Nosso aparato humano cognitivo e psicológico herdado adora um modelo de comando e controle, típico da mente tribal. Nossa mente tem a semente dos caçadores-coletores que obedeciam a certos rituais e a determinados comandos.
Tal qual uma tribo indígena, o cacique é quem executa o papel de chefe tribal, organizando a vida em comunidade. Há também a liderança do pagé, o grande sacerdote, aquele que recebe ordens divinas e é o especialista nos "divinos e explicativos" rituais tribais.
Graças a Deus evoluímos! Foi justamente em razão da expansão e da dispersão quantitativa, e pela diversidade e diferenças nas necessidades e nos objetivos de vida individuais - para além do bem-estar dos próximos pelas relações de parentesco - que surgiu a necessidade do Estado, a fim de "normatizar" a vida social, especialmente pela imposição da lei e da ordem.
Bem, assim é de certa forma contraintuitivo que nossas mentes pré-históricas, com base no piloto automotivo, instintivamente, pensem na imperiosidade do Estado (que obviamente existe!) como um órgão centralizador de comando e controle geral.
O "bom Estado" é aquele limitado, que deveria ter como interesse maior colocar o indivíduo acima do coletivo, preservando às liberdades individuais, a igualdade da lei perante todos, e deixando com que as pessoas, por meio de transações interconectadas, voluntárias, e mutualmente benéficas, possam colaborar e competir nos mercados livres.
Em tempos de pandemia da Covid-19, o "natural" poder coercitivo do Estado, absurdamente, vem extrapolando seus poderes sobre nós, os comuns, espraiando-se para nefastas formas de comando e controle autoritários!
Confesso que no princípio da crise viral, seguindo as recomendações científicas da OMS (risos!), fui meio avesso a usar uma máscara, afinal a própria "ciência" afirmava ser contra sua utilização!
Passados dois meses da crise pandêmica, virei fã do zorro! Por que? Porque genuinamente é muito melhor usá-la, e poder sair da "prisão" imaginária dos adeptos do "fiquem em casa", tentando exercer minhas liberdades de ir e vir e fazendo minhas próprias escolhas, inclusive decidindo quem vai ou não entrar em minha casa.
Na verdade, incrivelmente, não existe nada de científico e conclusivo sobre aquilo que de fato deve ser realizado para que se obtenha resultados positivos (comprovados) quanto ao enfrentamento do vírus. O isolamento social drástico e as quarentenas são inconclusivas, questionados mesmo por membros da própria comunidade médica!
Acho mesmo que a máscara pode evitar um maior e eventual contágio entre as pessoas; o contagio é maior do que a letalidade do vírus; é melhor remediar e poder sair da "prisão"...
Entretanto, o que eu realizo, é que burocratas estatais, governadores e prefeitos, têm brigado intensamente por interesses políticos e por egos na luta por prestígio e pelo poder. Desse modo, não tenho dúvidas de que o estabelecimento de decretos e de regramentos estatais esdrúxulos e amplamente autoritários retiram nossas liberdades constitucionais e, de forma aleatória, decretam sobre setores "essenciais" versus não essenciais, além de ignorarem desuniformidades quanto a regiões e a locais diferentes, colocados no mesmo saco padrão do isolamento social, etc.. Tais regramentos parecem-me totalmente arbitrários.
Não acredito na capacidade superior e na moral excelsa de governadores e de prefeitos, sem o conhecimento de como funciona verdadeiramente uma economia, em definir e imaginar que possam melhor projetar a vida em um estado pandêmico. Eles deveriam estudar, pelo menos, um pouquinho da teoria da agência e dos custos de transação...
Fui ao supermercado. Uma multidão e aglomeração infernais. Por que pode haver aglomeração nesse tipo de local, e determinadas lojas e mesmo shoppings, com controle e com regras adequadas e higiênicas, não podem trabalhar?! Quais foram as informações, os dados e os fatos científicos que fizeram com que esses deuses definissem o que é e o que não é essencial e, portanto, não pode operar? Por que comida pode ser entregue via expressa de alguns locais e não de restaurantes de shoppings? Arbitrário e ilógico!
Mais absurdo ainda, e ver que aqueles que protegem "100% vidas" e gritam "fiquem em casa", julgando os diferentes como insensíveis a essa mesma vida, são provavelmente aqueles que têm renda e empregos (muitos no Estado!), e que e não correm o risco de perder suas casas, além de não precisarem acordar cedo de manhã e se perguntarem como vão alimentar a si e seus familiares!
