• Décio Antônio Damin
  • 31 Março 2016

           

Somos homens comuns! Não gosto desta classificação. Políticos, juízes, ministros, autoridades, transformados em “pop stars”, dizem estar falando de maneira acessível ao dirigir-se a nós e colocando-se em outro patamar. Dividem os brasileiros e as suas cabeças, em “coroadas e ilustradas” (as deles) e “não coroadas e limitadas” (as nossas). Tal divisão me provoca indignação, pois, comumente não se percebe autoridade intelectual e por vezes, nem moral, nos que fazem esta discriminação! Dá assim para entender as afirmações de Dostoiévski nas suas “Notas do Subsolo” quando diz que “o homem culto, inteligente, deve tornar-se uma pessoa sem caráter, se quiser se tornar alguém”, explico eu, crescer na vida política, enriquecer, “tornar-se enfim importante”. Deveria para isto, e esta é a beleza da afirmação, se soltar das amarras éticas que o prendem, mas, como não o faz dá chance aos outros sem princípios a respeitar, de lhe tomarem a frente e passarem a ditar regras e fazer leis que regerão a vida de todos. Dostoiévski adota, neste momento, a “filosofia da preguiça” como um meio ideal para viver. É um preguiçoso porque quer e não por incapacidade ou distúrbio de conduta. É diferente do preguiçoso que nada faz porque é incapaz ou indolente! É uma filosofia de vida perigosa e desaconselhável até, e acredito que quando ele a externou deveria estar deprimido, refugiando-se em seu “subsolo”. “Fazer o quê, por que e para quê?”deve ter se perguntado ao ver que nada muda!

Erudição é apenas uma parte do intelecto e da inteligência que tem outros componentes. Não ler, não reviver as experiências de outros, que as perenizaram, é ignorar o porquê dos conhecimentos que nos trouxeram até aqui. Equivaleria a ter que redescobrir tudo!

No Brasil em que vemos semi-analfabetos (e até analfabetos) ocupando cargos importantes dirigir-se a nós numa linguagem inculta que apenas lembra a “Última Flor do Lácio”, tratando-nos como mentecaptos, orgulhando-se (e servindo de mau exemplo) de nunca terem lido um livro sequer, é que nos sentimos agredidos ao sermos rotulados de “comuns”, até com um certo desdém. Afinal, quem são os homens comuns? Seremos todos nós, os anônimos que levantam cedo para trabalhar, estudam, esforçam-se, ganham pouco, pagam impostos, criam os filhos como podem e ensinam o que sabem? Serão os analfabetos, os doutores, os endividados, os que votam acreditando em promessas e são enganados, assaltados, que não tem planos de saúde ou até os tem, os que estão nas filas do SUS e em outras, ou amontoados numa emergência, que riem, choram, perdem o sono, se desesperam, esperam, esperam... , vão para a cadeia sem maiores recursos..., e jamais serão prioridade? Nem serão “consultores” de qualquer coisa para ganhar milhões de clientes cujos nomes não poderão declarar? É tempo de parar com isso, e sermos apenas homens iguais e conquistando o que for possível pelo mérito, pela dedicação e pelo suor. Talvez assim, como Dostoiévski, não precisemos mais nos refugiar no “nosso subsolo” e curtir a nossa desesperança!

* Médico 

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             

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  • Fernanda Barth
  • 31 Março 2016

(Publicado originalmente em www.fernandabarth.com.br)

Tivemos informações de que hoje pela manhã os líderes do Movimento dos Sem Terra, José Stédile, e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, estiveram reunidos a portas fechadas dentro do palácio do Planalto, tendo como álibi o lançamento do programa Minha Casa Minha Vida 3. O motivo seria o planejamento da resistência contra o impeachment de Dilma e a possível prisão do ex-presidente Lula. A convocação aos movimentos seria a partir de amanhã, dia 31/03 e iria até a votação do impedimento da presidente.

Eu acho incrível mesmo que após quase 14 anos de governo Lulopetista ainda existam sem terra e que estes ainda apoiem o PT. Foram 14 anos podendo fazer a reforma agrária tão prometida, mas que em números não saiu do papel. Em compensação ONGs ligadas ao MST de Stédile receberam, só no governo Lula, mais de R$ 152 milhões de reais. E tem mais, quem "manda" no Ministério da Defesa é a Secretária Maria Cella, mulher do Chicão, subcomandante do MST, a mesma que Dilma escalou como ministra interina na Casa Civil, no lugar de Lula.

