Mais um ator idoso antecipou a própria morte. Chamava-se Flavio Migliaccio. Foi bom ator, por sinal. A velhice para muitos se tornou maldita. Até Lima Duarte mimou a morte do colega e exaltou sua coragem de matar-se. Esses homens são semelhantes à Tamargueira, uma planta do deserto, que muitas vezes é exuberante por fora e oca por dentro.
O velho Platão na sua República já dizia que a boa velhice depende muito mais da vida que se viveu do que daquilo que se faz dela no presente. Ou seja, é o modo como vivemos a nossa vida inteira até hoje o que torna a velhice bela e feliz. Não o contrário. A velhice, por sua vez, revela perfeitamente de que 'material' é feito o ser humano: contingência, fragilidade, 'argila quebrável', pequenez, corruptibilidade e mortalidade. Quem não levar a sério essa verdade, irá amaldiçoar a decadência física e a idade avançada.
O escritor latino, Cícero, ao falar da velhice, recomendava o suicídio quando alguém ficasse cego, surdo e incapaz de tudo. Muitos artistas se assemelham aos revolucionários: têm pressa de justiça, de purificação, de limpeza, de libertação. Como alguns discípulos de Jesus, anseiam por arrancar o joio antes do tempo e da colheita, ação que não nos cabe enquanto humanos. Todos os revolucionários são apressados e agressivos. Quando não acantonam ou não matam os outros, acantonam-se e matam-se a si mesmos.
Revolucionários não amam, só lutam. Querem antecipar o paraíso, quase sempre pela força, e, embora não se tenham dado a si mesmos e nem dado aos outros a própria vida, creem-se no direito de tirá-la. O suicídio é uma agressão não apenas a si, mas também aos outros. Os mortais que antecipam a própria morte não suportam a vida como ela nos foi dada nem como ela é.
Flávio Migliaccio, Lima Duarte e tutti quanti, artistas famosos e/ou de sucesso, tiveram seu tempo de glória, seus aplausos, sua fama, seu dinheiro.... Não era isso que desejavam quando entraram para o mundo do teatro e do cinema? O que mais queriam além daquele horizonte? Talvez pensassem em poder permanecer sempre na mesma glória, no mesmo lugar, sempre jovens, energéticos, ovacionados, admirados? Tiveram o que desejaram. O que mais almejavam?
A bem da verdade, foram pessoas que olharam muito o próprio umbigo, amaram o próprio ego, o seu mundo particular. No fundo não amaram outrem além de si, foram só amados. O Flávio pede para os que lerem a sua carta de despedida para que cuidem das crianças: de quais crianças ele está se referindo? Das do mundo inteiro? Das do Brasil? Das favelas? Para quem ele dirigiu essa súplica? Para os próprios familiares? Para os governantes? Para o papa? Para os irresponsáveis que geraram filhos e os abandonaram? E o Flávio, durante a vida, cuidou de alguma criança? Quais e quantas? Onde? Não sabemos. O que sei é que há muitíssimos pais que cuidam muito de suas crianças. Mas há os que vivem da lei: 'o prazer é meu, o filho é teu'. Quem são os que não cuidam dos seus rebentos? Artistas que falam assim, genericamente, são exuberantes por fora, mas são ocos por dentro, não vivem em amores reais, mas abstratos, vazios. Acusam uma sociedade sem cabeça e sem mãos.
O suicídio é um soco de ingratidão no rosto da vida de quem o desfere e que lhe proporcionou oportunidades. Porque não têm a honestidade de dizer para si mesmos que viveram uma vida de merda, que só pensaram em si mesmos, muitos desses velhinhos são verdadeiros chorões mimados.
