• Raphael De Paola
  • 04 Junho 2015

 

O senso comum a respeito do ensino na sociedade moderna, repetido como dogma indiscutível por ministérios, ONGs, educadores e pais, é o de que a educação de crianças e jovens tem de ser universal. Com isso, todos querem dizer que acreditam existir um núcleo mínimo de valores e conhecimentos que devem ser compartilhados por toda a sociedade e passados de geração a geração através de instituições desenhadas especificamente com esse fim. Essa premissa se funda, por sua vez, numa outra, a de que, sem aquele núcleo mínimo, o tecido social será corroído desde dentro por indivíduos que instaurariam o caos e a desordem.
Ora, quem poderia ser contra essas premissas? O que pode haver de ruim em tentar manter um denominador comum de ordem e harmonia na sociedade? E de fazê-lo através, entre outros, do legado às próximas gerações daquilo que as anteriores aprovaram e confirmaram na prática? Como não concordar, por exemplo, que o crime é ruim e deve ser combatido com vigor, que os valores religiosos e familiares são a base para a formação dos valores cívicos, que é preciso respeitar o amadurecimento sexual das crianças em seu devido tempo, e que se deva nutrir, se não o amor pelo saber, ao menos o respeito por quem o conserva? Se esses são valores compartilhados pela grande maioria das pessoas, por que não disseminá-los também a partir da escola?
Mas é impossível o observador atento não perceber que nas últimas décadas caiba justamente à escola, mais que à televisão e à cultura em geral, o papel principal na destruição, nos corações e mentes das novas gerações, de tudo aquilo em que a população adulta acredita. Foi a partir de práticas pedagógicas abomináveis que se forjaram a justificação, se não a própria glamorização, do crime como forma de luta contra as “injustiças”, com os corolários óbvios da vitimização do criminoso, da disseminação do consumo de drogas e da subida ao poder do partido mais criminoso da história ou então a destruição dos valores familiares e religiosos e a concomitante relativização dos valores cívicos ou ainda a sexualização acelerada de crianças através de aulas de “educação sexual” em que crianças de 9 e 10 anos são ensinadas a se masturbarem e camisinhas são colocadas nas suas mãos e, contra tudo o que se pudesse esperar de uma instituição de ensino, o total desprezo a qualquer forma de saber e de autoridade, com o concomitante desrespeito, quando não o ódio puro e simples, a seus portadores, acompanhado da elevação de verdadeiras deformidades aos postos de representantes da “alta cultura”.
O que vem dando errado, então? Como pode a instituição que fora projetada para servir de depósito e propagação dos valores compartilhados pela maioria voltar-se contra ela e passar a servir precisamente ao propósito contrário? Como é possível o espaço social construído justamente com o objetivo de preservar a moralidade ser sistematicamente empregado para destruí-la?
É que há pelo menos dois enganos na aceitação passiva daquelas premissas do primeiro parágrafo. O primeiro engano é o de que a elite dirigente e a população em geral têm o mesmo objetivo e que, portanto, as políticas públicas refletirão a vontade da maioria. Não importa se na escola pública ou privada, se no nível superior, secundário ou primário, o que se tem assistido na educação é a uma enxurrada de teses e comportamentos absurdos impostos goela abaixo dos filhos de uma população atordoada que, se entendesse o que está acontecendo e se pudesse intervir, ensinaria o contrário do que as escolas têm feito. Legalização de drogas, aborto, feminismo, casamento gay, racialismo e cotas, bolsa-bandido, desarmamento civil, aulas de “educação sexual”, agigantamento do estado, maioridade penal, substituição da religião tradicional por um panteísmo ecológico de quinta categoria – todo o cardápio, enfim, da elite politicamente correta- são temas nos quais a opinião majoritária da população é frontalmente desafiada pelo ensino atual. Em todos esses temas, a opinião da maioria da população é uma, mas invariavelmente o que seus filhos aprenderão na escola é o oposto.
O discurso da classe política, que se reflete integralmente nas faculdades de educação e, portanto, na formação dos professores, é o de que a “sociedade precisa avançar nas questões atuais”. Mas o que isso efetivamente significa na prática é que eles vão, a contragosto da população a quem têm a obrigação de servir, substituir todo o conjunto de valores tradicionais por uma pasta mental incapacitante planejada milimetricamente para deprimir a inteligência. A população rejeita qualquer um desses “avanços”, dando mostras claras disso em qualquer enquete. Mas governos e ONGs usam seu poder para impor às novas gerações valores e pensamentos em total discordância com as anteriores. No julgamento dos luminares da classe dirigente, o povo, tal como está, não serve, é muito “conservador” e precisa dos “avanços” ditados pela elite iluminada. Na nova democracia do politicamente correto não é mais o povo que escolhe o governante, é o governante que escolhe o povo.
O segundo engano consiste em acreditar que, se os valores tradicionais e a ordem vigente forem derrubados, reinarão na sociedade o caos e a desordem. Mas o caos não existe. E muito menos ainda está nos planos da classe dirigente instaurá-lo. O que temos testemunhado é a meticulosa substituição de um tipo de ordem por outro: em lugar da ordem tradicional, a ordem dos psicopatas e seus seguidores histéricos (http://www.olavodecarvalho.org/semana/131118dc.html). O que dá à população desavisada a impressão de ser um estado de caos é, na verdade, um passo adiantado na transição para a nova ordem.
Pouco importa que para a população adulta os temas e as vontades absurdas das classes dirigentes nos cheguem como propostas a serem debatidas “democraticamente” pela “sociedade civil”, porque, através de toda a rede de ensino e cultura, elas já estão sendo impostas ditatorialmente sobre as novas gerações e implementadas com a precisão de um projeto de engenharia. A nova ordem é gestada desde dentro da antiga. A revolução não precisa de um motor externo, é só fazer a máquina já existente trabalhar para o propósito oposto.