Já Boulos (MTST), após duras críticas ao Minha Casa Minha Vida em 2014 e 2015, onde ameaçou romper com o governo, conseguiu liberar mais de R$ 89 milhões de reais junto ao Ministério das Cidades, engrossando a adesão ao movimento e ajudando a direcionar os recursos para simpatizantes do partido, competindo por moradia com os outros movimentos que não são ligados ao PT.

De abril de 2008 a abril de 2015, o governo federal repassou R$ 1 bilhão para centrais, sindicatos e confederações de empresários e trabalhadores no Brasil. Em um período de de 7 anos, seis centrais (cinco entre 2012 e 2014) receberam, ao todo, um bilhão de reais do governo federal. Nenhum centavo desse volume foi fiscalizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), pois em abril de 2008 o ex-presidente Lula vetou o artigo da Lei 11.648, que previa a fiscalização dos recursos pelo TCU. A CUT sozinha já abocanhou mais de R$ 340 milhões desde 2008, só da Petrobrás teriam vindo R$ 26 milhões de reais.

Estes movimentos, pagos com verbas públicas, são os sustentáculos que sobraram para o atual governo.
Há sete dias atrás Boulos fez uma ameaça terrorista ao País, pregando o ódio e incentivando a violência. Vejam o que ele afirmou:

"Não haverá um dia de paz do Brasil. Podem querer derrubar o governo, podem prender arbitrariamente o Lula ou quem quer que seja, podem querer criminalizar os movimentos populares, mas achar que vão fazer isso e depois vai reinar o silêncio e a paz de cemitério é uma ilusão de quem não conhece a história de movimento popular neste país. Não será assim. Há setores do mercado que acham que vão tirar Dilma e vão fazer as "reformas estruturais" que se precisa para a sociedade brasileira. O escambau. Este país vai ser incendiado por greves, por ocupações, mobilizações, travamentos. Se forem até as últimas consequências nisso não vai haver um dia de paz no Brasil', completou, em entrevista coletiva junto aos coordenadores da Frente Povo Sem Medo.

Pergunto aos meus leitores, este homem reclama da criminalização dos movimentos mas....o que ele mesmo está fazendo? Não é crime fomentar o ódio, disseminar o medo e incentivar a violência? Se a lei antiterrorismo brasileira não tivesse sido destruída, para favorecer bandidos sob bandeiras políticas, ele poderia ser penalizado legalmente por estas afirmações.

Estão circulando no facebook e no whatsapp informações sobre ofícios que estariam circulando com a convocação paga de militantes que receberiam de R$ 100,00 a R$ 300,00 reais para se deslocarem para Brasília e lá ficarem até a votação do impeachment. A meta seria 100 mil pessoas durante aproximadamente 15 dias. Se cada um destes for a um custo médio de R$ 150,00 e custar R$ 30 reais por dia, durante 15 dias, isto daria R$ 15.000.000,00 (quinze milhões para deslocamento) mais R$ 45.000.000,00 (quarenta e cinco milhões em comida), totalizando, por baixo, R$ 60 milhões de reais (sessenta milhões). Me pergunto, de onde sai tanto dinheiro??? Ora, é só ler os dados acima que teremos a resposta.

Um governo moribundo que não consegue por gente na rua de forma legítima, só consegue na base do pagamento ou do toma-lá-da-cá. Líderes de movimentos que vivem as custas do governo, com recursos oriundos da Caixa Econômica Federal, Petrobrás e BNDES. É o último suspiro do Lulopetismo, que não diferencia o público do privado, e que se apropria do estado em causa própria, para favorecer os seus, se perpetuar no poder e enriquecer.

Vejo esta "resistência" contratada que estaria sendo planejada como mais uma provocação deste governo que torce pela explosão do conflito físico em Brasília, para arranjar justificativas para o que eles chamariam de "contra-golpe". O negocio é desnudarmos isto antes de acontecer. E vamos sempre questionar: quem paga a conta destas mobilizações que estariam sendo orquestradas? A quem interessa isto? Quem estes grupos realmente representam?

