• Dartagnan da Silva Zanela
  • 31 Agosto 2024

 

Dartagnan da Silva Zanela

       É curioso como a censura atua junto à sociedade. Muitas pessoas imaginam que o "cala-boca" Estatal funciona igual ao "fique-quieto" que ouvimos de um brutamontes, mas não é assim que segue esse andor não. Não mesmo.

Primeiro, antes de qualquer coisa, é importante lembrarmos que nunca um mecanismo de censura apresenta-se como um instrumento coercitivo, que ali está para melindrar os cidadãos. Nada disso, meu bom amigo. Nada disso.

Todos os mecanismos de controle de circulação de informações sempre se apresentam como algo que veio para "restabelecer a verdade", "esclarecer os fatos" e, é claro, para "salvaguardar as pessoas contra as inverdades e insídias" que são espalhadas por pessoas perigosíssimas que querem apenas confundir os indivíduos e derrubar as bases institucionais da nossa sociedade.

Enfim, é sempre a mesma conversa furada, porém, as diferentes circunstâncias exigem, que essa velha conversa mole, seja travestida com novíssimos trejeitos e maneirismos, para melhor ludibriar as almas desavisadas.

Sim, é de fundamental importância que os censores tenham o consentimento das figuras desavisadas que, via de regra, formam o grosso do tecido social e que, realmente, acreditam candidamente que estão sendo protegidas pelo "cale-se" estatal imposto a todos aqueles que são rotulados como sendo uma perigosíssima ameaça a tudo e a todos.

Um bom exemplo do que estamos falando era o famigerado ministério que era ocupado por Joseph Goebbels, no Terceiro Reich. No caso, o Ministério da Propaganda e do Esclarecimento Público. Isso mesmo! O órgão de repressão, censura e propaganda da Alemanha do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores da Alemanha (Nazista), era apresentado com esses termos: como sendo o ministério do "esclarecimento".

Outro exemplo, curioso pacas, é a "Ley de Responsabilidad de Radio y Televisión" da Venezuela, de 2004, que nada mais é do que o mecanismo legal criado para cercear a liberdade de expressão e calar os divergentes do "Socialismo do século XXI".

Porém, não é dessa maneira que essa lindeza, que existe na Venezuela, desde os tempos de Hugo Chávez, se apresenta. Nada disso. Ela é mais sutil e discreta.

Segundo o texto da referida lei, seu objetivo não é censurar ninguém, mas apenas "atingir um equilíbrio democrático entre os deveres, direitos e interesses, de modo a promover a justiça social e aprofundar o desenvolvimento da cidadania, da democracia, da paz, dos direitos humanos..." e tutti quanti.

Outra boniteza bolivariana é a chamada "Ley de Responsabilidad Social en Radio, Televisión y Medios Electrónicos", de 2010. Essa estrovenga jurídica tem o objetivo de controlar a disseminação de [adivinhem] conteúdos que, porventura, possam "promover delitos", que venham a incitar um tal de "estresse social" e, o mais importante de tudo, limitar a circulação de informações que sejam suspeitas de [vejam só] provocar "questionamentos das autoridades legitimamente constituídas". Muito democrático, não é mesmo?

Outro caso pra lá de ilustrativo é o da República Popular da China. Isso mesmo! Da própria.

Segundo o texto da sua Constituição, a liberdade de expressão e de imprensa são garantidas, porém (porque sempre tem um porém), o regime do Partido Comunista rotineiramente, sem a menor cerimônia, viola esses direitos sem um pingo de peso na consciência.

Para silenciar os jornalistas que são considerados uma ameaça para as instituições da República Popular, sem pudor algum, estes são acusados de "espionagem", de "subversão" ou de "incitar brigas e provocar tumultos". Na China, todos esses crimes citados possuem uma definição tão vaga quanto elástica e que, por isso mesmo, podem muito bem servir para criminalizar a ação de qualquer um. Qualquer ação de qualquer um mesmo.

Deste modo, segundo a organização Repórteres sem Fronteiras, na China, os jornalistas, que são classificados como uma "ameaça às instituições", podem ser legalmente mantidos por até seis meses em RSDL (vigilância residencial em local designado), um eufemismo para confinamento nas prisões do regime chinês.

No sistema de RSDL, os indivíduos são privados de qualquer representação legal e podem, inclusive, ser submetidos a tortura em nome, é claro, da "democracia popular" e da "paz social".

