realidade da vida econômica se impõe de forma inequívoca!

Não, meu caro Sr., não sou insensível. Pelo contrário, considero-me um humanista "racional”, pois penso que os governantes deveriam elaborar políticas e decidirem por aquelas que factualmente trazem as melhores consequências para todo o tecido social de uma determinada comunidade. Sim, consequências são resultados mais benéficos para toda a sociedade no presente e no futuro.

Embora o número de mortes da Covid-19 impressione o Sr., a mim causa pânico ver na capa de um "jornal" do RS, de 13/07/2020, que a economia do RS perde 123 mil empregos formais em três meses de pandemia!!

Aterroriza-me que empresas de todos os portes estejam fechando e quebrando, destruindo cadeias de suprimentos e indústrias, e solapando vidas e sobrevivência de vidas econômicas humanas de indivíduos e de grupos familiares.
Milhares de doentes de câncer deixaram de adotar tratamentos precoces; outras doenças respiratórias e enfermidades infantis não foram examinadas... Futuras mortes certas...

Muitas cirurgias foram adiadas, e o aumento das taxas de abuso de drogas, álcool e violência familiar são evidentes e claros. O acréscimo do número de suicídios é ainda espantoso.

Caro Sr., o que me pasma DE VERDADE, é a escassez de apreensão da realidade da vida e, portanto, da constatação de que as respostas dos governantes gaúchos a crise do coronavírus são ridículas, autoritárias e desproporcionais, com nocivas consequências para gerações de gaúchos e gaúchas.

Seria mesmo eu um insensível?!
   

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  • Prof. Ubiratan Jorge Iorio
  • 13 Julho 2020



Tempos estranhos como o que estamos vivendo servem muitas vezes como avisos, qual luzes vermelhas a nos alertarem para alguns ensinamentos úteis que, em épocas normais, não notaríamos, ou, então, que só perceberíamos aos poucos e depois de muito tempo. Uma dessas informações é que essa pandemia está fazendo o autoritário solitário e reprimido, que existe lá no fundo do peito de muitas pessoas, sair do armário e se exibir como um malabarista de semáforo, com a diferença de que os objetos repetidamente lançados para cima e aparados não são bolas ou quaisquer outros objetos sem vida, mas nós, cidadãos assustados e acuados diante de uma estrovenga desconhecida e assustadora vinda da China.

Assim, sentimentos dos mais primitivos e secretos, vindos dos recônditos de algumas almas, costumam aflorar nessas ocasiões em políticos, economistas, especialistas e em todo o tipo de gente, de síndicos de prédios até jornalistas, de porteiros até vigilantes, em uma primavera de despotismo em que florescem robustas e floridas ordens, comandos, controles, proibições, obrigações e tudo o mais que possa agredir nossas liberdades individuais.

Como deve ser delicioso para essa gente mandar fechar o comércio, obrigar todos a usarem máscaras, multar quem se atrever a sair nas ruas, retirar surfistas do mar, prender senhoras que passeiam na areia e muitos outros comandos bizarros, extravagantes e que restringem a nossa liberdade em nome da “ciência” e do “bem comum”! (O leitor haverá de entender as aspas).

A propósito do papel do Estado e desse movimento de saída do armário dos mandões antes enrustidos, vale lembrar a introdução de Ludwig Von Mises ao terceiro capítulo de As seis lições, que trata do intervencionismo:

“Diz uma frase famosa, muito citada: ‘O melhor governo é o que menos governa’. Esta não me parece uma caracterização adequada
das funções de um bom governo. Compete a ele fazer todas as coisas para as quais ele é necessário e para as quais foi instituído. Tem
o dever de proteger as pessoas dentro do país contra as investidas violentas e fraudulentas de bandidos, bem como de defender o país
contra inimigos externos. São estas as funções do governo num sistema livre, no sistema da economia de mercado”.

