Assim como as vacinações obrigatórias na infância, acho que todos deveriam ler “A Revolução dos Bichos” de George Orwell antes da maioridade. Recomende-o a seus filhos adolescentes, tem PDF na internet. O livro provoca o surgimento de anticorpos ideológicos no organismo do leitor, prevenindo contra febres típicas da idade, uma vez que o esquerdismo radical é uma epidemia que esporadicamente grassa mundo afora nos grupos de risco dos jovens e ingênuos.
Quase todos recém-chegados ao planeta caem na sedução fantasiosa da sociedade perfeita, sem classes, feliz e saltitante. E aí, seus sonhos legítimos de um mundo mais justo são sugados pelo esquerdismo para fins escusos. Muitos superam a virose e saem imunes a futuras mutações. Outros, infelizmente, são infectados para sempre e terminam seus dias como blogueiros raivosos, ativistas-feicebuque ou ferrenhos militantes do atraso. Não têm cura.
Baseando-se no terror da União Soviética pós-guerra, Orwell descreveu o sistema tirânico onde “todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros”. Na analogia - simples, porém magistral - o autor denuncia e ironiza a clássica estrutura comunista, onde uma grande massa iludida (e invariavelmente faminta) sustenta uma gorda elite de mandatários, secretários, comissários, companheiros – esse tipo de gente que namora regimes opressores e a boa-vida às custas de dinheiro público.
Ao escrever sua obra, em 1945, George Orwell não imaginava que daí a quatro décadas a burocracia anacrônica ditatorial russa desencadearia o pior acidente nuclear da história. Os reatores do tipo RBMK de Chernobyl e de outras usinas soviéticas tinham um erro absurdo de projeto – todos sabiam, mas ninguém podia tocar no assunto. Ditadura é assim: abriu o bico, criticou? Sumiu. Quando explodiu o reator 4, o temor de assumir a culpa e a fuga de responsabilidades ao longo da escala hierárquica deu a dimensão da tragédia.
Ditaduras – cubanas, russas, chinesas, árabes, coreanas, tailandesas, sejam lá de onde forem, de esquerda ou direita - são idênticas na condução desses episódios de acidentes abafados. Há pouco, o Irã custou a admitir seu erro ao abater o avião ucraniano. Agora, na pandemia, a ditadura chinesa seguiu a mesma cartilha. Enrolaram para avisar sobre a nova peste, tiraram o corpo fora, despistaram. E quando finalmente deram explicações, surgiram controvérsias assustadoras.
O cientista francês Luc Montagnier, prêmio Nobel de Medicina de 2008, alertou que o novo coronavírus teria sido fabricado artificialmente num laboratório chinês no final de 2019. O Wuhan Institute of Virology abriga pesquisas de alta segurança em cepas de coronas. Montagnier supõe que os chineses trabalhavam numa vacina contra a Aids e empregaram o vírus num teste. Um acidente – talvez lambança do pesquisador-chefe sob as vistas do pesquisador-ajudante, que ficou caladinho de medo – fez a coisa se espalhar.
Envolvido que está com a pandemia e seus percalços, o mundo não pode ignorar estranhos acontecimentos simultâneos dos bastidores. A revista "Forbes" publicou semana passada uma extensa reportagem com alertas para a fúria desenfreada de aquisições de empresas ocidentais em apuros “com baldes e mais baldes de dinheiro chinês”. A China vem comprando corporações, portos, emissoras de TV, infraestruturas, participações acionárias, tudo que indique um bom negócio. E, sobretudo, vem comprando tecnologia.
Irônico, o jornalista Kenneth Rapoza, que assina a matéria da "Forbes", escreveu: “é um milagre que a Itália ainda produza máquinas de café expresso 100% italianas”. A invasão chinesa no país da moda e da beleza é uma das mais antigas e ostensivas. No caso do café, ao menos é um milagre bem-vindo. Ninguém gostaria de correr o risco de se expor a uma nova trapalhada ditatorial justamente nos pequenos prazeres da vida, como saborear um cappuccino.
* Publicado originalmente no jornal O Tempo de Belo Horizonte e enviado pelo autor.
** https://www.otempo.com.br/opiniao/fernando-fabbrini/trapalhadas-comunistas-1.2327872
A afirmação implícita no título deste trabalho baseia-se em vários aspectos que se combinam para dar à crise econômica cubana um caráter diferente e muito superior a qualquer outro cenário anterior. Há quatro pontos a considerar neste terminal de crise.
Primeiro, o "fidelismo" que a ditadura cubana abraça é uma ideologia que, no aspecto econômico, o que ensinou é a depender de outro país. Enquanto Fidel Castro governava, Cuba sempre dependia de terceiros; primeiro da antiga União Soviética e depois da Chavista Venezuela, até hoje. Por esse motivo, buscar o "fidelismo" uma solução econômica quando a Venezuela se libertar de seus opressores castristas, será muito difícil ou, na minha opinião, quase impossível.
Segundo, a ideologia de base, por trás do fidelismo - o marxismo - ensina como nacionalizar a economia e como manter o povo oprimido para que o capitalismo libertador não retorne. No entanto, o marxismo não escreveu uma única linha sobre como produzir bens e serviços; portanto, a única solução econômica para progredir é retornar ao antigo (e bom) capitalismo.
