• George Mazza
  • 15 Novembro 2015

 

(Publicado originalmente em www.criticapoliticabrasil.com.br)

O tema aborto vem, nos meses mais recentes, sendo noticiado de maneira mais abrangente pelos canais de comunicação (rádio, jornais, canais de TV, revistas, mídias sociais), embora sem o aprofundamento que a complexidade do tema requer. A cobertura midiática sobre o tema tornou-se mais rotineira após aprovação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados de Projeto de Lei que dificulta, leia-se bem, dificulta a possibilidade da prática de aborto, permanecendo intactos os casos de aborto permitidos em Lei.

Antes de tudo, é imprescindível anotar que o enfrentamento do tema em questão pode (e deve!) ser realizado sem desbancar-se para o aspecto religioso. Não que a religião, seja esta qual for, deixe de tangenciar o tema em questão. Pelo contrário: abre-se mão dos fundamentos religiosos para que a discussão prossiga, sem o corte inicial extremista dos que costumam desacreditar determinada opinião de terceiro, sem antes apreciá-la e mesmo que esta sobreponha a própria opinião vencida, tanto em fundamentos, como em argumentos e fatos comprovados.

Isto posto, deve-se iniciar a abordagem do tema sob aspecto basilar e fundamental para o entendimento do todo: a cientificidade do aborto.

Qualquer estudante do ensino médio e, sem superiores capacidades cognitivas ao esperado para sua idade, consegue discernir e entender que numa gravidez a mulher contempla uma outra vida em seu interior, isto é, um ser vivo em formação, desde a concepção. Este ser vivo, o feto, é tese fundamental da questão científica em torno do aborto: na gravidez não há apenas um corpo em questão, mas sim, dois: o da mãe e o do feto que nela se desenvolve.

Premissa esclarecida, começa-se a vislumbrar quão falacioso e desinformativo é o discurso dos pró-abortistas sobre a necessidade da mulher utilizar-se de sua gestação da forma que lhe convier, sob a alegação de que “o corpo é meu, faço dele o que bem entendo”. Como afirmado, no processo de gravidez, há dois corpos em destaque. Se dois corpos coexistem (mãe e feto), qual direito resta exclusivo à mulher em, abertamente, suscitar que pode de seu corpo usufruir sem limitações? Não há “um” corpo. Há dois corpos e, um deles, o feto, deve ser protegido pelo Estado, o qual limita a atuação irrestrita e livre da mulher sob aquele. Então, a cantiga estridente feminista do “útero livre” é insustentável, inconcebível, desarrazoada e ilegal, pelo rápido e certeiro argumento exposto.

Outrossim, a própria ONU, em sua Declaração dos Direitos da Criança, de 1959, afirma que “a criança, em decorrência de sua imaturidade física e mental, precisa de proteção e cuidados especiais, inclusive proteção legal apropriada, antes e depois do nascimento”. Vejam então que ANTES mesmo do nascimento a criança deve ser protegida pelo Estado, o que atualmente se faz em nosso país por diversos normativos jurídicos.

No aspecto jurídico, outra alegação descabida dos pró-abortistas refere-se ao fato que a mulher estuprada (caso o Projeto de Lei converta-se em Lei sancionada) não mais poderá abortar. Essa afirmação é desprovida de qualquer veracidade. A prática de aborto conhecida como legal, pois oriunda de Lei e contemplada no art. 128, I e II do Código Penal, permanecerá intacta na nova Lei proposta. A exigência de atestado de óbito proposta inicialmente pelo Projeto de Lei foi retirada do corpo deste. Assim, esvazia-se de fundamento, mais uma vez, o discurso pró-abortista.

Assim sendo, as questões jurídicas relevantes permanecerão inalteradas, ou seja, a mulher cuja gravidez originou-se em aborto ou que ponha em risco sua vida, poderá realizar o aborto, pois protegida estará pelo Código Penal vigente.

Outro aspecto interessante que se nota no discurso das pessoas favoráveis ao aborto – sejam elas intelectuais que direcionam e elaboram os discursos pró-abortistas, ou os meros propagadores deste discurso –, é que o tema aborto é tratado pelo termo composto “interrupção da gravidez”. Notem que nestes discursos não se vincula o tema aborto ao bebê em formação; à criança indefesa no útero; à morte cruel deste ser vivo sem direito defesa; ao sofrimento brutal durante seu assassinato etc. Estes discursos privilegiam o ângulo apenas da mulher, não sendo propagados ao acaso.