Vejam bem, Mises admitia certas funções do governo em sociedades de pessoas livres. Hayek, por sua vez, não poucas vezes, ao criticar o keynesianismo, usava a expressão políticas de desespero para classificar as recomendações intervencionistas dos seguidores de Keynes, mas sempre fazia questão de alertar para o perigo de que essas medidas se perpetuassem, como se esse desespero fosse permanente. Essa - exatamente essa – é a grande aflição que os liberais estão sentindo nos últimos meses.

Em tempos “fora da curva”, como guerras, pestes e pandemias, nenhum liberal que tenha os pés no chão deixa de reconhecer a necessidade de alguma ação do aparato estatal. O problema é que, com base inequívoca na evidência, mesmo quem não sabe quem foram Mises, Hayek ou qualquer outro economista liberal sabe que o Estado, quando mete o bedelho em qualquer coisa, por meio de políticas e controles, dificilmente se retira, mesmo quando não há mais qualquer justificativa para alegação de desespero.

Pandemias servem para alimentar o poder dos tiranos e déspotas que são obrigados a ficarem escondidos em tempos normais. Isso é fatal, porque o poder não é mais do que a manifestação política do processo de ação humana, que possibilita a explosão dos instintos primários. Em outras palavras, o que os zelosos defensores da “saúde pública” e do “bem comum” desejam e que não mais precisam esconder, é decidir o que as outras pessoas podem, não podem e têm que fazer. É um fetiche pelo poder, aberração que costuma habitar a personalidade de muitos que exercem cargos políticos e públicos. É como uma tara sexual, uma volúpia incontida de dominar os outros e de sentir êxtase quase orgásmico quando sua vontade é imposta sobre o maior número possível de pessoas.

O que farão quando a pandemia se despedir e ameaçar dissipar seus poderes especiais? Que frustração os abaterá? Afinal, se antes da pandemia comiam angu e bebiam vinho “sangue de boi” e agora, durante ela, desfrutam de lagostas e de vinhos franceses de boa safra, irão se conformar a voltar ao angu e à zurrapa de antes? O poder, ah, o poder...

Não podemos nos iludir. Depois da pandemia, os políticos - que ela tanto está mal acostumando - continuarão tarados por mandar, maníacos por proibir e lunáticos por aparecer na mídia, a não ser que os pagadores de impostos, que são os eleitores, os coloquem no devido lugar em que devem estar em uma sociedade de homens livres. E é por essa razão que, desde já, os liberais devem alertar para os riscos que a liberdade está enfrentando.

Dado o aviso – que espero ser consensual entre os liberais de verdade – copio e colo, para deleite (ou revolta) do leitor, uma lista de projetos escalafobéticos apresentados à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, nestes tempos também escalafobéticos.
 

