• Fernando Antoniazzi
  • 20 Outubro 2015

 

Os Americanos têm o péssimo costume de não adotar a Língua Portuguesa como idioma oficial. Como podem preterir a magnífica musicalidade da ‘última flor do Lácio, inculta e bela’, em favor de uma mistura de onomatopéias, guturalismos e atualmente açodada com mais acronismos derivados da linguagem das redes sociais, emboraexista o precedente de que os americanos já adotassem muitas siglas para tornar a comunicação mais prática. Sim, prática, rápida, eficiente e pobre.

Bem, este último aspecto não empobrece somente o verbo shakespeariano, posto que seja este um fenômeno de ocorrência mundial, são diversos idiomas sujeitos a isto. A propósito, algo de muito estranho e mais grave está ocorrendo, posto que frases completas estejam a ser substituídas por figurinhas e animações oriundas da comunicação nas ‘redes sociais’; o que enseja uma conclusão pesarosa: o espírito das pinturas rupestres das eras ancestrais à escrita está de volta, permeando as telinhas dos smartphones e congêneres, caracterizando um fenômeno involucionário.

A humanidade levou milhares de anos para criar códigos visuais e fonéticos, de modo a melhor estabelecer a comunicação entre, ao menos, dois interlocutores e, em pouquíssimo tempo, está ela a render-se às carinhas e figurinhas ‘Emoticons’ para fazer-se entender. As tais figurinhas são até mesmo simpáticas e ajudam a enfeitar ou emprestar humor a uma mensagem descompromissada, mas não têm estofo para substituírem a linguagem ou provocarem a interpretação de um texto... Texto? Ora, mas nem texto são!

Paradoxo outro: nunca antes na história se registrou tanta facilidade na troca de informação e esta jamais foi tão parca ou até mesmo dispensável. O discurso final de ‘O GRANDE DITADOR’tornou-se anacrônico, aquele no qual Charles Chaplin discorre sobre rádios, aviões, pessoas que se aproximam, mas abandonam a sensibilidade, abusando do racionalismo. Fosse tal peça escrita novamente, para manter sua linha axial certamente ao texto caberia abordar que o sentimento está ainda em declínio, mas há o gravame de que o pensamento caminha à inexistência.

Outra para pensar: a letra cursiva foi abolida em vários rincões. O teclado sobrepujou o papel e a pena... O discurso politicamente correto domarketing ecológico talvez use isto como trunfo: paperless, o futuro chegou; as árvores estarão preservadas dos escribas, os machados estarão banidos; papiro, nunca mais... Gutenberg, aquieta-te e guarda tua prensa! Apenas por exercício de pensamento, lembremo-nos de que a caligrafia também se presta ao estímulo dos movimentos delicados das mãos, refiro-me à precisão dos gestos obtida pela derivação da estrutura que opõe o polegar aos outros dedos da mesma mão, coisa ausente na natureza dos demais primatas. Ah, sim, a robótica, a cibernética e a mecatrônica já resolveram a questão por intermédio de joysticks... Está cada vez mais difícil ser apenas humano.

Que confusão! Estamos vivendo tempos em que colocamos a perder a humanidade, arrogantemente brincamos de divindade e tornamo-nos cada vez mais vazios, distantes do nosso próximo e, por conseguinte, afastamo-nos de Deus.

No dia de hoje, ao completar minha quinquagésima-primeira volta em torno do Sol, fluiu assim esta breve digressão, sem expressão maior, tão somente um flatus animae, um brainstorm de quem dobrou o Cabo da Boa Esperança e muitas vezes não gosta do que vê no espelho, seja a imagem exterior ou a interior.
 

