• Bruno Braga
  • 13 Novembro 2015

http://b-braga.blogspot.com.br

Espalhou-se por todos os cantos: fé e razão não se misturam. Esta idéia é repetida em discussões públicas e acadêmicas, no trabalho, em conversas informais e até mesmo em casa. O problema é quando ela toma ares de verdade dentro da igreja. Se fé e razão são realmente incompatíveis, a fé pode se tornar uma espécie de "sentimentalismo", um apêgo cego a qualquer coisa que dê à pessoa conforto e bem-estar, corre o risco de se transformar em mitologia ou ser reduzida a uma simples superstição. Para o católico, no entanto, não é assim.

Reza o Catecismo: "A santa Igreja, nossa mãe, sustenta e ensina que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana a partir das coisas criadas" (CIC, 36). Sim. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gen. 1, 26-27). Por graça, ele recebeu uma faculdade que - não é a onisciência divina - mas reflete algo da inteligência do seu Criador, uma faculdade que o distingue de todos os outros seres: a razão. Deus, que assim fez o homem, o chama para amá-Lo, mas também para "conhecê-Lo" (CIC, 31).

Ora, não é possível amar o que não se conhece. Sem a razão, o homem não poderia sequer acolher a fé. Os animais - que não possuem aquela faculdade - não têm nenhum traço de religiosidade. Com a razão, o homem não só acolhe a fé, mas busca as vias para aceder ao conhecimento de Deus com argumentos "convergentes" e "convincentes", capazes de estabelecer "verdadeiras certezas" (Idem). Ele tenta alcançar Deus nas meditações sobre o "movimento", nas questões sobre a ordem e a beleza, sobre o princípio e o fim do mundo (CIC, 32). Identifica em si mesmo uma abertura para o belo e para a verdade, um sentido para o bem moral, reconhece a sua própria liberdade e uma aspiração ao infinito e à felicidade (CIC, 33). Por estas "vias", "o homem pode aceder ao conhecimento da existência de uma realidade que é a causa primeira e o fim último de tudo, 'e que todos chamam Deus'" (CIC, 34).

É verdade, a fé não é puro racionalismo. Não. Os sentidos, a imaginação e as más inclinações podem colocar dificuldades e obstáculos à razão, ela mesma uma faculdade bastante limitada. Não é capaz de gerar a fé, uma graça de Deus. Há uma ordem de conhecimento que o homem jamais pode atingir com as suas próprias forças - com a razão natural: a Revelação divina. Mas, quando o próprio Deus se revelou - em Jesus -, disse que para segui-Lo seria necessário a cada um tomar a sua cruz (Lc. 9, 23). Ele não pediu para ninguém abandonar a sua cabeça. E quando Cristo afirmou ser Ele mesmo o "Caminho", também se apresentou como a "Verdade" e a "Vida", mostrando, assim, que razão e fé estão intimamente associadas. São João Paulo II ilustrou essa associação com uma bela imagem: "a fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio" (Encíclica "Fides et ratio").

Portanto, o católico deve estar preparado contra as armadilhas do chavão e do clichê. Fé e razão misturam-se sim. Se essa posição significa contestar uma idéia que se popularizou, não há o que temer. Não é preciso se intimidar com acusações de acadêmicos ou se constranger com qualquer um que pronuncie a palavra "ciência". Não há motivo para aceitar a mordaça dos que tentam afastá-lo - simplesmente por ser religioso - das discussões públicas e políticas. Porque o católico não renuncia a sua inteligência. E nem poderia abandoná-la, pois já que recebeu a razão como um dom de Deus, ele tem um compromisso ainda mais sério com a Verdade.


(*) Publicado no jornal "Correio da Serra", ed. 850. Barbacena, 07 de Novembro de 2015.

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  • Olavo de Carvalho
  • 13 Novembro 2015

(Publicado originalmente no Diário do Comércio)

Citar Brecht no contexto de um apelo à radicalização da luta esquerdista não é de maneira alguma um adorno literário inocente: é sugerir que os comunistas façam aquilo que Brecht os ensinava a fazer e que aliás eles sempre fizeram.