Terceiro, as sanções que Donald Trump impôs à ditadura de Castro por suas ações opressivas na Venezuela “madurista”, reduziram consideravelmente a entrada de dólares na economia cubana, que manteve o país em um estado de subsistência mínima e terminou.
Quarto - como ponto culminante do desastre – manifesta-se a pandemia de Coronavírus, com a qual o castrismo iniciou uma propaganda para o turismo "de saúde" estrangeiro, superando a epidemia, mas que finalmente teve que respeitar a quarentena forçada, fechando os centros turísticos e de trabalho, tornando-se uma espécie de xeque-mate do "jogo" da ditadura de Castro contra Cuba.
Se a esse panorama econômico negro, acrescentamos a fraqueza da divisão produzida na alta hierarquia de Castrona sucessão geracional – como demonstrado pela estranha liberação de dois opositores do calibre de José Daniel Ferrer e Luis Manuel Otero Alcántara devido a pressões estrangeiras – estamos realmente diante de uma situação nunca antes vista na ilha que, além disso, carece de Fidel Castro e sua motivação a todo custo em crises anteriores.
Tudo acima mostra o esgotamento do modelo opressivo, que no aspecto econômico não tem outra alternativa para o capitalismo na economia, se os novos governantes cubanos querem manter o poder e se os próximos movimentos dos EUA contra o Chavista Venezuela continuarão. Eles deixam espaço para manobras políticas para continuar oprimindo o povo cubano.
Desnecessário dizer que é precisamente agora o momento do ponto mais fraco do castrismo nos mais de sessenta anos de opressão. Qualquer centelha poderia explodir a ditadura que nos oprime. A palavra é para dignos cubanos dentro e fora da ilha.
17 de abril de 2010
O Coronavírus nos faz despertar novamente para o pesadelo comunista.
Chegou o Comunavírus.
É o que mostra Slavoj Žižek, um dos principais teóricos marxistas da atualidade, em seu livreto “Virus”, recém-publicado na Itália (*). Žižek revela aquilo que os marxistas há trinta anos escondem: o globalismo substitui o socialismo como estágio preparatório ao comunismo. A pandemia do coronavírus representa, para ele, uma imensa oportunidade de construir uma ordem mundial sem nações e sem liberdade.
Cito e comento, a seguir, alguns trechos do livreto de Žižek, essa obra-prima de naïveté canalha, que entrega sem disfarce o jogo comunista-globalista de apropriação da pandemia para subverter completamente a democracia liberal e a economia de mercado, escravizar o ser humano e transformá-lo em um autômato desprovido de dimensão espiritual, facilmente controlável:
“Tomara que se propague um vírus ideológico diferente e muito mais benéfico, e só temos a torcer para que ele nos infecte: um vírus que faça imaginar uma sociedade alternativa, uma sociedade que vá além do Estado-nação e se realize na forma da solidariedade global e da cooperação.”
“Uma coisa é certa: novos muros e outras quarentenas não resolverão o problema. O que funciona são a solidariedade e uma resposta coordenada em escala global, uma nova forma daquilo que em outro momento se chamava comunismo.”
Žižek não esconde seu anseio e sua convicção de que um vírus “diferente e mais benéfico” do que o coronavírus, o vírus ideológico, contagiará o mundo e permitirá construir o comunismo de uma forma inesperada. Não está sequer interessado naquilo que funciona ou não funciona para combater o coronavírus, a quarentena ou o fechamento de fronteiras, pois o objetivo não é debelar a doença, e sim utilizá-la como escada para descer até o inferno, cujas portas pareciam bloqueadas desde o colapso da União Soviética, mas que finalmente se reabriu. Tudo em nome da “solidariedade”, claro, do mesmo modo que no universo de 1984 de Orwell a opressão sistemática fica a cargo do “Ministério do Amor”. Quem quiser defender suas liberdades básicas, quem quiser continuar vivendo num Estado-Nação, estará faltando com o dever básico de “solidariedade”.
“Um primeiro e vago modelo de uma tal coordenação na escala global é representado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (...) Serão conferidos maiores poderes a outras organizações desse tipo.”
Não escapa a Žižek, naturalmente, o valor que tem a OMS neste momento para a causa da desnacionalização, um dos pressupostos do comunismo. Transferir poderes nacionais à OMS, sob o pretexto (jamais comprovado!) de que um organismo internacional centralizado é mais eficiente para lidar com os problemas do que os países agindo individualmente, é apenas o primeiro passo na construção da solidariedade comunista planetária. Seguindo o mesmo modelo, o poder deve ser transferido também para outras organizações, cada uma em seu domínio. Žižek não o especifica, mas provavelmente tem em mente uma política industrial global sendo ditada pela UNIDO, um programa educacional global controlado pela UNESCO e assim por diante.
“Tudo isto acaso não mostra com clareza a necessidade urgente de uma reorganização da economia global que não esteja mais sujeita aos mecanismos do mercado? E aqui não estamos falando do comunismo de outrora, naturalmente, mas de algum tipo de organização global que possa controlar e regular a economia, como também que possa limitar a soberania dos Estados nacionais quando seja necessário.”