Lima Duarte imputa ao 1964 e aos anos adjacentes suas infelicidades pelos 90 anos vividos. Também Jean Jacques Rousseau (nascido em 1712), o pai do romanticismo ocidental e inspirador da Revolução Francesa, já no limite de sua existência, teve atitude parecida: atribuiu a desgraça e infelicidade da sua própria e idosa vida à sociedade elitista francesa (na qual viveu e da qual tirou proveito) que não o valorizava suficientemente. Para esse tipo de ego não há amor que baste. Conseguiram ser o que são com a ajuda dos outros, mas sempre será pouco o que se faz e o que se fez por eles. Querem conferir esse clássico lamento rousseauniano? Basta lermos as primeiras páginas de seu último escrito póstumo: "Devaneios de um caminhante solitário". Até quando esse choro e esse lamento de muitos artistas e intelectuais vai durar? Tiveram o sucesso que queriam. Receberam o carinho e a atenção de milhares de pessoas, muitas delas totalmente desafortunadas, em situação muito pior que a deles e, no entanto, estão apegados a alguns furúnculos e agruras do passado. Sofrem ressentidos as dificuldades frequentes que todos os humanos comuns também padecem.
Os humanos 'normais' seguem em frente e não tem a chance de se lamentar porque normalmente não chegam nem sequer aos 80. Vivem, como afirma o estudioso canadense, Nortrop Frey, "uma vida irônica", uma 'narrativa imitativa baixa'. Sobrevivem sem nenhum amparo, exceto suas próprias forças e sua fé. O que mais esses artistas querem além do que queriam? Querem ser carregados no colo para que não sejam sujados e machucados seus pés? O que eles nos ensinam com suas lamúrias de terceira idade? Nada ou quase nada. Conseguiram quase tudo o que artistas de nosso país poderiam ter conseguido e mesmo assim resmungam. É o reflexo de uma vida interior oca, sem esperança, sem gratidão. São vítimas do seu próprio niilismo e ressentimento.
Alguns internautas choram e se comovem de pena ao vê-los assim decaídos, mas tais artistas são, na verdade, crianças mimadas: acham-se grandes nas coisas que lhes afaga o ego e pequenos nas coisas em que a grandeza da própria responsabilidade lhes exigiria honestidade nas lágrimas. Como perguntava Dante: 'Tu, quando choras, de que coisa choras'? Tuas lágrimas são lágrimas de um puro injustiçado? Ou, porventura, também praticaste injustiças? Sempre tiveste o pão sobre a mesa, o aplauso dos palcos, o carinho do público. Quem estaria machucando a tua velhice? A Rede Globo? O governo? Ora, ora, sr... Lima Duarte! Onde estão as amizades que construíste, os amores que viveste, os afetos que alimentaste, as relações profundas que porventura estabeleceste? Ou não construíste nada de espiritual e humano ao teu redor? Se tens amigos e pessoas que te amam, por que choras? Por que te lamentas se tiveste uma existência privilegiada? Quem está ferindo tua dignidade 'excelente'? Por que tua vida tão famosa e tão bonita se tornou uma bosta? E por que teus 90 anos têm mais valor e importância que a de outros milhares de idosos desse país? É ainda sintomático que ao final do vídeo que gravou homenageando o colega de teatro agora morto, Lima Duarte cita uma frase de Bertold Brecht, o intelectual servidor e defensor de Stalin que, embora nascido próximo a Munique, viveu convenientemente grande parte da sua vida na Alemanha Oriental, pois lá obtinha dinheiro e benesses infames que lhe chegavam dos saques perpetrados pelos regimes totalitários impostos pela União Soviética.
Brecht foi um intelectual que vendeu sua alma ao partido comunista soviético a quem serviu ignominiosamente durante seus últimos 30 anos. Mesmo sabendo de todos os crimes cometidos por aquele ditador assassino, Brecht permaneceu um homem fiel a ele, numa cômoda zona intelectual e psicológica fria e cruel. Por causa disso, nenhuma obra de teatro de Brecht deveria ser encenada. O historiador Paul Johnson o chamou de intelectual 'coração de gelo'. Com efeito, a frase usada por Lima Duarte cabe bem, portanto, à própria autobiografia de quem a escreveu: 'mãos lavadas no sangue'. Sangue de quem? Não o próprio, mas o sangue dos outros, evidentemente. Sem o sacrifício de muitos, Brecht não teria sido Brecht. Sem o apoio de todo aparato sanguinário comunista soviético, Brecht teria sido um zé ninguém. Foi apoiando o sangue derramado dos outros que Brecht viveu sua hipocrisia e sua vida de benesses. Até com a sua própria mãe, Brecht foi um ingrato e um cruel: depois do enterro levou amigos até sua casa para 'encher a cara' desprezando o sentimento dos demais irmãos. Ingratidão é um grande verme que medra a alma de muitos artistas e políticos, mas, sobremaneira, de revolucionários. Creem-se poderosos e semideuses, quando não o são. O homem não é Deus e a velhice e a morte juntas são a sua melhor fotografia.
