• Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 03 Maio 2020



SANHA ASSASSINA
Na tão esperada, e desejada, RETOMADA das mais variadas ATIVIDADES ECONÔMICAS, criminosamente interrompidas pela SANHA DITATORIAL/ASSASSINA de governadores e prefeitos que se aproveitaram da PANDEMIA para destruir EMPRESAS E EMPREGOS, é preciso que os agentes de PRODUÇÃO E CONSUMO façam a leitura correta do -NOVO COMPORTAMENTO-, ou -NOVO NORMAL- que vai dominar, daqui para frente, a relação entre a OFERTA e a DEMANDA.

MC KINSEY
A propósito deste instigante tema, li, com muita atenção, o conteúdo publicado no Brazil Journal do dia 27/4, por Tracy Francis, sócia sênior da McKinsey no Brasil e líder da prática B2C para a América Latina; e Fernanda Hoefel, sócia da McKinsey em São Paulo, no qual a renomada empresa de consultoria (McKinsey) vem acompanhando a opinião e o comportamento de consumidores do mundo todo desde o início da COVID-19 através de pesquisas semanais.

PESSIMISMO
No Brasil, segundo informam os colunistas, a pesquisa vem sendo feita desde a segunda quinzena de março, possibilitando já identificar algumas tendências. Uma delas, por exemplo, diz que o - POVO BRASILEIRO, que é OTIMISTA POR NATUREZA, nesta crise se mostra PESSIMISTA. Entre os mais de 30 países pesquisados, somos uma das nações mais preocupadas com o impacto da crise, inclusive comparados aos nossos vizinhos latino-americanos: nada menos que 82% da população compartilha de um SENTIMENTO GERAL DE INSEGURANÇA E PESSIMISMO -.

INCERTEZA E CERTEZA
Se, por um lado, a INCERTEZA SOBRE A SAÚDE PÚBLICA preocupa os brasileiros, por outro a CERTEZA DO IMPACTO ECONÔMICO DA CRISE já deixa suas marcas. Segundo as pesquisas, cerca de 60% dos consumidores declaram ter tido sua RENDA AFETADA, e 3 em cada 4 já estão CORTANDO GASTOS.

Pensando à frente, a expectativa da maior parte dos brasileiros (60%) é que os impactos da crise nas finanças durem MAIS DE QUATRO MESES; Mais: 50% já estão preocupados em perder o emprego. Detalhe: - Essa preocupação, incialmente maior na classe C, já afeta a classe A/B na mesma medida.

INTENÇÃO DE CONSUMO FUTURO

Como resultado, o CONSUMO ESTÁ SENDO CORTADO. Em mais de 30 categorias pesquisadas, a INTENÇÃO DE CONSUMO FUTURO É NEGATIVA, exceto em alimentos básicos e produtos de limpeza. Na prática, de 1 de março a 11 de abril, o Índice Cielo do Varejo Ampliado apurou uma redução de vendas de 36% em relação a fevereiro. Os maiores impactos foram nos segmentos de turismo (-79%), vestuário (-73%) e bares e restaurantes (-63%). Até as farmácias, tipicamente resilientes, viram pequena queda nas vendas (-4%). Já os supermercados cresceram 13% no período, com um pico acentuado na semana de 16 de março seguido de retorno ao normal.

No VAREJO ALIMENTAR podemos observar quatro tipos de produtos com desempenho distintos, com base em dados da Scanntech.

Produtos “PARA ESTOCAR E CONSUMIR” incluem itens básicos como grãos e enlatados. Estes viram pico de vendas para estocagem, e mantém vendas acima da média. Já os produtos “agora em casa” estão relacionados à indulgência e a mudanças de hábitos que trouxeram para dentro de casa ocasiões de consumo antes realizadas fora. Aqui entram doces, vinhos, fermento para pães e snacks, como milho para pipoca – todos com desempenho consistentemente acima do normal durante a crise.