Como o rótulo de “intelectual de esquerda” já esteve associado a escritores do porte de um Álvaro Lins e de um Sérgio Milliet, é bom advertir que, usado hoje em dia, ele só guarda com o seu objeto a relação distante de um ser vivo com a sua miniatura de plástico.

Nesse sentido, o sr. Mauro Luís Iasi corresponde aproximadamente àquilo que, nos meios comunopetistas, se entende por esse termo na atualidade.

Não lhe faltam, com efeito, os traços essenciais que definem o tipo: um cargo acadêmico, o total desconhecimento dos assuntos em que pontifica e a presunção de superioridade moral, quando não intelectual.

Até pouco tempo atrás, ele não passava de um objeto de consumo interno dos círculos esquerdistas, mas recentemente alcançou notoriedade mais ampla, não mediante algum feito literário ou científico, mas graças à sua proposta singela de matar todos os direitistas.

Como alguns deles lhe respondessem que seria melhor aplicar esse remédio a ele mesmo, ele imediatamente considerou isso uma prova a mais da típica truculência direitista em confronto com o arraigado pacifismo humanista da esquerda, sem nem sequer ponderar a diferença entre os coeficientes de truculência requeridos para matar um só e para matar todos.

Com aqueles ares de inocência ofendida sem os quais é muito difícil subir na vida hoje em dia, ele explicou ainda que foi muitíssimo mal interpretado, que seu desejo de matar não era nada disso, mas uma simples metáfora poética extraída de um texto de Bertolt Brecht, no qual um proletário enragé, discutindo com um burguês, demonstra que matá-lo é apenas uma questão de justiça.

“Para aqueles que não são muito afeitos a poemas e outras manifestações da alma humana, -- escreve o sr. Iasi, com infinita piedade pelos pobres ignorantes -- é bom explicar que não se trata de uma pessoa e outra conversando, muito menos uma posição pessoal. É uma metáfora de um encontro de classes numa situação dramática, na qual a classe dominante se encontra diante da possibilidade de ser julgada por aqueles que sempre explorou e dominou.”
O estilo é o homem. Desde logo, no trecho citado o que o proletário sugere não é apenas “julgar” a burguesia, isto é, emitir uma opinião sobre ela, mas sim executá-la, mandá-la para o outro mundo. A versão eufemística do sr. Iasi não consegue camuflar o sentido patente do texto. Diante do burguês que se afirma um homem bom e justo, o revolucionário promete:
“Em consideração aos seus méritos e boas qualidades, poremos você diante de um bom muro, atiraremos em você com uma boa bala de um bom revólver e enterraremos você com uma boa pá numa boa terra.”

O revolucionário promete não apenas matar o burguês, mas humilhá-lo post mortem fazendo chacota do seu cadáver. O sr. Iasi confessa que conheceu o poema de Brecht só pela citação que encontrou num livro de Slavoj Zizek, mas quem leu as obras do dramaturgo sabe que esse tipo de humorismo sardônico voltado contra as vítimas da violência estatal comunista era um dos traços mais característicos do estilo brechtiano de escrever e de ser. Brecht não só aplaudiu entusiasticamente as tropas soviéticas que afogaram num banho de sangue a rebelião popular berlinense de 1953, mas, quando alguém alegou que os condenados nos famosos Processos de Moscou eram inocentes, ele respondeu: “Se eram inocentes, tanto mais mereciam ser fuzilados.”

A ironia macabra não era força de expressão. Para a mentalidade comunista, a culpa ou inocência pessoais do acusado eram, de fato, detalhes menores em comparação com a oportunidade áurea de afirmar, mediante a prepotência da execução arbitrária, a autoridade suprema da Revolução, que não devia satisfações a ninguém senão a si mesma.
A metáfora, se o fosse, não era muito metafórica. Citar Brecht no contexto de um apelo à radicalização da luta esquerdista não é de maneira alguma um adorno literário inocente: é sugerir que os comunistas façam aquilo que Brecht os ensinava a fazer e que aliás eles sempre fizeram.