A metodologia engendrada pelos que propõem o discurso pró-aborto foi elaborada para que a discussão do tema aborto torne-se natural e aceitável na sociedade, que passa a percebê-lo como decorrente do avanço e da modernidade social, passando até a defendê-lo como “direito da mulher”. O que não se elenca é que o aborto nada mais é do que por fim à vida de um ser indefeso, assassinando-o.

Na mesma linha discursiva, quando se analisa o tema aborto, costuma-se destacar, sobremaneira, que a gestante é a única e exclusiva vítima do preconceito social (quando do estupro decorrente de aborto) ou da incompreensão de seu companheiro por sua gravidez, que a faz indesejar o ser vivo fruto do relacionamento.

A mulher, nessas circunstâncias, é percebida como a única que sofre quando da gravidez indesejada e da prática de aborto, pois rejeitada socialmente pela prática do ato. E o sofrimento incomensurável do feto que será assassinado? Você, cidadã de bem, mãe ou não, se declara a favor do assassinato de um outro indivíduo? Provavelmente não, mas talvez se declare a favor do aborto.

Por fim, embora não menos importante, o tema aborto é discutido há mais de 50 anos nos EUA, país que legalizou a prática deste ato no ano de 1973. Deste ano até o início dos anos 2000, mais de 63 milhões de fetos foram assassinados nos EUA via prática do aborto e em clínicas legalizadas. Isso mesmo: mais de 63 milhões de vidas indefesas foram extirpadas, pelos 5 (cinco) métodos abortivos mais conhecidos e praticados naquele país. Este número de assassinatos é maior que as mortes causadas por todas as guerras já ocorridas no planeta. E aqui não se fala apenas das Grandes Guerras Mundiais: contempla-se TODAS as guerras ocorridas até a atualidade. Em suma: mata-se mais crianças indefesas nos EUA, via procedimento abortivo, dos que todas as guerras ocorridas no mundo.

Alegar-se também que o aborto é questão de saúde pública, pois milhares de mulheres perecem em clínicas clandestinas anualmente é uma tentativa desenfreada dos pró-abortistas em sensibilizar os duvidosos sobre o tema, novamente utilizando-se do utilitarista discurso do sofrimento único e exclusivo da mulher.

A implantação legalizada de clínicas de aborto além de aumentar a quantidade de assassinatos de fetos, em nada obstará que algumas mulheres continuem procurando clínicas clandestinas para praticarem o aborto, pois as clínicas legalizadas deverão conter registros formais da abortante, o que não é desejado por esta, que almeja a furtividade, a clandestinidade na prática deste ato.

Há diversas outras formas de se precaver de uma gravidez, seja através de contraceptivos ou outros meios educacionais. Mas não há outra forma de salvar a vida do feto que não a proibição do aborto. A mulher, diga-se, deve ser protegida pelo Estado, devendo receber todo o apoio deste durante sua gravidez, de modo que todo o processo transcorra da melhor maneira possível.

Isto posto, questiona-se: o aborto é “direito” único e exclusivo da mulher ou deve ser tratado pelo ângulo da proteção do Estado em resguardar a vida do ser mais indefeso e desprotegido que se pode conceber na natureza humana: o feto?

* Mestre em Direito
 

Continue lendo
  • Leo Iolovitch
  • 14 Novembro 2015

 

Em julho de 2008 esteve em Porto Alegre a escritora Ayaan Hirsi Ali, nascida na Somália, perseguida e ameaçada, por ter denunciado os horrores do fundamentalismo islâmico em relação às mulheres. Entre outras coisas há os que mutilam as meninas extirpando o clitóris e não é preciso dizer muito mais. O cineasta que divulgou sua luta foi assassinado na Holanda e ela está jurada de morte, andando sempre com esquema de segurança pessoal.

É uma mulher importante do nosso tempo.

Ela teve a coragem de defender mulheres submetidas a estes bárbaros preconceitos e sofrimentos, portanto seria justo receber manifestações de solidariedade de outras mulheres que têm o privilégio de desfrutar de plena liberdade.
Porto Alegre tinha então vários candidatos a prefeito, entre eles três mulheres. Todos eles e, especialmente, as candidatas, silenciaram sobre sua presença entre nós e tampouco se solidarizaram com ela. Ayaan Ali não é “de esquerda”, nem da turma do Fórum Mundial, é apenas uma vítima do fundamentalismo.

Por ocasião do atentado de 11 de setembro houve quem dissesse não aprová-lo, mas... Exatamente aí, é esse “mas” que libera geral, que permite tudo: “mas” o Bush... “mas” o imperialismo...e por aí vai. Assim o Bin Laden e a Al Qaeda são relativizados, coloca-se um “mas” e vale tudo.