O terceiro grupo são produtos “PARA ESTOCAR E GUARDAR”, como papel higiênico, fraldas, ração de animais de estimação e produtos de limpeza pesada, que viram um pico de consumo na primeira semana seguido de estabilização em níveis pré-crise. Quem sai perdendo? Produtos “para reduzir o consumo agora”, mais discricionários, impactados pela queda da confiança e pelo foco em categorias essenciais. Aqui estão itens de vestuário, bazar e beleza.

O QUE PODEMOS ESPERAR

O QUE PODEMOS ESPERAR DAS PRÓXIMAS SEMANAS?

Os comportamentos de consumo estão mudando e temos várias razões para crer que, em boa medida, vem para ficar. Os brasileiros antecipam que os impactos econômicos da crise devem ser severos e duradouros. À medida em que são forçados a mudar seus comportamentos e hábitos de compra, os brasileiros são expostos a novas experiências que passam a fazer parte de seus repertórios e costumes. Se ainda é cedo para traçarmos um quadro definitivo, já é possível traçar direções com base no que observamos em alguns países asiáticos e também no que estamos observando aqui, especialmente no segmento de varejo alimentar.

NOVO NORMAL

ACELERAÇÃO DIGITAL

Se serviços como Uber e Rappi já vinham acelerando a digitalização do consumidor brasileiro pré-crise, o isolamento social levou este fenômeno a outra dimensão. Por causa do isolamento, a versão “online” tornou-se a única alternativa para viabilizar inúmeras experiências, incluindo aprendizagem, serviços religiosos, encontros de trabalho e sociais, compras de supermercado ou compras de restaurante. A “destreza digital” e abertura do consumidor a experiências online estão aumentando como decorrência, o que também deve provocar efeitos duradouros em inúmeros segmentos.

CHOQUE NA LEALDADE

 Seja porque não encontram os produtos que buscam, ou porque estão comprando itens mais baratos, cerca de metade dos consumidores pesquisados já experimentaram marcas diferentes das habituais no período de crise. Outros 25% dos consumidores também compraram em lojas onde não compravam antes da crise. Na China, onde o mesmo aconteceu, uma parte importante dos consumidores declara-se disposta a não voltar a consumir as mesmas marcas de antes.

MAIOR SENSIBILIDADE A PREÇO

Observou-se entre consumidores na China uma opção por produtos mais baratos (“tradedown”) decorrente da redução de renda e do conservadorismo do consumidor. Em outras crises também observamos “tradeup” em algumas categorias de maior indulgência; esses movimentos simultâneos são chamados de efeito “ampulheta”. Ainda é cedo para saber se isto está acontecendo no Brasil e em quais categorias, mas é um ponto de atenção para as próximas semanas.

CONSUMO SEGURO, LOCAL E SAUDÁVEL

Seja online ou mesmo no retorno às lojas físicas, os consumidores agora têm limpeza e segurança sanitária como um dos principais motivos de escolha dos varejistas de quem compram. Estes fatores devem continuar importantes no futuro. De maneira geral, também vemos consumidores, inclusive no Brasil, mais preocupados com seu bem-estar e saúde. Em vários países asiáticos, a crise levou a um aumento expressivo no consumo de produtos associados à saúde. Nesses países, também vimos um aumento da preferência por marcas consideradas “locais”, mas ainda não temos evidência de que isto será ou não tendência no Brasil.

Ainda é cedo para saber quais mudanças vieram para ficar e como se manifestarão no futuro. O certo é que as mudanças ocorrerão. É hora de começar a imaginar o -NOVO NORMAL- e suas implicações.