Nossa sorte é que a morte nos atingirá a todos indistintamente. Por isso não é preciso morrer antes do tempo porque em hora incerta ela virá com certeza absoluta. É só viver bem e esperar. Morrer de velhice foi a mais bela invenção que a vida nos deu. Só Deus poderia tê-la criado.
Santa Maria, maio de 2020.
*O autor é professor de Filosofia na UFN em Santa Maria/RS
Uma simples mulher existe que, pela imensidão de seu amor, tem um pouco de Deus;
e pela constância de sua dedicação, tem muito de anjo; que, sendo moça pensa como uma anciã e, sendo velha , age com as forças todas da juventude;
quando ignorante, melhor que qualquer sábio desvenda os segredos da vida e, quando sábia, assume a simplicidade das crianças;
pobre, sabe enriquecer-se com a felicidade dos que ama, e, rica, empobrecer-se para que seu coração não sangre ferido pelos ingratos;
forte, entretanto estremece ao choro de uma criancinha, e, fraca, entretanto se alteia com a bravura dos leões;
viva, não lhe sabemos dar valor porque à sua sombra todas as dores se apagam, e, morta tudo o que somos e tudo o que temos daríamos para vê-la de novo, e dela receber um aperto de seus braços, uma palavra de seus lábios.
Não exijam de mim que diga o nome desta mulher se não quiserem que ensope de lágrimas este álbum: porque eu a vi passar no meu caminho.
Quando crescerem seus filhos, leiam para eles esta página: eles lhes cobrirão de beijos a fronte; e dirão que um pobre viandante, em troca da suntuosa hospedagem recebida, aqui deixou para todos o retrato de sua própria Mãe.
(Tradução de Guilherme de Almeida)
* Bispo de La Serena e de Ancud, Chile (1852 – 1917)
Em meio a um turbilhão de problemas, preocupações e incertezas políticas e econômicas, um verdadeiro pandemônio alimentado pela saída do ministro da Saúde e, poucos dias depois, aquela saída nada cavalheiresca do ministro da Justiça e Segurança Pública, tudo isso em tendo como cortina a enorme tensão provocada por confinamentos, máscaras, estímulos ao pânico, prisões de senhoras por caminharem em praias e ataques incessantes ao governo por parte da velha mídia, volto a dizer, em meio a tudo isso e como se fosse pouco, eis que se passou uma cena inacreditável.
Segundo revelou em primeira mão o site Poder360, repercutido depois por diversos órgãos de imprensa e nas redes sociais, o governador de São Paulo, do PSDB, telefonou para o ministro da Economia pouco depois impacto provocado pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública ao demitir-se no dia 24 de abril. Até aí, nem o Neves tinha morrido.
Mas, quando o governador sugeriu ao ministro que desembarcasse do governo federal, pois assim fazendo estaria “salvando sua biografia”, a chamada revelou-se uma cantada. E a resposta do ministro foi uma verdadeira pancada, segundo relatou a matéria. Eis o diálogo em toda a sua bizarrice:
Governador – Paulo, estou te ligando não como governador, mas como amigo. Quem sustentava o governo era o Sergio Moro e você. Agora, sobrou você. Você é muito admirado. Em nome da sua biografia, quero te dar um conselho: desembarque do governo agora.
Ministro – João, eu agradeço sua ligação, mas não sou eu que sustento o governo Bolsonaro. Quem sustenta o governo é o povo que elegeu o presidente. Ele tem 1/3 de apoio. E outro 1/3 que fica no meio do caminho depois vai apoiá-lo. João, o país vive 1 momento democrático que é barulhento, mas virtuoso.
Sobre a gravidade desse episódio, recomendo vivamente os comentários de Guilherme Fiuza nesse vídeo com o sugestivo título O homem e o rato.