A falta de empregos, de comida, além da própria debilidade na estrutura de saúde, vai levar muito mais gente para os cemitérios do que a Covid-19!
Fico efetivamente questionando-me sobre a genuína preocupação com a saúde das pessoas. Será mesmo que se tem a intenção de mitigar os riscos da Covid-19 e proteger os cidadãos, ou restringir liberdades individuais, enquanto burocratas estatais protegem suas liberdades pessoais e seus interesses políticos?!
Portanto, um dos aprendizados fundamentais nesses tempos virais, é de que não podemos deixar e nos acostumar com os desejos e os impulsos autoritários e desproporcionais desses aprendizes de ditadores!
A liberdade custa muito caro a todos nós! É o nosso bem maior. Como não há nada que seja totalmente negativo (talvez nem a própria morte), aqueles que pensam por meio do sistema manual, de pensamento reflexivo e profundo, agora têm a oportunidade de reavivarem o interesse em proteger seus direitos e suas próprias liberdades! Vamos lá.
“A guerra é o domínio da incerteza; os três quartos de elementos nos quais a ação se fundamenta permanecem nas brumas de uma incerteza mais ou menos grande. Mais do que em qualquer outro domínio, é necessário que uma inteligência sutil e penetrante saiba, instintivamente, discernir e apreciar a verdade”.[1]
A crise pandêmica do novo coronavírus tem lançado os líderes mundiais numa bruma de incerteza semelhante à guerra, e algumas das indagações dos nossos dias: cuidar da saúde ou da economia; isolamento vertical ou horizontal; têm sido, reiteradamente, debatidas pela sociedade.
A resposta mecânica tem sido: “Siga a ciência! Siga a ciência!” O que quer dizer: “lockdown”, quarentena ou qualquer coisa assim, que for indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O que Napoleão, gênio militar do seu tempo, pode nos ensinar para obtermos a vitória nessa guerra contra um inimigo invisível?
A primeira dica de Napoleão é estudar o conjunto de informações disponíveis, cuidadosamente.
“...Napoleão, quando indagado pelos seus generais sobre como ele adivinhava sempre as intenções do inimigo com tanta precisão, respondeu: eu não sabia antecipadamente os erros que o inimigo cometeria, e dos quais tirei vantagem: simplesmente estudei a minha carta (mapa). “[2]
Apesar de toda a politização que a pandemia tem recebido, há estudos que nos permitem avaliar o impacto da economia na saúde do povo, ratificando que são áreas interdependentes.
A Revista de Saúde Global Lancet, a qual é uma publicação que incorpora inúmeros artigos de estudos sobre saúde em diversos países do mundo, veicula estudo que, em tradução livre, tem como título: ”Efeito da recessão econômica e impacto das despesas com saúde e proteção social na mortalidade de adultos: uma análise longitudinal de 5565 municípios brasileiros”[3], elaborado por Thomas Hone e outros autores.
Apesar do viés progressista e globalista, o escrito traz luz para a importância da economia na condição de saúde das pessoas, estimando o aumento da mortalidade no Brasil, tendo como causa o desemprego gerado na crise econômica de 2014 a 2016.
A pesquisa analisa 6.621.347 mortes, que correspondem a 93,7% dos 7.069.242 de óbitos ocorridos no período de 2012 a 2017, em 5565 municípios brasileiros (total de 5570), em pessoas com 15 anos ou mais.
A análise utiliza métodos estatísticos que permitem inferir sobre as alterações no número de mortes em relação ao aumento do desemprego no período. A estimativa chegou ao número de 31.415 mortes do período de 2012 a 2017, devido à crise econômica ao qual o país foi submetido nesse intervalo de tempo.
Avaliando-se os motivos desse aumento, o artigo destaca os efeitos da recessão econômica sobre o sistema de saúde, devido à redução de receita do estado, implicando o aumento do tempo de espera para tratamentos de saúde, escassez de medicamentos e atrasos no pagamento a funcionários da área de saúde. Ressalta que, as pessoas economicamente mais vulneráveis, as quais são mais dependentes do sistema de saúde e de proteção social, são as que mais sofrem com o impacto da precarização do sistema de saúde no Brasil devido à crise econômica.
Não é difícil compreender que um Estado empobrecido significa uma saúde empobrecida.