30.04.2020

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  • Fernando Fabbrini
  • 01 Maio 2020

 

Se, por um milagre, os males do mundo desaparecessem da noite pro dia, muitos jornalistas, apresentadores e comentaristas perderiam seu empregos

Outro dia, presenciei um ligeiro bate-boca entre vizinhas, certamente sintoma de estresse do isolamento social. Uma senhora responsabilizava a moça do prédio ao lado pela presença de um pequeno rato que transitava impune. Por conta própria, atribuía residência do roedor à casa alheia. Achei graça; suponho que ratos não têm CEP nem domicílio fixo. Moram nos esgotos, no abrigo das sarjetas e circulam por todo o bairro em busca de comida. Aliás, cardápio esse em alta; aumentaram as marmitas nas calçadas com restos de arroz e feijão - culpa da pandemia, da coleta de lixo alterada e, sobretudo, dos moradores porcalhões.

Ratos e pestes fazem-nos lembrar Albert Camus. Profundo observador da alma humana, conta num de seus livros que mendigos da capital argelina colocavam excremento nas feridas do corpo para que estas piorassem. Com isso, ganhariam a disputa por maiores esmolas dos passantes. Exibiam suas mazelas purulentas aos mendigos próximos, quase vaidosos, como se dissessem:
- Minha perna está pior que a sua! Vou ganhar mais esmolas...

Não há limites para a raça humana quando ela despenca pelo abismo da dignidade. Porém, não precisamos ir tão longe na distância geográfica e no tempo de Camus. Aqui mesmo, guardadas as devidas proporções, vemos expostas as feridas – pioradas de propósito - que nos causam repugnância natural; feridas em busca de exibição e de algum tipo de ganho.

Já não bastavam as notícias rebuscadas sobre crimes hediondos, violência, terrores diversos. Com a pandemia, a comunicação foi além; transformou-se numa via aberta de pânico generalizado. Se, por um milagre, os males do mundo desaparecessem da noite pro dia, muitos jornalistas, apresentadores e comentaristas perderiam seu empregos na hora – já que só falam nisso; vivem disso; parecem gostar disso. Quanto pior o drama pessoal do entrevistado, mais terrível, mais bizarro, mais sucesso do programa escandaloso.

Os noticiários já foram mais discretos e respeitosos com a dor alheia. Um código de ética não-explícito do jornalismo, baseado na compaixão e solidariedade humana, norteava as pautas e as edições. Essa fronteira sutil foi violada recentemente – e o Brasil deve ter sido um dos precursores da modalidade, de olho na preferência do estranho segmento de público sedento de sangue, sofrimento e sordidez.

As “reconstituições de crimes”, revividas através de sofisticados recursos de computação gráfica são outros exemplos. Vemos ali vítimas e seus assassinos representados digitalmente, segurando armas e disparando tiros na posição presumida. Ora: à exceção dos peritos criminais, advogados e juízes, a quem mais interessaria saber desses detalhes? De que servem tais representações para a família confinada assistindo ao telejornal, olhos arregalados?

Veio a internet – e todos viraram repórteres e idiotas, segundo Umberto Eco. Há um prazer mórbido em divulgar e compartilhar imagens chocantes do que há de mais degradante por aí. De que servem a nós cenas de crueldades com cachorrinhos? Espancamentos de bandidos? Saber que o estoque de caixões em tal cidade está se esgotando e – que novidade! - já se fazem agora sepultamentos noturnos? Ou contabilizar quantos morreram ao final do dia, desprezando sempre o número de curados?

Ao mesmo tempo, como se a vida estivesse absolutamente normal no planeta, a mídia dedicou farto espaço àquele grupo de rapazes e moças confinados num clima de narcisismo, intriga e promiscuidade chique, falando besteiras para as câmeras e os telespectadores. Falta do que fazer? Não seja por isso: emissora e patrocinadores deveriam providenciar máquinas de costura, carretéis e pano. Gastariam melhor seu tempo fabricando máscaras e aventais para doação, caladinhos e refletindo sobre a transitoriedade da vida – assunto interessante e cada vez mais essencial nos dias de hoje.

30/04/2020


*Publicado originalmente no jornal O Tempo de Belo Horizonte e enviado pelo autor.