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  • André Vanoni de Godoy
  • 20 Outubro 2015

* Advogado, mestre em Direito

É correntemente aceita como verdadeira a tese de que quanto maior a arrecadação tributária, maior será a capacidade dos governos de responderem à sociedade com mais e melhores serviços. Trata-se, contudo, de uma grande falácia, ao menos no caso brasileiro. Em verdade, o que ocorre na vida real é exatamente o contrário. Vejamos.
Em 2003, os brasileiros pagaram de tributos, em média, 36,98% do seu rendimento bruto. Em 2015, este percentual saltou para 41,37%. Em 1986, os brasileiros trabalharam 82 dias para pagar os tributos destinados às três esferas de governo. Em 2015, o número subiu para 151 dias, isto é, cinco meses de trabalho dos contribuintes para sustentar as máquinas dos governos federal, estaduais e municipais. Portanto, trabalhamos até 31 de maio deste ano apenas para forrar os cofres públicos. Em 10 anos, de 2004 a 2014, a arrecadação total passou de R$ 650,13 bilhões para R$ 1,955,80 trilhão, ou seja, um crescimento nominal de 201%, e crescimento real de 78%, descontada a inflação medida pelo IPCA (dados do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação - IBPT).

E aqueles mais e melhores serviços que viriam com este fantástico volume de recursos? Segundo estudo do IBPT/OCDE, intitulado "Copa do Mundo da Tributação", entre os 32 países participantes da Copa de 2014, segundo o indicador Irbes (Índice de Retorno de Bem Estar à Sociedade), o Brasil está na 29ª posição, à frente apenas da Nigéria, Costa do Marfim e da Bósnia e Herzegovina. Logo se vê que a derrota de 0x7 para a Alemanha nem de longe é a mais vexatória, e deveria ser a nossa última preocupação.

Chega-se, então, facilmente à conclusão de que uma elevada carga tributária não necessariamente significa governos mais eficientes. No caso do Brasil é exatamente o contrário. Uma parcela expressiva do volume arrecadado pelo Estado é consumida na manutenção de uma máquina pública hipertrofiada, lenta, ineficiente e perdulária. É quase como se os governos fossem a razão de sua própria existência, isto é, fins em si mesmos, quando deveriam estar a serviço de quem os sustentam, os pagadores de tributos.

Neste contexto, há dois caminhos a seguir: ou o Estado brasileiro diminui, ou se torna mais eficiente. Particularmente, penso que são caminhos que se complementam. Devemos demandar por um Estado mais enxuto e mais eficiente. Só não esperemos que isto aconteça por ação e graça de nossos políticos.

* Advogado, mestre em Direito

http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/opiniao/noticia/2015/10/andre-vanoni-de-godoy-o-paradoxo-dos-governos-autofagicos-4881772.html

 

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  • Genaro Faria
  • 20 Outubro 2015

"Eu sei, não, eu sinto que Deus existe."

                                                                                      (Jorge Luis Borges)

O que nós sabemos, não, sentimos é que o nosso país está deixando de existir. Não aquele que se indignou por Marta Rocha, por causa de duas polegadas a mais na cintura, não ter sido eleita Miss Universo. Que projetou seu orgulho nos campeões Eder Jofre, Garrincha, Pelé e Maria Ester Bueno. Que construiu Brasília e conquistou o mundo com os acordes e o ritmo da bossa nova e sua poesia intimista, sofisticada na fusão de Debussy com o jazz, assim promovendo o samba que descia do morro a uma expressão musical universal.

Não, aquele país fincou suas raízes numa geração que não existe mais. Dela só restou a lembrança que vai se apagando com o tempo. E se esvai a cada mito que Deus seja servido de convocar para o infinito. E com eles nos também morremos um pouco. C'est la vie!

Quem dera nosso país também deixasse de existir assim, naturalmente, como a aurora de nossa vida na infância e juventude! E hoje debruçasse sobre o peitoril de uma janela que descortina o passado a esperança que nos consola em nossos filhos, netos e nos que ainda haverão deles descender, herdando a pátria e a civilização que para eles edificamos. Mas o país que está deixando de existir não é o nosso. É o deles. Não é o que o tempo levou, mas o que ele não poderá trazer. Porque hoje estão no poder aqueles que não suportam a realidade. Que é feita de passado, presente e perspectiva de futuro. Uma contingência com a qual eles, sendo revolucionários, não podem se conformar. Seu tempo só se conjuga no futuro. Sempre. Somente nele seu ideal de abolir o passado e exterminar o presente poderá ser julgado. Conceito este que os redime eternamente de qualquer crime que tenham cometido, pois o futuro sempre andará um passo à frente da justiça, que só examina o pretérito ou o presente.
Genial, não?