Por essas e outras que a sofrida mulher africana foi esquecida pelos adeptos do “mas”, enquanto seus algozes radicais e terroristas de todo gênero ganham um generoso “mas”, para que seus atos sejam tolerados. Nada pode ser mais reacionário que o fundamentalismo.

Quando o Bové, sob aplausos, arranca uma plantação, ou grupo de mulheres destrói mudas de pesquisa vegetal, ou há atentados na área de biotecnologia da UFRGS, ou o relógio dos 500 anos é incendiado, ou quando o avanço genético e a evolução da ciência são contestados e atacados com violência, estamos assistindo a forma mais típica de uma ação de elementos reacionários.

Os centros de pesquisa e os laboratórios fizeram muito mais contra a fome, do que a maioria os inúmeros discursos sobre o tema. Porém, contra o progresso e o avanço científico, reacionários e reacionárias estão em luta feroz.
Não faz muito tempo, quando se dizia que alguém era “de direita” e “reacionário”, significava ser contra os avanços sociais e científicos, enfim, o conservador empedernido inimigo do progresso.

Passaram-se os anos, terminou a ditadura, caíram o muro de Berlim e o comunismo e, no Brasil, vivemos a democracia plena. Os conceitos de direita e esquerda ficaram superados e mudaram muito; no campo ideológico, deixaram de ser um referencial, talvez sirvam ainda como indicação de sinais de trânsito.

Os que defendem a mais antiga ditadura da América, onde há censura à imprensa e as pessoas fogem do país, se proclamam de esquerda; enquanto os que defendem a liberdade e eleições livres, ou alertam para o ataque à democracia na Venezuela, são chamados de direita.

Hoje muitos dos reacionários são jovens e também mulheres, que pena. Os talibans também são jovens. Seria bom que nossa juventude lesse sobre a Ayaan e seus livros, usassem o Google. Não basta andar de roupa e cabelo moderno, o importante é não deixar o cérebro enclausurado numa burca.

 - See more at: http://www.olivronanuvem.com.br/site/uma-mulher.html#sthash.XBgpW2Ii.dpuf
 

Continue lendo
  • Carlos I. S. Azambuja
  • 14 Novembro 2015

(Publicado originalmente no Alerta Total - www.alertatotal.net)

Cristãos, yazidis e turcos estão entre os mais perseguidos pelo Estado Islâmico, grupo dissidente da Al Qaeda que ocupou grandes partes do território do Iraque e da Síria. Eles estão mirando sistematicamente homens, mulheres e crianças baseados em sua filiação religiosa ou étnica e estão realizando impiedosamente uma limpeza étnica e religiosa generalizada nas áreas sob seu controle.

O Estado Islâmico surgiu em 2006, depois da invasão dos EUA e seus aliados ao Iraque, com sobreviventes da Al Qaeda no país, e ganhou força entre 2011 e 2013 quando teve início a rebelião na Síria. Seu atual comandante é Abu Bakr al-Baghdad.

Quando o EI invadiu a cidade de Mosul, capital da província de Ninewah, no Iraque – conquistando uma extensão de terras equivalente ao tamanho da Grã Bretanha –, o EI possuía apenas 800 combatentes. Hoje seu efetivo é estimado pela CIA entre 20 mil e 40 mil combatentes com acesso a recursos de 2 bilhões de dólares oriundos de fontes diversas, entre as quais seqüestros, roubos e, principalmente, a exploração e venda de petróleo da refinaria de Beiji, no norte do Iraque. Segundo experts, o Estado Islâmico controla 12 campos de petróleo no Iraque e na Síria, com capacidade de produzir 150 mil barris por dia, com receitas diárias estimadas em até 3 milhões de dólares.

Cinco meses antes da queda de Mosul o presidente Barak Obama havia menosprezado o EI, tachando-o de “um bando inexperiente de terroristas”.

De onde veio o Estado Islâmico e como ele conseguiu fazer tanto estrago em tão pouco tempo?

Os Estados Unidos estiveram em guerra contra o EI por quase uma década, incluindo aí suas várias encarnações, como a Al-Qaeda no Iraque, depois como Conselho Consultivo Mujahidin e, por fim, Estado Islâmico do Iraque e do Levante.

Muita coisa relativa a esse inimigo totalitário e teocrático permanece esquecida ou simplesmente pouco investigada. Debates a respeito de sua ideologia, estratégia de guerra e dinâmica interna persistem em todos os países comprometidos com a sua derrota. O EI é, na realidade, o último front em uma culminação sangrenta de uma longa disputa dentro da hierarquia do jihadismo internacional.