Anexo

1. Reduz o valor das mensalidades de prestação de serviços educacionais na rede privada do Estado, proíbe a cobrança de multas, juros e encargos e possibilita o trancamento de matrícula enquanto perdurarem as medidas de enfrentamento à pandemia de COVID-19 (Isa Penna – PSOL)
2. Obriga as instituições de ensino superior e pós-graduação da rede privada do Estado a reduzir o valor das mensalidades cobradas durante o Plano de Contingência do Estado de São Paulo para Infecção Humana pelo novo Coronavírus - Covid-19. (Leci Brandão – PC do B)
3. Proíbe as instituições de ensino superior e pós-graduação da rede privada do Estado de cobrar multas, juros e encargos sobre o valor das mensalidades durante o Plano de Contingência do Estado de São Paulo para Infecção Humana pelo novo Coronavírus - Covid-19 (Leci Brandão – PC do B)
4. Obriga as instituições de ensino superior e pós-graduação da rede privada do Estado a manter as bolsas de estudo parciais ou totais aos seus alunos durante o Plano de Contingência do Estado de São Paulo para Infecção Humana pelo novo Coronavírus - Covid-19. (Leci Brandão – PC do B)
5. Obriga as instituições de ensino superior e pós-graduação da rede privada do Estado a aceitar pedidos de trancamento de matrícula durante o Plano de Contingência do Estado de São Paulo para Infecção Humana pelo novo Coronavírus - Covid-19. (Leci Brandão – PC do B)
6. Torna obrigatória a redução proporcional das mensalidades da rede privada de ensino durante o Plano de Contingência do Estado de São Paulo para Infecção Humana pelo novo Coronavírus - Covid-19. (Rodrigo Gambale – PSL)
7. Autoriza o Poder Executivo a proceder a internação de pacientes infectados pela COVID-19 na rede privada de hospitais quando requerida por médico credenciado do Sistema Único de Saúde - SUS em caso de inexistência de leitos na rede pública. (Marcia – PT)
8. Cria a Fila Única Emergencial para Gestão de Leitos Hospitalares, abrangendo os sistemas público e privado, a fim de assegurar a utilização, controle e gerenciamento pelo Sistema Único de Saúde de toda capacidade hospitalar instalada no Estado, com o objetivo de garantir acesso universal e igualitário à rede hospitalar frente à pandemia do novo coronavírus - Covid-19. (Monica da Bancada Ativista – PSOL)
9. Autoriza o Poder Executivo a criar a Central Única de Regulação e a Fila Única Estadual para internação de pacientes com suspeita ou contaminação por COVID-19 em UTIs. (Edmir Chedid - DEM)
10. Autoriza o Poder Executivo a requisitar leitos hospitalares privados para atendimento de pacientes da rede pública e do SUS, bem como vagas de hospedagem para funcionários da saúde, no período de combate à Covid-19. (Carlos Giannazi – PSOL)
11. Autoriza o Poder Executivo a intervir na rede privada de saúde para garantir atendimento a casos graves de COVID-19. (Isa Penna – PSOL)
12. Permite a internação de pacientes infectados pela Covid-19 na rede privada de hospitais, quando requerido por médico credenciado ao Sistema Único de Saúde, em caso de inexistência de vaga na rede pública. (Tenente Nascimento – PSL)
13. Reduz o valor das tarifas de pedágio nas rodovias estaduais enquanto perdurar o estado de calamidade pública decretado no Estado em decorrência da pandemia do novo coronavírus - COVID-19. (Delaegada Graciele – PL)
14. Suspende temporariamente a cobrança das tarifas de pedágio nas rodovias estaduais enquanto perdurar o estado de calamidade pública decretado no Estado em decorrência da pandemia do novo coronavírus causador da COVID-19. (Luiz Fernando T. Ferreira – PT)
15. Isenta de cobrança de pedágio nas rodovias estaduais os veículos de propriedade de servidores e profissionais das áreas da saúde, da segurança pública e do sistema prisional durante o período de surto de coronavírus - Covid-19. (Carlos Giannazi – PSOL)
16. Suspende a cobrança de pedágio nas rodovias estaduais concedidas à iniciativa privada durante o período de surto de coronavírus - Covid-19 (Carlos Giannazi – PSOL)
E, para fechar o desfile de horrores,
17. Altera a Lei nº 10.705, de 28 de dezembro de 2000, que dispõe sobre a instituição do Imposto sobre a Transmissão "Causa Mortis" e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos - ITCMD, visando à mitigação dos efeitos da pandemia do novo coronavírus - COVID-19 no âmbito do Estado. (Paulo Fiorilo – PT)


*Em julho 2020
**Publicado originalmente em https://www.ubirataniorio.org/index.php/artigo-do-mes/397-jul-2020-pandemia-e-tirania (blog do autor)
***O autor é doutor em Economia pela FGV
 

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 10 Julho 2020

 

Não adianta... quero ser otimista nessas manhãs gélidas, escuras e desérticas de Porto Alegre, mas não tenho evidências de que o Brasil conseguirá mudar de rota, rumo a estrada das genuínas liberdades individual e econômica. Na verdade, os fatos apontam na triste direção contrária.

É exatamente por isso que fico alarmado com a facilidade com que gente que reputava como racional e inteligente, deixou-se levar pelos apelos bondosos e humanitários de togados ativistas e de governadores e de prefeitos, tomadores de decisões objetivamente autoritárias e desproporcionais, que acabaram por decepar nossas ESSENCIAIS liberdades individuais, sob pretexto de combater a Covid-19.