Mas, para piorar um pouco as coisas, não é uma metáfora. Metáfora é quando uma coisa significa outra coisa, por exemplo o leão significa o Sol ou o Sol significa o rei. Entre o signo e o significado há uma diferença de espécie. Quando o sr. Iasi explica que “não se trata de uma pessoa e outra conversando, muito menos uma posição pessoal” e sim de “uma metáfora de um encontro de classes numa situação dramática”, ele só prova que não sabe o que é metáfora. Na figura de linguagem que ele emprega, o proletário e o burguês não significam coisas de outras espécies, mas sim as espécies respectivas a que eles realmente pertencem: o proletário significa o proletariado, o burguês a burguesia. Isso não é uma metáfora de maneira alguma, é umametonímia – não uma relação analógica entre coisas especificamente distintas, mas a relação lógica entre a parte e o todo. O sentido do trecho citado não é portanto o de uma ameaça de homicídio, mas de genocídio: não é este proletário que deve matar este burguês em particular, mas o proletariado como um todo que deve exterminar a burguesia inteira.

Já é uma palhaçada deprimente que um sujeito que ignora a distinção elementar entre metáfora e metonímia pose de grande conhecedor da literatura e se dirija aos seus leitores como a um bando de iletrados que “não são muito afeitos a poemas”. Porém mais grotesco ainda é que, ao tentar dar à sua convocação truculenta os ares inofensivos de uma “metáfora poética”, ele não percebesse que, com a ajuda de Brecht, estava confessando seu desejo de saltar da escala do homicídio para a do genocídio. Raramente uma tentativa de fazer-se de coitadinho resultou tão flagrantemente numa confissão de culpa ampliada. Por isso é que, quando me perguntam se alguém é comunista por burrice ou por maldade, respondo que é por uma união indissolúvel das duas coisas. Nada emburrece mais do que o esforço contínuo de camuflar a própria maldade sob um travesti de inocência ofendida. E ninguém se dedica a esse esforço com mais persistência do que os comunistas.

http://olavodecarvalho.org

www.midiasemmascara.org

http://seminariodefilosofia.org

http://therealtalk.org

 

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  • Darcy Francisco Carvalho dos Santos
  • 11 Novembro 2015


(Publicado originalmente em Zero Hora de 11/11/2015)

A jornalista Rosane de Oliveira, na Zero Hora de 6 do corrente, em excelente matéria, sob o título "Crise? Não para as carreiras jurídicas", denuncia o pagamento do auxílio-refeição aos membros do Poder Judiciário e do Ministério Público, assim como o pagamento de R$ 6,5 mil a cada membro da Defensoria Pública, por conta do auxílio-moradia.
A cada membro do Poder Judiciário foram pagos 42 meses atrasados, ou R$ 33.558, e aos membros do Ministério Público, 12 meses, ou R$ 9.588, que ainda permaneceram com um crédito de 36 meses.

Embora a matéria não esclareça, o pagamento do auxílio-refeição deve ter sido somente aos membros ativos. Já o auxílio-moradia deve ter abrangido também os defensores inativos. Assim sendo, o desembolso foi superior a R$ 40 milhões.

Embora isso não seja uma soma expressiva nas contas de um Estado, é emblemático para quem atrasou dois meses de salários e deverá atrasar novamente até o final do ano. E a situação só não foi pior em virtude da ajuda dos depósitos judiciais. E só conseguirá pagar o 13° salário mediante operação de crédito no Banrisul.

No período de janeiro a outubro, as receitas correntes do Estado caíram 3% quando se retira a inflação, e a receita total arrecadada atingiu tão somente 83% da prevista (menos R$ 6,2 bilhões). Para enfrentar essa situação, o Estado cortou despesas básicas e, mesmo assim, fechará o ano com um déficit orçamentário de R$ 5 bilhões. A situação para o próximo ano poderá ser pior, porque no governo anterior foram criadas despesas crescentes até 2018 e a receita está caindo.
Estão sendo pagos com atrasos fornecedores, hospitais, municípios, aluguel social, transferências a escolas e outros credores. Está em risco, ainda, o reajuste dos professores, do pessoal da segurança e demais servidores, entre eles, os do próprio Judiciário.