Sim, não é o comunismo de outrora, que instalava ora num país, ora noutro, um sistema de planejamento econômico central, sempre fracassado em proporcionar bem-estar, sempre exitoso em controlar e oprimir a sociedade. Trata-se agora de um planejamento central mundial, que certamente traria o mesmo fracasso e o mesmo êxito desse modelo quando aplicado no passado na escala nacional.
“Muitos comentaristas progressistas moderados e de esquerda revelaram como a epidemia do coronavírus se presta a justificar e legitimar a imposição de medidas de controle e disciplina das pessoas até aqui inconcebíveis no quadro das sociedades democráticas ocidentais."
Žižek menciona entre esses comentaristas a Giorgio Agamben, filósofo de esquerda aparentemente não-marxista, que escreveu com grande apreensão sobre o cerceamento de liberdades que está em curso e que considerou a reação à pandemia um pânico altamente exagerado (**). Mas aquilo que esses comentaristas vêem com preocupação, Žižek recebe com júbilo, e intitula o capítulo em que trata desse tema justamente:
"Vigiar e punir? Sim, por favor!"
Refere-se Žižek, naturalmente, ao título do livro de 1975 de Michel Foucault, Surveiller et Punir no original, que descrevia a evolução das prisões do Século XIX para as prisões sem grades da sociedade de controle da pós-modernidade ocidental.
"Não surpreende que, ao menos até agora, a China - que já empregava largamente sistemas de controle social digitalizado - se tenha demonstrado a mais bem equipada para enfrentar a epidemia catastrófica. Deveremos talvez deduzir daí que, ao menos sob alguns aspectos, a China represente o nosso futuro? Não nos estamos aproximando de um estado de exceção global?”
“Mas se não é esse [o modelo chinês] o comunismo que tenho em mente, que entendo por comunismo? Para entendê-lo, basta ler as declarações da OMS.”
Žižek tem uma atitude ambígua em relação à China. Admira o que considera o êxito chinês no controle social, mas ao mesmo tempo não parece querer identificar a sua própria concepção de comunismo com o regime chinês, talvez porque o comunismo, ao final das contas, exige o fim do Estado, enquanto a China representa o modelo de Estado forte que o comunismo visa a superar. Esse não-Estado, esse grau zero do Estado que corresponde ao grau máximo do poder, Žižek vai buscá-lo nos organismos internacionais, que permitiriam, no que parece ser a sua visão, o exercício totalitário sem um ente totalizante, um ultrapoder rígido mas difuso, exercido em nome da “solidariedade” e portanto inatacável – pois quem ousaria posicionar-se contra a solidariedade? “Solidariedade” é mais um conceito nobre e digno que a esquerda pretende sequestrar e perverter, corromper por dentro, para servir aos seus propósitos liberticidas. Já fizeram ou tentaram fazer o mesmo com os conceitos de justiça, tolerância, direitos humanos, com o próprio conceito de liberdade.
“Não é uma visão comunista utópica, é um comunismo imposto pelas exigências da pura sobrevivência. Trata-se de uma variante do ‘comunismo de guerra’ como foram chamadas as providências tomadas pela União Soviética a partir de 1918”.
Žižek parece querer dizer: “Não se preocupem. Não há nada de ideológico no que proponho. Apenas me guio pelo pragmatismo de quem quer salvar a humanidade, e neste momento o pragmatismo dita a opção por um sistema comunista, mas é um comunismo de emergência, só isso.” Então perguntaríamos: “E quando vai acabar essa emergência? Quando vai acabar esse estado de exceção?” Žižek possivelmente responderia, com um sorriso cheio de “solidariedade”: “A emergência vai durar para sempre.”
Žižek não se preocupa com o resultado da quarentena para a contenção do coronavírus, ele não se preocupa em conter o coronavírus, mas sim em favorecer ao máximo o contágio do outro vírus, esse que ele mesmo denomina o vírus ideológico, “diferente e muito mais benéfico”. Ele louva a quarentena justamente pelo seu potencial destrutivo. Seu mundo dos sonhos é Wuhan quarentenada:
“...Uma cidade fantasma, as lojas com a porta aberta e nenhum cliente, somente aqui e ali uma pessoa a pé ou um carro, indivíduos com máscaras brancas (...) fornece a imagem de um mundo não-consumista em paz consigo mesmo.”
No pensamento de Žižek, à custa da destruição dos empregos que permitem a sobrevivência digna e minimamente autônoma de milhões e milhões de pessoas, ao preço do desmantelamento de sua liberdade e de seu sustento, se atinge um mundo “em paz consigo mesmo”. O comunismo sempre afirmou que seu objetivo é a paz e a emancipação de toda a humanidade. Aí, numa cidade deserta, sem emprego, sem vida, onde cada um é prisioneiro em seu cubículo, sob a supervisão de uma autoridade suprema que nem sequer é o governo do seu próprio país (que por mais ditatorial que seja ainda pelo menos tem um rosto e uma bandeira), mas uma agência global anônima e inatingível, aí está a configuração perfeita da paz e da emancipação comunista.
Mas o paralelo com o nazismo é talvez uma passagem ainda mais chocante do seu livro:
“'Arbeit Macht Frei' é ainda o lema correto, não obstante o péssimo uso que dele fizeram os nazistas.”