Enfim, os exemplos abundam e as lições são claras como uma tarde de verão e, todos esses dados nos chamam a atenção para o fato de que uma tirania, por mais escancarada que seja, nunca declara abertamente a sua verdadeira feição pois, como bem nos lembra a sabedoria popular, a maior artimanha do maligno e das suas filhas diletas, as tiranias, é fazer com que todos creiam, piamente, que eles não são nada daquilo que os seus olhos estão vendo.

*       O autor é professor, escrevinhador, bebedor de café e autor de "A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO", entre outros livros. https://lnk.bio/zanela

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  • Lucas Berlanza, Instituto Liberal
  • 29 Agosto 2024

 

Lucas Berlanza

Há 63 anos, renunciava Janio Quadros (1917-1992).

“Muitos compreendem, entre eles o próprio Carlos (Lacerda), um dos acontecimentos mais estranhos da história brasileira como tendo sido fruto de uma interpretação de Jânio de que, renunciando, tendo afastado Jango do país, ele poderia contar com o amparo da sociedade civil e dos militares para impedir que o petebista tomasse posse e, com isso, todos, para persuadi-lo a não renunciar à presidência, concederiam a ele os poderes especiais que tinha tramado obter. 

Se essa foi realmente a pretensão de Jânio, fato é que falhou miseravelmente. Sua atitude frustrou não apenas a esperança lacerdista da “revolução pelo voto” como deteriorou as expectativas populares com o mundo político. 

Jânio fora eleito para desafiar a corrupção, combater a inflação e moralizar administrativamente o Estado – em outras palavras, Lacerda poderia resumir: para ser o oposto do edifício varguista-estadonovista-petebista-pessedista-desenvolvimentista. Em vez disso, não entendeu as circunstâncias que o alçaram aquele posto e quis um atalho que não lhe estava ao alcance. 

A despeito das medidas adequadas na economia, falhou em praticamente tudo que se propôs a fazer – ou que se tinha entendido que ele faria e representaria.

Tudo andara em círculos. O ditador de 30 e 37, Getúlio Vargas, parira as forças das quais sairiam Juscelino e Jango. Este último era tudo que se queria evitar, o receio de todos aqueles que fossem mais liberais e conservadores, a ameaça de uma identificação mais categórica com o peronismo e de uma linguagem mais palatável aos extremistas da esquerda e aos comunistas, cunhado do radical Leonel Brizola, o ministro do Trabalho que quis aumentar exponencialmente o salário lixando-se para a inflação. 

Jânio, facilitado pela exaustão algo voluntária do próprio “sistema” pessedista, era uma aposta arriscada para tentar pôr um fim a esse ciclo sem a necessidade de intervenções armadas. Deu errado; e o país terminava no colo de quem? Logo dele, o mais temido, o último filhote de Vargas com quem Carlos Lacerda travaria a última grande batalha de sua fase áurea: o presidente João Goulart.” (Lacerda: A Virtude da Polêmica, LVM, p. 255)

 

*         Reproduzido do site do Instituto Liberal, em https://www.institutoliberal.org.br/blog/historia/o-dia-25-de-agosto-na-historia-do-brasil/

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 27 Agosto 2024

Gilberto Simões Pires

RELHO EM RISTE

Pelo andar trôpego da CARRUAGEM BRASIL é mais do que visível que seu sinistro condutor, o COCHEIRO Luiz Inácio Lula da Silva, não suporta ser DESAFIADO. E quando isso acontece, aí o COCHEIRO fica possesso e passa a perseguir, de RELHO EM RISTE, todos aqueles que ousam querer COMPETIR com ele. E neste caso, como já pode ser visto e sentido, nem mesmo a NATUREZA escapa. 

INSTRUMENTO DE COMPETIÇÃO

Vejam, por exemplo, que após boa parte do Estado do Rio Grande do Sul ser DESTRUÍDO por uma DEVASTADORA ENCHENTE, o COCHEIRO LULA percebeu que a NATUREZA usou a TRAGÉDIA como INSTRUMENTO DE COMPETIÇÃO. Pronto. A partir de então, para mostrar que é muito mais forte e capaz, o referido e maldoso COCHEIRO resolveu, de forma impiedosa, promover uma -TRAGÉDIA NACIONAL-, com efeito desastroso para todos os brasileiros de todos os cantos do país. 

