Percival Puggina


 Há algumas semanas se ouvia falar de uma pesquisa de intenção de voto cujo resultado teria sido engavetado pela emissora que o contratara. Dizia-se que os números eram inconvenientes ao governador gaúcho e, por isso, mantidos ocultos. Pois agora, o mesmo Instituto Methodus que teria feito aquela pesquisa, entregou nova pesquisa, desta feita à Rede Bandeirantes. Nela, Tarso aparece com 30% e Ana Amélia com 42%.

 Instalou-se, segundo relato da própria emissora, uma fortíssima pressão do Palácio Piratini no sentido de evitar, mais uma vez, que os números fossem tornados públicos. O simples pedido para que os dados não fossem revelados já seria um inominável abuso de autoridade, mas o caso se torna ainda mais grave quando o apelo vem acompanhado de ameaça. Assim: "Essa decisão (de publicar a pesquisa) vai acarretar nova relação entre nós e a Band (teor da mensagem enviada por jornalista do Piratini constante do jornal Metro, do Grupo Bandeirantes, edição de hoje, 19/agosto).

 O governador em nome de quem o jornalista do Palácio diz enviar a mensagem é um homem público que, há não muito tempo, para cada frase usava duas vezes a palavra "republicano" como sinônimo de transparente, de democrático, de subordinado ao Direito e à Justiça. Republicano era tudo de bom. Pois agora, "republicano" é usar o poder do Governo para intimidar órgãos de imprensa.

A pergunta que se impõe é a seguinte: quantas vezes algo assim já terá sido tentado? E levado a cabo? Quanto silêncio e omissão já foram impostos sob pressão?
 

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Percival Puggina


 Houve de tudo no velório de Eduardo Campos. Logo ele, uma pessoa bem educada, polida, teve um velório de anedota, onde houve de tudo. Visitantes posaram para selfies, a presidente Dilma levou as habituais vaias, uma repórter (como anda mal o nosso jornalismo!) saudou Marina Silva como "presidenta" e foi corrigida por ela que lhe retrucou - "Presidente!". Teve Lula ensopando de lágrimas seus sapatos de crocodilo (ou apenas as lágrimas eram de crocodilo?). E teve muita gente com o punho da mão esquerda erguido aos ventos, lembrando ideias que o neto do velho comunista Miguel Arraes deixara para trás havia um bom tempo.

 Esse gesto, de punhos erguidos não pode deixar de ser associado ao modo como os dois Josés, Dirceu e Genoíno, proclamados guerreiros, heróis do povo brasileiro, se manifestaram ao serem conduzidos para a penitenciária da Papuda.

 Pois foi esse mesmo gesto, comumente empregado por comunistas, marxistas e anarquistas, que os três filhos de Eduardo Campos tiveram a péssima ideia de fazer ao lado do caixão do pai, que Deus o tenha. E que coisa pior não nos sobrevenha.
 

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 A morte de Eduardo Campos traz para a ribalta a figura da acreana Marina Silva. Cuidado! A fala mansa da ex-vice de Eduardo Campos não se harmoniza com a rigidez e o radicalismo de suas posições. O dever cívico de conhecê-las não se cumpre ouvindo o meigo discurso eleitoral que vem por aí. Há informações muito mais precisas e irrefutáveis na biografia da candidata.

Seu primeiro alinhamento político deu-se com filiação ao Partido Comunista Revolucionário (PRC), célula marxista-leninista albergada no PT onde militou durante uma década. Foi fundadora da CUT do Acre e lá, filiada ao PT, conseguiu o primeiro de uma série de mandatos legislativos: vereadora em Rio Branco, deputada estadual, senadora em dois mandatos consecutivos. Em 2003, no primeiro mandato de Lula, assumiu a pasta do Meio Ambiente, onde agiu como adversária do agronegócio. Sua gestão deu-lhe notoriedade internacional e conquistou ampla simpatia de organizações ambientalistas europeias que agem com fanatismo anti-progressista em todo mundo, menos na Europa...

Foram cinco anos terríveis para o desenvolvimento nacional. No ministério, Marina travava projetos de infraestrutura, impedia ou retardava empreendimentos públicos e privados, aplicava a torto e a direito um receituário avesso às usinas, aos transgênicos, ao agronegócio, principal motor do desenvolvimento nacional e responsável pela quase totalidade dos superávits de nossa balança comercial. Os pedidos de licenças ambientais empilhavam-se, relegados ao descaso. Empreendimentos eram cancelados por exaustão e desistência dos investidores. Sempre irredutível, Marina incompatibilizou-se com governadores, com os setores empresariais e com a então ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Foram cinco anos terríveis!

De um leitor, a respeito da animosidade de Marina Silva para com o agronegócio: "Ela é uma praga de gafanhotos stalinistas reunidos numa pessoa só".
 

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O WIKIGATE

14/08/2014

 

 Chega a ser inacreditável que a rede wifi do Palácio do Planalto não exija identificação do usuário. Se o da minha casa tem senha, como pode ser totalmente liberada a rede existente na sede do governo da República? Enfim, essa é a alegação que vem sendo usada para eximir o governo de responsabilidades em relação ao conteúdo depreciativo introduzido no perfil de dois jornalista na wikipédia, a partir de um computador que usa aquela rede.