Saiba mais sobre os recursos que irrigam o MTST e o MST:

http://noticias.terra.com.br/brasil/ongs-ligadas-ao-mst-lideram-arrecadacao-de-verba-federal,b62a3e232cb4b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/minha-casa-minha-vida-financia-luta-socialista-do-movimento-sem-teto-7909p3b5d817udr4pxrrl8j1x
http://extra.globo.com/noticias/brasil/mtst-recebeu-89-milhoes-do-minha-casa-minha-vida-11271217.html
http://economia.estadao.com.br/blogs/joao-villaverde/caixa-preta-dos-repasses-federais/
 

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  • George Mazza
  • 31 Março 2016

 

(Publicado originalmente em http://www.criticapoliticabrasil.com.br)

Enquanto se observam fatos mais recentes sobre o impeachment de Dilma Rousseff e os imbróglios administrativos e judiciais que envolvem o nome do Sr. Lula, esquecem-se os mais notáveis e negativos fatos que o levaram às páginas policiais. Os fatos, notórios, concretos e indiscutíveis, apresentam à sociedade um brasileiro, ex-Presidente da República, bastante diferente do autointitulado socialista. Para Lula, o socialismo assistencialista e igualitário só se aplica ao povo brasileiro. Aos seus próximos, o que se aplica é o profundo capitalismo de estado do qual aqueles se beneficiam sem limites, enriquecendo-se paradoxalmente em face de intenso padecimento social.

Analisando-se os fatos da implantação e continuidade do Capitalismo de Estado da República Petista, percebe-se a umbilical interação entre a republiqueta petista/esquerdista e os mega-empreiteiros e políticos nacionais e internacionais. A Operação Lava Jato descortinou várias destas parcerias, mostrando ao país de qual socialismo tratava Lula em suas ações políticas. Este compartilhamento dúbio do público (Estado) com o privado (empreiteiras/industriais) comprova um dos requisitos do quão capitalista deve ser considerado o Sr. Lula da Silva, que de socialista passa ao largo.

Conforme nos ensina Olavo de Carvalho os megacapitalistas "mudam a base mesma do seu poder. Já não se apoiam na riqueza enquanto tal, mas no controle do processo político-social". Ora, vejam se esta característica definidora não se amolda perfeitamente ao pseudo-socialista Lula? Notadamente, o patrimônio dos Lula da Silva não se limitam à tríplex no Guarujá, sítio em Atibaia e automóvel Ômega blindado, conforme auferiram os investigadores policiais. A riqueza deve ir além e naturalmente deverá ser demonstrada em futuras investigações da Polícia Federal. Assim, para além de sua riqueza material, de suas viagens em jatinhos particulares e hospedagens em hotéis de alto padrão, o Sr. Lula sempre controlou o processo político-social, pelo menos até bem pouco tempo atrás.

Assim, não pode ser diferente o que afirmamos se verificarmos os mais de 60 (sessenta) movimentos sociais que atuam sob o comando direto e indireto de Lula; a eleição de uma falsa técnica ao cargo mais alto na hierarquia do Executivo; todo o aparelhamento estatal, em todos os poderes; a tentativa de nomeação do próprio Lula para cargo de Ministro de Estado; as diversas articulações políticas do Sr. Lula durante os anos em que não esteve no poder, após a descida da rampa do Planalto, em 2010; os subornos políticos do Mensalão; as falcatruas institucionalizadas no Petrolão; os imensos desvios de verbas públicas também no Eletrolão; as volumosas verbas públicas destinada a países ditatoriais, como Cuba, Venezuela, Angola.

Lula, domando sua corja petista e através de artimanhas políticas e de um processo de reengenharia social, ao modo nacional aprofundou o Capitalismo de Estado Petista. Embora tentando se livrar do selo de capitalista, o que contraria toda sua base comunista avessa ao capitalismo (como a água do óleo), o que exatamente fez o Sr. Lula foi, através da mentira de um socialismo-assistencialista, enriquecer a si e aos seus, embora sem nada produzir. Não houve geração de lucro direta pelos Lula da Silva. Estes, anos a fio, utilizaram-se do establishment para transformar o esforço de milhares de cidadãos produtivos em beneplácitos para si, familiares e sua própria descendência, praticamente todos brancos, empresários, ricos, integrantes da elite brasileira, conforme fatos já apurados em investigações na Justiça Federal.