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  • Fábio Cardoso Machado
  • 30 Abril 2020

 

É absolutamente natural que a inesgotável criatividade e o habitual excesso dos nossos juízes continuem a surpreender. Pois qualquer um é capaz de perceber que algo deve estar errado para que nossos magistrados estejam todos os dias nos jornais, decidindo sobre tudo e de qualquer jeito. Mas o protagonismo do Judiciário já não deveria causar tanto estranhamento em quem conhece as ideias predominantes no meio jurídico brasileiro.

Já faz um bom tempo que a teoria dominante em nossos tribunais é uma versão muito empobrecida de um certo constitucionalismo que os experts costumam chamar de neoconstitucionalismo. A assimilação dessa teoria no Brasil reduziu a Constituição e, de certa forma, o direito inteiro, a meia dúzia de princípios para lá de rarefeitos que, na prática, autorizam nossos juízes a fazer de tudo.

Pegamos uma parte apenas do que sustentam alguns célebres jusfilósofos estrangeiros, e começamos a dizer e ensinar que a nossa Constituição é também composta por princípios que consagram fins e encarregam os juízes de realizá-los na maior medida possível. A democracia, o Estado de Direito e a moralidade administrativa são alguns desses fins que os juízes deveriam encarregar-se de realizar ao máximo.

Esses princípios consagrariam, ainda, uma miríade de “direitos fundamentais” de todos os tipos, das mais diversas “dimensões”, por força dos quais todo mundo se sente autorizado a exigir quase tudo e os juízes, com toda a convicção de que estão a fazer valer a Constituição, se veem autorizados a invadir todas as esferas, e tudo decidir sobre praticamente todas as coisas.

Se tem uma coisa que não podemos esperar desse chamado neoconstitucionalismo é uma qualquer limitação efetiva do poder. Pois em meio a essa bagunça já ninguém sabe o que é o direito, o que compete a quem, o que se pode exigir de quem e quais são as precisas responsabilidades das várias instituições democráticas. Então, a rigor, é como se todo mundo pudesse tudo.

Mas uma coisa é certa: nesse contexto, ninguém pode mais do que os juízes. E como essas ideias transformaram tudo em direito, é deles a última palavra sobre tudo. Os tais princípios constitucionais daquele estranho constitucionalismo consagram valores e direitos demasiados e demasiadamente vagos, trazendo tudo para o âmbito da juridicidade, que é, naturalmente, o espaço em que se movem os juízes.

Se sobre tudo decidem nossos juízes, é, então, porque tudo virou direito. E esse direito que tudo abarca foi, por sua vez, reduzido a alguns poucos princípios, de normatividade extremamente rarefeita, que funcionam como slogans para tudo que se possa imaginar. Não há decisão que não possa ser legitimada pelo nosso precário (neo)constitucionalismo!

A decisão do Min. Alexandre de Moraes, que de um dia para o outro obstou a posse do Diretor-Geral da Polícia Federal, é apenas mais um infeliz resultado de uma perigosa concepção que, já anteriormente, havia conferido ao STF o poder de criar, até mesmo, crimes por sentença.

Basta ver que o eminente Ministro remeteu-se diretamente a alguns princípios, usados com certa violência como slogans da moda, para deles, sem mediação da lei ou da jurisprudência do próprio tribunal, retirar a consequência de que ele mesmo, um juiz, teria a atribuição de suspender uma prerrogativa de outro poder da República com base em um pronunciamento, notícias de jornal e mensagens de whatsapp que apontariam para certos fatos acerca dos quais não há, ainda, nenhuma prova consistente.

Não fosse o tal neoconstitucionalismo, provavelmente o Ministro se constrangeria por tomar decisão de tamanha repercussão, invadindo tão agressivamente as prerrogativas de outro Poder, sem mostrar que a nomeação em questão feriria mais diretamente pelo menos um preceito legal e o entendimento do próprio STF em casos análogos.