O exemplo de Napoleão nos diz que as informações estão disponíveis para todos. Quem melhor estuda, obtém a vitória ou, no caso da pandemia, a menor perda de vidas humanas.
Ou seja, não há alternativa, saúde ou economia. Se a economia for destruída, a saúde também o será!
É por este motivo que seguir, cegamente, apenas uma visão sobre o problema pode impedir o acesso às informações estratégicas, que nos permitem enxergar a guerra como um todo e as suas consequências no médio e longo prazo.
Na aviação tem-se um efeito parecido e que leva a consequências, igualmente, desastrosas.
A visão em túnel acontece quando o piloto se prende a uma só informação, levando-o a decidir erroneamente sobre a condução da aeronave e a correção a ser feita. Para resolver algumas panes o piloto deve dirigir a atenção para certos instrumentos, mas também deve estar atento ao conjunto geral de informações e o que está acontecendo à sua volta.
Felizmente, já há no Brasil um movimento que se permite olhar com mais clareza a condução do combate à Covid-19. Temos Governadores que começaram a pensar pelos seus próprios estudos e não seguindo, roboticamente, a ordem de fechamento total proposto pela OMS.
O Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, tem se esforçado para corrigir um erro cometido em março deste ano, momento em que ordenou a quarentena no Estado, sendo que somente 10 cidades, dos 497 municípios do RS, apresentavam casos do Covid-19.
Pressionado, seguiu a “grita” generalizada: “fecha tudo!” E, por intermédio de Decreto de Calamidade Pública, de 19 de março de 2020, pôs o Rio Grande do Sul em quarentena. O primeiro caso da doença foi registrado em 10 de março de 2020.
O primeiro movimento de reabertura foi em 16 de abril de 2020, quando permitiu que os Prefeitos decidissem sobre a quarentena, considerando-se a condição de contágio de cada localidade. Para tal, apresentou uma iniciativa simples e bem planejada que representa um esforço da ciência gaúcha em orientar as ações do Governador. Trata-se de um estudo estatístico conduzido pela Universidade Federal de Pelotas, em conjunto com outras 11 instituições de ensino, que tem como objetivo entender o contágio do Covid-19 no estado, em especial, a situação do contágio, velocidade de expansão e a letalidade da doença.
A pesquisa baseia-se na aplicação de exames para o Covid-19 e questionários para 4.500 pessoas, residentes em 9 cidades gaúchas, seguindo critérios do IBGE sobre o perfil populacional.
Em cada rodada são testadas 500 pessoas em 9 cidades representativas do estado, repetindo-se este procedimento em quatro etapas distintas (11-13/4; 25-27/4; 9-11/5 e 23-25/5).[4]
Mais do que ciência aplicada à realidade local, esse esforço significa, com muito orgulho, que os pesquisadores gaúchos estão pensando com a própria cabeça e não seguindo, cegamente, instituições estrangeiras burocráticas que não conhecem a realidade do povo e a propagação da doença no nosso país.
Para finalizar, um dos fatos que mais me impressionou na minha missão como Adido Militar na França decorreu de uma reunião com oficiais do exército francês.
Conversando sobre a instrução dos militares franceses, questionei se eles estudavam muito os ensinamentos de Napoleão e recebi a seguinte resposta: “Vocês devem estudar mais do que a gente. Na França ele é considerado um traidor e os seus ensinamentos não são estudados nas nossas escolas militares!”.
Desde aquele momento percebi que, em Paris, havia poucas referências a Napoleão I. Eu vi somente duas pequenas estátuas do imperador: na Praça Vendome e no Museu Militar dos Inválidos.
Se os franceses não querem aprender, problema deles! Aprendamos nós!
Estude antes de decidir!
* Jorge Schwerz é Coronel Aviador da Reserva da Força Aérea Brasileira; MsC pelo ITA; ex-Adido de Defesa e Aeronáutica na França e Bélgica; e Coordenador do Blog Ao Bom Combate!