É claro que esse absurdo só pode ser encenado na mente de um psicopata. Ou de um belo cafajeste que não perderia essa oportunidade de se livrar do que ainda lhe possa pesar o que restou da sua consciência. O cidadão comum, que é honesto desde o camponês, o operário, o comerciário, o autônomo, até o agricultor, o industrial, o comerciante e o profissional liberal não cuida que está sendo vítima do sequestro da sua dignidade. Sem a qual ele será órfão da sua origem e natureza divina.

Mais, muitíssimo mais do que o assalto praticado nestes treze anos do PT no poder, a pátria comum e tudo que nos identificava como um povo, a partir do amor que nosso lar nos infundiu e dos primeiros passos de nossa catequese cristã, o que nós perdemos foi o Brasil. Um país perdido no futuro. Talvez para sempre.
 

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  • Olavo de Carvalho
  • 18 Outubro 2015

(Publicado originalmente no Diario do Comércio)

Chavões, frases-feitas, clichês, estereótipos ou como se queira chamá-los existem para que o sujeito que não pensou num assunto possa obter a concordância imediata de outro que também não pensou. Onde quer que você ouça ou leia um desses maravilhosos substitutivos do pensamento, pode ter a certeza de que está assistindo a um encontro de dois corações que se apóiam e se reforçam mutuamente sem nenhuma interferência do objeto sobre o qual fingem estar conversando.

Por exemplo, quando um cidadão afirma: “Esquerda e direita são conceitos superados”, o que ele quer dizer é: “Eu sou superior a essas coisas.” O ouvinte, mais que depressa, responde: “Eu também.” E saem os dois muito contentes da sua superioridade, enquanto as duas forças inexistentes continuam a disputar o governo, xingar-se uma à outra, boicotar-se mutuamente e até trocar tiros, como se existissem.

A verdade é que nenhum fato ou coisa deste mundo, por pequeno e modesto que seja, se deixa apreender na linguagem dos chavões. Estes não têm nada a ver com a descrição de realidades, mas apenas, na mais bem sucedida das hipóteses, com a expressão da harmonia ou desarmonia entre as almas do falante e do ouvinte. Isso é assim pela simples razão de que nenhuma realidade vem junto com a linguagem pronta que a expressa, mas em cada caso a sua descoberta requer a invenção da linguagem apropriada para expressá-la. É por isso que os autores de grandes descobertas na filosofia são também inventores de linguagens originais. Conforme o talento literário de cada um, elas podem ser límpidas e claras como as de Platão ou Leibniz, ou então abstrusas e indecifráveis como as de Kant ou Heidegger, mas sempre originais, únicas e adequadas aos seus fins.

O chavão é, por excelência, a linguagem do auto-engano que busca transmutar-se em engano alheio, se possível em engano geral. É a linguagem de quem fecha os olhos ao objeto e os arregala para ver a reação do ouvinte. O pobre do objeto, do assunto, da questão, fica fora da conversa como um mendigo que espia pela janela do Ritz.

Se voltamos ao exemplo acima e, em vez de participar da deliciosa harmonia entre o falante e o ouvinte, voltamos os nossos olhos ao objeto da conversa, em cem por cento dos casos notamos que ele é bem diferente do que o imaginam aqueles que nem mesmo tentaram imaginá-lo, mas se limitaram a usá-lo como pretexto de um intercâmbio social.

Desde logo, se há pessoas que se dizem de esquerda ou de direita e que agem politicamente sob essas bandeiras, é evidente que esquerda e direita existem como agrupamentos políticos reais que sob esses nomes se reconhecem e por eles distinguem os “de dentro” e os “de fora”. Se suprimimos os nomes teremos de designá-los por outros da nossa própria invenção, nos quais os dois grupos não se reconhecerão e que só servirão para complicar o vocabulário.