Žižek repete aqui o lema colocado na porta do campo de concentração de Auschwitz, a ultracínica, perversa afirmação de que “O trabalho liberta”. Segundo ele, portanto, os nazistas não erraram na substância, erraram apenas no uso que fizeram dessa frase. (Aqueles que ainda não acreditam que o nazismo é simplesmente um desvio de rota da utopia comunista, e não o seu oposto, encontrarão aqui talvez um importante elemento de reflexão.) Segundo esse expoente do marxismo, Arbeit macht frei é o “lema correto” da nova era de solidariedade global que se avizinha em consequência da pandemia, e o que diferencia este novo mundo do campo de Auschwitz é que agora se fará bom uso desta horrível mentira que perverte e humilha dois valores sagrados da humanidade, o trabalho e a liberdade. Os comunistas não repetirão o erro dos nazistas e desta vez farão o uso correto. Como? Talvez convencendo as pessoas de que é pelo seu próprio bem que elas estarão presas nesse campo de concentração, desprovidas de dignidade e liberdade. Ocorre-me propor uma definição: o nazista é um comunista que não se deu ao trabalho de enganar as suas vítimas.
“Não é talvez o espírito humano também uma espécie de vírus, que age como parasita no animal humano, o utiliza para se reproduzir, e às vezes ameaça destruí-lo? E se é verdade que o meio do espírito é a linguagem, não seria oportuno considerar que, num plano mais elementar, a linguagem é também alguma coisa mecânica, uma simples questão de regras que devemos aprender e respeitar?”
Sempre sustentei que o controle da linguagem para destruí-la enquanto meio de pensamento, ou meio do espírito como bem diz Žižek, é um dos grandes objetivos do comunismo, para destruir a dimensão espiritual do homem e assim assujeitá-lo completamente. Se o espírito vive na linguagem e se a linguagem não passa de regras a serem aprendida e respeitadas (sim, respeitadas!), isso significa que a linguagem está, como o comportamento social na quarentena, sujeita aos mecanismos de “vigiar e punir”. Já era assim com as regras do politicamente correto. Agora o politicamente correto incorpora o sanitariamente correto, muitas vezes mais poderoso. O sanitariamente correto te agarra, te algema e te ameaça: “Se você disser isso ou aquilo, você coloca em risco toda a sociedade, se você pronunciar a palavra liberdade você é um subversivo que pode levar toda a sua população a morrer – então respeite as regras.” Controlar a linguagem para matar o espírito, eis a essência do comunismo atual, esse comunismo que de repente encontrou no coronavírus um tesouro de opressão.
Também já disse e repito: o verdadeiro inimigo que o comunismo quer abater não é o capitalismo, o inimigo do comunismo é o espírito humano, na sua complexidade e beleza. É o espírito humano que o vírus ideológico de Žižek chegou para destruir.
Uma pergunta surge após a leitura desse programa totalitário cheio de desfaçatez e hipocrisia: deve-se levar Žižek a sério?
Muito a sério. Žižek é provavelmente o escritor marxista mais lido nos últimos trinta anos. Influencia faculdades e círculos intelecutais “progressistas” ao redor do mundo, que por sua vez influenciam a mídia, que influencia os políticos, que tomam decisões muitas vezes inconscientes da raiz ideológica dos conceitos “pragmáticos” pelos quais se deixam guiar. O que diferencia Žižek de muitos de seus pares é que ele enuncia abertamente o que outros escondem nas entrelinhas.
Em suma, Žižek explicita aquilo que vinha sendo preparado há trinta anos, desde a queda do muro de Berlim, quando o comunismo não desapareceu, mas apenas dotou-se de novos instrumentos: o globalismo é o novo caminho do comunismo. O vírus aparece, de fato, como imensa oportunidade para acelerar o projeto globalista. Este já se vinha executando por meio do climatismo ou alarmismo climático, da ideologia de gênero, do dogmatismo politicamente correto, do imigracionismo, do racialismo ou reorganização da sociedade pelo princípio da raça, do antinacionalismo, do cientificismo. São instrumentos eficientes, mas a pandemia, colocando indivíduos e sociedades diante do pânico da morte iminente, representa a exponencialização de todos eles.
A pretexto da pandemia, o novo comunismo trata de construir um mundo sem nações, sem liberdade, sem espírito, dirigido por uma agência central de "solidariedade" encarregada de vigiar e punir. Um estado de exceção global permanente, transformando o mundo num grande campo de concentração.
Diante disso precisamos lutar pela saúde do corpo e pela saúde do espírito humano, contra o Coronavírus mas também contra o Comunavírus, que tenta aproveitar a oportunidade destrutiva aberta pelo primeiro, um parasita do parasita.
Nota: Publicado originalmente no blog Metapolítica 17, do ministro Ernesto Araújo -
https://www.metapoliticabrasil.com/post/chegou-o-comunavirus
(*) Žižek, Slavoj. Virus. Milão, Ponte Alle Grazie, 2020 (Quinta edição digital.) (A tradução do italiano ao português de todos os textos citados é minha.)
(**) Agamben, Giorgio. “Lo stato d’eccezione provocato da un’emergenza immotivata”. Il Manifesto – Quotidiano Comunista, 26/02/2020.