** Publicado originalmente no blog Ao Bom Combate: https://www.aobomcombate.org/post/aprendendo-com-napole%C3%A3o-estude-antes-de-decidir
[1] VON CLAUSEWITZ, Carl. Da Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 1986. p. 51;
[2] VON FREITAG-LORINGHOVEN, Hugo. O poder da personalidade da Guerra. Rio de Janeiro. Bibliex, ; p. 71;
[3] HONE ET AL.; Effect of economic recession and impact of health and social protection expenditures on adult mortality: a longitudinal analysis of 5565 Brazilian municipalities. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/langlo/article/PIIS2214-109X(19)30409-7/fulltext. Acesso em: 9 de maio de 2020; e
[4] RIO GRANDE DO SUL. Epidemiologia da Covid-19 no Rio Grande do Sul. Disponível em: 1ª etapa: https://www.estado.rs.gov.br/upload/arquivos//covid-19-estudo-versao-atualizada.pdf e 2ª etapa: https://www.estado.rs.gov.br/upload/arquivos//pesquisa-ufpel-fase2-20200428.pdf. Acesso em: 9 de maio de 2020.
A cultura da morte e seus ataques internos e externos a todos os fundamentos da nossa civilização.
Inicialmente, quando se fala de cultura da morte, a primeira coisa que salta aos olhos de quem se defronta com tal expressão é o debate acerca da legalização do aborto, ou seja, o embate entre aqueles que são favoráveis à vida e aqueles que são favoráveis ao direito de decidir, como costumeiramente é conhecida a opção pelo aborto. A realidade, porém, é muito mais abrangente, pois as ações desencadeadas pela cultura que fomenta a morte não se restringem a este aspecto nefasto de suas atividades. Já há alguns anos, os reais objetivos de tal cultura têm assumido contornos cada vez mais claros diante de nossos olhos, pois parece haver um esforço contínuo para introduzir, de forma às vezes ostensiva às vezes amenizada, uma semente de destruição que acabaria por minar o edifício que sustenta a nossa civilização.
Identificar a cultura da morte com a "indústria" ou esforços para a disseminação do aborto e de todos os métodos contraceptivos não chega a ser um equívoco, mas, não é uma visão completa daquilo que ela verdadeiramente almeja. Quando se quer destruir um edifício para levantar uma nova construção, dois caminhos podem ser tomados: o da explosão, ou seja, algo que venha de fora e acabe por arrasar toda a estrutura existente; ou o da implosão, quando se destrói a construção antiga a partir de dentro, fazendo com que ela mesma venha abaixo porque perdeu a força para se sustentar.
A cultura da morte também age assim. Em alguns momentos parece desferir ataques explosivos, que são externos, ostensivos e bastante claros, pois têm o objetivo de chocar, de desestabilizar para que, por meio do alarde provocado, as situações por ela defendidas ganhem respaldo ou aceitação na sociedade. Tal é a tática que muitas vezes se utiliza para as questões relativas ao aborto, especialmente no que diz respeito a tratá-lo como se fosse simplesmente uma decisão entre ter ou não um filho, como se não houvesse outra realidade a ser implicada nesta situação a não ser o corpo da própria mulher e a decisão de fazer ou não algo com este corpo que lhe pertence, sem levar em consideração, em nenhum momento, a existência de mais uma vida, ainda no ventre materno, que deveria gozar de toda a proteção possível por parte da sociedade.
O outro caminho, não menos danoso, porém muito mais sutil e ardiloso, é o caminho da implosão, que consiste num ataque contínuo, sistemático, lento e progressivo contra tudo aquilo que se constituiu num alicerce para a nossa sociedade. Alvo deste movimento implosivo são os três pilares da civilização ocidental: a filosofia grega, o direito romano e a moral judaico-cristã. No prefácio do livro O Calvário e a Missa, o venerável Fulton J. Sheen salienta que a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo foi erigida num ponto de convergência, numa encruzilhada entre estas três grandes civilizações, para que seu gesto redentor estendesse a universalidade da Redenção também sobre essas esferas da sociedade.
Hoje, o alvo da cultura da morte é a tentativa de implodir, a partir de dentro, a estrutura que sustenta a sociedade humana, baseada nestes três alicerces: filosofia, direito e moral. A filosofia se torna cada vez mais instrumentalizada, como se fosse uma justificativa para determinados comportamentos ao invés de se constituir numa autêntica busca pela verdade, lançando suas artimanhas também numa nova abordagem do processo educacional, que não seria nada mais do que mera propaganda ideológica, esquecendo-se completamente de seu objetivo de ser um caminho para se alcançar a sabedoria; o direito, por meio da negação da existência de um direito natural e na sua utilização para legitimar novos comportamentos e criminalizar a oposição aos mesmos; a moral que, ao sofrer toda espécie de crítica e de racionalização, é substituída por um novo padrão no qual a família e toda a sociedade são vistas de uma maneira totalmente nova, numa inversão de valores e desprezo pelas instituições tradicionais.