Para que a nossa ordem jurídica seja mais do que apenas aquilo que qualquer juiz deseje, é no mínimo de se exigir que a aplicação de critérios tão vagos como os princípios da moda seja mediada pela nossa abundante legislação e pela jurisprudência consolidada dos próprios tribunais.

É notável, se não desesperador, que a decisão do Min. Alexandre de Moraes não cite nenhum preceito legal, nenhuma decisão judicial precedente que permita concluir que a nomeação suspensa é, por si só, ilegal, impondo-se uma imediata intervenção judicial sem contraditório ou instrução. E se nossos juízes entendem que bastam uns poucos princípios carentes de qualquer densificação normativa para justificar algo assim, sem respaldo legal ou jurisprudencial, só pode mesmo entrar em questão se temos ainda algum direito.

O Min. Alexandre de Morais, a despeito de um aparente desprezo tanto pela legislação quanto pela prática consagrada pela jurisprudência, não deixou, contudo, de citar nomes célebres do constitucionalismo, para asseverar que não pode haver poder absoluto ou ilimitado. Disse isso para limitar outro poder. Mas ficou no ar uma dúvida fundamental: está ainda o nosso Judiciário limitado pelo direito, ou se tornou ele mesmo um poder absoluto, ilimitado? O que no extremo nos obriga a perguntar: temos ainda uma Constituição?


Porto Alegre, 29 de abril 2020.

  Doutor em Ciências Jurídico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra. Mestre em Direito pela UNISINOS. Professor da Escola de Direito da PUCRS. Advogado em Porto Alegre.

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 30 Abril 2020

 

Bem, do episódio Moro-Bolsonaro, na sexta-feira passada, após o pedido "antecipado" de demissão do ex-juiz, da desconexa fala do presidente, e dos desdobramentos do final de semana, que envolveram prints do ex-ministro em relação a deputada Carla Zambelli e o seu respectivo posicionamento, de uma perspectiva meramente descritiva, NÃO "MORAL", como opinador dos acontecimentos, formei apenas uma opinião.

Pelo que tenho estudado sobre o comportamento humano - inclusive tema de minha tese de Doutorado - distintamente do que li de alguns analistas políticos, minha visão é de que as iniciativas de Moro podem, factualmente, fortalecer o comportamento de apoio ao presidente, mais do que o contrário. Claro que alguns, com base na suposta moralidade, apoiarão a saída de Moro do governo, mas esse não é o ponto que quero enfatizar.

Além disso, repito, não se trata daquilo que moralmente acredito ser certo ou errado, nem meu juízo de valor, mas efetivamente e apenas uma observação de como acredito que o comportamento humano funcione.
Seria singelo demais constatar que realmente nós, seres humanos, temos uma essência tribalista, valorizando os mais "próximos", no sentido de cooperar com todos aqueles com os quais temos ou desejamos ter semelhanças em termos de valores identitários.

Por natureza, o ser humano anseia pertencer a um determinado grupo social, quer pertencimento!

Definitivamente somos seres sociais! Por consequência, as pessoas presumivelmente rejeitarão aqueles que aparentam apresentarem diferenças relacionadas aos atributos que essas valorizam.

Qualquer um que estuda o comportamento humano ou o comportamento de consumo de marcas, sabe que os indivíduos exibem a virtude relacionada a lealdade e, ao mesmo tempo, naturalmente possuem disposições emocionais que os levam a punir atitudes não cooperativas, distintas do script grupal esperado, expressando assim sentimentos de vingança.

Embora o ex-ministro tenha apostado na sua reputação ilibada, o que de fato é muito valorizado pelas pessoas, a forma empregada no evento midiático da sexta passada (repito, não estou avaliando o mérito!), manifestando-se publicamente, inclusive num momento de grave crise viral no país, impingindo graves acusações ao presidente, soa para muitos como um ato de traição.

Similarmente, seus prints "delatando" a deputada Carla Zambelli, aparentam-me transmitirem uma correspondente simbologia de traição.