ARMA LETAL E TRÁGICA

Desta vez, sem perder tempo, o competidor COCHEIRO usou como ARMA LETAL E TRÁGICA, um AUMENTO DRÁSTICO DE TRIBUTAÇÃO NACIONAL, que atinge, de cabo a rabo, sem piedade, não apenas o já desmilinguido povo gaúcho, mas, com força redobrada e DESCOMUNAL a todos os brasileiros.

PAUTA TRÁGICA

Com tal, a pauta PRIORITÁRIA (não completa) do ministro TAXADD, com a autorização formal do COCHEIRO TRIBUTADOR propõe;

1- a criação de um IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS;

2- IMPOSTO DEVASTADOR SOBRE HERANÇAS;

3- TRIBUTAÇÃO SOBRE DIVIDENDOS;

4- no âmbito empresarial, aumento da taxação dos Juros sobre Capital Próprio (JCP) assim como o fim da retirada de subvenções estaduais da base de cálculo do IRPJ e da CSLL;

5- alíquotas progressivas para o Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) e de cobrança do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) de donos de aeronaves e embarcações;

6- aproveitando a nova etapa da reforma tributária, Taxxad pretende incluir um imposto mínimo efetivo de 15% sobre o lucro de multinacionais que operam no Brasil.  

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  • Stephen Kanitz
  • 26 Agosto 2024

Stephen Kanitz

          Esse meme é que está destruindo nossa democracia e a civilização ocidental.

Escolhemos nossos Presidentes usando um critério equivocado.

Não se escolhe Presidentes que lhe representam, parecidos conosco, isso é uma atitude egoista, individualista e nefasta.

Quem tem que te representar é seu Deputado Federal , Estadual e Vereador .

Essa são as únicas partes democráticas de uma democracia.

Um Senador representa o Estado da União, e não você.

E a rigor no Comunitarismo um Deputado Federal, Estadual e Vereador deveriam ser distritais, defendendo sua comunidade e não somente você.

Um Presidente , porém, deveria ser o candidato o mais competente para administrar a nação.

Capaz de cumprir as leis elaboradas pelo seu representante, e não maquinar para aprovarem seus decretos provisórios.

Um Presidente tem que ser eficiente, chato, exigente e cumpridor.

Em Administração nós acionistas não votamos para Presidente da empresa, nem pensar.

Elegemos um Conselho de Administração, composto de pessoas sábias e experientes, ex presidentes na sua maioria, que nunca escolhem qualquer um.

Normalmente escolhem um dos 8 diretores que já dirigem a companhia há anos.

É assim que deveria ser o Presidente.

Eu prefiro o Trump do que a Kamala, porque Trump tem 40 anos de experiência tocando uma empresa bem sucedida, construiu o primeiro presídio comunitário de Nova York, sabe administrar pessoas.

Ele de fato não é um Paz e Amor como Lula e Kamala, todo sorrisos.

Trump, como Bolsonaro são pessoas desagradáveis, como todo empresário exigente e demandador é, embora tentem ser mais políticos, mas a gente, especialmente as mulheres , percebem.

Trump e Bolsonaro realmente não nos representavam, e nem poderiam dada a diversidade da população, mas sabiam administrar e escolher bons administradores, e lutar por eles quando necessário.

Aqueles que querem parecer que representam a todos, deveriam é ser vistos com desconfiança, deveriam ser apontados pelas óbvias mentiras que são obrigados a dizer, e não ser eleitos como são.

Pare de ser egotista, pare de eleger para Prefeito, Governador e Presidente que te represente.

Eleja aquele que executa o que seu representante determinar.

*    Reproduzido da página do autor no Facebook

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 20 Agosto 2024


Alex Pipkin, PhD

        Na esteira do contexto eleitoral paulistano, tenho lido muito sobre um suposto “ideal”, aquele relacionado ao fato de que os eleitores “sabem o que querem”.

Dito de outra forma, os eleitores querem ouvir e conhecer, objetivamente, as reais propostas para a solução dos problemas que os cidadãos enfrentam em suas vidas cotidianas. Além disso, “especialistas” afirmam que o eleitorado brasileiro é conservador. Sim, claro, tendo no Planalto um comunista - e corrupto - declarado! Aliás, dia sim, outro dia sim, o ex-presidiário conspurca o capitão, ex-presidente. Desse modo, supõe-se que o eleitor paulistano rejeitaria as atuais grosserias, os ataques e os bate-bocas entre os candidatos.