Como autodenominações de grupos políticos e símbolos da sua identidade, os termos “esquerda” e “direita” não estão superados de maneira alguma. Expressam uma realidade sociológica inegável.

Faz um pouco mais de sentido dizer que seus respectivos discursos ideológicos foram ultrapassados pelo desenvolvimento crescentemente complexo do estado de coisas, que nenhum deles expressa corretamente. Teremos, com isso “superado os conceitos” de esquerda e direita? De maneira alguma, pois essa acusação é a mesma que a esquerda e a direita se fazem mutuamente, e, se não percebemos nem mesmo isso, é que ignoramos o estado de coisas ainda mais profundamente do que as duas juntas, e nós é que estamos superados. O sapientíssimo se revela um bobo na hora mesma em que tenta posar de superior.

Deveria ser óbvio para todo mundo, mas para muitos é quase um segredo esotérico inacessível, que a qualidade boa ou má, a veracidade ou falsidade das idéias de um grupo não tem nada a ver com a sua existência ou inexistência como grupo. Argumentar que duendes não existem não prova que inexistam grupos que acreditam em duendes.

Ainda mais bobo é aquele que afirma desprezar toda “retórica ideológica” e, em vez disso, examinar somente os interesses materiais malignos por trás da aparente disputa de ideologias, acreditando com isso estar firmemente assentado no terreno dos fatos e a salvo de idéias ilusórias. Mas, em primeiro lugar, apontar interesses materiais por trás de um discurso ideológico é precisamente o que as ideologias inimigas fazem umas com as outras. E o fazem quase sempre com razão, porque toda ideologia, como já a definia Karl Marx, é um “vestido de idéias” (Ideenkleid) costurado para encobrir um interesse material, um projeto de poder, uma ambição mundana. Por outro lado, é certo que, se esses interesses se apresentassem nus e crus, sem a embalagem ideológica, seriam imediatamente desmoralizados e não enganariam a ninguém. A ideologia, portanto, é parte integrante do projeto maligno, que não pode ser compreendido sem referência a ela. Por fim, também é certo que, se um discurso ideológico, uma vez formulado, serve de símbolo verbal da identidade de um grupo, o qual sem essa identidade estaria privado da possibilidade de agir em conjunto, o conteúdo desse discurso não será nunca totalmente alheio à conduta real do grupo, que em certa medida será obrigado a ajustar suas ambições de poder às promessas e valores do discurso. A tensão entre a identidade do grupo e os interesses materiais em jogo é um elemento permanente da vida político-ideológica, e fazer abstração da ideologia para enfocar somente os interesses materiais isolados é condenar-se a não compreendê-los de maneira alguma.

Um exemplo característico é o chavão mais em moda hoje em dia, segundo o qual o sr. Lula não é comunista nem esquerdista, apenas um político sem filiação ideológica que enriqueceu ilicitamente. Esse chavão soa agradável em diferentes áreas do espectro ideológico. Para o esquerdista, ele é a fórmula mágica para isentar de toda culpa pelos crimes do PT a corrente política que o criou, que o incensou, que lhe deu a hegemonia e que, se ele for para o buraco, pretende continuar no poder sob outros nomes quaisquer. Para o direitista, fornece um poderoso argumento retórico: “Estão vendo como na esquerda ninguém presta, como são todos uns ladrões e salafrários?” E, para o homem “superior a ideologias”, é mais uma prova da sua superioridade sublime. Todos os pretextos servem, portanto, para o interessado se fazer de bonito mediante a supressão de pelo menos duas perguntas:

1) Se o Lula é apenas um ladrãozinho sem compromisso com o comunismo, por que distribuiu tanto dinheiro a ditaduras e partidos comunistas, quando podia guardá-lo para si mesmo?

2) Por que as FARC o homenagearam por ter salvado in extremis o comunismo continental, em vez de acusá-lo de usar o comunismo em benefício próprio?