Digo isso porque acho que as pessoas esperam que os outros indivíduos das tribos - especialmente os "amigos" - comportem-se de maneira cooperativa. Na ausência dessa reciprocidade, elas naturalmente agem como punidores sociais daqueles que atuam distintamente desse comportamento esperado.
Seria conveniente lembrar o que aludiu o romancista e poeta Victor Hugo sobre a traição: “A metade de um amigo é a metade de um traidor”!

Novamente, trata-se aqui de uma singela opinião, baseada em uma observação descritiva, fruto de minha leitura dos fatos. Evidentemente que posso estar equivocado!

Portanto, minha opinião não retrata meu wishful thinking, muito menos julgamento do complexo mérito da questão, mas simplesmente a tentativa de decodificação do possível, intrincado, multifacetado e inquietante comportamento do bicho homem.

Adiante veremos como tal comportamento social responderá verazmente.
  

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  • Fábio Cardoso Machado
  • 28 Abril 2020

 

 

É natural que o establishment reaja quando cidadãos levantam cartazes clamando pelos militares. E era de se esperar que os últimos episódios chamassem mais atenção pela suposta cumplicidade do Presidente da República do que pelas razões da revolta daqueles poucos que gritaram contra certas instituições republicanas. Mas também merecem alguma atenção a reação de algumas autoridades e o que está por trás das manifestações.

Ministros do STF afirmaram que os ares são democráticos, que as instituições estão funcionando e que é hora de defender a ordem constitucional. Governadores, parlamentares e associações de representação de magistrados e advogados saíram em defesa da ordem democrática. Mas será que os manifestantes, e outros milhões de brasileiros que neles se reconhecem, concordam que os ares são mesmo democráticos e as instituições estão funcionando? Será que esses cidadãos querem mesmo a derrocada da democracia, ou conclamam os militares por acreditarem que o que vivemos é, na verdade, um simulacro de democracia?

Seria muito auspicioso ver as nossas autoridades refletirem sobre isso, ao invés de apenas reprovar os manifestantes do alto de toda a sua habitual soberba. Poderiam talvez se perguntar se os brasileiros se sentem representados pelo Congresso Nacional e se pensam que o Supremo Tribunal Federal cumpre o papel institucional que deveria ter em uma verdadeira democracia constitucional.

Pesquisas indicam que o índice de confiança da população nas forças armadas é consideravelmente maior do que o das chamadas instituições republicanas. Já os índices de confiança no STF, no Congresso e nos partidos políticos são bastante baixos. Não há, evidentemente, problema nenhum na constatada confiabilidade das Forças Armadas. Mas a baixíssima credibilidade do Parlamento e da nossa Corte Constitucional são extremamente preocupantes, e podem indicar que algo esteja muitíssimo errado com essas essenciais instituições republicanas.

As pesquisas não chegam a esclarecer as razões dos baixos índices de confiabilidade. Mas certamente a população teria muito mais facilidade em se sentir representada pelo Congresso Nacional se não fossem o histórico de corrupção, a habitual negociata de votos, a prevalência do oportunismo político e a incapacidade de avançar eficazmente nas reformas de que o Brasil tanto precisa. O STF, por sua vez, jamais teria alcançado a rejeição atual se funcionasse melhor no combate à corrupção e ao crime em geral, e se os seus magistrados tivessem mais pudor e sobriedade, evitando o protagonismo político, a exposição midiática e a incursão permanente em todos os assuntos que importam à nação, como se todas as decisões coubessem ao Judiciário e nunca importassem as respostas das demais instituições democráticas, incluindo o próprio Congresso.

Quem valoriza o Estado de Direito, a democracia e a estabilidade constitucional não pode, é claro, se deixar levar pelo arriscado caminho da ruptura da ordem. Pedir intervenção militar esperando receber democracia é uma tolice e uma irresponsabilidade. Mas também não podemos desprezar os perigos de um regime que, no extremo, tem apenas a aparência de uma democracia constitucional.