Francamente, essa atitude do governador do estado mais importante do país é inadmissível, vergonhosa, constrangedora, uma verdadeira traição ao povo que o colocou no palácio dos Bandeirantes e de resto a todos os brasileiros que têm amor ao país.
Primeiro, pela absoluta falta de ética. Como uma autoridade estadual pede a uma autoridade federal para entregar o cargo e abandonar o governo? Isso não tem nenhum cabimento moral e nem jurídico. É uma cantada imoral, de envergonhar até o mais tosco paquerador.
Segundo, pela total falta de patriotismo. Como um homem com tamanha responsabilidade, como sói ser a de governar o grande motor da economia do país, e sabendo que o ministro da Economia vem adotando uma política correta e que, portanto, sua saída, em meio a tantas incertezas provocadas pela pandemia, seria muito provavelmente a bomba que faltava para desestabilizar de vez a economia, o governo e o país?
A resposta do ministro da Economia foi uma pancada na imoralidade e uma formidável patada na ausência absoluta de patriotismo de seu interlocutor, que não mostrou qualquer escrúpulo em manchar o mandato que os paulistas lhe conferiram, em rasgar a ética e em tentar desestabilizar o país, tudo para semear uma ainda impalpável candidatura à presidência, que só acontecerá daqui a mais de dois anos. Não posso afirmar, mas acho que o autor dessa iniquidade possa ter se queimado de vez.
* Doutor em Economia (EPGE/Fundação Getulio Vargas, 1984); Presidente-Executivo do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP); Diretor Acadêmico e Membro Honorário do Instituto von Mises Brasil (IMB); Editor-Chefe de MISES: Revista Interdisciplinar de Filosofia, Direito e Economia; Laureado com o Premio Intenazionale Liber@mente 2013, em Catanzaro, na região da Calábria (Itália)
Professor Visitante da Scuola di Liberalismo e Membro do Corpo Editorial da Rivista Liber@mente, da Fondazione Vincenzo Scoppa, de Catanzaro, Itália; Membro do Scientific Board da book chain "Il Liberalismo delle Regole", com Dario Antisseri, Flavio Felice e Francesco Forte, Roma, Itália
DECISÃO LAMENTÁVEL
A lamentável, mas não impensada, decisão tomada pelo ministro do STF, Celso de Melo, de impor -CONDUÇÃO DEBAIXO DE VARA-, dos ministros Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, general Braga Neto, da Casa Civil, e do general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Nacional, para prestar depoimentos sobre a possível interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal, como não podia deixar de ser, gerou enorme insatisfação em todos os meios e, principalmente, nas Forças Armadas.
CONDUÇÃO SOB VARA
Ora, como são muitos os brasileiros que além dos ministros que foram convocados e das Forças Armadas também não gostaram nem um pouco da forma -HOSTIL- utilizada por Celso de Melo para fazer a tal convocação, tratei, primeiramente, de entender o que significa a tal de CONDUÇÃO SOB VARA, ou DEBAIXO DE VARA.
EXPRESSÃO -CONDUÇÃO SOB VARA-
Pois, como bem informa o pensador e advogado Paulo Caliendo, a expressão -CONDUÇÃO SOB VARA , ou DEBAIXO DE VARA, indicava exatamente essa ação:
"OS MEIRINHOS, OU OFICIAIS DE JUSTIÇA, POR ORDEM DE UM JUIZ, PODERIAM BUSCAR OS RÉUS E AS TESTEMUNHAS RECALCITRANTES E TRAZÊ-LOS À SUA PRESENÇA CUTUCANDO OS INFELIZES COM ESSAS VARAS PELO CAMINHO PARA MOSTRAREM À POPULAÇÃO QUE ALI ESTAVA UM MAU SUJEITO, UM RENITENTE, UM CABRA TURRÃO, ARREDIO, INSUBMISSO, E QUE ELE, OFICIAL DE JUSTIÇA, ENVERGANDO AQUELA VARA, PERSONIFICAVA A PRÓPRIA AUTORIDADE DO JUIZ."