As práticas pedagógicas mais eficazes nesse processo de mutação social são os badalados “socioconstrutivismo” de Lev Vygotsky e a “educação para a crítica” de Henry Giroux, inspirada, entre outros, na “teoria crítica” dos intelectuais da Escola de Frankfurt e na “pedagogia do oprimido” de Paulo Freire, o maior produtor de analfabetos funcionais com diplomas universitários do universo. O slogan é o de que, ao invés de simplesmente expor o conteúdo de uma matéria para que os jovens a absorvam “apenas de modo passivo e monótono”, supostamente agora os faremos refletir “criticamente” acerca das origens e conseqüências sociais, políticas, ideológicas e psicológicas daquele conhecimento novo. A “crítica” levaria então à “construção social” do conhecimento na mente do jovem, supostamente com interferência mínima por parte do professor.
Ora, o garoto acabou de receber uma informação pela primeira vez, mal guardou os nomes dos conceitos e fatos e porcamente conseguiu estabelecer as relações requeridas para o correto entendimento do assunto, e já se espera que ele faça uma “abordagem crítica” daquela massa de dados. É óbvio que isso é impossível.
E nem é esse o intuito. O que esse estímulo à crítica vazia cria na mente dos alunos é ansiedade e um impulso histérico de debater por debater, de falar do que não entende nem estudou, de não ouvir o contraditório porque “cada um tem sua opinião”, e de agradar o professor e tentar adivinhar qual a opinião dele para terminar logo a aula sem levar nota baixa. É então que se perfaz o verdadeiro objetivo, não declarado mas óbvio, da “pedagogia crítica”: os alunos passam a aceitar passivamente a opinião do professor, ou como um dogma infalível acima de qualquer crítica(!), ou, pelo menos, como uma opinião que deva ser discutida em si, por mais absurda e contrária aos fatos que seja. E a perversão maior é que o aluno ainda sai com a ilusão, forjada pela condução socioconstrutivista da aula, de que é ele quem está pensando.
O resultado todo mundo conhece: seu filho sai da escola sem saber colocar uma crase nem fazer contas com decimais, mas com a plena convicção de que o socialismo é bom e de que, não somente o aquecimento global é um fato “científico”, como a culpa ainda é do George W. Bush.
O objetivo da nova educação não é necessariamente persuadir racionalmente ninguém de nenhum daqueles pontos de vista, mas dissuadir a todos da idéia de que exista a possibilidade de uma arbitragem racional a respeito. Afinal, a quem pode interessar criar um ambiente em que se coloca absolutamente tudo em discussão “crítica”, senão àqueles que já sabem de antemão que vão propor o indefensável racionalmente? É impossível não perceber que as tais “críticas” são sempre dirigidas às coisas menos criticáveis. Os alvos de sempre são o capitalismo (nunca o socialismo), os Estados Unidos (nunca a URSS ou a China), a direita (nunca a esquerda), a Igreja Católica e as religiões em geral (nunca o ateísmo organizado), o Estado de Israel (nunca o terrorismo palestino), a família tradicional (nunca o “poliamor”), o tabaco e o álcool (nunca a cocaína e a maconha), a ditadura e as Forças Armadas brasileiras (nunca as cubanas), e por aí vai. Críticas ao melhor, sempre ao pior, nunca.
A meta é acostumar a platéia ao absurdo, legitimar debates entre um ponto de vista razoável e outro quase sempre insano no qual nem mesmo seus defensores acreditam. O que para uma geração é totalmente inconcebível, a seguinte já discute com ares de seriedade socrática. Exagero? Aguarde: discussões sobre pedofilia, zoofilia e casamento entre N pessoas já estão na ordem do dia. A próxima geração vai discutir histericamente essas novas “propostas” e considerar a existência mesma da discussão um enorme “avanço democrático”.
Bella Dodd, uma professora americana, que no livro The School of Darkness (Devin-Adair Pub, 1963) fez uma autocrítica maravilhosa de seus anos de comunismo na juventude, demorou para entender aquilo que, vez após vez, lhe diziam os dirigentes do partido: “Toda derrota é uma vitória.” Sempre que uma elite de psicopatas consegue impor uma discussão séria em torno de uma proposta absurda, esta sair vencedora é o que menos importa, porque o objetivo principal é criar uma militância histérica que finja acreditar nela e manter o adversário ocupado em debater civilizadamente uma proposta cínica. A frase mais repetida pelo establishment esquerdista é: “A sociedade precisa discutir esse tema”.
A ambição dos luminares da “educação universal” era a de produzir milhões de cidadãozinhos bem comportados da nova ordem mundial, um tipo de ser que aceitasse polidamente as discussões políticas mais absurdas ao mesmo tempo em que, pelo menos nas áreas mais técnicas, um mínimo de racionalidade e competência fosse reservado para a manutenção mais ou menos equilibrada da economia. Em suma, a produção de milhões de tucanos. Mas é óbvio que, quando baixa o nível geral de inteligência, é impossível resguardar qualquer domínio que seja. O resultado é a pífia qualificação técnica de engenheiros, economistas, administradores, médicos e advogados, comprovada ano após ano nos mais variados testes nacionais e internacionais de conhecimento.
A equiparação do grotesco ao belo dentro do próprio ensino só poderia mesmo produzir essa incapacidade intelectual geral das últimas três gerações. Uma vez iniciado o processo deliberado de estupidificação dos jovens, não há freio que o segure: o mesmo rebaixamento que testemunhei em sala de aula na minha geração, em que se substituía Chico Buarque a Camões, e que nos anos 90 levou a hermenêuticas seríssimas sobre as letras das músicas de Gabriel Pensador, culminou, nos últimos anos, com enxurradas de teses universitárias sobre o Racionais MC e funkeiros de todo tipo.
Fundo do poço? E se tiver gente cavando mais fundo? Max Horkheimer, diretor da Escola de Frankfurt por décadas e seu principal teórico, rejeitou a inclusão de um novo associado baseado em que lhe faltava “o olhar aguçado pelo ódio a tudo o que está no lugar” (Rolf Wiggershaus, A escola de Frankfurt. História, desenvolvimento teórico, significação política. DIFEL, 2002). A cultura moderna é uma declaração de guerra permanente contra “tudo que está no lugar”, é uma aposta insana de que sexo, drogas e rock’n’roll redimirão o mundo e que o “mundo melhor” virá pelas mãos das piores pessoas.
Não espanta que, com o imaginário construído pela educação e pela cultura modernas, e não suportando o peso da responsabilidade pessoal pela condução de suas próprias vidas, milhões de pessoas permaneçam décadas a fio naquele estado de adolescência eterna onde até mesmo os protestos aos quais recorrem “contra o sistema” são postiços porque os canais de rebeldia estão todos instrumentalizados pela classe dirigente.
O único conselho que se pode dar é aquele do Pe. Paulo Ricardo quando perguntado sobre o que a Igreja esperava dos jovens de hoje: “Que se tornem adultos”!