Que o sr. Lula seja apenas um ladrãozinho egoísta sem vínculo ou compromisso com o comunismo internacional é uma das idéias mais estúpidas e indefensáveis que já passaram por um cérebro humano. De um lado, há o fato incontestável de que ele é aceito e celebrado por todos os governos e partidos comunistas do mundo não só como um parceiro e irmão leal, mas até como uma espécie de herói, de salvador providencial. Se ele alcançou essa posição sem nada fazer pelo comunismo e agindo sempre somente no interesse próprio, então ele enganou a todos os líderes e governos comunistas do universo, incluindo os serviços secretos de Cuba e da China, tidos como extraordinariamente eficientes e maliciosos, só não logrando tapear o tirocínio superior dos comentaristas brasileiros de mídia. De outro lado, resta o fato igualmente incontestável de que nenhum espertalhão logrou jamais utilizar-se do comunismo em benefício próprio sem beneficiar ainda mais algum governo ou partido comunista -- pelo menos não logrou fazê-lo sem pagar com a vida. Willi Münzenberg, que era um milhão de vezes mais esperto que Lula, foi simplesmente acusado de tentar fazer isso, e já o assassinaram antes que alguém pudesse verificar se fez ou não. Não é humanamente concebível que um movimento que condenou à morte cem milhões de pessoas pudesse poupar generosamente a vida de um vigarista que o ludibriasse de forma tão humilhante ante os olhos da humanidade inteira. Muito menos concebível é que depois disso continuasse a aplaudi-lo e paparicá-lo como o fazem os governos de Cuba, da China, da Venezuela etc. Essa hipótese é tão absurda, tão monstruosamente inverossímil, que acreditar nela mesmo por um minuto e em segredo já seria prova de uma imbecilidade descomunal. A desenvoltura ingênua com que tantos no Brasil a alardeiam sem a menor inibição é a prova definitiva de que algo no cérebro nacional não vai bem.

Erros monumentais como esse não aparecem sozinhos. Provêm de uma ignorância estrutural, profunda e dificilmente reversível, quanto à natureza e função das ideologias em geral. Os palpiteiros que superlotam a mídia e as cátedras imaginam que ideologia seja algo como uma crença religiosa, que exija a adesão profunda e sincera das almas. Nessa perspectiva, um comunista, por exemplo, poderia ser um “verdadeiro crente” ou um mero oportunista sem crença nenhuma. Essa diferença pode ter existido em outras épocas, quando a URSS baixava as Tábuas da Lei e condenava como heréticos os trotskistas, os revisionistas etc. De fato, não pode existir “verdadeiro crente” sem um texto canônico obrigatório para todos. Mas já faz três décadas, pelo menos, que nada disso existe no movimento comunista. A concepção eclesiástica do Partido como guardião da doutrina infalível foi substituída pela flexibilidade de um pluralismo ilimitado onde todos os discursos ideológicos são bons, desde que seus adeptos consintam em agir segundo uma estratégica unificada. Concomitantemente, a antiga hierarquia vertical foi trocada por uma organização mais flexível sob a forma de “redes”, onde as palavras-de-ordem não despencam das alturas olímpicas de um Comitê Central mas se espalham quase anonimamente, como se fossem meras exigências do senso comum em vez de ordens do Camarada Fulano ou Beltrano. A substituição da unidade ideológica pela unidade puramente estratégica, concebida nos anos 80 do século passado e testada com sucesso espetacular na guerrilha de Chiapas, México, em 1994 – chamada por isso “guerrilha pós-moderna”--, permitiu que o movimento comunista não somente sobrevivesse incólume à queda da URSS, mas multiplicasse sua força e capacidade de ação. A esquerda mundial está hoje muito mais unificada e organizada do que sessenta ou setenta anos atrás. Ganhou em força de atuação conjunta o que perdeu no debate ideológico. Quem não percebe isso não merece ser ouvido em matéria de política.