Por tudo isso, os pagamentos em causa, beneficiando muitos que estão acima do teto constitucional, mais do que injustos, são uma ofensa a mais da metade dos servidores, que mal consegue sobreviver com o que ganha e, ainda, deve receber seus parcos vencimentos com atraso.

* Contador e economista
 

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  • Igor Morais
  • 11 Novembro 2015


(Originalmente publicado em igorcmoraes.com.br)

O que mais surpreende na cena política no Brasil atualmente é a baixa sensibilidade aos efeitos econômicos de ações equivocadas que foram feitas no passado. Não só pelo reconhecimento da falência do modelo “Estado provedor”, ou da situação de “bem-estar social” onde o principal vetor é o setor público com sua infinita capacidade de conceder benefícios com os recursos privados, mas pela inépcia de diversos segmentos da sociedade em visualizar a saída desse mostro devorador de riqueza que criamos. Qual será a consequência econômica e social desse modelo onde o Estado representa mais do que o PIB da indústria?

Onde 15% da população recebem benefícios da Previdência Social e o gasto com juros da dívida, apenas em 2015, será maior do que a soma do que foi gasto nos anos de 2013 e 2014? A conta na economia realmente não fecha. Posso abreviar para o leitor e dizer que, em resumo, estamos diante da maior e mais longa crise que o Brasil já experimentou. E é nesse momento que aquela frase faz todo sentido: “nunca na história desse país”. A confusão econômica que foi criada nos últimos anos é tão grande que fica difícil imaginar o Brasil de amanhã, do mês seguinte e, quem dirá, do próximo ano. As fórmulas macroeconômicas que são úteis para desenhar trajetórias futuras de crises e impactos sociais, ajudando na boa gestão das políticas públicas, não funcionam no Brasil. Não há como prever o comportamento do Banco Central na condução da política monetária e muito menos do Governo no que diz respeito a política fiscal. Estamos carentes de “certeza”, a palavra mais importante para investidores que querem gerar emprego e riqueza. Com essa falta de solução política, a economia entra, definitivamente, nesse trimestre, no que quero aqui denominar de segundo mergulho.

Explico melhor. Não é de hoje que os economistas estudam os movimentos cíclicos de países, regiões, setores e etc. Períodos recessivos seguidos de crescimento são processos naturais, se diferenciando apenas no que diz respeito a duração ou magnitude. Experimentamos crises um pouco mais longas, outras mais curtas. Algumas mais intensas outras mais brandas. Tudo depende da complexidade econômica regional e da capacidade dos gestores públicos em administrar esses ciclos de crescimento e recessão. Desde 2013 que o Brasil visualiza um processo de desaceleração combinada da produção, consumo e investimento. Mas isso só passou a ser mesmo considerada uma recessão na segunda metade de 2014. Naquele momento, a perspectiva era de que seria uma crise rápida, bastando o Governo fazer bom uso da Política Fiscal e Monetária, leia-se, segurar um pouco os gastos, aumentar os juros e conter o apetite dos bancos públicos. Com essa combinação, poderíamos trazer a inflação ao equilíbrio e permitir a continuidade de um novo ciclo de crescimento após seis a oito meses de ajuste. Mas, no meio do caminho existia uma eleição presidencial e não é preciso muito para entender que esse diagnóstico feito por um economista, não teria aplicabilidade em um país com um Banco Central “dependente” da vontade política. Postergarmos o ajuste alguns meses. Até aí tudo bem, ainda haveria tempo para corrigir a trajetória da economia.

Passada a eleição, primeiro veio a política monetária, com aumento dos juros, na expectativa de que, na sequência, o Governo desse continuidade anunciando e realmente implementando um ajuste fiscal forte. Esse não veio e pior, entramos em uma crise política que paralisou o país por vários meses. Aliás, ainda está paralisado. É exigir muito da ciência econômica que apenas um pouco de aumento dos juros seria suficiente para resolver os desequilíbrios macroeconômicos acumulados nos últimos anos. Perdemos a janela de oportunidade de combate à crise ainda no primeiro trimestre desse ano. Sabe aquele momento onde os custos de ajuste são menores e não é necessário fazer muito para garantir credibilidade? Bastava ser crível nas ações que foram anunciadas. Tal como na educação de uma criança. O que vemos agora é que essa inépcia terá um custo muito maior para a sociedade. A inflação ficou solta, exigindo mais da autoridade monetária.