 

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  • Rodrigo Constantino
  • 04 Junho 2015

Importante entrevista nas páginas amarelas de VEJA essa semana, com o matemático Nuno Crato, ministro da Educação e da Ciência em Portugal (favor não comparar seu currículo ao de Aloizio Mercadante, para não humilhar tanto a ex-colônia). Crato tem atacado o “eduquês”, a pedagogia romântica e construtivista nas escolas. Ele está certo! Logo no começo, ele explica melhor o que está condenando:

Minha crítica bate de frente com uma linha muito celebrada nas escolas de hoje. É uma corrente que dá ênfase excessiva às atitudes e à formação cívica do aluno e deixa em segundo plano o conhecimento propriamente dito. Pergunto: como investir em educação cívica se o estudante não consegue nem ler o jornal?

Infelizmente, muitos educadores levaram suas ideologias esquerdistas para dentro da sala de aula. Antigamente, ensinava-se a ler e a escrever, a fazer contas, enquanto hoje se “ensina” que é preciso ter “consciência social”, sem falar de toda a doutrinação ideológica absurda.

Alunos, cada vez mais cedo, são expostos à visão de mundo desses professores, que enfiam goela abaixo desses imberbes indefesos a noção marxista de “opressores e oprimidos”, tão disseminada por Paulo Freire e sua “pedagogia do oprimido”. Pelo visto, “aprender” que o homem branco ocidental era malvado e dominou as pobres minorias é mais importante do que saber ler direito e fazer contas.

Além disso, os métodos tradicionais de ensinar e cobrar dos alunos são atacados por esses pedagogos modernos. Eles partem da premissa de que os alunos não devem ser tão cobrados, que cada um tem seu próprio ritmo, que não é correto instaurar competição em sala de aula por meio de provas e coisas do tipo. Crato responde:

Muitos batem na tecla de que prova faz mal. Acham que ela submete o aluno a um alto grau de stress, sem necessidade. Vão aí na contramão do que afirmam os grandes pesquisadores. Eles já sabem que, ao ser questionada e posta a refletir sobre um conteúdo, a criança consegue absorvê-lo melhor, avançando no conhecimento.

Mais à frente, ele argumenta que essa visão que, no fundo, parece idealizar a criança e rejeitar qualquer forma de autoridade em sala de aula, acaba produzindo apenas desordem:

Esse grupo de educadores admite que o aluno pode ser no máximo incentivado a respeitar a ordem na sala de aula, mas nunca, sob nenhuma hipótese, ele deve ser forçado a fazer isso. Nesse caso, não é preciso de muita ciência para saber que o resultado final será muita bagunça e pouco aprendizado.

O construtivismo, ou a modalidade atual da idéia de Piaget, é alvo de mais ataques legítimos na entrevista:

Um mestre tem o dever de transmitir a seus alunos os conteúdos nos quais se graduou. E, sim, precisa ter objetivos bem claros e definidos sobre o que vai ensinar. É ingênuo achar que o estudante vai descobrir tudo por si mesmo e ao seu ritmo, quando julgar interessante. Quem de bom-senso tem dúvida de que, se a criança puder esperar a hora que bem lhe apetecer para mergulhar num assunto, talvez isso nunca aconteça?

Nuno Crato ainda defende a memorização, a imposição de leitura, algum grau de decoreba, a importância de excessivos exercícios de matemática para fixar bem a matéria, que é cumulativa, enfim, trata-se de um resgate dos métodos mais tradicionais de ensino, hoje tão rechaçados pela pedagogia moderna. Crato reconhece o obstáculo:

As sociedades hoje frequentemente não valorizam o conhecimento rigoroso, aquele que exige método, empenho e exercício para ser bem sedimentado. Acham que as crianças vão acabar aprendendo matemática por osmose. Mas elas não aprendem. As avaliações costumam ser impiedosas ao escancarar as deficiências.

Por fim, como não poderia faltar, Nuno defende a meritocracia, repudiada pelos “igualitários” da atualidade. Ele diz:

A utopia do igualitarismo, essa que muitos na educação defendem, só seria possível num único e não desejável cenário – aquele em que todos são medíocres. Esse é ainda um tabu. Dizer que uma criança precisa de um apoio especial não significa que ela será excluída. Num outro espectro, os ótimos alunos também não devem ser escondidos, mas, sim, radicalmente incentivados a seguir em frente. É um fundamento básico da meritocracia, de eficiência provada no setor privado.

Ou, como dizia Thomas Sowell, “Você não pode ensinar a todos no mesmo ritmo, a não ser que esse ritmo seja reduzido para acomodar o menor denominador comum”. Complicado é enfrentar os sindicatos corporativistas, que detestam a idéia da meritocracia em sala de aula e fora dela. Mas é necessário partir para esse enfrentamento, caso contrário, seremos medíocres. E não adianta jogar mais dinheiro público nesse modelo falido, como o próprio Nuno Crato reconhece:

Acho que nossos desafios dependem menos de dinheiro e mais de objetivos claros, ambiciosos e de organização. Para avançarmos, precisamos formar mais e mais engenheiros, médicos e cientistas. As crianças devem ser despertadas desde cedo para o interesse por essas áreas. Não será à base do velho e empolado “eduquês” que conseguiremos dar o grande salto.


Enfim, precisamos de mais engenheiros, médicos e cientistas, e menos gente das “ciências humanas” que adora divulgar ideologias ultrapassadas e igualitárias. Portugal parece ter a pessoa certa para lutar por esse caminho. Espero que consiga. Cá no Brasil, com o PT no poder e Mercadante como ministro da Educação, acredito que teremos de esperar mais um pouco para ao menos sair da direção errada e apontar na correta. O problema é que esse tempo custa caro. Muito caro.
 

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  • Augusto de Franco
  • 03 Junho 2015

( www.alertatotal.net)

O que está acontecendo com o PT não é um fenômeno isolado. Aconteceu com vários grupos da esquerda autocrática depois da queda do muro de Berlim. Sobretudo na América Latina, em que muitos dirigentes de organizações ditas revolucionárias enveredaram para o crime.