Examinando o EI como ele é hoje em dia, com base em entrevistas com militantes ativos (alguns já falecidos), espiões, agentes adormecidos e também suas vítimas, chega-se à conclusão de que um dos principais centros de recrutamento de militantes foram os presídios, especialmente no Oriente Médio, que serviram, por anos, como academias do terror, onde extremistas conhecidos puderam congregar, tramar e desenvolver suas habilidades de convencimento e liderança, recrutando uma nova geração de combatentes.

O EI é uma organização terrorista, mas não é apenas uma organização terrorista. É também uma máfia adepta em explorar mercados obscuros internacionais que existem há décadas para o tráfico de petróleo e armas. É um completo aparato de Inteligência que se infiltra em organizações rivais e recruta silenciosamente membros ativos antes do controle total dessas organizações, derrotando-as no campo de batalha ou tomando suas terras. É uma máquina de propaganda eficiente e hábil na disseminação de suas mensagens e no recrutamento de novos membros através das mídias sociais. A maioria dos seus principais comandantes serviu no exército ou nos serviços de segurança de Saddam Hussein.

O EI apresenta-se para uma minoria sunita no Iraque e uma maioria sunita mais perseguida e vitimada na Síria como a última linha de defesa da seita contra uma série de inimigos – os “infiéis” Estados Unidos, os Estados “apóstatas” do Golfo Pérsico, a ditadura alauita ”Nusayri” na Síria, a unidade “rafida” e de resistência no Irã e a última satrápia de Bagdá -. Estima-se que além do Estado Islâmico existam outros 450 grupos rebeldes operando na Síria.

O EI, de forma brutal e inteligente, destruiu as fronteiras dos Estados-Nação da Síria e do Iraque e proclamou-se o restaurador de um império islâmico. Tem como capital a cidade de Mosul, seu idioma oficial é o árabe, o governo é um Califado Islâmico, declarado em 29 de junho de 2014; possui uma bandeira e um brasão de armas. Já criou seus próprios tribunais, ministérios, passaportes e até placas de carros. Em novembro de 2014 criou a sua própria moeda, parte de um plano para restaurar o Califado que dominou o Oriente Médio a mais de 1.300 anos.

Abu Bakr al-Baghdadi – ungido Califa Ibraim – proclamou o fim do ISIS (em inglês Islamic State of Iraq and al-Sham) e o nascimento do Estado Islâmico no dia 28 de junho de 2014, o primeiro dia do Ramadã. A partir de então, apenas o Estado Islâmico passaria a existir, dividindo a humanidade em dois campos. O primeiro seria “o campo dos muçulmanos e dos mujahidin (guerreiros sagrados) por toda a parte”; o segundo “o campo dos judeus, dos Cruzados e seus aliados”.

O campo de treinamento do EI e de seus antecessores, na fronteira do Afeganistão com o Paquistão, que treinou os idealizadores dos ataques ao World Trade Center, tem três fases distintas de treinamento e doutrinação. A primeira consiste em “dias de experimentação”, com a duração de 15 dias, durante os quais um recruta é sujeito à “exaustão psicológica e moral” – para separar os fracos dos verdadeiros guerreiros. A segunda é o “período de preparação militar”, com a duração de 45 dias, durante os quais um recruta aprende como empunhar armas leves, evolui para o lançamento de mísseis portáteis superfície-ar e cursos de cartografia. A terceira e última fase é o “curso de táticas de guerra de guerrilhas”, no qual é ensinada a teoria militar de Von Clausewitz para terroristas.

Em março de 2009, o Departamento de Defesa dos EUA mudou oficialmente o nome das operações contra o EI de “Guerra Global Contra o Terror” para “Operações Contingenciais Externas” e em maio de 2013 o presidente Obama declarou que a “guerra ao terror” havia terminado.
Sete meses depois, em janeiro de 2014, em uma entrevista à revista “The New Yorker” Obama minimizou o poder do Estado Islâmico comparando-o a um “jayvee” (equipe de esportes de estudantes terceiranistas).