A cultura da morte, a partir destas poucas constatações, não se refere simplesmente ao direito ou não ao aborto ou à militância para que o mesmo se constitua num direito. Ela tem um objetivo muito maior. Quer colocar abaixo toda a estrutura que sustenta a nossa civilização e não deixará de empreender esforços para destruir a filosofia, o direito e a moral, para então levantar o seu novo edifício, uma nova sociedade, verdadeira quimera que é uma prefiguração dos piores pesadelos que um homem poderia imaginar. O abraço a que ela convida o homem não é apenas dirigido a um aspecto de sua vida, isto é, a seu pensamento, seu comportamento, ou às relações que estabelece na sociedade e, principalmente, na família. A cultura da morte quer, na realidade, abraçar o homem todo, em todas as suas dimensões, e não somente a um indivíduo, mas a todos os homens.
Pe. Paulo Ricardo, em 22/04/2015
*Publicado originalmente em https://padrepauloricardo.org/blog/o-abraco-da-morte-a-nossa-sociedade
No último final da semana, em Brasília, aconteceu mais uma carreata alvejando o Supremo Tribunal Federal. A terceira em duas semanas. Esse conjunto de carros identificados com bandeiras e pessoas verbalizando palavras de ordem, se submetido à ótica jurídica, vai revelar a ocorrência de um acontecimento dotado de inquestionável magnitude. Na prática, os enfileiramentos de carros que vêm acontecendo dão visibilidade ao exercício de duas das mais importantes liberdades públicas asseguradas pela Constituição Federal: a liberdade de expressão e a liberdade de reunião.
Embora um congressista tenha tentado barrar o seu acontecimento, esta manifestação outrora inimaginável contra o STF e seus ministros se desenvolveu de forma ordeira, na exata definição que a Carta Magna dispõe: “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização”, conforme o inciso XVI do seu artigo 5º.
Reunidos a partir das redes sociais, os partícipes dão voz a milhões de outros brasileiros que não digerem mais, por exemplo, que o STF, um empregador obeso, disponha no seu quadro funcional, de 24 juízes convocados distribuídos entre 10 gabinetes, 798 funcionários em comissão ou funções de confiança, 340 estagiários (270 de nível superior e 70 de nível médio), 197 recepcionistas, 46 servidores sem vínculo efetivo, 65 servidores “cedidos a outros órgãos” (especialmente ao STJ, TSE, CNJ, Senado Federal e Câmara dos Deputados, entre outros) e 10 servidores “em outros órgãos”. Em verdade, os integrantes das carreatas dão sonoridade ao coro crescente de cidadãos que não toleram mais o excesso de individualismos onde cada ministro é um STF em si. Ou que alguns ministros contrariem a jurisprudência do próprio tribunal tornando-a sinuosa e insegura.
Isso, porém, não é o ponto central da ira. A maior inconformidade é aquela que diz respeito ao excesso de interferência do tribunal nos demais Poderes, sobretudo no Executivo. Segundo uma pesquisa nacional do instituto Paraná Pesquisas divulgada em maio de 2020 pelo site Diário do Poder, para 39% dos brasileiros, o STF “interfere muito” nas prerrogativas presidenciais. Neste sentido, chama a atenção o fato de que em relação ao período antes mencionado, foram concedidas 14 medidas liminares contra atos privativos do Poder Executivo Federal somente em 2020, o equivalente a 55% a mais que em 2019.
A reação social, cada vez mais eloquente e ruidosa, faz todo o sentido. Afinal, o Supremo jamais foi tão proeminente quanto hoje. Arvorou-se o papel de entidade. Tornou-se um fim em si mesmo. Porém, isso não significa um STF vigoroso. Pelo contrário. É um STF invasivo, propenso a confrontos externos e internos e que ultimamente não permite os conflitos esfriarem. Um ator político que se vale da prerrogativa da “última palavra” para vulnerar as prerrogativas dos demais Poderes. Um tribunal que vai fazendo o que bem entende através de protagonistas que não hesitam adjetivar pessoas e acontecimentos fora dos autos. Um pretório onde alguns ministros atuam em prol da consolidação de seus poderes individuais ao invés da soberania do plenário.