A seu modo tupiniquim, Lula e toda uma esquerda perdulária não podem ser definidos senão como capitalistas. Mesmo com seu controle social e político abalado, este cidadão jamais pode se identificar como socialista. Lula e seus asseclas, mascarados em um assistencialismo facínora, aproveitaram-se da riqueza de todo um país para distribuí-la entre os que pouco tinham mas também a um rol de personagens próximos e aparentados. Assim, o Sr. Lula como nosso maior expoente capitalista no hemisfério sul, tenta de todas as formas perpetuar um sufocante Capitalismo de Estado.

Em conclusão, o resumo perfaz-se com imprescindível passagem do Prof. Olavo de Carvalho, que nos ensina: "resta saber que tipo de sociedade essa aristocracia auto-inventada poderá criar - e quanto tempo uma estrutura tão obviamente baseada na mentira poderá durar".

A estrutura está cambaleante, chegando ao seu derradeiro fim. Basta atentarmos à outra face da esquerda nacional que restará viva e atuante.

Quanto à mentira, esta não mais perdurará.
 

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  • Diego Pessi
  • 29 Março 2016


Em plena Sexta-feira Santa, deparei-me com uma postagem nas redes sociais que comparava a Paixão de Cristo a um caso de “delação premiada”. Poderia ser apenas mais um entre os incontáveis rompantes juvenis de analfabetismo presunçoso que infestam o ambiente virtual. Mas não havia nada de juvenil nesse caso: o autor da peça era um festejado juiz de direito, desses que a mídia e o “beautiful people” do meio acadêmico adoram incensar. Ou seja: um autêntico representante da “vanguarda”.

De acordo com o mote proposto, nosso Salvador seria uma espécie de chefe de quadrilha, capturado através do maldito expediente da “delação” e imolado sob o clamorexpiatório de uma turba ignara. Pode-se inferir que o teólogo diletante não crê no Messias (muito provavelmente creia no Bessias), pois do contrário teria percebido quão ofensiva aos cristãos soa uma comparação desse gênero (grupos de auto vitimização, militantes profissionais e professores salta-pocinhas não hesitariam em classificar ofensa semelhante como “crime de ódio”).

Não é meu objetivo refutar, nos planos jurídico, filosófico e teológico uma analogia tão simplória e imperfeita (coisa quequalquer criança com um mês de aprendizado de artes liberais poderia fazer). Isso seria conferir à postagem analisada uma dignidade que ela absolutamente não possui. Pretendo apenas utilizar o episódio como matéria-prima para o enfrentamento de questões que já há algum tempo despertam minha atenção. A exemplo dolaboratorista, que vasculha nas fezes a presença de parasitas, chafurdarei no produto final das sinapses neuronais do magistrado em busca de um diagnóstico preciso, vale dizer, de uma resposta àseguinte pergunta: o que leva alguém,encarregado da grave função de julgar, aapresentar tamanha inépcia ao cotejar dados da realidade, ignorando suas nuances e tensões dialéticas?

Dito de outro modo: qual a causa eficiente responsável pela transmutação do senso comum em certos julgadores? Qual a origem da conversão do criminoso em mártir, da vítima em mera estatística e da sociedade em malfeitora, nos cânones de boa parte da jurisprudência brasileira?Em suma: de onde vem tamanha falta de discernimento?

Não tenho dúvida de que amentalidade que trata o Cristo como chefe de quadrilha e eleva um chefe de quadrilha à condição de redentor (alijada, portanto do sensode transcendência e de valores transcendentes) é forjada num bem elaborado processo, que compreende a perda do domínio da linguagem e corrupção ideológica, mediante apropriação do conteúdo de seus símbolos (manipulação semântica).

Em suas monumentais “Reflexões Autobiográficas”, Eric Voegelin observa que não haveria ideias se antes não houvesse símbolos de experiências imediatas. Ou seja, a realidade da experiência é auto-evidente e os homens “valem-se de símbolos para expressar suas experiências”. Logo, os símbolos são a chave para compreender as experiências e, uma vez assimilados, servem de base ao raciocínio e à formulação de ideias (sem necessidade de reviver a experiência imediata), dada a fantástica capacidade de abstração do cérebro humano.