Se os EUA quisessem fazer uma demonstração de força no Iraque e na Síria, poderiam expulsar rapidamente o EI de seus esconderijos. Porém, o difícil viria depois, com a provável onda de atentados e guerra assimétrica que certamente duraria anos e teria custos enormes. Obama, dezoito meses depois, em 8 de junho de 2015, disse que sua administração “ainda não tinha nenhuma estratégia” para lidar com o Estado Islâmico. Ao que tudo indica sua administração continua “sem estratégia até hoje”. Pelo que se observa, o Estado Islâmico sim, tem uma estratégia, pois a guerra jihadista contra o Ocidente e seus aliados continua crescendo, como se viu ontem, 13/11/2015, em Paris.

m agosto de 2014, Obama declarou que a estratégia dos EUA no combate ao EI está amparada em quatro pilares: ataques aéreos, apoio aos aliados locais, esforços de contraterrorismo para prevenir ataques, e assistência humanitária contínua a civis.

Em setembro de 2014 o presidente Barak Obama em uma sessão na ONU declarou que “os países devem evitar o recrutamento e o financiamento de combatentes estrangeiros”. Segundo ele, “os EUA irão trabalhar para destruir essa rede da morte”, em alusão ao Estado Islâmico. E prosseguiu: “Nós vamos apoiar a luta dos iraquianos e dos sírios para proteger suas comunidades. Vamos treinar e equipar as forças que estão lutando contra esses terroristas em solo. Vamos trabalhar para acabar com o financiamento deles e parar o fluxo de combatentes que se juntam ao grupo. Eu peço ao mundo que se junte a nós nessa missão”. E concluiu fazendo um apelo aos muçulmanos para rejeitarem a ideologia do Estado Islâmico. Obama encerrou seu discurso dizendo que “as palavras que dissemos aqui precisam ser transformadas em ação...com os países e entre eles, não apenas nos dias que se seguem, mas nos anos que virão”. Uma Resolução proposta pelos EUA foi aprovada por unanimidade no Conselho de Segurança da ONU. Ao final, mais de 40 países se ofereceram para fazer parte da coalizão “anti-EI”, liderada pelos EUA.

Em junho de 2015 Obama voltou a referir-se ao EI declarando que “falta recrutar e treinar mais militares iraquianos dispostos a combater o Estado Islâmico. Não temos ainda uma estratégia completa, pois faltam compromissos dos iraquianos no que diz respeito a como é feito o recrutamento e como é que as tropas serão treinadas”.

Os EUA gastam, em média, cerca de 9 milhões de dólares por dia para combater o Estado Islâmico, e os custos totais já passam de 2,7 bilhões desde o início da campanha de bombardeios contra o EI.
Em qualquer atividade – passando pela organização e pela hierarquia -, o EI está anos-luz à frente das demais facções que atuam na região. Apresenta o que parece ser o início da estrutura de um semi-Estado – ministérios, tribunais e até mesmo um sistema tributário rudimentar -.

Nos campos de treinamento cerca de 300 crianças com idades até 16 anos recebem instrução como combatentes e terroristas suicidas no EI. Aprendem a ideologia fundamentalista e a manusear armas pesadas. Esses campos são anunciados como “Clubes de Escoteiros”.

Uma revista editada pelo Estado Islâmico, intitulada “DABIQ”, que já está na sua terceira edição, publicada em várias línguas, inclusive o inglês, apresenta o EI como a única voz muçulmana no mundo, na tentativa de cooptar estrangeiros para lutarem pelo Califado no Iraque e na Síria. Segundo o Conselho de Segurança da ONU, somente no ano de 2014 cerca de 15 mil estrangeiros de mais de 80 países, viajaram à Síria e ao Iraque a fim de lutarem ao lado do EI e grupos terroristas semelhantes. A ONU ressaltou que o aumento nesse número ocorre em uma escala “sem precedentes”. Segundo a União Européia, mais de 5 mil europeus se uniram à jihad na Síria e no Iraque, mas segundo a Comissária Européia de Justiça, esse número “é muito subestimado”.

O Estado Islâmico foi designado como organização terrorista pelos seguintes países: EUA em 17/12/2004, Austrália em 2/3/2005, Canadá em 20/8/2012, Arábia Saudita em 7/3/2014, Inglaterra em 20/6/2014, Indonésia em 1/8/2014 e Alemanha em 12/9/2014. A França absteve-se...

Os cristãos que vivem nas áreas dominadas pelo Estado Islâmico têm apenas três opções: converterem-se ao islamismo; pagar um imposto religioso (o jizya); ou morrer.

Militantes do Estado Islâmico estariam sendo contrabandeados para a Europa pelas gangues que operam no Mar Mediterrâneo, segundo uma fonte do governo líbio declarou à BBC. Os extremistas são misturados aos migrantes que viajam nos barcos desde a costa africana em direção ao continente europeu, porque a Polícia não sabe quem é refugiado e quem é militante do EI, pois isso é extremamente difícil.
Em setembro de 2015, a Polícia Federal descobriu uma rede de apoiadores do Estado Islâmico em São Paulo. A descoberta assusta, ainda mais porque TERRORISMO NÃO É CONSIDERADO CRIME NO BRASIL.