Conheci vários desses militantes que viraram bandidos. Daniel Ortega, da Frente Sandinista, hoje presidente da Nicarágua, foi um deles. Me lembro como se fosse hoje. Ele foi convidado de honra no I Congresso do PT (que coordenei), no final de 1991. Chegando lá, no Hotel Pampa, em São Bernardo, Daniel pediu logo ao tesoureiro do PT à época, se não podia arranjar umas prostitutas.

Esse Daniel e seu irmão Humberto, eram teleguiados de Fidel, que lhes passava pitos, aos berros. Reuniões decisivas para o futuro da chamada revolução sandinista foram realizadas em Havana, sob o comando de Fidel. E enquanto as bases petistas da Igreja idolatravam por aqui os sandinistas como expoentes de uma nova espiritualidade dos pobres, esses bandidos assaltavam patrimônio público (inclusive passavam para seus nomes propriedades imóveis) do Estado nicaraguense.

O mesmo ocorreu com gente da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional de El Salvador, que também está no governo. Aconteceu com o Mir chileno (e com o Mir Militar) com alguns Tupamaros. com as FARC colombianas e, é claro, com a nova leva de bolivarianos, que não tinham tanta tradição de esquerda, como Chávez, Maduro e Cabello (mas aí já estamos falando de delinquentes da pior espécie, que inclusive chefiam o narcotráfico na região) e como Rafael Correa e Evo Morales. Bem, para resumir, aconteceu com boa parte das organizações e pessoas que frequentam as reuniões do Foro de São Paulo (fundado, não por acaso, um ano depois da queda do muro - e eu estava presente na reunião de fundação, no Hotel Danúbio).

Não dando certo a revolução pela insurreição, pelo foquismo ou pela guerra popular prolongada, essa galera chegou à conclusão de que seria preciso fazer a revolução pela corrupção. Bastaria adotar a via eleitoral contra a democracia e depois assaltar o Estado para financiar um esquema de poder de longo prazo. O plano era simples: conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido. O objetivo era claro: chegar ao governo pela via eleitoral, tomar o poder e nunca mais sair do governo. Para isso, entretanto, era necessário, além do tradicional caixa 2, fazer um caixa 3, encarregado de custear ações legais e ilegais, ostensivas e clandestinas, para controlar as instituições, comprar aliados, remover ou neutralizar obstáculos...

Afinal, pensaram eles: as elites não fizeram sempre assim? Para jogar o jogo duro do poder não se pode ter escrúpulos. Foi essa a conclusão de Lula, Dirceu e dos dirigentes petistas que tomaram o mesmo caminho. É claro que, como ninguém é de ferro e como não se pode amarrar a boca do boi que debulha, alguma compensação em vida esses bravos revolucionários mereciam ter. E foi assim que enriqueceram, abriram contas secretas no exterior para guardar os frutos dos seus crimes, adquiriram bens móveis e imóveis em nome próprio ou de terceiros e foram levando a vida numa boa enquanto o paraíso comunista não chegasse.

O ano de 1989 foi decisivo para essa degeneração política e moral da esquerda. Mas o que aconteceu não foi um resultado do somatório de desvios individuais. Não! Eles viram que seria muito difícil conquistar o mundo e assumir o comando de seus próprios países, contrapondo um bloco a outro bloco. O bloco dito comunista se desfez. A União Soviética derreteu em 1991. Ruiu tudo. E agora? Bem, agora - pensaram eles - seria necessário ter uma nova estratégia. E eis que surgiu uma ideologia pervertida, baseada numa fusão escrota de maquiavelismo (realpolitik exacerbada) com gramscismo. Eles, como operadores políticos, conduziriam a realpolitik sem o menor pudor, enquanto que pediriam ajuda aos universitários para dar tratos à bola do gramscismo (e reproduzir mais militantes nas madrassas em que se transformaram as universidades).

No Brasil, porém, parece que erraram no timing. Precisariam de mais uns três ou quatro anos para ter tudo dominado, dos tribunais superiores, passando pelo Congresso, pelo movimento sindical e pelos fundos de pensão, pelos (falsos) movimentos sociais que atuam como correias de transmissão do partido, pela academia colonizada, pelas ONGs que se transformaram em organizações neo-governamentais, por uma blogosfera suja financiada com dinheiro de estatais e por grandes empresas (com destaque para as empreiteiras, atraídas pela promessa de lucros incessantes quase eternos se estivessem aliadas a um sólido projeto de poder de longo prazo).

Não deu tempo. O plano foi descoberto antes que as instituições fossem completamente degeneradas. E chegamos então a este agosto de 2015, ano em que alguns desses dirigentes vão começar a assistir, de seus camarotes na prisão, o desmoronamento do esquema maléfico que urdiram.

Augusto de Franco é escritor, palestrante e consultor. É o criador e um dos netweavers da Escola-de-Redes - uma rede de pessoas dedicadas à investigação sobre redes sociais e à criação e transferência de tecnologias de netweaving. É autor de várias dezenas de livros e textos sobre desenvolvimento local, capital social, democracia e redes sociais.
http://www.alertatotal.net/2015/08/por-que-esquerda-enveredou-para-o-crime.html

 

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  • Nivaldo Cordeiro
  • 03 Junho 2015

É notório que o Brasil vem num processo de transformação rápido, que tem sido produzido pela revolução socialista que está em curso. Esta revolução quer ser silenciosa e tem passado desapercebida para a maioria dos brasileiros. Poucas vozes se levantaram para denunciar e falar sobre o assunto. Quero aqui explicitar como esse movimento revolucionário tem sido implantado em nosso país.

São três eixos revolucionários que caminham em paralelo, mas mantendo os mesmos objetivos estratégicos e frequentemente se intercruzando. O primeiro deles é a chamada revolução gramsciana, que entrou em pauta com o maior dos seus estrategistas,Fernando Henrique Cardoso, quando da fundação do Cebrap, no final dos anos sessenta. O Cebrap virou um think thank e logo foi imitado por outros, basicamente para realizar a formação de quadros e a produção de ciências sociais comprometidas com a revolução. É claro que o Cebrap levou FHC à presidência da República, três décadas depois. A revolução gramsciana se consolidou com a posse de Lula e do PT na Presidência da República.