HUMILHAÇÃO
Uma vez esclarecida a expressão -CONDUÇÃO SOB VARA- vamos para a próxima indagação: - Qual o motivo que levou o provocador ministro Celso de Melo a usar este expediente? Pois, dentre aquelas que considero como mais possíveis, a que mais me chama a atenção e preenche melhor a minha dúvida é que Celso de Melo resolveu saber até que ponto as Forças Armadas estão dispostas a aceitar e/ou tolerar esta flagrante HUMILHAÇÃO a que estão sendo submetidos os ministros-generais.
DE JOELHOS
Como estou trilhando o caminho da mais pura especulação, pois não sei se os ministros estão dispostos a comparecer no dia e hora que o péssimo e provocador ministro Celso de Melo marcou para serem ouvidos, tudo leva a crer que, para evitar tamanha HUMILHAÇÃO, nenhum deles se mostra disposto a se AJOELHAR, publicamente, diante do Ser Supremo.
TAMANHO DA VARA
Mais: estou curioso para ver o TAMANHO DA VARA que o ministro Celso de Melo vai disponibilizar para que seus OFICIAIS DE JUSTIÇA CUTUQUEM OS INFELIZES, PARA MOSTRAREM À POPULAÇÃO QUE ALI NO CAMINHO ESTÃO CERTOS MAUS SUJEITOS, RENITENTES, ARREDIOS e INSUBMISSOS.
A ver...
07/05/2020
Deus é brasileiro! No Brasil de Alice tudo parece estar quase perfeito.
Tal qual a máxima comportamental “seja quem você quiser”, aqui e agora, a gratificação imediata continuará reinando soberanamente sobre a necessidade de sacrifício de evitar o consumo no presente.
Inexiste cultura de poupança a fim de se economizar e investir em empreendimentos e bens de capital - máquinas e equipamentos inovadores - que são aqueles que produzem novas soluções para as pessoas em nível de produtos e serviços melhores e/ou mais baratos.
Em tempos de coronavírus, no país de Alice, parcela significativa de pessoas está alegre como nunca.
Funcionários públicos, bondosos e receptivos ao “fiquem em casa”, regado a bons vinhos e queijos, na praia, ou talvez na serra, e muito Netflix. Só esperar o cheque no início do mês...
Muitos daqueles que não conseguem trabalhar, muitos que trabalham, mas não conseguem cumprir com seus compromissos financeiros, e muitos que não querem trabalhar, parecem satisfeitos em “ficar em casa” - aqueles que as têm - vivendo com o “auxílio governamental”.
Quiçá valha mais a pena receber do Estado do que trabalhar?!
O Estado realmente é o salvador da pátria!
A grande verdade é que nesse país, faz décadas, mergulhado em políticas econômicas keynesianas, estatistas e clientelistas, embaladas com muita corrupção, a figura menor, tristemente desimportante, é a do empresário, do real empreendedor.
No país de Alice o que menos importa é o empreendedor! Não é preciso! Basta que o Banco Central brasileiro continue imprimindo moeda; singelo e tranquilo!
Nesse cenário orwelliano, não se preocupem, o capital - que não é só papel impresso descomplicadamente - não é escasso! Não é?!
O que essa gente míope em terra tupiniquim não percebe, é que sendo o capital - máquinas e equipamentos, etc. - escasso, todos nós também necessitamos de pessoas que resistam as gratificações de curto prazo, e que economizem (processo de longo prazo) para poderem investir em bens tangíveis necessários a todos nós para produzir outros bens e serviços reais de consumo que obviamente também são escassos.
Meus senhores, não dá para imprimir - embora até seja possível (!) - bens de capital com as impressoras do Banco Central!
Bondosos e keynesianos se esquecem - propositalmente - que o capital é verdadeiramente escasso e requer sacrifício genuíno!
Humanistas e keynesianos negligenciam que o desenvolvimento de qualquer sociedade livre e próspera depende da capacidade empreendedora criativa e da quantidade de poupança de empreendedores, a fim de que se realizem investimentos produtivos capazes de provocar processos de destruição criativa.
Empreendedores poupam, sacrificam-se, na esperança de obtenção de lucro futuro.
Num Brasil de taxas de juros reais baixas, com um ambiente de negócios ainda complexo e burocrático, só mesmo corajosos e ousados empreendedores para correrem enormes riscos para investirem por aqui.