Para concluir, uma análise do general Álvaro Pinheiro, em abril de 2015:
“A possibilidade do Estado Islâmico/ISIS desencadear o terrorismo nos cinco continentes, corroborada pelos recentes atentados na Bélgica, Canadá, Austrália, França e Tunísia, é encarada em todo o mundo ocidental com a máxima responsabilidade. Nesse contexto, a infiltração do EI/ISIS na área da Tríplice Fronteira no Cone Sul da América do Sul é absolutamente consensual no âmbito da Comunidade de Inteligência Internacional. Não encarar esse indício com a devida responsabilidade é mais um verdadeiro CRIME DE LESA PÁTRIA”.

 * Historiador

Continue lendo
  • Bruno Braga
  • 13 Novembro 2015

http://b-braga.blogspot.com.br

Espalhou-se por todos os cantos: fé e razão não se misturam. Esta idéia é repetida em discussões públicas e acadêmicas, no trabalho, em conversas informais e até mesmo em casa. O problema é quando ela toma ares de verdade dentro da igreja. Se fé e razão são realmente incompatíveis, a fé pode se tornar uma espécie de "sentimentalismo", um apêgo cego a qualquer coisa que dê à pessoa conforto e bem-estar, corre o risco de se transformar em mitologia ou ser reduzida a uma simples superstição. Para o católico, no entanto, não é assim.

Reza o Catecismo: "A santa Igreja, nossa mãe, sustenta e ensina que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana a partir das coisas criadas" (CIC, 36). Sim. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gen. 1, 26-27). Por graça, ele recebeu uma faculdade que - não é a onisciência divina - mas reflete algo da inteligência do seu Criador, uma faculdade que o distingue de todos os outros seres: a razão. Deus, que assim fez o homem, o chama para amá-Lo, mas também para "conhecê-Lo" (CIC, 31).

Ora, não é possível amar o que não se conhece. Sem a razão, o homem não poderia sequer acolher a fé. Os animais - que não possuem aquela faculdade - não têm nenhum traço de religiosidade. Com a razão, o homem não só acolhe a fé, mas busca as vias para aceder ao conhecimento de Deus com argumentos "convergentes" e "convincentes", capazes de estabelecer "verdadeiras certezas" (Idem). Ele tenta alcançar Deus nas meditações sobre o "movimento", nas questões sobre a ordem e a beleza, sobre o princípio e o fim do mundo (CIC, 32). Identifica em si mesmo uma abertura para o belo e para a verdade, um sentido para o bem moral, reconhece a sua própria liberdade e uma aspiração ao infinito e à felicidade (CIC, 33). Por estas "vias", "o homem pode aceder ao conhecimento da existência de uma realidade que é a causa primeira e o fim último de tudo, 'e que todos chamam Deus'" (CIC, 34).

É verdade, a fé não é puro racionalismo. Não. Os sentidos, a imaginação e as más inclinações podem colocar dificuldades e obstáculos à razão, ela mesma uma faculdade bastante limitada. Não é capaz de gerar a fé, uma graça de Deus. Há uma ordem de conhecimento que o homem jamais pode atingir com as suas próprias forças - com a razão natural: a Revelação divina. Mas, quando o próprio Deus se revelou - em Jesus -, disse que para segui-Lo seria necessário a cada um tomar a sua cruz (Lc. 9, 23). Ele não pediu para ninguém abandonar a sua cabeça. E quando Cristo afirmou ser Ele mesmo o "Caminho", também se apresentou como a "Verdade" e a "Vida", mostrando, assim, que razão e fé estão intimamente associadas. São João Paulo II ilustrou essa associação com uma bela imagem: "a fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio" (Encíclica "Fides et ratio").

Portanto, o católico deve estar preparado contra as armadilhas do chavão e do clichê. Fé e razão misturam-se sim. Se essa posição significa contestar uma idéia que se popularizou, não há o que temer. Não é preciso se intimidar com acusações de acadêmicos ou se constranger com qualquer um que pronuncie a palavra "ciência". Não há motivo para aceitar a mordaça dos que tentam afastá-lo - simplesmente por ser religioso - das discussões públicas e políticas. Porque o católico não renuncia a sua inteligência. E nem poderia abandoná-la, pois já que recebeu a razão como um dom de Deus, ele tem um compromisso ainda mais sério com a Verdade.