Partindo-se da premissa que as medidas de isolamento social drástico fossem até bem-intencionadas, no sentido de preservar "100% vidas", faltam a essas autoridades a compreensão dos exemplos históricos e cabais de que toda e qualquer ação humana tem consequências intencionais e não intencionais.

Pessoalmente, como desacredito na "ciência do isolamento", acho que os governantes jogaram eleitoralmente para a torcida, pelo patente desconhecimento do real funcionamento de uma economia de mercado, e pela falta de uma apreensão mínima de que a vida, inevitavelmente, possui suas umbilicais e inseparáveis dimensões da saúde física, econômica e social. Também me parece transparente que algumas dessas autoridades tinham a intenção de paralisar a economia, forçando o seu respectivo colapso, a fim de colherem os frutos políticos de tal atrocidade.

Nunca é demais alertar que burocratas estatais tomam decisões críticas sobre a vida econômica e social dos indivíduos, sem sentir e responsabilizarem-se pelo resultado de seus autoritários decretos e escolhas equivocadas.

Na vida pragmática real, a ordem surge de movimentos espontâneos que ocorrem "desorganizada e imprevisivelmente" por meio da ação de distintos desejos e objetivos individuais de cada cidadão, sabedor de suas próprias circunstâncias e de seu contexto idiossincrático. Não é pela canetada de burocratas que as pessoas agem! Nós, seres humanos, factualmente reagimos a todas as regulamentações e ordens impostas pelos governos, e nossas reações resultam em resultados que podem ser bem diferentes dos resultados pretendidos pelos burocratas estatais.

Suportados pela heurística da disponibilidade e pelo terrorismo midiático, grande parte dos nativos tupiniquins aceitou passivamente a perda de suas liberdades de ir e vir, de trabalhar e de se expressar, mesmo que inequivocamente isso signifique a falta de dinheiro para, inclusive, alimentar a si próprio e prover o mínimo necessário para a sobrevivência de suas famílias, no presente e no futuro.

Em minha singela avaliação, grande parte dos brasileiros perdeu a noção de que suas vidas passaram a ser ditadas, ipsis litteris, segundo a vontade de governantes que, infeliz e frequentemente, não apresentam traços de prudência, conhecimento e sabedoria que devem reger a vida econômica e social individual.

Os tentáculos estatais, além de destruírem a vida econômica dos indivíduos, agora podem avançar ainda mais, pelo aumento da intervenção em nossas vidas, regulando mais - não menos! - a economia e desestimulando a atividade econômica e a correspondente geração de empregos.

Regras trabalhistas sobre a definição de tipos de atividades "essenciais", horários de trabalho, exigências aos empregadores, bem como o aumento de impostos, vão ao encontro dessas consequências não intencionais e que afetarão os setores empresariais da indústria, do comércio, dos serviços e de todos os setores da vida verde-amarela.

Regulamentos estatais e do Pequeno STF, tais como o esdrúxulo projeto de lei das fake news, capando nossas liberdades de opinião e expressão, por exemplo, matam profissionais jornalistas, privando-os da liberdade de escrever e expressarem suas opiniões, além de acabarem com suas preciosas fontes de subsistência! Não existe abissal ameaça tão real e presente nesse país do que aquela apontada para o setor de tecnologia da informação... meu D´EUS!

Verdadeiramente, todo esse gigantesco número de decretos econômicos sobre nossas vidas individuais - afora os que estão por vir! -, mesmo que "bem-intencionados", trarão resultados extremamente nefastos para às liberdades individual e econômica, pois tais regramentos negligenciam as consequências não intencionais das ações desses governantes despreparados e populistas.

Pois é! Muitos brasileiros não se deram conta, ou não se importam com o fato de que essas intenções estatais puritanas, ao invés de resultarem em consequências positivas, estão efetivamente nos levando para um Estado socializante!