Basta ver uma breve lista de pesquisadores que passaram pelo Cebrap para se perceber como o organismo espalhou esporos por toda parte: Boris Fausto, Cândido Procópio Ferreira de Camargo, Carlos Estevam Martins, Elza Berquó, Fernando Henrique Cardoso,Francisco Weffort, Francisco de Oliveira, José Arthur Giannotti, José Reginaldo Prandi,1 Juarez Rubens Brandão Lopes, Leôncio Martins Rodrigues, Luciano Martins, Octavio Ianni, Paul Singer e Roberto Schwarz. Muitas das cabeças coroadas da academia e da imprensa nunca deixaram de ser agentes propagadores da revolução gramsciana, como se vê. Foram produtores de falsa ciência, a serviço da transformação social. Se você, leitor, fez algum curso universitário provavelmente saiu dele intoxicado com o veneno ideológico produzido por essa gente, que é autora da maior parte da literatura recomendada.

Os agentes formados por esses falsos gurus pouco a pouco foram tomando conta do Estado, de modo a transformar seus organismos em "aparelhos ideológicos", a serviço da causa revolucionária. Tomaram conta primeiro da Educação e da Saúde. Depois de todo o resto.

Essa revolução ganhou força quando dominou do pensamento universitário brasileiro, ao longo dos anos setenta e oitenta (e depois, já que nunca parou). Os professores e alunos passaram a ser divulgadores e doutrinadores das ideias revolucionárias e também cabos eleitorais quando as eleições aconteciam. A eficácia política foi total, a ponto de a direita ter desaparecido da cena política, só retornando agora, de forma embrionária e dispersa, com as eleições de 2014. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, será talvez a maior expressão política dessa nova direita. O Brasil está ainda hemiplégico, voado politicamente apenas com seu lado sinistro.

O segundo eixo da revolução é a cultural, que recebeu grande impulso depois da posse de FHC como presidente e ainda maior quando o PT o sucedeu. Políticas de cotas, de aborto, pró movimento gay, causa ambientalista, a busca obsessiva pela igualdade de gêneros no limite do ridículo, liberação do uso de estupefacientes, tudo tem sido feito nessa direção, naturalmente inspirado da Escola de Frankfurt. O objetivo derradeiro é destruir a família cristã e o Brasil como unidade, fragmentado em múltiplos "movimentos sociais". Essa perna da revolução sofreu agora profundo revés porque Eduardo Cunha assumiu a presidência da Câmara de Deputados e, como primeira medida, decidiu retirar de pauta os pontos da agenda revolucionária.

O terceiro eixo é mais antigo e é caudatários de intelectuais que produziram ficção e não ficção desde o século XIX. A literatura e a filosofia foram postas a serviço da transformação. A Semana de Arte Moderna é expressão maior dessa tentativa revolucionária. Nossos grandes escritores, em alguma medida, fizeram da sua obra um veículo de propaganda da revolução.

Dos três eixos, o mais pernicioso e o mais profundamente arraigado é o terceiro. Contra ele só pode agir um processo de produção cultural em volume equivalente àqueles produzido pelas esquerdas, convencendo a inteligência brasileira, sua elite cultural bem como econômica, do erro que é abraçar a revolução. É um processo que levará décadas, por isso um partido político ou alguma liderança contrarrevolucionária não pode fazer muito, exceto aquilo que Eduardo Cunha fez. É preciso reescrever os livros didáticos, que surjam novos escritores comprometidos com a causa da verdade, que os jornais saiam das mãos dos comunistas, que os professores deixem de ser agentes da transformação para serem os portadores da moralidade. Um movimento assim nem começa e nem acaba em partidos políticos, pois exige o engajamento de uma elite pensante que ainda não existe.

Eu vejo aqui e ali sintomas de vitalidade. É preciso fazer germinar um novo tipo de homem, comprometido com a verdade e o Bem. Vai demorar, mas, se serve de consolo, penso que essa reação está em curso, de forma espontânea. A esquerda deixou de ter o monopólio da mídia e da produção de ideias. A internet deu voz àqueles que, isolados, nada podiam fazer para interferir no processo. O simples fato de se discutir o assunto é já trabalhar para a sua superação.
Quem viver verá.

 www.nivaldocordeiro.com
 

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  • Ruy Fabiano
  • 03 Junho 2015

A construção de uma unidade geopolítica latino-americana – ou ao menos sul-americana – não surge com o PT. É ideia antiga, que, há três décadas, inspirou o Mercosul e alterou, para o mal e para o bem, a diplomacia e o comércio continentais.

O fato de ser desejável e necessária, numa época em que as nações se organizam em blocos, para melhor figurar no cenário geopolítico mundial, não a torna menos complexa. A unidade europeia, ideal antigo de séculos, começou a ser implementada após a Segunda Guerra. Passou por diversos estágios e ainda está em curso, cada etapa sendo publicamente discutida.

Não é fácil unir coisas distintas e assimétricas, respeitando-se os espaços de soberania.

O problema da união latino-americana cogitada pelo PT, e pelas organizações da esquerda continental, reunidas no Foro de São Paulo, é tentar impô-la sem debates e sob o tacão ideológico.

A Pátria Grande terá que ser socialista – ou bolivariana - e seu projeto objetiva, com a urgência possível,unificar forças armadas, moeda e territórios. Nada menos.

Para definir sua institucionalização, criou-se a Unasul, cuja última reunião de cúpula, no Equador, em dezembro, aprovou três propostas complicadíssimas: uma Escola Sul-Americana de Defesa – "um centro articulado de altos estudos para formação de civis e militares" -, abertura do espaço aéreo dentro da Unasul, além de passaporte comum, sem distinguir nacionalidades.

São questões que tangenciam a soberania e pressupõem longas e complexas tratativas, acompanhadas de perto pelas sociedades dos países abrangidos. Nada disso, porém, ocorreu: nem na sociedade, nem no Congresso, nem em parte alguma.

Quem assiste os vídeos do PT tratando do assunto – e há vários na internet (deve ser isso que o partido entende como "debate"), constata que se parte de um pressuposto falso: de que a sociedade brasileira está não só ciente desse projeto, mas de pleno acordo – sobretudo quanto a seu teor ideológico.

Num deles, fala-se de "uma América do Sul vermelha". Em outro, Lula fala da importância de o Brasil investir na infraestrutura de Cuba, sem explicar o porquê. O debate deu-se sempre intramuros, com a militância do partido e do Foro.