(*) Publicado no jornal "Correio da Serra", ed. 850. Barbacena, 07 de Novembro de 2015.

Continue lendo
  • Olavo de Carvalho
  • 13 Novembro 2015

(Publicado originalmente no Diário do Comércio)

Citar Brecht no contexto de um apelo à radicalização da luta esquerdista não é de maneira alguma um adorno literário inocente: é sugerir que os comunistas façam aquilo que Brecht os ensinava a fazer e que aliás eles sempre fizeram.

Como o rótulo de “intelectual de esquerda” já esteve associado a escritores do porte de um Álvaro Lins e de um Sérgio Milliet, é bom advertir que, usado hoje em dia, ele só guarda com o seu objeto a relação distante de um ser vivo com a sua miniatura de plástico.

Nesse sentido, o sr. Mauro Luís Iasi corresponde aproximadamente àquilo que, nos meios comunopetistas, se entende por esse termo na atualidade.

Não lhe faltam, com efeito, os traços essenciais que definem o tipo: um cargo acadêmico, o total desconhecimento dos assuntos em que pontifica e a presunção de superioridade moral, quando não intelectual.

Até pouco tempo atrás, ele não passava de um objeto de consumo interno dos círculos esquerdistas, mas recentemente alcançou notoriedade mais ampla, não mediante algum feito literário ou científico, mas graças à sua proposta singela de matar todos os direitistas.

Como alguns deles lhe respondessem que seria melhor aplicar esse remédio a ele mesmo, ele imediatamente considerou isso uma prova a mais da típica truculência direitista em confronto com o arraigado pacifismo humanista da esquerda, sem nem sequer ponderar a diferença entre os coeficientes de truculência requeridos para matar um só e para matar todos.

Com aqueles ares de inocência ofendida sem os quais é muito difícil subir na vida hoje em dia, ele explicou ainda que foi muitíssimo mal interpretado, que seu desejo de matar não era nada disso, mas uma simples metáfora poética extraída de um texto de Bertolt Brecht, no qual um proletário enragé, discutindo com um burguês, demonstra que matá-lo é apenas uma questão de justiça.

“Para aqueles que não são muito afeitos a poemas e outras manifestações da alma humana, -- escreve o sr. Iasi, com infinita piedade pelos pobres ignorantes -- é bom explicar que não se trata de uma pessoa e outra conversando, muito menos uma posição pessoal. É uma metáfora de um encontro de classes numa situação dramática, na qual a classe dominante se encontra diante da possibilidade de ser julgada por aqueles que sempre explorou e dominou.”
O estilo é o homem. Desde logo, no trecho citado o que o proletário sugere não é apenas “julgar” a burguesia, isto é, emitir uma opinião sobre ela, mas sim executá-la, mandá-la para o outro mundo. A versão eufemística do sr. Iasi não consegue camuflar o sentido patente do texto. Diante do burguês que se afirma um homem bom e justo, o revolucionário promete:
“Em consideração aos seus méritos e boas qualidades, poremos você diante de um bom muro, atiraremos em você com uma boa bala de um bom revólver e enterraremos você com uma boa pá numa boa terra.”

O revolucionário promete não apenas matar o burguês, mas humilhá-lo post mortem fazendo chacota do seu cadáver. O sr. Iasi confessa que conheceu o poema de Brecht só pela citação que encontrou num livro de Slavoj Zizek, mas quem leu as obras do dramaturgo sabe que esse tipo de humorismo sardônico voltado contra as vítimas da violência estatal comunista era um dos traços mais característicos do estilo brechtiano de escrever e de ser. Brecht não só aplaudiu entusiasticamente as tropas soviéticas que afogaram num banho de sangue a rebelião popular berlinense de 1953, mas, quando alguém alegou que os condenados nos famosos Processos de Moscou eram inocentes, ele respondeu: “Se eram inocentes, tanto mais mereciam ser fuzilados.”

A ironia macabra não era força de expressão. Para a mentalidade comunista, a culpa ou inocência pessoais do acusado eram, de fato, detalhes menores em comparação com a oportunidade áurea de afirmar, mediante a prepotência da execução arbitrária, a autoridade suprema da Revolução, que não devia satisfações a ninguém senão a si mesma.
A metáfora, se o fosse, não era muito metafórica. Citar Brecht no contexto de um apelo à radicalização da luta esquerdista não é de maneira alguma um adorno literário inocente: é sugerir que os comunistas façam aquilo que Brecht os ensinava a fazer e que aliás eles sempre fizeram.