Se você alguma vez teve os dedos esmagados ao fechar a porta do carro, deve entender que não é necessário repetir fisicamentea experiência para dela deduzir as dolorosas consequências. Ocorre que nem todos os símbolos derivam de experiências tão elementares quanto essa. Muitas vezes é necessário “escavar” ideias e símbolos de modo a reviver a experiência real (compactada) que lhes deu origem, sob pena de reduzir a linguagem a uma troca de impressões subjetivas que jamais remetem a qualquer referente.

Nesse processo, Voegelin percebe que “a transformação das experiências e simbolizações originais em doutrinas podia conduzir a uma deformação da existência, caso o contato com a realidade tal como experienciada fosse perdido e o uso dos símbolos de linguagem engendrados pelas experiências e simbolizações originais degenerasse em um jogo mais ou menos vazio”(grifei).

Terrivelmente familiar, não? Afinal, o universo das ciências jurídicas e sociais é pródigo em signos de difícil diferenciação, cujo significado não é apreensível “primo ictu oculi”, mas, antes, depende de profundo esforço para rememoração (anamnese) e compreensão do contexto da experiência real que lhe deu origem. A perda de contato com a realidade e a atribuição de significados puramente subjetivos a conceitos jurídicos (que outrora tiveram um referente) leva aos absurdos jurisprudenciais testemunhados diariamente por aqueles que militam na área criminal.

Esse verdadeiro estelionato é cometido com a melhor das consciências, sob o manto de discursos pedantes, nos quais afloram aos borbotões conceitos esvaziados do conteúdooriginal e preenchidos com geléia ideológica. Não raro, princípios são empregados para justificar aquelas atrocidades que, na origem, visavam a evitar (em regra, quanto mais empolado o fundamento, maior a teratologia da decisão). É assim que a impunidade se converte num direito fundamental.

Os autointitulados guardiões dasgarantias fundamentais são facilmente identificáveis, pois parecem saídos de uma linha de montagem. Não há espaço para dissensões nesse grupo, que alguém muito espirituosamente batizou como “confraria de aplausos mútuos”. Isso se explica porque “tendo perdido o contato com a realidade, o pensador ideológico passa a construir símbolos não mais para expressá-la, mas para expressar sua alienação em relação a ela” (grifei). Em outras palavras, a perda de contato com a realidade é invariavelmente suprida pela inserção do indivíduo em uma “segunda realidade”, marcada pela “recusa de perceber”(expressões de Doderer, apud, Hitler and the Germans – The Collected Works of Eric Voegelin, volume 31, pp.108/9, University of Missouri Press). A complexidade do mundo é substituída por um sistema ideológico que reduz as possibilidades do real aos seus próprios limites e horizontes.

É justamente aqui que a coisa ganha contornos dramáticos. O sistema ideológicoadotado pela vanguarda tupiniquim é uma caricatura daquele concebido pela Escola de Frankfurt - em suas formulações mais tardias,rastaqueras e de fácil assimilação - combinadocom as lições de Antonio Gramsci (troca da retórica das armas pelas armas da retórica).Consiste, basicamente, na utilização da teoria crítica como espada e do politicamente corretocomo escudo. A aplicação da teoria crítica, em apertada síntese, equivale à tentativa de demolição dos pilares da civilização ocidental (moral judaico-cristã, filosofia grega e direito romano). Remete à ideia gnóstica de que atravésdo caos e da desordem algo de bom deverá surgir (sem definir exatamente o quê). O politicamente correto, por seu turno, cumpre a missão deneutralizar qualquer reação daqueles que possam se opor à teoria crítica (e defender os valores que são caros à civilização). Isso é feito mediante expedientes de difamação preventiva e atribuiçãode rótulos odiosos ( técnicas especialmente eficazes no meio universitário) para intimidaçãodos possíveis dissidentes, que optarão por sufocar suas opiniões numa espiral de silêncio, a fim de evitar a execração por seus pares.