Os reflexos dessa manobra são evidentes. Mudou a diplomacia brasileira, trocando parceiros e prioridades. O Brasil é o único país a dispor de duas chancelarias: a oficial, o Itamaraty; e a real, a cargo do chanceler Marco Aurélio Garcia.
As antigas alianças ocidentais foram trocadas por outras, de teor oposto, que em vez de lucro dão prejuízo.Serve-se ao país a política do fato consumado, na base da terapia do susto.

A figura de Simon Bolívar tem peso simbólico nos países hispano-americanos, como libertador do colonizador europeu, mas nenhum no Brasil, que viveu processo de independência diverso.

Impingi-la como elo comum é uma arbitrariedade. Os nossos "pais fundadores" – e os há – são civis. Os mentores de nossa independência não eram militares, que só passaram a ter presença exponencial na política brasileira a partir da República, por eles proclamada. Nosso Bolívar é José Bonifácio.

O problema, portanto, começa na falsificação dos símbolos. A grande figura militar brasileira, o Duque de Caxias, firmou-se menos como guerreiro e mais como pacificador, arquiteto da unidade nacional, ao longo do Segundo Reinado.

Nem ele, no entanto, desfruta mais desse prestígio, tal a eficácia do processo iconoclasta a que foram submetidas as figuras históricas do país de algumas décadas para cá. Sem heróis, não há nação – e por isso as grandes nações sempre cultivaram os seus.

A Pátria Grande não inova nesse ponto: vê em Bolívar um herói comum, ainda que o perfil histórico que esculpiu esteja bem longe da figura real que ele encarnou. O Brasil, e esse é o absurdo maior, mesmo sem ter nada a ver com Bolívar, cumpre o papel de promover e patrocinar esse projeto, sem que sua população saiba de seus objetivos e, sobretudo, do seu custo.

Não é por outro motivo que o governo reage ferozmente à ideia de abrir a caixa preta do BNDES, que revelará parte dos custos da construção da Pátria Grande. Ela também é destinatária de parte do saque à Petrobrás e aos fundos de pensão.

O Foro de São Paulo promove a eleição dos bolivarianos e sustenta a construção (que não é barata) dos alicerces dessa "nação comum". O dinheiro vem daqui. E Joaquim Levy, antípoda ideológico do pessoal do Foro, foi chamado a administrar o troco que restou ao Tesouro Nacional nessa aventura em pleno curso.

(O Globo)

http://brasilsoberanoelivre.blogspot.com.br/2015/05/a-patria-grande.html
 

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  • Hermes Rodrigues Nery
  • 03 Junho 2015

Pronunciamento do Prof. Hermes Rodrigues Nery, diretor da Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família e coordenador do Movimento Legislação e Vida, no Senado Federal, sobre a questão do aborto, em audiência pública, realizada na Comissão de Direitos Humanos, em 28 de maio de 2015.

Exmo. Sr. Senador Paulo Paim, Presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, Profª. Fernanda Takitani, Dr. Gollop, Dra. Lenise Garcia, membros da mesa, e demais presentes.

            Estando de volta a esta Casa Legislativa, novamente no Senado, para, mais uma vez, fazer a defesa da vida, desde a concepção, que é o propósito do Movimento Legislação e Vida1, da Diocese de Taubaté, fundado por nosso Bispo Dom Carmo João Rhoden, e que há dez anos2, junto com outras entidades e grupos, especialmente a Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família, que aqui representamos nesta audiência pública, inúmeras vezes vindo ao Congresso Nacional para trazer informações aos parlamentares, exortando-os a decidirem em favor da vida e da família3, cujo combate pela vida tem se intensificado a cada dia, conforme S. João Paulo II expos na sua memorável encíclica Evangelium Vitae, dizendo que há um combate de mentalidades, cujo drama tem se agudizado em nossos dias, um conflito entre a cultura da morte e a cultura da vida. "Existe uma crise profunda da cultura"4, uma "conjura contra a vida"5, com circunstâncias dramáticas e terrificantes, que "tornam por vezes exigentes até o heroísmo as opções de defesa e promoção da vida"6. A vida humana tem um valor sagrado, que deve ser respeitado e salvaguardado, em todas as circunstâncias, desde a concepção até a morte natural. A questão do aborto é a ponta do iceberg. Sabemos que há um holocausto silencioso, vitimando milhares de seres humanos, a cada dia, em todas as partes do planeta, vidas ceifadas ainda no ventre materno, do modo mais cruento e doloroso, pois o inimigo de Deus tem sede do sangue inocente.

"Estamos todos na realidade presos pelas potências que de um modo anônimo nos manipulam"7, afirmou Bento XVI. Estas potências que atuam "de modo anônimo"8 tem expressão nos centros privados do poder e em grandes fundações internacionais9, na vasta rede de OnG's feministas que defendem os direitos sexuais e reprodutivos, em agências da ONU, e em tantos governos locais, como aqui, o governo brasileiro, cumprindo a agenda desses organismos, a agenda antinatalista e antifamília do Foro de São Paulo, dos partidos políticos de esquerda, especialmente o PT, que expulsou dois parlamentares deste Congresso Nacional, Luiz Bassuma10 e Henrique Afonso, por não aceitarem essa ideologia inumada e terem sido a voz dos nascituros indefesos, nesta Casa de Leis.

            Sr. Presidente,

Na Câmara dos Deputados, quando aqui estive, em dezembro de 201311, disse que as Fundações internacionais usam as ONGs para seus fins, da forma mais pragmática. Fazem isso aqui no Brasil: agências da ONU, a Fundação MacArthur, a Fundação Ford, a lista é enorme, fazem ingerência em nosso País, e o governo brasileiro apoia e repassa recursos para essas Ongs, sob a orientação da Secretaria de Políticas para as Mulheres, recursos para os fins de aborto e tudo mais. E mais uma vez afirmamos que isso deve ser motivo de se abrir a CPI do Aborto, para ver quem estão sendo beneficiados, quem estão recebendo para trabalhar contra a população brasileira.

Tudo isso tem uma história bem documentada, mas ainda conhecida por poucos. Trata-se de um processo por etapas. Primeiramente, desde os anos 50, o período do chamado "planejamento familiar", "um eufemismo de anticoncepcionismo"12, com programas gestados em países desenvolvidos, nos centros privados de estudo e pesquisa sobre demografia e população. Depois, essa fase foi superada para introduzir uma nova estratégia que chegou aos dias de hoje, com a chamada ideologia de gênero, o "conceito-chave da reengenharia social e anti-cristã para subverter o conceito de família"13.