É comum dizer que o conservadorismo não constitui uma teoria ou doutrina, não tem uma cartilha e não se esgota ou encerra em nenhum específico ideário ou movimento político-partidário. Mas, ainda assim, é possível extrair da antiquíssima tradição do conservadorismo alguns fundamentos e orientações gerais que, se não chegam a constituir uma teoria, articulam uma específica compreensão do fenômeno político e estimulam certas disposições que dão identidade ao conservador. Esta é uma modesta tentativa de apresentar uma rápida síntese daqueles principais fundamentos e orientações gerais. A preocupação não é historiográfica, e por isso se vale de ideias tiradas de diferentes vertentes do pensamento conservador. O objetivo é apresentar o conservadorismo no seu melhor, naquilo que tem de mais valioso para a compreensão da realidade e a orientação do agir político.
Os conservadores acreditam na existência de uma realidade transcendente que está para além deste mundo, e que somos seres intermediários, pois ao mesmo tempo em que estamos aqui, neste mundo das coisas transitórias e contingentes, estamos também lá, naquele mundo das coisas eternas e permanentes. Estamos, então, no tempo, mas também para além dele. Há partes em nós que nos conectam mais diretamente a este mundo contingente, das coisas que se podem ver e sentir, mas há também partes em nós que podem nos conectar ao que que é eterno, a tudo aquilo que transcende este mundo imanente. Se somos, por um lado, sacudidos, agitados pelas nossas paixões, somos também interpelados por aquela realidade das coisas que não se veem. A abertura para essa realidade, e a tentativa de nela participar através da nossa razão, é uma das coisas que faz de nós humanos, e um indicativo importante de uma alma saudável.
Não somos, pensam os conservadores, nem bestas nem deuses. Não devemos, portanto, nos reduzir à condição de uma besta, de um animal irracional que tem só sentimentos e se deixa governar pelas paixões. Mas também não podemos nos alçar à condição de deuses, como se pudéssemos tudo saber e governar o mundo como quem tudo sabe. A moderação é, assim, uma exigência da nossa própria natureza. Podemos vislumbrar certas verdades e exigências que vêm daquela nossa abertura para a transcendência, e esse vislumbre deve sim orientar o modo como nos movemos neste mundo. Mas o que podemos saber, por melhores que possamos chegar a ser, não nos dá certezas suficientes para nos autorizar a tomar o mundo inteiro em nossas mãos, com o propósito de fazer dele a realização da ideia de um qualquer de nós acerca de como ele deveria ser. Partimos do mundo como ele é, do homem como ele é, da sociedade como ela é, e, com todo o cuidado e respeito por tudo que encontramos, vamos pouco a pouco, num contínuo e vagaroso processo de tentativa e erro, ajustando e melhorando o que está ao nosso alcance. É mais importante preservar o que atingimos até aqui do que forçar o curso das mudanças que desejamos, pois no caminho podem se perder, irreversivelmente, conquistas importantes às quais não podemos renunciar.
Por tudo isso, os conservadores preferem se apegar ao que já se sabe, resguardar o que já temos, confiar no que está já estabelecido e proteger o que a experiência, até aqui, mostrou que funciona. O mundo que temos e a sociedade em que vivemos se sustentam em um complexo e delicado equilíbrio. Não são o resultado do conhecimento, da intenção ou da ação de alguém em particular. Resultam, sem bem sabermos como, de conexões e ajustes que vão acontecendo meio que à revelia dos nossos projetos e ideais. Formam ordens espontâneas que vão num crescer de caso a caso, de situação em situação, e assim as coisas vão se acomodando por meio de interações e conexões cada vez mais complexas que resultam em um arranjo que não foi, nem poderia ter sido, pensado ou criado nem pelo mais sábio e prudente de todos os homens. O conservador sabe disso. E é por isso que dá valor à ordem do mundo e às tantas ordens parciais que vão acomodando as nossas necessidades e dando sentido à nossa existência.
Disso resulta que a ordem da sociedade não pode ser gravemente perturbada por meio da nossa ação deliberada. Na medida em que é uma ordem espontânea, e não uma organização, não pode ser substituída nem inteiramente transformada por meio de uma direta intervenção nossa. Podemos e devemos sim nos abrir para aquela ordem transcendente que está para além da ordem da sociedade, e é de se esperar que, depois disso, nos voltemos para as coisas deste mundo com intenção crítica e cheios de sedutoras ideias acerca de como fazer deste um mundo melhor. Mas por melhores e mais verdadeiras que sejam as nossas ideias, temos sempre que lembrar que o mundo, a sociedade e as pessoas, com todos os seus problemas, são resistentes e não mudam a nosso critério. Que não conseguimos, então, mudá-los à nossa maneira, sem deixar um rastro de destruição. E que não há nenhuma garantia, nenhuma segurança, de que, no final, com o que tiver sobrado, o resultado será melhor do que aquele complexo e delicado arranjo que antes existia. Então não vamos renunciar à tarefa de cuidar deste nosso mundo, para que constitua, para nós, uma habitação segura e a melhor possível. Mas assim como não derrubamos a nossa casa cada vez que algo nela nos incomoda, não destruiremos a ordem da sociedade só porque há nela tanto a melhorar. É muito mais seguro ir ajustando o que é possível no contexto da ordem que aí temos, do que sair dela para construir uma outra inteiramente nova.