Dentro do sistema de manipulação semântica, ou seja, na “novilíngua” dos doutos, uma criança pode ser esquartejada no ventre materno em nome da “dignidade da pessoa humana” ou dos “direitos da mulher”. Um latrocida sanguinário, com folha de antecedentes semelhante a um guia telefônico, pode ser solto em nome da “presunção de inocência”. Usar e vender drogas passam a ser direitos sacrossantos,e uma vítima pode ser obrigada a encarar seu estuprador durante o depoimento para preservação das “garantias fundamentais” do acusado. Por outro lado, o policial que arrisca a vida, recebendo salário de fome, deve ser considerado a própria encarnação do mal, a exemplo de qualquer agente do estado que ouse defender a punição severa dos delinquentes. Essa inversão de mentalidade foi magistralmente captada pelo filósofo Olavo de Carvalho no (cada vez mais atual) artigo Bandidos & Letrados (Jornal do Brasil,26/12/1994):

“(...) Humanizar a imagem do delinqüente, deformar, caricaturar até os limites do grotesco e da animalidade o cidadão de classe média e alta, ou mesmo o homem pobre quando religioso e cumpridor dos seus deveres — que neste caso aparece como conformista desprezível e virtual traidor da classe —, eis o mandamento que uma parcela significativa dos nossos artistas tem seguido fielmente, e a que um exército de sociólogos, psicólogos e cientistas políticos dá discretamente, na retaguarda, um simulacro de respaldo ‘científico’".

À luz da "ética" daí resultante, não existe mal no mundo senão a "moral conservadora". Que é um assalto, um estupro, um homicídio, perto da maldade satânica que se oculta no coração de um pai de família que, educando seus filhos no respeito à lei e à ordem, ajuda a manter o status quo? O banditismo é em suma, nessa cultura, ou o reflexo passivo e inocente de uma sociedade injusta, ou a expressão ativa de uma revolta popular fundamentalmente justa. Pouco importa que o homicídio e o assalto sejam atos intencionais, que a manutenção da ordem injusta não esteja nem de longe nos cálculos do pai de família e só resulte como somatória indesejada de milhões de ações e omissões automatizadas da massa anônima. A conexão universalmente admitida entre intenção e culpa está revogada entre nós por um atavismo marxista erigido em lei: pelo critério "ético" da nossa intelectualidade, um homem é menos culpado pelos seus atos pessoais que pelos da classe a que pertence (...)”.

O problema é que, como dizia John Adams, “fatos são persistentes”. A primeira realidade (à qual nós mortais estamos sujeitos) acaba sempre se impondo de forma brutal ao “mundo-cor-de-rosa-com-Papai-Noel-chapado-de-prozac-na-Disney”, que só existe na cabeça da vanguarda judicial tupiniquim graças à sua pertinaz “recusa em perceber” os fatos do mundo circundante. Na segunda realidade, onde vivem esses seres iluminados, delinquentes da estirpe doo famoso “Champinha” podem ser consideradosheróis do lumpemproletariado em luta contra o sistema opressor. No mundo real, continuamsendo feras assassinas, que enxergam a sociedade como um grande parque de diversões para vazão de seus instintos animalescos.

Jamais me ocuparia do assunto, caso ele se limitasse ao usual e soporífero onanismo acadêmico. Ocorre que, no presente momento, toda essa brincadeira custa ao país 60 mil homicídios por ano (treze por cento dos assassinatos do planeta, segundo publicação recente). Para que não se diga que fico apenas com a frieza dos números, evoco o testemunho de todos os colegas que atuam ou atuaram em Varas Criminais, e, mais especialmente, perante o Tribunal do Júri: há algo mais desolador do queuma família enlutada, de quem tudo já foi tirado, ser condenada a ver seu clamor por justiça sacrificado no altar da bandidolatria?

Nesse leito de Procusto, em que se converteu boa parte da jurisprudência, quem deita é sempre o cidadão pacato e ordeiro, que teima em viver honestamente (afinal, se a teoria não se conforma à realidade, dane-se a realidade!). O sangue alheio não terá sido derramado em vão enquanto servir para ilustrar uma bela tese, vender livros ou proporcionar palestras para “confraria de aplausos mútuos”. A definição de comunista do saudoso Millôr Fernandes cai como uma luva para essa grei de magistrados: “São como alfaiates, que, vendo que a roupa não serve, fazem ajustes no modelo”. Não merecem qualquer respeito ou deferência. São impostores que deveriam ser vomitados pela toga e escorraçados do debate intelectual sério. Um Pilatos foi o bastante. Não somos obrigados a tolerar seus discípulos.