Ninguém mais acredita em propagandas do Governo, exigindo ações que sejam mais enérgicas e que realmente tenham efeito. Agora os investidores estão esperando o resultado para apostar, seja na ampliação das fábricas, construção de novas ou para entrar em programas de concessão. E consumidores ficaram sem norte em meio ao aumento contínuo do desemprego e da perda de poder aquisitivo. Assim, entramos no segundo mergulho do ciclo do que outrora seria apenas uma crise natural para tomar contornos de uma depressão. Infelizmente em matéria de política econômica, não é dar tempo ao tempo, sentar e torcer para que as coisas se ajeitem. A solução de problemas conjunturais requer ação imediata, para que os mesmos não se tornem estruturais pela via social. Esse segundo mergulho que se inicia será realmente doloroso.

* Economista

 

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  • Gilberto Simões Pires
  • 10 Novembro 2015

(www.pontocritico.com


NÚMEROS
A cada início de semana, no espaço -Market Place- (mais abaixo desta página) atualizo os números informados pelo Boletim Focus. Da mesma forma, nos demais dias da semana não canso de publicar as medições feitas pelos demais institutos quanto ao desempenho econômico e social do nosso pobre país.

44 SEMANAS

Ao longo deste ano de 2015, como os leitores já devem ter percebido, em todas as 44 semanas que já se passaram, em todas elas os números que medem o comportamento da nossa economia só pioraram. A projeção do PIB só mostrou queda, enquanto que e a taxa de inflação, em todas as semanas só registrou elevação. Com projeção futura sempre para pior.

POR ENQUANTO
Pois, faltando apenas 52 dias para o encerramento de 2015, o Focus de hoje, que o governo só não chama de GOLPISTA porque o boletim é produzido e divulgado pelo Banco Central, mostra mais um capítulo do filme de terror econômico e social do país:
1- o PIB, por enquanto, mostra encolhimento de 3,05%. Na semana passada, a previsão era de queda de 3,02%.
2- a inflação, medida pelo IPCA, também por enquanto, passou de 9,91% na semana passada para 9,99%. Com viés de alta!
 

ONDA DE DEPRESSÃO
Como é constante e insistente a piora das expectativas, basta verificar o que dizem as previsões para o próximo ano que a RECESSÃO ECONÔMICA acaba no dia 31 de dezembro de 2015 para concluir que em 2016 o nosso pobre país embarca numa progressiva ONDA DE DEPRESSÃO.

CONTOS DA CAROCHINHA
No entanto, ainda que os números não admitam mentiras, nem todos serão atingidos pela CRISE, quer seja ela recessiva ou depressiva. Aqueles que têm ESTABILIDADE NO EMPREGO, vivem de APOSENTADORIAS PRIVILEGIADAS e outras tantas VANTAGENS, como é o caso dos SERVIDORES PÚBLICOS, crise econômica e social é algo que só existe nos CONTOS DA CAROCHINHA.
 

POSTOS DE TRABALHO
Vejam, por exemplo, que nos últimos 12 meses, segundo informa o CAGED - órgão oficial do governo Dilma- ,foram fechados 1,3 milhão de postos de trabalho com carteira assinada. Nenhuma dessas vagas perdidas foi do setor público, ou seja, 100% delas são do setor privado.

BRASÍLIA
Isto prova que só existe crise para quem trabalha no setor privado. Em Brasília, só para citar uma cidade, ninguém foi despedido. E também não será. Para piorar ainda mais a situação de quem paga impostos, mesmo estando desempregado, várias categorias de servidores públicos continuam sendo beneficiadas com aumentos de salários e vantagens inexplicáveis. Pode?