Como não sou especialista nessa temática, genuinamente, tenha minhas e muitas dúvidas a esse respeito. Num país tomado pela hiperpolarização política - e vejo a polarização como positiva, não a “hiper” -, em especial, pela corrente ideológica que se alimenta do divisionismo social, incluindo aqui comunistas, socialistas e social-democratas, poder-se-ia esperar, na realidade objetiva, algo diferente do que está ocorrendo? Racionalmente, minha resposta é um rotundo não.

Eu não acredito que, de modo geral, o eleitor nacional seja mesmo politizado, no sentido de conhecer e buscar candidatos que apresentem, pragmaticamente, as referidas “soluções” acima mencionadas.

De mais a mais, agora franqueado pelo acesso às redes sociais, os eleitores tupiniquins têm razões de sobra para verem os políticos como mentirosos contumazes, não confiáveis. Eles estão muito mais focados nos seus - abissais - interesses pessoais e tribais, do que no bem-estar populacional.

Vêm-me à mente a frase lapidar do grande Thomas Sowell: “Ninguém entende de verdade a política até compreender que os políticos não estão tentando resolver os nossos problemas. Eles estão tentando resolver seus próprios problemas - dentre os quais ser eleito e reeleito são número 1 e número 2. O que quer que seja o número 3 está bem longe atrás”.

Vejam, agora, em época de eleição, eles trocam de posição como trocam de cuecas e/ou sutiãs. O candidato Boulos, vulgo o “invasor de propriedade alheia”, por exemplo, presentemente, transformou-se no cidadão mais religioso do mundo. Claro, só para inglês ver. Os incentivos para que eles ajam “estrategicamente” são brutais e sistemáticos.

Qualquer ser, com mais de um neurônio, sabe que os políticos ajustam seus comportamentos, posições e narrativas, a fim de maximizar as suas chances de serem eleitos. Desconheço até que ponto esses “especialistas” entendem de comportamento humano.

De minha parte, não possuo um fiapo de dúvida, de que os traços de personalidade de um candidato, a atitude, a assertividade, e a franqueza na exposição das ideias e “coisas” - pelo menos, alguma legítima -, entre outros atributos, estejam associados a um aumento das possibilidades de se conquistar votos.

Fala-se muito da caça aos cliques nas redes sociais, aludindo-se, seguramente, ao candidato Marçal. Muito embora isso seja um fato, a ideia de ser intolerante com os “mentirosos intolerantes”, lhe  renderá muitos e muitos adeptos e votos.

Em suma, sou um mero opinador e, portanto, nessa republiqueta das bananas e do arrozal, o nome do jogo, de certa forma, tristemente, tem se resumido aos posicionamentos ideológicos, aqueles que fazem realmente com que suas tribos vibrem e se agigantem.

É evidente que num cenário ideal eu gostaria que a conversa fosse outra, em alto nível, embasada no conhecimento e em propostas úteis e concretas. Não é o que temos para o - tenebroso - momento.

O que se vê, sem necessitar de óculos, é a baixaria e a comercialização de posições em função do que se espera que o perfil do eleitor brasileiro compre - e vote. Penso até que o eleitor possa declarar que está em busca das verdadeiras soluções para os reais problemas de sua cidade, porém, uma coisa pode se dizer, outra, bem distinta, é o que ele digita na “maquininha”.

Não tenho as respostas. Os próximos capítulos revelarão a “verdade”.

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  • Dartagnan da Silva Zanela
  • 19 Agosto 2024

 

Dartagnan da Silva Zanela

 

       Cristóvão Colombo, como todos nós bem sabemos, quando trombou nas ilhas das Caraíbas, nas Antilhas, jurava de pés juntos que havia chego em algum dos cantos das Índias. Tanto o era que, o navegador genovês, inquieto, procurava identificar nos nativos da terra "traços asiáticos" que lhe assegurasse que, de fato, ele teria aportado nas terras do Grande Cã.

O impetuoso navegador empenhava-se nesse vão esforço porque o seu imaginário estava povoado, até a tampa, com imagens e informações a respeito do extremo Oriente; informações essas advindas das narrativas de viagem de Montecorvino, Pian del Carpine e, é claro, de Marco Polo.