Consolidado, esse desapontamento crescente e ininterrupto que o STF vem irradiando desbordou as fronteiras da comunidade jurídica e comprometeu a sua credibilidade. Ao menos por ora. A sociedade, diversas instituições e entidades públicas ou privadas, meios de comunicação e integrantes de carreiras públicas passaram a nutrir um misto de decepção e desconfiança pelo órgão de cúpula do Judiciário brasileiro.
As carreatas são críticas diretas protagonizadas por contribuintes fartos de intermináveis e supremos conflitos.
*Antônio Augusto Mayer dos Santos - Advogado, Professor de Direito Eleitoral e Escritor.
Que o novo coronavírus é real eu não tenho nenhuma dúvida.
O surto viral matou muita gente em regiões na China, na Itália, nos Estados Unidos e em uma série de outros países, incluindo algumas regiões no Brasil.
Claramente, por interesses e posições abissalmente distintas, há uma enorme controvérsia, não somente em relação ao enfrentamento do Covid-19, como quanto ao número de mortes causados pela doença.
O que eu tenho gigantescas dúvidas, é factualmente, quanto às respostas e às iniciativas de ataque ao vírus, em especial no Brasil.
Interessante notar que as autoridades estatais - governadores e prefeitos - e toda uma legião de adeptos do "fiquem em casa", têm aludido a "ciência" como justificativa do isolamento social drástico no país.
Como não sou médico, aqui já começam minhas desconfianças...
Que ciência é essa, que em se tratando de uma doença nova, em que inexistem estudos científicos conclusivos e aceitos por toda a comunidade médica e de saúde pública, pode estabelecer e definir "medidas certeiras" sobre a forma de seu enfrentamento?
Que ciência é essa, visto que já estou literalmente cansado e angustiado de ler e ouvir relatos, inferências e entendimentos completamente distintos dentro da própria comunidade médica e de saúde pública?
O que eu possa realizar pragmaticamente, é que o número de casos e de mortes, encontra-se muito aquém das previsões alarmistas e sensacionalistas de alguns "especialistas" - médicos infectologistas e de outras áreas, biólogos, políticos, jornalistas, etc. - que se baseiam em estudos e em modelos estatísticos construídos para realidades diferentes, com suas respectivas idiossincrasias, demografias, climas, e com outras variáveis naturalmente aleatórias. Definitivamente, modelos que podem embasar decisões, penso eu, considerando-se igualmente características peculiares em nível econômico e social. Nesse sentido, o Brasil é bem diferente...
Além disso, chegam a ser tragicômicas as previsões do tal "achatamento de curvas e de picos", com estimativas que têm sido completamente desencontradas!
Afora regiões do norte e do nordeste brasileiro - e mesmo assim de forma controversa - as estruturas de saúde não colapsaram totalmente, e/ou faltam equipamentos em geral por atos de corrupção, que motivaram a construção de estádios, ao invés de hospitais. Ou mesmo por mais corrupção e incompetência, estimulando burocratas estatais a comprarem respiradores superfaturados, e o que é pior, que não funcionam!
Claro que o Covid-19 é real e grave, com alto poder contaminador, porém com relativamente baixo poder letal. O vírus tem se mostrado mortal, principalmente entre aqueles grupos caracterizados como de risco, ou seja, os idosos, pessoas a partir dos 60 anos e, em grande parte, vítimas de outras comorbidades. Evidente que já morreram outras pessoas fora dos grupos de risco, como normalmente falecem em razão de outros problemas de saúde, desde que o mundo é mundo.
No entanto, o que também é novo na história da humanidade, é a forma do enfrentamento da doença!
A vida humana - social, econômica e de saúde - parece estar sendo administrada por profissionais médicos e de saúde pública que, primeiramente divergem das ações corretivas, e segundo e mais fundamental, desconhecem a dinâmica do mundo econômico real! Nunca antes visto na realidade a economia paralisou como agora.
Eu não tenho nenhuma brecha de dúvida de que a destruição da economia brasileira, no curto, no médio e no longo prazos, causará muitos mais mortes do que aquelas que ocorrerão em função do vírus.
O desemprego em massa, as doenças psicossomáticas e a própria aniquilação da estrutura de saúde pública e de assistência social nacional, levarão muitos brasileiros a óbito.