* O autor é promotor de Justiça junto ao Ministério Público Estadual do RS

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  • Francisco Ferraz
  • 29 Março 2016


 Vem se tornando um hábito para Lideranças do PT, desde a presidente Dilma, passando por Lula, pelo presidente do partido Rui Falcão e por lideranças sindicais, fazer ameaças aos adversários - cada vez mais vistos como inimigos e a dinâmica politica que os separa cada vez mais vista como “guerra”.

Por inimigos entendam-se então aqueles que defendem o impeachment da presidente, ou que se oponham à corrupção que grassa no governo ou ainda, quem defenda e apoie a operação Lava Jato e apoie o juiz Sérgio Moro que, embora não se saiba ainda se joga futebol (reserva inesgotável de heróis brasileiros), é o único herói que esta histórica crise revelou.

 Lula deu o start desse modismo despropositado, irrealista e irresponsável. Por certo está inconformado com o fato de que pessoas que vestem verde e amarelo nas manifestações das capitais dos estados e das cidades do interior, no “sul maravilha” como no norte e nordeste, ocupam as ruas em números muito acima do que aquelas que o PT convoca para suas manifestações.

 Inconformado também deve estar com seus resultados nas pesquisas de opinião e nas “pesquisas feitas pelo político”: a reação nas ruas à sua presença, e a de seus companheiros.

 Na impossibilidade de reconhecer a realidade e o significado dos números, Lula e seus subordinados atacam, ridicularizam e ameaçam os eleitores (muitos dos quais votaram nele e em Dilma) como ‘coxinhas’, ‘golpistas’, ‘reacionários’, ‘militaristas’, e classe média (que, até vir para a rua protestar, era o objeto de desejo dos programas do governo petista).

A dinâmica entrópica da perda da aceitação do PT e seus líderes pelo povo que estavam acostumados de manipular, imediatamente visível após a eleição de 2014, estimulou um sentimento misto de ressentimento com os “mal agradecidos”; de direito de exigir deles a contrapartida do que veem como “favores” concedidos; e a disposição de recorrer a formas mais arriscadas e radicais de reação.

Passado o momento de negociar cargos com o PMDB, equiparar a imagem negativa de Eduardo Cunha com o impeachment, e com as denúncias de Delcídio, a gravação de Mercadante, tornava-se necessário um lance mais poderoso.

O episódio da condução coercitiva de Lula pela operação Lava Jato, do seu pedido de prisão por parte do Ministério Público de São Paulo e a decisão do Supremo sobre o processo de impeachment impôs a presença de Lula no Palácio e no poder, uma solução que parecia ser mutuamente vantajosa para ele e para o governo.

Na medida em que a grande jogada estratégica (nomeação de Lula para ministro) “engasgou”, provocou reações hostis inesperadas e que o impeachment da presidente começou a andar, o desespero parece ter aconselhado avançar mais um grau no conflito: o recurso ao expediente das ameaças.

Neste momento o que toma vulto não é mais a considerável habilidade política de Lula para negociar. O próprio Lula parece ter reconhecido esta situação quando inaugurou a fase de “ganhar no grito”.

Ao convocar para a guerra suas tropas e ao gritar na Paulista deboches e impropérios ao povo, que enchera aquela mesma avenida menos de uma semana atrás, o próprio Lula dá a entender que desistiu de conquistar o povo para falar para os devotos, os militantes, os que permanecem empregados em meio a um mar de desempregos.

Mas no grito não vai não.

O país está lidando com esta que é a mais grave crise que tivemos com suas instituições (mesmo sabendo de suas falhas, defeitos, vícios e imperfeições); as manifestações são pacíficas e não se transformam em surtos de ação direta; mesmo as que reúnem milhões de pessoas saem das ruas sem quebrar uma lâmpada;as forças armadas, sujeitas à constituição, com a serenidade e legitimidade que o respeito popular lhes confere pelas pesquisas, mantêm-se distantes das divisões políticas do país; o mercado passa sinais claros para a sociedade na medida em que os fatos políticos se sucedem; eas decisões que deverão dar uma resposta à crise provirão das principais instituições políticas do legislativo e do judiciário.