Obviamente haviam muitos outros exploradores e viajantes medievais que, entre os séculos XIII e XIV, rumaram pela vastidão da Ásia, singraram pelas águas do Índico, à procura do exótico e de outras coisinhas mais, beneficiando-se da relativa tranquilidade que era garantida pela "pax mongólica" e, todos eles, cada um ao seu modo, relatou as maravilhas que haviam encontrado, e o faziam de um jeito fascinante.

Agora, a situação de Colombo era bem outra, porque não havia em sua cumbuca nenhum relato sobre a existência de um gigantesco continente que, como direi, bloqueou a sua passagem para o destino almejado por ele. Por isso, todas essas imagens que habitavam o seu imaginário passaram a emoldurar o que ele havia encontrado no meio do caminho que, diga-se de passagem, não era apenas uma pedra.

E seus curiosos e atordoados olhos de europeu procuravam, infatigavelmente, confirmar aquilo que ele sabia, projetando sobre o Novo Mundo as imagens do Velho e, ao fazer isso, acabou bloqueando a possibilidade de acessar um efetivo conhecimento do outro que se apresentava a ele naquele momento.

Dito de outro modo, os olhos do genovês procuravam enxergar primeiro aquilo que ouviu dizer e, deste modo, filtrava e decantava as imagens captadas pelos seus olhos através do véu de imagens que carregava em seu íntimo.

Detalhe importante: não apenas ele fazia essa confusão. Todos os exploradores e aventureiros desses idos, em algum momento, e de alguma forma, acabaram caindo em algum engano similar.

Aliás, nós também sofremos frequentemente esse tipo de desordem cognitiva nas mais variadas situações, especialmente quando o pomo da discórdia seriam as tais questões de ordem política. Aí meu amigo, é um Deus-nos-acuda.

De um modo geral, o homem contemporâneo sente-se muito bem informado por estar ciente de que pode ter acesso a toneladas de informações, a qualquer momento, devido ao poder que lhe foi outorgado pelos seus queridos e amados aparelhos celulares. Porém, há uma diferença abissal entre sentir-se "bem informado" e, de fato, estar "realmente informado".

Aliás, normalmente toda pessoa minimamente informada sobre algo, a respeito de qualquer babado, sempre tem a leve impressão de que alguma peça importante está faltando no seu quebra-cabeça; mas, infelizmente, esse naipe de cidadão é raro em nossos rincões, não é mesmo?

Seja como for, munidos com seus celulares, e com a face grudada na telinha da televisão, muitos sentem-se investidos da sensação de serem detentores de uma espécie particular de "sabedoria infusa", que dispensa a dúvida e a procura abnegada pela compreensão. Indivíduos esses que ficam ouvindo, dia e noite, notícias a respeito da existência de uma suposta ameaça fascista, da hipotética presença intolerável de uma raivosa extrema-direita, que está espreitando a todos aqui, ali e acolá e que, por essa razão, a democracia estaria correndo sérios perigos.

Bem, com essas imagens em seu imaginário, de modo similar aos navegadores do século XV, esses indivíduos modernosos acabam "reconhecendo" a figura de "truculentos fascistas" nas pessoas que mais ou menos se enquadram em seus estereótipos, da mesma forma que Colombo ficava procurando nos nativos da América traços que os aproximassem dos povos da Índia.

Aliás, os caçadores de fascista imaginários da atualidade não diferem muito dos perseguidores de comunistas fantasmagóricos das décadas de 60 e 70.

Pois é. Que confusão. E todas, cada uma ao seu modo, são trágicas, porque é isso o que acontece quando filtramos e decantamos as informações captadas pelos nossos sentidos com um véu forjado por imagens deformadas que carregamos em nosso íntimo.

Enfim, quando sentimos que estamos montados na razão [ideologicamente desorientada] é sinal de que precisamos, urgentemente, parar para rever todos os nossos conceitos porque, como bem nos lembra Albert Camus, todo mal perpetrado por nós é embalado e justificado por uma má ideia acalentada e defendida por nós. Uma ideia torta, que nos leva a ter uma visão desorientada a respeito dos outros e sobre nós mesmos.

*       O autor, Dartagnan da Silva Zanela, é professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de "A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO", entre outros livros.

https://lnk.bio/zanela

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