Se, no grave momento que vivemos, nossos parlamentares e juízes estivessem mais preocupados com o que importa à população e, ao invés de só repudiar os manifestantes, se insurgissem contra as arbitrariedades que começam a se multiplicar por todos os lados, certamente recuperariam um pouco da credibilidade perdida e contribuiriam para amenizar o risco de ruptura que vem da percepção de uma democracia de faz de conta. Se percebessem que as manifestações, apesar dos excessos, são, no fundo, por democracia e não por ditadura, e que o apelo aos militares vem, na verdade, de uma escassez de liberdade e de ordem, provavelmente ninguém precisaria estar preocupado com o fantasma do autoritarismo.

*  Doutor em Ciências Jurídico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra. Mestre em Direito pela UNISINOS. Professor da Escola de Direito da PUCRS. Advogado em Porto Alegre.
 

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 27 Abril 2020

 

FOCAR NO FUTURO
Posso até não satisfazer a vontade de muitos leitores por não tratar da saída do ex-juiz Sérgio Moro do Ministério da Justiça, mas o FATO é que, ao invés de ficar dando atenção àquilo que já pertence ao PASSADO prefiro FOCAR NO FUTURO do nosso imenso e sofrido Brasil.


ABISMO FISCAL
Mais do que nunca é de se lamentar, e muito, que no exato momento em que a economia brasileira, depois de passar por um longo período de sofrimento imposto por maldosas mãos e mentes petistas, dava início a um jamais experimentado tratamento à base de doses de LIBERALISMO, eis que do nada aparece um vírus que, além de interromper a ministração do bom remédio, arrastou o nosso país para um ABISMO FISCAL.


INTERNAÇÃO NA UTI
Se o Brasil iniciou 2020 com razoáveis condições de deixar a UTI, o fato é que a brutal queda que sofreu a partir da QUARENTENA INICIADA EM MARÇO impôs uma mudança de plano. Ao invés de sair da UTI, o Brasil foi obrigado a permanecer internado por tempo incerto, com atenção redobrada, sob um novo tratamento que consiga produzir, o quanto antes:
1- uma razoável recuperação das interrompidas atividades econômicas; e,
2- uma efetiva melhora da TAXA DE OCUPAÇÃO do enorme contingente de brasileiros que resultaram desempregados pelo criminoso -ISOLAMENTO SOCIAL- imposto por chefes de estados e municípios NEO-DITADORES.


FATOS INEGÁVEIS
Ora, para agravar a respiração do nosso país, dois FATOS importantes se impuseram:
1- as boas e necessárias medidas econômicas, a olhos vistos, vem sendo totalmente boicotadas no maldoso ambiente do Poder Legislativo, sendo que só resultam aprovadas aquelas que prejudicam ainda mais as dilaceradas CONTAS PÚBLICAS.
2- neste momento crucial, o processo de DESESTATIZAÇÃO está passando por um desinteresse de parte dos potenciais interessados, nacionais e internacionais, até porque todos estão segurando o CAIXA até que o horizonte se mostre mais encorajador.


NOVO PROTAGONISTA
Portanto, para não ficar em MODO ESPERA de que as coisas vão se resolver por FÉ ou pela GRAÇA DE DEUS, o governo colocou as obras de INFRAESTRUTURA como NOVO PROTAGONISTA das ações e intenções que podem proporcionar, dependendo da vontade do Congresso em votar os MARCOS REGULATÓRIOS DO SANEAMENTO e do SETOR ELÉTRICO, um razoável crescimento e desenvolvimento.


CARGO E ENCARGO
Volto, portanto, a lembrar que mais importante do que pessoas que ocupam postos chaves em qualquer governo é o PROGRAMA a ser seguido. Ora, considerando que todos aqueles que venham a ser convidados a participar de um governo só aceitam o CARGO junto com o ENCARGO, o que me faz elogiar ou criticar o trabalho de cada um são os resultados obtidos através de suas decisões.

27/ 04/ 2020

 

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