O governo, pensam os conservadores, deve estar sujeito à ordem que governa e limitado pela exigência da sua manutenção. A ordem da sociedade é em si mesma um bem, pois é nela que, com maior ou menor precariedade, encontramos espaço para a nossa existência. E como aquela ordem mais compreensiva é composta por tantas outras ordens parciais ou intermediárias, o governo precisa também respeitar certos limites que vêm da exigência de proteção dos espaços constituídos por essas ordens, e tanto mais deve preservá-las quanto mais contribuam para tudo aquilo que dá sentido à nossa existência. O nosso bem tem inúmeras dimensões e se realiza de variadas maneiras, em ambientes e contextos diversos. O florescimento das nossas virtudes supõe vínculos e arranjos comunitários ou associativos de tipos muito diferentes. Não só porque são várias as dimensões e modos de realização do nosso bem, mas também porque, sendo ao mesmo tempo livres e tão diferentes uns dos outros, precisamos encontrar, cada um de nós, no exercício da própria responsabilidade individual, os caminhos e espaços que melhor propiciam o aperfeiçoamento do caráter, o progresso do saber, o cuidado dos outros e tantas outras coisas que são necessárias para a realização de cada pessoa. Então o governo, além de respeitar as associações voluntárias e as comunidades intermediárias que compõem a ordem social, deve assegurar o respeito ao princípio da subsidiariedade, de forma que as ordens mais compreensivas e as instâncias superiores se abstenham de tomar para si tudo aquilo que deva ser reservado à esfera de liberdade e responsabilidade de cada uma das ordens parciais e das instâncias inferiores.
O conservador será sempre, por essas decisivas razões, avesso a todas as formas de totalitarismo. A ordem da sociedade não é o todo da ordem e não pode haver um soberano absoluto ou qualquer tipo de poder ilimitado. Ninguém pode ter a supremacia, pois a supremacia é das exigências da ordem, e uma delas é que a própria ordem da sociedade não queira ser uma ordem total e, no seu interior, não haja nenhum soberano absoluto. Isso não significa que o governo e as leis devam ser indiferentes ao que é bom e justo. Pelo contrário, o bem comum e a justiça são os fins mesmos do governo e do exercício do poder. Mas, precisamente por isso, não pode ninguém nem instância nenhuma concentrar poder demais. Se alguém ou determinada facção toma para si todo o poder, a tendência é que o regime degenere, pois quem governa, quer seja um, uma minoria ou mesmo a maioria, pode, a partir daí, governar para si mesma, no seu próprio interesse, e é isso que mata a liberdade e dá lugar ao despotismo: uma parte da comunidade política governa os demais no seu exclusivo interesse, e não para o bem comum. Então as várias instâncias de representação da sociedade devem promover o bem comum e distribuir justiça, e para que assim seja precisam estar sujeitas a limites e controles capazes de moderar a tendência de cada um a governar no seu próprio interesse e, até mesmo, conforme à sua própria visão parcial de quais sejam as exigências do bem comum e da justiça.
Mas os conservadores não acreditam que os arranjos institucionais possam garantir uma boa ordem ou assegurar a preservação de um bom regime. É verdade que estimam as instituições tradicionais e os controles e procedimentos institucionais que ordenam e limitam o exercício do poder. Sabem, contudo, que um regime estável e adequadamente ordenado ao bem comum e à justiça depende de um certo estoque de virtude e de um relativo protagonismo daqueles que são os melhores dentre os cidadãos de uma dada sociedade. A virtude, a sabedoria e a prudência são, inclusive, fontes de autoridade ou condição de legitimidade do seu exercício. Ainda assim, insistem os conservadores que nem mesmo aos mais virtuosos deve ser concedido um poder ilimitado. Afinal, não há ninguém dotado de uma virtude assim tão transcendente e, mesmo que houvesse, dificilmente a massa dos cidadãos reconheceria a sua legitimidade para governar. Além disso, mesmo o governo dos melhores, se não for sujeito a limites, tenderá a degenerar em alguma forma de tirania ou oligarquia, ou seja, em um regime desviado em que um ou alguns poucos governam no próprio interesse. Então o melhor é alguma espécie de governo consentido que tenda a conduzir os melhores às magistraturas mas mantenha todas as autoridades, e mesmo a maioria do povo, sob as exigências indisponíveis de uma ordem normativa tradicional que vigora porque encerra o saber prático de gerações e funciona como uma espécie de acervo de experiências que orienta a ação com mais segurança do que teorias e formulações gerais. Daí a preferência dos conservadores por algum tipo de governo misto limitado por princípios testados pelo tempo e corroborados pela experiência.