Parece que muitos não percebem que está todo mundo tomando dinheiro emprestado do Estado para sobreviver!
Evidente que nessa crise viral foi indispensável afrouxar a disciplina fiscal e prover ajuda para os indivíduos e as empresas por meio de mecanismos eficientes de auxílio, apoio e proteção.
Contudo, nunca convém esquecer que o Estado não produz nada! Pode mesmo até destruir riqueza.
Keynesianos e benevolentes brasileiros; são os indivíduos e as empresas que geram empregos e criam renda e riqueza! E quase todos esses estão impedidos de saírem de casa e de produzirem...
Quando eles saírem de casa, temo que a alegria do país de Alice comece a arrefecer...
Não há almoço grátis, não, não há, e “alguém” precisará pagar a enxurrada de dúvidas...
Pobre Alice...
Curitiba, sábado pós-feriado do Dia do Trabalho. Sede da Superintendência da Polícia Federal paranaense. Audiência desdobrada entre o final da manhã e o início da noite. Presentes na repartição o depoente, dois delegados da Polícia Federal, três advogados, três procuradores da República designados pelo Chefe do Ministério Público da União e um escrivão.
Este cenário resultou num depoimento de dez laudas, na disponibilização, pelo ex-ministro Sérgio Moro, de uma conversa ocorrida no seu aparelho celular entre ele e o Presidente da República, numa aparente confusão entre relatórios de inteligência e de inquérito e, por fim, de referências nominais a Ministros de Estado que teriam participado de tensas negociações nos últimos dias de abril. Dentre as respostas às indagações formuladas ao depoente, algumas chamaram a atenção. A referência de que caberia ao titular do Palácio do Planalto prestar esclarecimentos sobre os motivos das trocas do Diretor Geral e dos Superintendes da Polícia Federal nos Estados do Rio de Janeiro e de Pernambuco, bem como sobre quais informações especificamente pretendia obter da PF e que lhe teriam sido sonegadas foi uma delas, eis que apareceu por sete vezes.
Esta, sem margem para muitas dúvidas, foi uma questão relevante que emergiu com força. Aliás, provavelmente a mais relevante de todas. Afinal, além de não abordar frontalmente o item relacionado à suposta vaga para o Supremo Tribunal Federal, o experiente ex-juiz, seja não elucidando, seja alegando desconhecer quais seriam os efetivos motivos do Presidente da República para efetuar as trocas, “interferências na PF” conforme acusou na sua coletiva, deixou transparecer que não dispõe de outras provas acerca dos fatos que alegou. Ao menos nesta etapa da marcha do processo é o que se pode depreender da leitura do termo.
Contudo, diante da petição do Procurador Geral da República que deflagrou a investigação, o momento para a entrega de áudios, vídeos e outros elementos mais, caso existam - ou existissem-, seria ali, salvo se o outrora magistrado aposta na judicialização do inquérito para ampliar o leque probatório das suas imputações. No entanto, isso pode ser - ou ter sido - uma estratégia arriscada caso as testemunhas a serem inquiridas logo adiante não confirmem as suas versões.
De outra parte, o Chefe do Poder Executivo “interagir, telefonar e obter relatórios de inteligência” não tipifica, de modo pronto e acabado, na conduta de interferir num órgão público. E sempre é importante lembrar que no campo probatório, sobremodo na seara criminal, a prova deve ser inequívoca. Ademais, o depoente enfatizou, por duas vezes, que o Presidente alegou improdutividade funcional para as mencionadas substituições. Enfim, ainda é prematuro avançar.
Como já era imaginado, o teor da oitiva gerou expectativas e posicionamentos. Juristas, parlamentares, formadores de opinião e veículos de comunicação, cada um se filiando a um determinado entendimento, externaram os seus pontos de vista. Porém, uma vez racionalizado o depoimento e, a despeito das múltiplas versões ou análises vertidas em torno dele, algumas enfatizando outras aniquilando um e outro trecho do seu conteúdo, o certo é que não houve nenhuma revelação do tipo “bombástica” como se costuma aguardar de um episódio que tomou a proporção deste. Muita fumaça e pouco fogo.
* Advogado, Professor de Direito Eleitoral e Escritor.