Cada vez mais, judicializa, burocratiza e rouba-nos as essenciais liberdades, a fim de que escolhamos pelo nosso livre arbítrio, como queremos viver, desenvolver nossos planos de vida e sermos felizes a nossa própria maneira!
Eu não temo me manifestar e contrapor-me a esse trágico estado de coisas, pois não quero viver, e tampouco desejo que meus filhos vivam, num regime que inevitavelmente só tem um destino - e certeiro: o do autoritarismo, da escassez de liberdades, da miséria, da pobreza e, portanto, da falta da crucial prosperidade econômica e social.

Claro, não a de burocratas estatais, mas dos comuns como eu e a grande massa da população brasileira!
 

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  • Fernando Fabbrini
  • 10 Julho 2020

 

Buscando encher o tempo dos alunos durante o recesso da pandemia, um professor de uma escola de arquitetura do país propôs um trabalho numa aula virtual. Tratava-se de um "para casa" no seu sentido mais que perfeito: um projeto de uma casa imensa, cheia de quartos, garagens, jardins. Sem dúvida, uma tarefa de grandes dimensões em concreto armado, fazendo com que os alunos ampliassem também as dimensões ainda limitadas de seus saberes arquitetônicos. Vigas, pilares, lajes, balanços! Puxa, que desafio!

Inacreditável: alguns alunos deram o golpe. Recusaram-se a fazer o trabalho alegando que o referido seria "racista", já que incluía quartos reservados aos serviçais imaginários da imaginária residência. Na verdade, não enxergaram a casa – imaginária, repito – como um aprendizado, e foram implicar com os imaginários quartos das empregadas.

E se o projeto fosse para um estádio de futebol? Depois de enrolarem por algum tempo, creio que esses alunos redigiriam: "Indignados com a proposta elitista de uma 'arena' – palavra que remete historicamente ao espaço de martírio de escravos inocentes – coletivamente encaminhamos nesta folha A4 o traçado quadrangular de um campo de futebol de várzea, genuinamente nacional. Sem gramado, arquibancadas, coberturas ou demais áreas reservadas às classes dominantes, o mesmo não terá fossos ou alambrados. Trata-se de um estímulo à liberdade, proporcionando a integração das massas sem preconceitos, além de evitar a ação perversa e violenta da polícia que reprime a manifestação popular".

Alunos vão à faculdade para estudar – e ela existe é pra isso, ué. Esses aceitam sua ignorância transitória, absorvem o conhecimento e aí viram bons profissionais na idade adulta. Já outros se sentem detentores de atributos intelectuais acima da média. São sapientes e geniais já no primeiro dia de aula. Infelizmente, devem encarar regras, disciplinas, provas e avaliações até a formatura. Por isso, ficam nervosinhos, impacientes, arrogantes. À menor contrariedade vão resmungar no Diretório Acadêmico, nas redes sociais ou em casa. Oremos para que, no futuro, não caiam nessas mãos os projetos de nossas casas.

Resumindo, esse episódio é mais uma amostra cômica do ativismo cada vez mais festivo que pulula pelos corredores de muitas de nossas universidades, seduzindo jovens incautos. Por falar em afazeres domésticos, quantos futuros arquitetos lavam ou passam suas próprias roupas, cozinham suas refeições, arrumam suas camas ou encaram a louça de casa?

É sabido que as empregadas viraram um luxo para a maioria da classe média. São outros tempos, felizmente. Havia, sim, exploração e desrespeito. No entanto, aqui e no resto do mundo, passada a pandemia, babás, cozinheiras, copeiras, arrumadeiras, cuidadoras, motoristas, vigias e acompanhantes serão recontratados pelas famílias que podem ou que necessitam fazê-lo.

Aliás, isso tem o nome de emprego – hoje com carteira assinada, direitos preservados, consciência profissional e legislação atenta a qualquer desvio. Releiam: escrevi "emprego", aquele velho sistema de ganhar a vida honestamente com esforço, responsabilidade, hora marcada, obrigações. Muita gente inventa desculpas filosóficas, ideológicas e sei-lá-mais-o-que para não encarar um.

*Fernando Fabbrini é roteirista, cronista e escritor, com quatro livros publicados. Participa de coletâneas literárias no Brasil e na Itália

** Publicado originalmente no jornal O Tempo de BH
 

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