Por fim, o mais importante. O bem comum é um bem humano e implica, na sua essência, o serviço da pessoa. E a pessoa tem uma dimensão espiritual que estabelece uma relação direta com um absoluto transcendente ao mundo. A sua plena realização só é possível, portanto, nessa relação. O indivíduo que, digamos assim, a pessoa porta, é um pobre indigente cheio de necessidades que, ao entrar em sociedade, vem a integrar algo maior cujo bem é melhor que o bem de cada indivíduo que compõe esse todo. Mas quem entra em sociedade não é apenas o indivíduo. É a pessoa inteira. E embora o bem particular do indivíduo seja inferior ao bem daquele “todo” porque esse “todo” é um “todo” de pessoas, o bem do “todo” só é superior ao bem privado do indivíduo se serve às pessoas individuais e respeita a sua dignidade. Então o bem desse “todo” político-comunitário é um bem materialmente qualificado e delimitado, porque transcende o bem privado dos indivíduos mas adquire conteúdo por referência ao bem das pessoas, e ao bem de cada uma delas se subordina porque a personalidade nos conecta com um “Todo” transcendente que é superior ao “todo” social (Maritain). Essa delimitação do domínio do político por referência a uma realidade que está para além das coisas deste mundo é o mais firme fundamento da liberdade. E dela decorrem tanto direitos quanto responsabilidades que não existem nem em razão do estado nem para o estado e que estão fora da sua esfera de atribuições. Por isso, defendem os conservadores, a pessoa deve ter a sua liberdade preservada e a família, a igreja, a universidade e tantas outras instituições necessárias à nossa realização devem ser protegidas e postas a salvo da intervenção da estatal.
Porto Alegre, 21 de abril de 2020.
* Doutor em Ciências Jurídico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra. Mestre em Direito pela UNISINOS. Professor da Escola de Direito da PUCRS. Advogado em Porto Alegre.
Por aquilo que costumo chamar de "a foto do dia", tenho a verdadeira sensação de ser um peixe fora do aquário! Ou será mania de perseguição? É, já charlei sobre isso com minha psicanalista. Ou as duas coisas. Que loucura!
Bem, normal. Tempos sombrios, ainda mais na sempre colônia portuguesa... perdão aos grandes e talentosos lusitanos.
Tá certo que o medo, o impulso humano, o viés de confirmação, as arrebatadoras paixões partidárias e, claro, a ignorância econômica influenciam sobremaneira.
Ou será mesmo porque até em nossas universidades da Pátria Educadora, pouco se vê e se discute sobre conhecimentos científicos "de verdade", preferindo-se patinar e doutrinar sobre rançosos e contraproducentes clichês e gritos de ordem contra o autoritarismo e a opressão?
Afinal agora não nos governa um presidente autoritário, antidemocrático e fascista que tomou o poder? Ops, ele foi eleito democraticamente...
Falando em ordem, agora emergem entusiasticamente apelos sábios, bondosos e raivosos alertando para que consumamos produtos e serviços produzidos em terras tupiniquins. Tal iniciativa será a "real" alavanca para a geração de empregos verde-amarelos.
Acho que vou começar urgentemente um tratamento com ayahuasca; quero viver novos momentos e desaprender quase tudo aquilo que li e estudei durante os meus existenciais 5.4.
Não! A coisa mais prejudicial que poderia ocorrer, é reavivar o nefasto nacionalismo e jogar fora toda a esplendorosa teoria e lógica da realidade dos benefícios do livre comércio!
Sinteticamente, nenhum país, empresa ou indivíduo pode ter a pretensão (doentia) de ser tudo para todos.
Acreditar na autossuficiência brasileira parece-me o mesmo que eu imaginar que nesse feriado eu jantarei com a beleza exótica da Penélope Cruz ao meu lado!
Serei econômico com um exemplo da "foto do dia". Não estamos todos enxergando que faltam equipamentos em geral para o combate ao coronavírus, ou porque não os produzimos ou porque esses não são eficientes e/ou custam muito mais?
Acreditar no coelhinho da Páscoa só poderá enriquecer empresários com "e" minúsculo, arreglados com as santas autoridades, perpetuando pobreza e/ou miséria para os já necessitados brasileiros.
Ah, mas agora não podemos mais comprar dos viróticos "chineses" criadores do vírus. Ops, nocivo regime comunista, não os chineses!
Puxa vida... como carecemos de noções básicas de economia e de negócios para realizar que o mundo que é mundo está formatado em cadeias globais de valor. E embora possa haver - e existirão - transformações e deslocamentos em relação ao canteiro de obras China, factualmente tais cadeias se manterão firmes, fortes e intensas... não dá pra inventar a roda.
O problema de fato, eu aqui pretensiosamente tentando lacrar (risos!), foi justamente a dependência chinesa na montagem de tais cadeias de valor. A (i)lógica econômica de alguns executivos mundiais não levaram em consideração todos os riscos envolvidos e mais, custos geopolíticos e os pragmáticos custos de transação (gerenciamento) relacionados aos processos logísticos e de comércio internacional.
Evidente que alguns executivos com mais janela, já vinham atentando e agindo há muito mais tempo na remodelação de suas cadeias globais de suprimentos.
Tá, pedem-me para ser mais sintético... (pois é... mais do que três linhas... (risos novamente)...
Não, o comércio internacional não deve, nunca, e não vai, terminar! Muita calma nessa hora.
Pelo contrário, a exemplo do que já fazem sistematicamente empresas inteligentes e competitivas, a regra de ouro é reestruturar e relocalizar fornecedores competitivos de acordo com as oportunidades e frente às novas variáveis no tabuleiro do supply chain mundial.
Como em tudo na vida, tudo se altera dinamicamente, inclusive para o pior, portanto, é preciso inovar nos processos em geral, em especial na remodelagem das cadeias de suprimentos, continuamente.
Será que eu sou maluco; um estranho no ninho? Talvez...
A expressão democracia vem sendo usada, há décadas, por tudo o que é tipo de gente. De tiranetes a corruptos de toda ordem, de pequenos ditadores a cúmplices de todo o tipo. Isso, nos “quatro cantos” da Terra.