Importante lembrar aqui uma publicação na revista Science14, em novembro de 1967, de Kingsley Davis, [diretor do Centro Internacional de Pesquisas Populacionais e Urbanas, da Universidade da Califórnia, em Berkeley], que chamou a atenção para uma nova estratégia muito mais sutil e sofisticada, para a eficácia da cultura da morte e para que o aborto acabasse sendo aceito com menos resistência como o meio mais eficaz de controle populacional. E para isso, seria preciso "descontruir a linguagem, os relacionamentos familiares, a reprodução, a sexualidade, a educação, a religião e a cultura, entre outros"15. Para ele, "a técnica de limitação demográfica concentrada no fornecimento de anticoncepcionais com programas patrocinados pelos organismos de saúde pública"16, não seria eficiente, para "influir na maioria dos determinantes da reprodução humana"17. O neomalthusianismo, que está aí até hoje na agenda de gênero e do ecologismo da ONU, aparece também em Davis, quando se refere às metas de "crescimento zero como objetivo final"18 com a ideia de que "qualquer ritmo de crescimento, se contínuo, acabará por esgotar a terra"19. Isso é uma falácia. Para Davis, naquela época, o controle demográfico era ainda "inaceitável para a maioria das nações a para a maioria das comunidades religiosas e atinentes."20 Então, como fazer para viabilizar o controle no "tamanho da família", para que os "casais em seu próprio interesse controlem automaticamente a população em benefício da sociedade"21, na ótica da referida agenda? O insight de Davis então foi captado, e a partir dos anos 70-80, mais ainda nos anos 90, depois das grandes conferências internacionais da ONU, se tornou esse movimento cultural e político global, com força econômica e tecnológica, para pressionar governos e instituições, pelo desmonte da família. As ideias de Davis foram operacionalizadas pela Fundação Ford, a partir do documento "Saúde Reprodutiva: Uma Estratégia para os anos 90"22. A própria IPPF acatou "as ideias básicas contidas no trabalho de Kingsley Davis23, e depois, "a orientação geral de todas as agências envolvidas com planejamento familiar, demografia e aborto passaram a seguir cada vez mais ostensivamente as linhas gerais das recomendações"24 de Kingsley Davis.

Seria preciso - para ele - então influir na consciência, manipular as consciências, colonizá-las ideologicamente, neutralizando as resistências a esta agenda, que insiste no "aborto provocado"25 como "um dos meios mais seguros de controlar a reprodução"26 e garantir não apenas a redução dos índices de natalidade, como também a pulverização e atomização da própria estrutura familiar. Foi então preciso responder à questão: "porque as mulheres desejam tantos filhos e como se pode influir sobre este desejo?"27 Isso não era só "uma questão tecnológica. A tarefa do controle populacional então se torna simplesmente a invenção de um instrumento que seja aceitável"28.

 

Então, sr. Presidente, a cultura da morte passou a ser também uma política de educação. Foi a partir de Davis, que Adrianne Germain, sua aluna, percebeu que era preciso uma estratégia de longo prazo, a partir da educação: "Nenhuma compulsão poderá ser usada, porque o movimento está comprometido com a livre escolha, porém filmes sobre sexo, posters, histórias em quadrinhos, conferências públicas, entrevistas e discussões são permitidos. Estes proporcionam informações e supostamente modificam os valores"29. Aí está a crise profunda da cultura, o combate de mentalidades, que a questão do aborto está inserida. "Considera-se que o esforço foi coroado de êxito quando a mulher decide que deseja apenas um determinado número de filhos e emprega um anticonceptivo efetivo"30. Por isso os meios de comunicação de massa, as escolas [não só públicas] fazem todo um trabalho de colonização das consciências [é a doutrinação ideológica] para que haja uma aceitação da cultura da morte, sem que as pessoas se dêem conta de que estão sendo manipuladas e agindo contra o que naturalmente elas jamais fariam se não estivessem sendo condicionadas culturalmente a isso. E para tais objetivos, tais ideologias visam mesmo "controle de seres humanos"31, daí a nova forma de totalitarismo. Foi o que sugeriu Kingsley Davis: "Mudanças suficientemente básicas para afetar a motivação de ter filhos seriam mudanças na estrutura da família, no papel das mulheres e nas normas sexuais"32. É preciso o "controle da motivação pela sociedade"33, para que o aborto pudesse ser praticado sem remorsos de consciência. E fazem tudo isso também com várias retóricas, que fazem parte dessa agenda, por exemplo, também a da defesa ambiental, da paz e dos diretos humanos, pois "o mandamento ecologista de controlar a natalidade para salvar o planeta"34 é "próprio do paradigma do desenvolvimento sustentável"35. Ora, "não é o assassinato de milhões de inocentes o maior ataque à paz e aos direitos humanos?"36 Esta cultura da morte é a perversão dos próprios direitos humanos, pois o primeiro e principal de todos os direitos humanos é o direito à vida, desde a concepção.

E agora, essas agências da ONU, com estas ideologias, estão, fazendo pressão, cada vez mais, promovendo eventos, a própria UNESCO, a Religions for Peace, a Aliança de Civilizações, todos juntos fazendo pressão, também junto à Igreja, intensificando os esforços por esta agenda. O Al Gore, por exemplo, "propôs um rigoroso controle de natalidade em nível mundial, sob o pretexto de preservar os recursos do planeta"37. A Organização inglesa Optimum Population Trust propôs "universalizar o controle obrigatório da população, dizendo: 'a cada sete dólares em anticoncepcional evita-se a emissão de uma tonelada de CO2."38 Outra grande falácia! E tudo isso com a retórica de combater a pobreza, quando, na realidade, sr. Presidente, querem é combater os pobres, especialmente dos países subdesenvolvidos e condená-los ao subdesenvolvimento. Pois essas agencias da ONU estão, de todas as formas, em todas as partes, até aonde não deviam estar, investindo pesado e pressionando para que a moral cristã seja flexibilizada, para não haver mais nenhuma resistência a este projeto de "reengenharia anti-cristã da sociedade"39.