Para tornar as coisas ainda mais incompreensíveis aos sábios iluminados, resta o fato de que “esquerda” e “direita” só são entidades simetricamente opostas nos dicionários. Na vida real, “esquerda”, hoje, não é um “rótulo ideológico” e sim um movimento unificado e organizadíssimo sem nenhuma ideologia definida, ao passo que “direita” é na melhor das hipóteses o nome de um amálgama confuso de discursos ideológicos inconexos, ao qual não corresponde nenhuma organização ou movimento unificado nem mesmo em escala nacional, quanto mais mundial. Não são espécies do mesmo gênero. Aquele que assim as concebe para fazer-se de superior a ambas, como um domador que cavalga simetricamente dois cavalos com um pé em cada um, é na verdade um acrobata impossível com um pé num cavalo de carne e osso e o outro no conceito abstrato de um cavalo hipotético.

http://olavodecarvalho.org/ 

http://seminariodefilosofia.org/

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  • Paulo G. M. Moura
  • 18 Outubro 2015

LULA REFOGADA EM FOGO BRANDO; OU, COMO PRENDER O CHEFÃO

(Publicado originalmente em http://professorpaulomoura.com.br/)

O apoio que Lula tem junto ao petismo é o último baluarte de sustentação do governo Dilma. A presença do PT no governo é o último baluarte do poder que o petismo ainda tem. Sem a sustentação de Lula, Dilma cai. Sem a presença no governo o PT definhará. Viciados na droga do poder, o petismo não sobreviverá à síndrome de abstinência dos cargos públicos.

Enquanto alguns comentaristas e editorialistas da imprensa alardeiam que Lula desejaria ir para a oposição e entregar a gestão da crise que ele criou para um adversário, o chefe do PT movimenta-se freneticamente para impedir o impeachment de Dilma e melar a operação Lava Jato.

Por um lado, há a tentativa de tirar o julgamento dos acusados pela operação Lava Jato das mãos do juiz Sérgio Moro, distribuindo-o para outros juízes e soltando indiciados mantidos presos em Curitiba há meses.

Por outro, Lula manda o PT atacar Eduardo Cunha com a mão esquerda, ao mesmo em que estende a mão direita para o presidente da Câmara, oferecendo-lhe proteção para preservar seu mandato e o foro privilegiado, e sabe-se lá, que compensações pela perda do dinheiro que mantinha em suas contas recém descobertas na Suíça.

Os movimentos de Lula, ao mesmo tempo em que conferem fôlego ao governo Dilma e problemas à condução da operação Lava Jato pelo juiz Sérgio Moro não estão imunes ao contra-ataque. Observe-se, por exemplo, como Moro reagiu à soltura de Alexandrino de Alencar encaminhando novo pedido de prisão de Marcelo Odebrecht e antecipando-se à virtual tentativa de soltá-lo.

Ao mesmo tempo, tudo indica, Moro prepara, a resposta mais decisiva e importante que poderia dar às artimanhas do petismo para livrar Dilma do impeachment e os réus da Lava Jato da cadeia: a prisão de Lula.

Por que, com tudo que já se sabe, Lula ainda não foi preso?

Essa é a pergunta que se fazem onze entre dez cidadãos que têm ido às ruas em defesa da liberdade, da democracia e do impeachment de Dilma.

Porque esse é um tiro que o juiz Sérgio Moro não pode errar. Ou seja, para avançar essa peça decisiva no tabuleiro da Lava Jato, Moro precisa ter provas e certezas sobre sua consistência. Mas, isso não tem sido problema para o juiz do Paraná.

A questão principal não é esta. A prisão de Lula tem pelo menos duas implicações de enorme significado e importância.

A primeira delas reside no fato de que ao prender o principal líder do PT, que foi um presidente da República extremamente popular, Moro o fará para provar que, ao contrário do que argumenta a abancada do PT no STF, todo o esquema de assalto aos cofres públicos envolvendo a Petrobrás, a Eletrobrás, o BNDES, e, provavelmente todo o governo federal sob gestão petista, é prática de uma e somente uma quadrilha, que tem um e somente um chefão.

A segunda decorre do fato de que, não obstante as provas e evidências abundantes que jorram do noticiário todos os dias sobre as práticas criminosas do petismo no poder, Lula é objeto de uma devoção religiosa e irracional por parte de expressiva parcela dos seus devotos. E não estou falando aqui dos beneficiários do Bolsa Família. Falo de petistas que passaram pelos bancos escolares, inclusive de universidades, e que, simplesmente, se recusam a aceitar a realidade.