Mas, para piorar um pouco as coisas, não é uma metáfora. Metáfora é quando uma coisa significa outra coisa, por exemplo o leão significa o Sol ou o Sol significa o rei. Entre o signo e o significado há uma diferença de espécie. Quando o sr. Iasi explica que “não se trata de uma pessoa e outra conversando, muito menos uma posição pessoal” e sim de “uma metáfora de um encontro de classes numa situação dramática”, ele só prova que não sabe o que é metáfora. Na figura de linguagem que ele emprega, o proletário e o burguês não significam coisas de outras espécies, mas sim as espécies respectivas a que eles realmente pertencem: o proletário significa o proletariado, o burguês a burguesia. Isso não é uma metáfora de maneira alguma, é umametonímia – não uma relação analógica entre coisas especificamente distintas, mas a relação lógica entre a parte e o todo. O sentido do trecho citado não é portanto o de uma ameaça de homicídio, mas de genocídio: não é este proletário que deve matar este burguês em particular, mas o proletariado como um todo que deve exterminar a burguesia inteira.

Já é uma palhaçada deprimente que um sujeito que ignora a distinção elementar entre metáfora e metonímia pose de grande conhecedor da literatura e se dirija aos seus leitores como a um bando de iletrados que “não são muito afeitos a poemas”. Porém mais grotesco ainda é que, ao tentar dar à sua convocação truculenta os ares inofensivos de uma “metáfora poética”, ele não percebesse que, com a ajuda de Brecht, estava confessando seu desejo de saltar da escala do homicídio para a do genocídio. Raramente uma tentativa de fazer-se de coitadinho resultou tão flagrantemente numa confissão de culpa ampliada. Por isso é que, quando me perguntam se alguém é comunista por burrice ou por maldade, respondo que é por uma união indissolúvel das duas coisas. Nada emburrece mais do que o esforço contínuo de camuflar a própria maldade sob um travesti de inocência ofendida. E ninguém se dedica a esse esforço com mais persistência do que os comunistas.

http://olavodecarvalho.org

www.midiasemmascara.org

http://seminariodefilosofia.org

http://therealtalk.org

 

Continue lendo
  • Darcy Francisco Carvalho dos Santos
  • 11 Novembro 2015


(Publicado originalmente em Zero Hora de 11/11/2015)

A jornalista Rosane de Oliveira, na Zero Hora de 6 do corrente, em excelente matéria, sob o título "Crise? Não para as carreiras jurídicas", denuncia o pagamento do auxílio-refeição aos membros do Poder Judiciário e do Ministério Público, assim como o pagamento de R$ 6,5 mil a cada membro da Defensoria Pública, por conta do auxílio-moradia.
A cada membro do Poder Judiciário foram pagos 42 meses atrasados, ou R$ 33.558, e aos membros do Ministério Público, 12 meses, ou R$ 9.588, que ainda permaneceram com um crédito de 36 meses.

Embora a matéria não esclareça, o pagamento do auxílio-refeição deve ter sido somente aos membros ativos. Já o auxílio-moradia deve ter abrangido também os defensores inativos. Assim sendo, o desembolso foi superior a R$ 40 milhões.

Embora isso não seja uma soma expressiva nas contas de um Estado, é emblemático para quem atrasou dois meses de salários e deverá atrasar novamente até o final do ano. E a situação só não foi pior em virtude da ajuda dos depósitos judiciais. E só conseguirá pagar o 13° salário mediante operação de crédito no Banrisul.

No período de janeiro a outubro, as receitas correntes do Estado caíram 3% quando se retira a inflação, e a receita total arrecadada atingiu tão somente 83% da prevista (menos R$ 6,2 bilhões). Para enfrentar essa situação, o Estado cortou despesas básicas e, mesmo assim, fechará o ano com um déficit orçamentário de R$ 5 bilhões. A situação para o próximo ano poderá ser pior, porque no governo anterior foram criadas despesas crescentes até 2018 e a receita está caindo.
Estão sendo pagos com atrasos fornecedores, hospitais, municípios, aluguel social, transferências a escolas e outros credores. Está em risco, ainda, o reajuste dos professores, do pessoal da segurança e demais servidores, entre eles, os do próprio Judiciário.

Por tudo isso, os pagamentos em causa, beneficiando muitos que estão acima do teto constitucional, mais do que injustos, são uma ofensa a mais da metade dos servidores, que mal consegue sobreviver com o que ganha e, ainda, deve receber seus parcos vencimentos com atraso.

* Contador e economista
 

Continue lendo