E aí, para concluir esta minha colocação, sr. Presidente, demais membros da mesa, quero lembrar também da situação dos países desenvolvidos que adotaram essa agenda, e que hoje o movimento lá fora é muito grande por buscar reverter as legislações abortistas, pelos efeitos perversos [desumanos e de desagregação social], de uma agenda que comprovadamente não garante desenvolvimento [humano e social], pelo contrário, a crise atual dos Estados Unidos (que legalizou o aborto em 1973) e da Europa, e mesmo do Japão (em que o aborto é legalizado desde 1949) e de tantos outros países desenvolvidos, mostra o equívoco desta agenda que aceita o aborto como estratégia de controle populacional [o aborto químico, a pílula abortiva, tudo isso que é terrível, por cometer o assassinato de seres humanos inocentes e indefesos, e também de causar danos à saúde da mulher, principalmente pobre e negra, de violentá-la enquanto pessoa humana], estratégia essa de liquidação da família, e que nós temos o dever de rechaçar, pois a família é a primeira e principal instituição humana. 

E mais: a ideologia laicista, que visa minar a moral cristã, está impregnada na agenda das agências da ONU, das Fundações internacionais e das forças políticas do internacionalismo de esquerda. E tais organismos e grupos sabem da força civilizatória do cristianismo, do cristianismo como promotor da liberdade, da liberdade com responsabilidade e compromisso com a vida, do cristianismo como força promotora do verdadeiro desenvolvimento humano e social, que começa na estrutura natural da família, constituída por homem e mulher, aberta à fecundidade. É o que reconhece os mais sérios especialistas da atualidade, que dizem: "é na erosão do casamento e da família, afirma o Dr. Mitch Peralstein, que está a raiz do declínio do desempenho educacional e econômico das crianças norte-americanas criadas em famílias desestruturadas"40, principalmente nas famílias monoparentais. "Pearlstein argumenta que a fragmentação da família não só inibe o crescimento normal e a educação das crianças, mas também tem um efeito deletério sobre a economia em geral"41. Ou ainda em "Family Structure and Income Inequality in Families with Children: 1976 to 2000", publicada na revista "Demography", em 2006, Molly A. Martin "estima que 41% da desigualdade econômica entre 1976-2000 foi decorrente da alteração da estrutura familiar"42. Portanto esta agenda antinatalista e antifamília não são promotoras do desenvolvimento humano e social. 

O que fazer diante disso?

Há muitas iniciativas que podem e devem ser feitas, principalmente no campo da educação, em todos os níveis, para vencermos a batalha em favor da vida e da família; mas no campo legislativo, temos o Estatuto do Nascituro em tramitação, e outros projetos de lei nesse sentido, estivemos aqui e apresentamos ao senador Magno Malta, que através da Frente Parlamentar em Defesa da Vida e da Família, possa encaminhar a PEC pela Vida, para que nós possamos resistir à cultura da morte, afirmando a cultura da vida, explicitando no texto constitucional, no art. 5º da Constituição Federal, a inviolabilidade da vida humana, desde a concepção. A exemplo do que já fez a Hungria43, e vários estados do México, alguns até dos EUA e outros, temos esperança de ver aprovada a PEC pela VIDA em nossa Carta Magna, porque o ser humano já é pessoa e já possui dignidade, desde o primeiro instante, com a concepção. Podemos vencer a cultura da morte e afirmar a cultura da vida, a partir dessa decisão, nesta Casa de Leis. Por isso, caro Senador, pode ter a certeza de que "uma das tarefas mais nobres"44, em meio aos tantos desafios de hoje, "consiste em permanecer firmemente ao lado da vida, encorajando aqueles que a defendem e edificando com eles uma verdadeira cultura da vida"45. 

Muito obrigado!

Íntegra do pronunciamento no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=CiBCrAMSDnk&feature=youtu.be

Notas:

http://fidespress.com/brasil/o-desafio-de-conjugar-legislacao-e-vida/

http://www.zenit.org/pt/articles/legislacao-e-vida-no-brasil
http://juliosevero.blogspot.com.br/2008/05/foi-uma-vitria-e-tanto-nunca-vi-isso.html
Evangelium Vitae, 11
Evangelium Vitae, 12
Evangelium Vitae, 11
Bento XVI, Jesus de Nazaré, v. 1, p. 35, 3ª reimpressão, Editora Planeta do Brasil, São Paulo, 2008
Ibidem.
http://www.amazon.com/Foundations-Influence-Rene-A-Wormser/dp/0925591289
http://jesus-logos.blogspot.com.br/2009/09/carta-ao-amigo-luiz-bassuma-de-hermes.html
https://www.youtube.com/watch?v=97EnsLrN64Q
Kingsley Davis, Política Populacional: os programas atuais terão sucesso?, publicado na revista Science, em 10 de novembro de 1967. http://www.aborto.com.br/historia/ha7-3.htm
Juan Cláudio Sanahuja, Poder Global e Religião Universal, p. 42, ed. Ecclesiae, Campinas, 2012.
http://www.sciencemag.org/content/158/3802/730.citation
Oscar Alzamora Revoredo, Ideologia de Gênero: Perigos e Alcance, Léxicon – termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões éticas, Pontifício Conselho para a Família, p. 499; Edições CNBB, 2007
http://www.sciencemag.org/content/158/3802/730.citation
Ibidem.
Ibidem.
Ibidem.
Ibidem.
Ibidem.
http://www.votopelavida.com/fundacaoford1990.pdf
http://www.aborto.com.br/historia/ha7-1.htm
http://www.aborto.com.br/historia/ha7-1.htm
http://www.aborto.com.br/historia/ha7-4.htm
Ibidem
http://www.aborto.com.br/historia/ha7-5.htm
Ibidem.
Ibidem.
Ibidem.
Ibidem.
Ibidem.
Ibidem.
Juan Cláudio Sanahuja, Poder Global e Religião Universal, p. 57, ed. Ecclesiae, Campinas, 2012.
Ibidem.
Ib. p. 60.
Ib. p. 55.
Ib. pp. 55-56.
Ib. p. 57.
http://www.thedailybeast.com/articles/2012/04/11/book-review-mitch-pearlstein.html
Ibidem.
https://muse.jhu.edu/login?auth=0&type=summary&url=/journals/demography/v043/43.3martin.pdf
http://noticiasprofamilia.blogspot.com.br/2011/05/sancionada-nova-constituicao-da-hungria.html
L'Osservatore Romano, 24.10.1998, p. 6.
Ibidem.
 

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