Tudo seria coisa para um sherlock de mistérios indecifráveis, não fosse o fato tão compatível com a conduta dos militantes que atuam nos altos escalões do governo. É deles que nascem os dossiês. É ali que se planejam os assassinatos de reputações. É dali que, a toda hora, surgem iniciativas para controlar a imprensa. Lei dos audiovisuais, Conselho Nacional de Jornalismo, Marco Regulatório da Imprensa, são algumas das muitas medidas que vêm sendo ensaiadas nesse sentido. Pode não ter vindo dali, mas veio dessa banda, há coisa de uns dois anos, ataque semelhante contra o perfil a meu respeito existente na Wikipédia.

O fato é que o governo e os governistas têm dificuldade de lidar com o contraditório, mesmo sendo beneficiados pelo apoio de um formidável grupo de partidos políticos que reduziu a oposição a meia dúvida de recalcitrantes, desprovidos de recursos humanos e financeiros. Isso é tão verdadeiro que, como tenho afirmado repetidas vezes, as vozes oposicionistas mais audíveis são de intelectuais, jornalistas, escritores. Pois até isso parece intolerável ao governo e provoca reações como a que atingiu perfis da wikipédia. Ademais, o governo que alega em sua defesa um pouco reconhecível zelo pela liberdade de imprensa, é fraterno aliado de tiranetes que usam inúmeros meios para restringir essa liberdade em seus países, como por exemplo (e apenas como exemplo, porque a lista é grande), na Argentina, na Venezuela, em Cuba e no Irã.
 

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Na próxima semana terá início o horário eleitoral gratuito. Ele existe, na teoria, para que os candidatos possam apresentar-se ao público e tornar conhecidos suas ideias e seus programas para os cargos que disputam. Na prática, porém, ele serve para que os marqueteiros transmitam ao eleitores mensagens capazes de angariar simpatia e votos junto às frações do eleitorado onde as pesquisas apontam que, com a mensagem adequada, esses votos podem ser exitosamente ciscados para seus candidatos.

Como afirmei anteriormente, a verdade é a primeira vítima nas campanhas políticas. Morre a pauladas verbais e é velada no necrotério da tevê e do rádio. Um longo velório de 45 dias, ao cabo dos quais os eleitores terão recolhido a enganosa sensação de haverem participado de uma experiência cívica. Se a eleição é para cargo majoritário - presidente, governador e senador, neste pleito - os debates poderiam ser uma alternativa mais adequada para tornar conhecidos os candidatos e seus programas. No entanto, com a multiplicação dos partidos e o consequente grande número de candidatos nanicos, também os debates ficam prejudicados pela presença de postulantes que nada têm a fazer na eleição a não ser usarem do momento eleitoral para exibições do tipo - "Olha aqui, mamãe, estou na tevê!"

Nada substitui o olho no olho entre o candidato e o eleitor. E isso, numa sociedade de massa, só pode acontecer com a redução do porte da circunscrição eleitoral, acabando com a eleição majoritária e instituindo o parlamentarismo combinado com alguma modalidade de voto distrital.
 

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 Recebi de um leitor, mensagem condenando o pessimismo que "setores conservadores, reacionários", estão disseminando na sociedade com o objetivo de obter resultados políticos num período eleitoral. Em resumo, meu leitor, uma pessoa idosa, instruída, bastante conhecida aqui no Sul, está convencido de que tudo vai muito bem na economia brasileira. Esse zum-zum-zum que se ouve por aí, segundo ele, é conversa dos que desejam ferrar com o povão, afastando do poder uma elite governante onde a probidade e a competência disputam a cotovelos qual chega em primeiro lugar. O país, afirma, está sendo governado por gente da melhor qualidade e o pessimismo é uma construção maldosa da funesta oposição. Ao final da mensagem, fornece a prova do que afirma: o ingresso de dólares no país dá-se a um fluxo muito positivo. Ao contrário dos pessimistas de dentro, os investidores de fora estão otimistas com o Brasil.

 Respondi que todos devemos estar pessimistas em relação ao futuro do país quando, nos gráficos de quem analisa nossa economia, as linhas que deveriam subir estão descendo e as que deveriam descer estão subindo. Disse-lhe que ainda mais pessimistas deveríamos ficar quando pessoas esclarecidas desconhecem esses dados, ou os desconsideram, convictas de que não há o que mudar.

Mostrei a ele que o próprio governo só pode estar pessimista, e muito pessimista, quando eleva a taxa de juros para 11%. Uma taxa dessas oferece um verdadeiro termômetro do pessimismo oficial. É evidente que se o governo está disposto a pagar 11% de juros anuais, sempre haverá, no exterior, fundos interessados em fazer uma aposta na nossa banca. Afinal, essa é a maior taxa de juros paga no planeta, numa época em que os títulos do Tesouro dos EUA remuneram seu adquirentes a 0,25% ao ano e nenhum país do mundo desenvolvido paga mais de 3%.

Otimismo, nesse cenário, é pura alienação. Aliás, foi um velho comunista português, José Saramago, quem disse que só os pessimistas podem mudar o mundo porque os otimistas estão satisfeitos... O Brasil está cheio de gente "na pior" que se dá por contente.
 

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