Aqui no Brasil, “democracia” tem sido o mantra para tudo, especialmente para a bandalheira que se praticou nas ultimas décadas no país. Em nome dela, se formaram conchavos, alianças, quadrilhas e se assaltou os cofres públicos como “nunca antes na história deste país”!
Eu sou um profissional da liberdade, vivo dela e dela me alimento. Sou contra toda a ditadura, a todo o regime em que pessoas com pensamentos diferentes não possam se expressar, conviver, coexistir. Dito isso, sou contra golpes, militares ou civis.
Mas, sou forçado pela realidade a admitir que não soubemos usar, viver e tirar o melhor que a democracia pode nos oferecer. Saímos da “longa noite” do regime militar para a refulgente claridade da democracia, há quase 40 anos, e o que fizemos dela?
Um crescente, sofisticado e acachapante sistema de corrupção foi se formando sob o olhar complacente da “democracia”. Um câncer com metástase nas casas legislativas — o Congresso é apenas a mais poderosa e aparente —; nos executivos municipais, estaduais e federal; no judiciário e em suas cortes; no empresariado; na mídia; em organizações da sociedade civil. Um cancro generalizado, responsável por dizimar nosso presente e futuro. Trilhões de cruzeiros, cruzados, reais foram roubados, sistemática e impiedosamente, em favor dos de sempre e em detrimento da maioria do povo brasileiro, ocupado em trabalhar e pagar impostos crescentes para alimentar ao monstro criado no ambiente “democrático”.
Falhamos e falimos como Nação.
Mas, em determinado momento, essa grande massa, a quem sempre só coube pagar a conta, acordou. A internet e as redes sociais deram acesso a outros meios de informação, deram voz e capacidade de mobilização a esses brasileiros. E, pela primeira vez, em sua história, o Brasil das ruas roncou mais forte que o Brasil dos gabinetes, e demos um basta, um “não rotundo a tudo isso”.
Bolsonaro não é a causa, é a consequência. Ele não é o líder, o líder somos nós, ele apenas representa a angústia, a indignação e os anseios de milhões de brasileiros que votaram nele, um deputado do baixo clero, sem grande retórica e homilética, com um jeitão meio tosco de se comunicar, mas que entendeu e personificou a nossa indignação.
Nesses 15 meses de governo, ele não se afastou um centímetro das causas que o elegeram. Não negociou cargos com o Congresso — nesses anos de “democracia” os ministérios e estatais, com suas polpudas verbas, viraram feudos deste ou daquele partido, que os transformaram em balcões de negócios, em dutos de corrupção e enriquecimento ilícito. Não compactou com a corrupção; buscou diminuir o tamanho do Estado brasileiro, buscando diminuir o peso que ele exerce sobre as costas de quem trabalha, produz e empreende. Ousou querer diminuir a burocracia estatal. E pretendeu, num ato de quase suicídio institucional, acabar ou diminuir os privilégios do setor público, pagos regiamente pelos trabalhadores e empreendedores da iniciativa privada.
Obviamente, como se poderia esperar, o sistema reagiu. Afinal, são 15 meses de abstinência. Quase um ano e meio sem poder colocar a mão no nosso bolso. E aí essa canalha se aproveita de uma crise sanitária, como essa causada pelo vírus chinês, pra tentar inviabilizar o país, invadindo e comprometendo o Orçamento da União, enquanto deixa caducar Medidas Provisórias que poderiam assegurar empregos, como a MP da Carteira Verde Amarela. Eles não estão pensando no Brasil, não estão pensando em mim e em você, estão pensando, exclusivamente, na volta da sacanagem, da pilhagem, do dinheiro fácil que sempre escorreu dos cofres públicos direto para seus bolsos e contas. E esses vermes, que fazem tudo isso, ainda têm a coragem de falar em “democracia”. Nossa democracia respira por aparelhos, está entubada pela ação desses vermes.
O vírus chinês é o que menos importa a essa gente. Eles querem é super faturar compras, contratar apadrinhados sem licitação, e tudo mais para se locupletar. Vejam o caso dos hospitais de campanha do Rio de Janeiro. Imaginem isso em todo o território nacional.
Não, definitivamente, não podemos encher a boca para falar em “democracia”, porque o poder não tem emanado do povo e para o povo. A nós só nos compete votar e calar. Bem, isso é o que eles querem, mas não terão. As pessoas que tem ido para frente dos quartéis pedir intervenção militar, e que muitos acham doidos, estão desencantados, desesperados com o que foi feito com a nossa “democracia”. Elas são a febre que mostra que algo está errado, muito errado, em nossas instituições. O remédio não é a ditadura militar — porque se sabe como se entra, mas não se sabe como se sai. O remédio tem que vir das próprias instituições: Congresso, STF, e outros quetais, que precisam ouvir o som rouco das ruas e passar a representar os interesses reais do povo brasileiro. É o que o Brasil precisa. É o que teremos?
*Júlio Ribeiro é jornalista, diretor-geral do Portal Press e da Revista Press, coordenador do Prêmio Press, o mais cobiçado prêmio de jornalismo do Brasil e coordenador do Clube de Opinião, que reúne cronistas de política no Rio Grande do Sul.