Gente assim, acredita que Sérgio Moro e os procuradores e delegados da Polícia Federal que conduzem a Lava Jato não passam de conspiradores a serviço do PSDB; que a imprensa livre que noticia os crimes do petismo integra uma conspiração da elite branca contra o partido que permitiu aos pobres andar de avião; que os crimes da Lava Jato não existem ou que, no mínimo, se justificam, pois se tratava de forma legítima de financiar a causa. Gente assim pode reagir de forma irracional e violenta à prisão de seu ídolo.

A prisão de Lula representará um golpe definitivo no petismo, tanto por razões jurídicas e policiais, como por razões políticas. Portanto, todos os cuidados e precauções que o juiz Sérgio Moro tiver na condução desse movimento decisivo para o sucesso do seu trabalho se justificam. E, quero crer, nos aproximamos do momento em que Moro decretará a prisão do capo do PT.

Por que? Porque há algum tempo já, a imprensa vem sendo abastecida com informações sobre as nebulosas relações de Lula com as empreiteiras da Lava Jato. No início a imprensa revelava os contratos de Lula como palestrante, seus valores e informações sobre eventual prática de tráfico de influência do ex-presidente, que teria usado seu poder sobre órgãos do governo Dilma para arrancar financiamentos do BNDES para seus clientes ou vender decisões governamentais em benefício de empresas ou segmentos empresariais que sustentam seu poder em troca de favores.

Mais recentemente as revistas e jornais começaram a revelar pagamentos suspeitos aos filhos e à nora de Lula. Igualmente soube-se que em seu depoimento ao Ministério Público de Brasília, Lula teria admitido que repassou a um ministro do governo Dilma, uma carta do governo cubano solicitando financiamento ao BNDES, revelando que as alegações do chefe do PT, de que atuava apenas como palestrante a serviço das empreiteiras pode não ser bem assim.

Não é de todo improvável que, os vazamentos gradativos de informações cada vez mais graves sobre a forma como Lula fazia seus negócios, obtinha contratos milionários e se remunerava por suas “palestras”, façam parte de uma inteligente estratégia para acostumar a opinião pública e os fiéis devotos de Lula com a ideia de que a prisão do chefe do PT é inevitável.

Não é de todo improvável, também, que, para estar vazando informações sobre repasses feitos a um sobrinho, aos filhos e à nora de Lula e sobre a atuação de José Carlos Bumlai, amigo íntimo e possível operador do ex-presidente, os investigadores da Lava Jato já tenham evidências e provas bem mais consistentes sobre o eventual envolvimento do próprio Lula no comando central do maior assalto aos cofres públicos de que sem tem conhecimento na história das democracias ocidentais.

A prisão de Lula, como se vê, não é algo simples. É uma medida que requer cuidados técnicos na condução do inquérito e suas investigações, mas, também, cuidados políticos. Além de produzir provas consistentes, faz-se necessário acostumar a sociedade e o petismo com a ideia de que a prisão do chefão é decorrência natural, óbvia e incontestável de seu envolvimento nos crimes investigados. E, tudo indica, Sérgio Moro está fazendo a coisa certa.

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  • Maria Lucia Victor Barbosa
  • 18 Outubro 2015

 

Quem pensa que o PT acabou está muito enganado. Quem subestima o inimigo perde a guerra. E não é impróprio usar o termo inimigo para classificar o partido que arruinou a economia, corrompeu as instituições, falsificou dados financeiros, mentiu aos eleitores, aniquilou valores e fez a opção pelo atraso que se evidencia na quebradeira da indústria, no descalabro da Saúde, na ruina da educação, na trava do comércio internacional com países que trariam vantagens e progresso ao País.

O mal foi entronizado pelos eleitores e está disseminado, empesteando a máquina administrativa com incompetentes que se agarram aos cargos com unhas e dentes. E o mal se avantajou e se fortificou pela inexistência de oposições, notadamente do PSDB sempre pronto a apoiar o PT, além da idolatria tucana por Lula da Silva.