 

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  • Ferreira Gullar (Folha)
  • 10 Novembro 2015

 

Desculpe se em vez de uma carta pessoal escrevo-lhe na página de um jornal, tornando público o que tenho a lhe dizer. A razão disso é que o assunto que pretendo abordar nada tem de íntimo. Pelo contrário, diz respeito a todos nós. Trata-se de sua posição em face de tudo o que está acontecendo neste nosso país governado, há quase treze anos, pelo seu partido, o PT.

Entendo que você, a certa altura da vida, tenha acreditado que Lula era um verdadeiro líder operário e que, como tal, conduziria os trabalhadores e o povo pobre na luta pela transformação da sociedade brasileira, a fim de torná-la menos injusta.

Era natural que fizesse essa opção, uma vez que lutar contra a desigualdade sempre fez parte de seus princípios. E muita gente boa, antes de você, também pusera sua esperança neste novo partido que nascia para mudar o Brasil. Alguns dos mais notáveis intelectuais brasileiros fizeram a mesma escolha que você.

É verdade também que, com o passar dos anos, essa convicção se desfez: Lula não era o que eles pensavam que fosse, e o seu partido não se manteve fiel ao que prometera. Mas você, não, você continua confiando em Lula e votando em todos aqueles que Lula indica, ainda que não os conheça ou, o que é pior, mesmo sabendo que não são nenhuma flor que se cheire.

Sei que há petistas mais cegos que você, como aqueles que foram às ruas para tentar impedir a privatização da Telefônica, alegando que se tratava de uma traição ao povo brasileiro. Lembra-se? Pois bem, a privatização foi feita e, graças a ela, o faxineiro aqui do prédio tem telefone celular. Mas, quando alguém fala disso, você muda de assunto.

Sei muito bem que política é coisa complicada. A pessoa defende determinada posição do seu partido, discute com os amigos, briga e, depois, aconteça o que acontecer, não dá o braço a torcer.

E, às vezes, chega ao ponto de defender atitudes indefensáveis, mas que, por terem sido tomadas por Lula, você se sente na obrigação de justificar. Por exemplo, quando Lula abraçou Paulo Maluf, quando se aliou ao bispo Edir Macedo, fazendo do bispo Crivela ministro do seu governo e quando viaja à custas da Odebrecht.

Não sei o que você diz a si mesmo quando, à noite, deita a cabeça no travesseiro. Como justificar o mensalão? Você poderia acreditar que Delúbio, tesoureiro do PT, tenha armado toda aquela patranha, sem nada dizer ao Lula, durante os churrascos que preparava para ele, todo domingo, na Granja do Torto. Tinha de acreditar, pois, do contrário, teria de admitir que Lula foi o verdadeiro mentor do mensalão.

Custa crer como você consegue dormir em meio a tanta mentira. E pior é agora, no chamado petrolão, que é o mensalão multiplicado por dez, já que, enquanto naquele a falcatrua era de algumas dezenas de milhões de reais, neste chega a bilhões. E, mesmo assim, consegue dormir? Não é para sacanear, mas você ainda repete aquele lema em que o PT dizia ser "o partido que não rouba nem deixa roubar"?

Quero crer que, pelo menos nisso, você se manca, porque as delações premiadas deixaram claro que ele não apenas deixa, como rouba também.

E a Dilma, que Lula tirou do bolso do colete e fez presidente da República, sem que antes tivesse sido sequer vereadora? Não chego a considerá-la paspalhona, como a chamou Delfim Neto, embora, com sua arrogância, tenha arrastado o país à bancarrota em que se encontra agora. Essa situação crítica a obrigou a adotar um programa econômico
que sempre rejeitou e combateu.

Mas, ainda assim, tem o desplante de dizer que esta crise é apenas uma transição para a segunda etapa de seu plano de governo. Noutras palavras: a primeira etapa foi para levar o país à bancarrota e a segunda, agora, é para tentar salvá-lo. Ou seja, estava tudo planejado!

Não me diga que acredita nisso, camarada.


*Ferreira Gullar é cronista, crítico de arte e poeta.
 

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