O verdadeiro vírus político, interesseiro e nefasto, conjugado com o populismo de governadores e de prefeitos, temerosos em reativarem a economia e serem eventualmente taxados de insensíveis à vida (saúde) humana, esse sim é "inovador", motivando atitudes e ações nocivas e que não trazem as melhores consequências para o todo da população brasileira.
Respostas ilusórias e enganosas a crise viral, tem inclusive demostrado algo ainda mais letal e destruidor.
A luta pelo poder tem servido de pretexto para ações autoritárias que, de fato, estão começando a comer pelas beiradas, na direção inimaginável da destruição total das liberdades e dos direitos civis dos brasileiros. Sabemos em que ações deste tipo podem resultar! Surreal!
Bem, não bastasse isso, essa irracionalidade alijada de dados e fatos verdadeiros, não parece ter nem só vontade política, como tristemente, data para acabar...
Temo e tenho afirmado que o remédio terá um gosto amargo, muito pior do que a doença! Em breve o veremos.
Em 13/05/2020
VIDEOCONFERÊNCIA COM PAULO GUEDES
No último sábado, 9/5, assisti a videoconferência promovida pelo Itaú BBA, na qual o ministro Paulo Guedes fez uma análise da situação atual da nossa economia, mostrando que a PORTA DE SAÍDA desta fantástica crise está na OFERTA DE CONCESSÕES DE INFRAESTRUTURA, notadamente nos setores: SANEAMENTO BÁSICO, ELÉTRICO E PETRÓLEO.
INFRAESTRUTURA
Vejam que no editorial de 22 de abril (18 dias antes), com o título -A INFRAESTRUTURA COMO INSTRUMENTO DE RECONSTRUÇÃO- manifestei, -ipsis literis- tudo aquilo que no sábado passado o ministro Paulo Guedes manifestou, de forma pública, direta e carregada de convicção.
CONCESSÕES PÚBLICAS
No meu editorial do dia 22/4 está registrado o seguinte: - Diante da clara e inegável situação de que enquanto o PODER DE COMPRA e de CRÉDITO dos brasileiros não forem recuperados, grande parte dos produtos e serviços normalmente CONSUMIDOS vão passar por uma DEMANDA REDUZIDA. Assim, o momento é pra lá de propício para que o governo deflagre, via CONTRATOS DE CONCESSÕES, de um megaprograma de OBRAS DE INFRAESTRUTURA.
GOVERNO COMO FACILITADOR
No mesmo editorial aponto a proposta que defendo: TODAS as OBRAS devem ser realizadas com RECURSOS PRIVADOS, via CONCESSÕES, PERMISSÕES e PPPs. Ou seja, o governo não entra como ATOR na tarefa da CONSTRUÇÃO DE OBRAS DE INFRAESTRUTURA, apenas como FACILITADOR. Quem entra como FISCALIZADOR do que estará posto nos EDITAIS são as AGÊNCIAS REGULADORAS.
MARCO REGULATÓRIO
A considerar que nunca se falou tanto em SAÚDE PÚBLICA e, pasmem, mais de 100 milhões de brasileiros (50% da população) não têm acesso ao necessário SANEAMENTO BÁSICO, nada melhor do que começar pelo que mais falta no Brasil.
Isto, para desespero geral, ainda depende da boa vontade dos senadores, pois o MARCO REGULATÓRIO DO SANEAMENTO está pronto para ser votado no Senado. desde 2017. Pode?
SANEAMENTO, ELÉTRICO E PETRÓLEO
A rigor, o governo está esperando (sabe-se lá até quando) que Congresso Nacional se digne a votar não apenas o MARCO REGULATÓRIO DO SANEAMENTO como também outros dois de extrema importância: o MARCO REGULATÓRIO DO SETOR ELÉTRICO; e o MARCO REGULATÓRIO DO PETRÓLEO (que só existe para partilha e não para concessão).
SENADORES EXTENUADOS
Pois, o que mais me chamou a atenção é que nenhum dos interlocutores perguntou ao ministro Guedes como estão as negociações e/ou tratativas para fazer com que os -extenuados- senadores se dignem a APROVAR estas três medidas que, repito, são -FICHA 1- naquilo que pode, efetivamente, impulsionar a quase parada economia brasileira.
Detalhe frustrante: a videoconferência foi encerrada e sigo sem saber se a PANDEMIA será capaz de fazer com que os nossos senadores se preocupem com a SAÚDE BÁSICA. Espero que alguém tenha a resposta...