Em outra vertente, na tentativa de recompor a fracassada experiência soviética e a derrocada do comunismo no mundo foi constituído o Foro de São Paulo, que congrega organizações de esquerda e dá diretrizes para a América Latina onde o atraso e a desigualdade social é terreno propício para as pregações de ditadorezinhos travestidos de socialistas, mas que vivem como nababos usufruindo das delicias do capitalismo.

Para exemplificar o caminho traçado pelo Foro de São Paulo tomemos a Venezuela ainda sob o comando de Hugo Chávez, outro que destruiu seu país e que mesmo morto continua a governar através de seu genérico, Nicolás Maduro. Chávez primeiro tentou um golpe. Não deu certo. Em outra etapa logrou se eleger. Posteriormente dominou o Legislativo, o Judiciário e as Forças Armadas. A partir daí fez uma constituição á sua imagem e semelhança e governou despoticamente até morrer, chamando-se de democrata.

Voltemos ao Brasil. No mensalão ficou evidente como é fácil comprar o Legislativo. E não só com dinheiro se adquire uma base para o PT chamar de sua. Cargos também servem. Rousseff tentou agora salvar-se do impeachment com sua desastrada reforma ministerial.

O Judiciário surpreendeu com o ministro Joaquim Barbosa, que logrou por na cadeia figurões do PT e pessoas endinheiradas. Outro destaque foi o juiz Sérgio Moro que desbaratou o cartel de empreiteiros e desmascarou diretores da Petrobras que recolhiam propinas para irrigar campanhas, notadamente as do PT. Eles foram presos e condenados pelo juiz.

Moro, porém, teve suas asas cortadas quando o Ministro do STF, Teori Zavascki, decidiu que ele só poderia atuar no âmbito da Petrobras, em que pese as mesmas quadrilhas agirem em outras entidades estatais.

No momento, as delações premiadas apontam para os crimes de várias autoridades do Executivo e do Legislativo, além Lula da Silva e sua família, mas parece haver só um grande corrupto da República: o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Só ele tem contas na Suíça. Só ele recebeu propina. Destaque na imprensa que devassa suas contas e documentos ele está sob ataque seletivo do Procurador-Geral da República. O PSDB pede seu afastamento. Deputados valentes pedem sua cassação e já se falou até em prisão.

Por que só ele? Porque o presidente da Câmara é quem abre o processo de impeachment. E ele o fez. Contudo, os ministros Teori Zavascki e Rosa Weber, a pedido de fiéis emissários do PT, muito oportunamente concederam três liminares que suspenderam as regras de tramitação determinadas por Cunha e Rosa Weber, em “juridiquês”, impediu através de uma dessas liminares que o presidente da Câmara retomasse o rito do impeachment. Com isto o governo ganhou um tempo precioso para acabar com Eduardo Cunha. Sem ele cessa o perigo do impeachment, pois não se pode esperar nada da chamada oposição. Terá, então, havido uma ingerência entre Poderes? Um fato muito grave como o é um rompimento institucional?

Outro acontecimento dá o que pensar: Os comandantes das Forças Armadas tiveram seus poderes subtraídos e passados para o Ministro da Defesa. Isso foi feito por um decreto, cuja iniciativa partiu de uma senhora que é secretária geral do ministério da Defesa e que vem a ser mulher do segundo na hierarquia do MST. O atual ministro é o comunista Aldo Rebelo. Dizem que quando precisam de alguém muito incompetente o chamam.

Em recente declaração à Folha de S. Paulo, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, disse ver risco de a atual crise virar uma “crise social” que afetaria a estabilidade do País. Segundo o general isso diria respeito ás Forças Armadas e cita a Constituição mostrando que as FFAA “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos Poderes constitucionais e, por inciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”, sob autoridade presidencial. Fiquei na dúvida se o general se preocupa em defender o povo ou a autoridade presidencial, em caso de crise social.

Com tanto poder o PT pode salvar Rousseff. Ela continuaria até fim do mandato ensacando vento e conduzindo o País ao agravamento da crise econômica, cujas dimensões dão medo aquilatar.

* Socióloga.

www.maluvibar.blogspot.com.br
 

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