O povo brasileiro está demonstrando possuir um senso de equilíbrio, paciência e tolerância que talvez venha a antecipar um importante traço de maturidade política que não se supunha que possuíssemos.



 

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  • Stephen Kanitz
  • 27 Março 2016

(Publicado originamente em http://blog.kanitz.com.br/)

 A influência de Marx nas universidades brasileiras, nas escolas de jornalismo, nas escolas de economia, de ciências políticas, de sociologia, filosofia continuará muito depois do impeachment.

O governo PT é antidemocrático porque ele não vê outro mundo possível do que aquele preconizado peloeconomista Karl Marx.

Que Dilma seja Marxista posso entender.

Mas que 99% por cento daqueles que se consideram intelectuais, desde Delfim Netto até o atual Nelson Barbosa, ainda acham que Marx analisa o mundo contemporâneo corretamente, é deveras assustador.

Marx foi muito popular entre os trabalhadores ingleses durante a revolução industrial, que aumentara a produtividade de cada tecelão manual em quatro vezes, para o mesmo dia de trabalho.

Insuflava Marx “Se vocês agora produzem quatro vezes mais tecidos por dia, vocês deveriam ganhar quatro vezes mais e não o mesmo salário, que é por hora trabalhada”.

“Em vez de ganhar por hora trabalhada vocês deveriam passar a ganhar por produtividade alcançada.”

Imagine o sucesso de uma narrativa destas entre trabalhadores ingleses semi analfabetos.

Diga-se de passagem que é justamente o inverso em que os professores marxistas brasileiros acreditam, e muitos funcionários estatizados.

Esta narrativa se chamou de Teoria do Valor Trabalho.

Marx insuflou que só o trabalhador, leia-se agora PT, deveria ganhar o ganho de produtividade desenvolvido pelos engenheiros da revolução industrial.

Ao ler Das Capital, troque o termo Capitalista por Engenheiro Têxtil, e toda a teoria marxista cai por terra.
Vocês realmente acham que são os engenheiros têxteis que hoje concentram todo o capital do mundo?

É o que Marx, Piketty e seus seguidores brasileiros pregam.
1. Ao Inventor, Marx propunha zero.
2. Ao Engenheiro que gastou 10 anos aperfeiçoando a máquina, Marx propunha zero.
3. Ao “Capitalista” que custeou a máquina, digamos R$ 50.000,00, Marx propunha zero.
Só o trabalhador deveria ter o acréscimo de produtividade.

Mas os Marxistas foram além.
Quando a produção era manual e reduzida, as vendas eram por encomenda, a produção era pré vendida, quando não paga antecipadamente.

Com a quadruplicação da produção, toda uma nova atividade de vendedores, propaganda, analistas de crédito, estoquistas, administração de perdas, coordenação, advocacia de contratos, contabilidade, logística precisou ser criada e paga.

Sem falar em todas as atividades de administrar, gerenciar, supervisionar.

O capitalista de Marx era engenheiro, inventor, capitalista e administrador ao mesmo tempo.

Marx achava que administradores não eram necessários, ideia que marxistas até continuam a acreditar no Brasil até hoje.
1. Ao Administrador, Supervisor e Gerente, Marx propunha zero.
2. Ao Vendedor, Marx propunha zero.
3. Ao Distribuidor, Marx propunha zero, até hoje são chamados de atravessadores.
4. Ao Estoquista Atacadista Marx propunha zero.
5. Ao Auditor, Contador, Fiscal, Marx propunha zero, a origem de nossa corrupção.

E aí está a origem da nossa incompetência governamental, a lentidão administrativa, os custos acima dos benchmarks, a inoperância e desperdício.

O que assusta é a idolatria que se faz de um intelectual que é um perfeito canalha e idiota.
Um economista que não tinha a mínima ideia de como uma empresa moderna funciona.
Portanto, não culpem a Dilma e o PT por esta crise e não pensem que com o impeachment a narrativa irá mudar.
Vocês já sabem a minha opinião sobre o que precisa mudar neste país.

Culpem sim a pobreza da análise de Karl Marx, que sobreviverá à Dilma e ao PT por muitos e muitos anos na imprensa, na USP, no PSDB, PSOL, PMDB, PCdoB, PS, PSTU, por muito tempo.
Até cair a ficha que o Brasil ficou para trás.

 

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